sábado, 17 de maio de 2008

RECORDAÇÃO

Como está tão diferente a minha terra!
No meu tempo, era só brincadeira
Ninguém falava em guerra
Ninguém sabia,
Se existia
Diabo de alemão
Tudo era esperança!
- Como a vida nos cansa! -
E, como a saudade nos faz bem
Ao velho coração.
O prazer que contém
Recordar, vale tudo na vida!
Minha vida vivida: -
Meu jôgo de Castelo, a vaquejada,
O brinquedo de arraia...
Ah! velho tempo mau!...
Que saudade danada,
Do cavalo de pau.
Tudo era esperança...
Minha mestra França,
A palmatória...
Quem me dera de novo
Meu povo,
Uns bolos apanhar
Para poder de tudo recordar.

Vou contar uma história:
O Circo de Sansone,
- Alvo como madapolão -
Estava armado,
Como um funil de pano emborcado,
Bem no meio da Praça da Proclamação.
No dia do espetáculo,
- Um obstáculo,
Veio de encontro a mim -
Minha avó não podia - coitada,
Por falta de dinheiro
Pagar a minha entrada.
Terrível desengano!
Que fazer?
Fui forçado a meter,
A cabeça, por debaixo do pano.
E lá dentro, que alegria taful!
Um bocado de gente,
Assim na frente,
Dava alguns vivas ao cordão azul.
Do outro lado,
Todo mundo gritava: o encarnado.
Depois, a artista do azul apareceu.
A platéia, toda estremeceu.
Então,
Um cidadão,
Fez um discurso danado de comprido
E, entregou à mocinha,
Um bonito vestido;
Ela, agachou-se toda e saiu.
De repente,
Como se fosse uma alvorada,
Bem na frente,
Uma outra surgiu.
No meio do picadeiro,
A morena estacou.
Todo mundo vivou...

Um velho jornalista,
- Nesse tempo era moço -
Fez, para a artista morena,
Um discurso colosso.
Ao terminar sua linda oração,
"Curvou-se reverente"
E foi beijar-lhe a mão.
... Eu fiquei despeitado.
Não dei nem mais um viva
Ao cordão encarnado.
Fiquei desiludido...
A morena bonita não ganhou
Nem sequer um vestido.
O encarnado apanhou!...
Mas, o tempo passou...
Toda gente esqueceu!
Menos eu.
Naquele tempo, o encarnado venceu.
Quinita,
A morena bonita,
Morena sensação,
Ganhou da inteligência,
Um beijo, em sua mão.

Renato Caldas

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