segunda-feira, 20 de abril de 2009

CALDAS, SIMPLESMENTE


O bardo potiguar do Assu João Lins Caldas era tipo magro e bonito rapaz. Solitário, amargurado. Na sua mocidade tivera muitos amores apaixonados e, apesar de dizer o contrário viveu com o coração ardente de paixão até os últimos dias de sua vida. É tanto que ele no dia em que veio a falecer (18 de maio de 1967), teria acabado de ler um livro de autoria da poetiza sonetista portuguesa Virgínia Victorino intitulado "Apaixonadamente." Vamos conferir para o nosso deleite, os poemas abaixo transcritos que ele escreveu há exatamente cem anos atrás, intitulado "Sonho de Estrela" e "Foge de Mim", respectivamente:

A via-láctea cintilava nua...
Larga nuvem branca, semelhante a um véu
Sobre o rosto de noiva - a cabeça tua -
Mal deixava transparecer o azul do céu.
Entre súbitos desmaios aparecia a lua,
Formosa, beijando as areias do escarcéu...
Mas, ah! Novo encanto novo se acentua...
Ao se recordar, talvez, do rosto lindo teu,
Disse, em sonho, uma mimosa estrela:
"Vem, único meteoro que do mundo resta
Brilhar sobre este azul... "E acenava a ela,
Então, apontando a esfera calma e bela,
Os anjos levaram-na para o céu, em festa,
Só porque um instante se lembrava d'ela.

*

Foge de mim; não quero ver-te. A vida
Que pesada fizeste, hoje despreza.
Do teu amor à dura natureza
Mas não se volva a página volvida...
Vou para longe enfin... Agora ouvida,
Minh´alma falará da tua reza...
Para longe de mim... Vai para longe.
Que eu aqui fique, solitário monge,
Olhando a triste solidão da vida...
Desterra-te de mim que eu me desterro...
Não me toques assim nesta ferida...

Aproveitando esta oportunidade, transcrevo um comentário de Ronaldo Emílio Cabral sobre a organização deste blog (como tantos outros comentários a respeito deste trabalho de registrar para a posteridade, o que disseram em prosa e verso, os poetas do Assu) que sensibilizou-me profundamente, dizendo assim: "Olá Fernando Caldas, sou de Fortaleza, mas meus pais são de Assu e tenho muitos parentes aí na terra dos poetas. Adoro não só essa cidade mas todo o povo também. Parabenizo pelo seu blog, leio todos os dias, continue com esse trabalho maravilhoso em prol da cultura do Assu."


Nenhum comentário:

Postar um comentário

  UMA VEZ Por Virgínia Victorino (1898/ 1967) Ama-se uma vez só. Mais de um amor de nada serve e nada o justifica. Um só amor absolve, santi...