domingo, 15 de junho de 2008

POESIA SERTANEJA

A FLOR DO MARACUJÁ

Encontrando-me com um sertanejo
Perto de um pé de maracujá,
Eu lhe perguntei:
Diga-me como sertanejo,
Porque razão nasce branca e roxa,
A flor do maracujá?

Ah, pois então eu lhe conto,
A estória que ouvi contá,
A razão pro que nasce branca e roxa,
A frô do maracujá.
Maracujá já foi branco,
Eu posso inté lhe ajurá,
Mais branco do qui caridade,
Mais branco do que o luá.

Quando a frô brotava nele,
Lá pros confins do sertão,
Maracujá parecia,
Um ninho de argudão.
Mas um dia, há muito tempo,
Num meis que inté num me alembro,
Si foi maio, se foi junho,
Si foi janeiro ou dezembro.

Nosso sinhô Jesus Cristo,
Foi condenado a morrê,
Numa cruz crucificado,
Longe daqui como o quê,
Pregaro Cristo a martelo,
E ao vê tamanha crueza,
A natureza inteirinha
Pois-se a chorá di tristeza.

Chorava us campu,
As foia, as ribeira,
Sabiá também chorava
Nos gaio a laranjeira,
E havia junto da cruis,
Um pé de maracujá,
Carregadinho de frô
Aos pé de nosso sinhô.

I o sangue de Jesus Cristo,
Sangue pesado de dô,
Nus pé de maracujá,
Tingia todas as frô,
Eis aqui seu moço,
A estória que eu ouvi contá,
A razão proque nasce roxa,
A frô do maracujá.

Catulo da Paixão Cearense (de quem o poeta Renato Caldas é discípulo).

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