terça-feira, 20 de abril de 2010

O PASSADO CULTURAL DO ASSU

O Cine-Teatro Pedro Amorim foi para Assu e municípios vizinhos o que hoje o Teatro Alberto Maranhão é para o Estado: o destino das grandes produções culturais. Desativado na década de 1980, o prédio histórico será totalmente recuperado e a cidade, berço de grandes nomes da poesia como o poeta João Lins Caldas, um dos pioneiros do movimento modernista brasileiro, terá um espaço público e de qualidade para receber e exportar talentos.

Divulgação

Projeto de restauração será patrocinado pela petrobras, através da lei câmara cascudo, e manterá traços da arquitetura originalO projeto de restauração é assinado pelo engenheiro Germano Martins e nele constam as seguintes obras: ampliação para 200 assentos destinados ao público; criação de camarins e banheiros; instalação de climatização, sonorização e iluminação. Segundo Gilvan Lopes, diretor-geral do Centro Escolar de Arte e Cultura (Cenec), responsável pela elaboração e execução da obra o prédio é belíssimo, mas atualmente conta apenas com um grande salão na parte externa e um verdadeiro galpão interno para os eventos. As características arquitetônicas do prédio serão mantidas.
O objetivo do Cine-Teatro permanece como nos idos de sua fundação. No espaço reconstruído acontecerão projeções de filmes, apresentações culturais, palestras, seminários, cursos e oficinas. Ações que já acontecem no município, mas que até então ficam em local inadequado como em escolas e na Câmara de Vereadores. Segundo o diretor do Cenec este seria de fato, o primeiro espaço cultural público da cidade (antes o Cine-Teatro era propriedade de seu fundador).
Mas os benefícios posteriores à recuperação do Cine-Teatro não virão apenas para os moradores de Assu. Como nas décadas anteriores, outras 12 cidades serão beneficiadas. Macau, Carnaubás, Pendências, Angicos, Mossoró, Lages e Santana do Matos são algumas dessas cidades.
As obras de reconstrução e ampliação estão orçadas em um milhão e meio de reais — valor patrocinado pela Petrobras, através da Lei Câmara Cascudo de Incentivo à Cultura, que garante o abatimento de 80% do valor da obra nos impostos da empresa. A estatal também ficará responsável pelos 20% restantes, mas para isso a prefeitura de Assu terá que cumprir algumas exigências, como contrapartida: garantir a participação da marca da Petrobras em todos os eventos do Cine-Teatro, afixar placa de inauguração na entrada do prédio também com a marca da empresa (a placa ficará no local enquanto o Cine-Teatro estiver em atividade), exibir durante 25 anos um filme institucional, enfatizando a importância da ação de patrocínio da empresa.
Além disso, a prefeitura de Assu terá que investir 36 mil reais para divulgar, durante uma semana, a inauguração do prédio.
Todas essas exigências serão cumpridas sem problemas, como garante, Gilvan Lopes. Segundo ele, a luta para recuperar o prédio é antiga. Gilvan conta que o prédio foi adquirido pela prefeitura em 2001.
O Cine-Teatro pertencia à sobrinha e única herdeira de Francisco Fernandes, antigo proprietário e administrador do prédio. “Por muito pouco o Cine-Teatro não foi derrubado para dar lugar a um prédio comercial”, diz Gilvan.
Em 2002, a prefeitura de Assu, através do Cenec, elaborou um projeto de recuperação e ampliação do prédio, na época orçado em 714 mil reais. A direção do Centro Escolar submeteu o projeto ao edital da Lei Câmara Cascudo e, naquele mesmo ano, conseguiu sua aprovação. O tempo para captação de recursos através de patrocínio — estipulado pela Lei em dois anos — foi ultrapassado e o projeto de recuperação voltou à estaca zero. Gilvan Lopes conta ainda que foi feita uma tentativa de inserí-lo nos editais do Ministério da Cultura e do Banco do Brasil, mas a expectativa dos proponentes foi frustrada mais uma vez.
Deste período em diante foram feitas várias tentativas e apenas em 2009 o projeto foi novamente aprovado pela Lei Câmara Cascudo. Desta vez, a captação de recursos aconteceu no período previsto. A Petrobras concordou em patrocinar o projeto, mas a assinatura confirmando a ação está marcada para o final desta semana.
“Nós estamos atendendo ao pedido da Petrobras de adequar os formulários do projeto, já que eles têm um padrão a ser seguido. Mas isso não é nenhum empecilho para a recuperação do Cine-Teatro, já que está tudo confirmado”, diz Gilvan.
Assim que a Petrobras assinar o documento garantindo o patrocínio cultural, a prefeitura assuense abrirá edital de contratação das empresas que ficarão responsáveis pela obra de recuperação e ampliação do prédio. A previsão é de que a obra seja iniciada ainda este semestre, e terá duração de 12 meses, como aponta o projeto.
Prédio foi inagurado em 1935 para receber artistas da região
O Cine-Teatro Pedro Amorim foi erguido em 1930 por Francisco Fernandes Martins, um industrial visionário da cidade de Assu. Francisco atuava no ramo do algodão e, como seu negócio era próspero, foi responsável pela construção de vários prédios que hoje constituem o centro histórico assuense.
Mas a inauguração do Cine-Teatro aconteceu apenas em 1935 com a proposta de ser um ambiente voltado para abrigar expressões artísticas locais e nacionais. A falta de eventos fez com que o Cine-Teatro ficasse fechado por 10 anos. Durante o período, Francisco Fernandes pesquisou sobre possíveis programações e formas de funcionamento. O teatro abriu as portas ao público em 1945. A partir daquele ano o Cine-Teatro passou a exibir filmes com frequência e a trazer atrações nacionais para a cidade.
Assu tornou-se um centro polarizador das manifestações artísticas da região. E a arte sempre foi um ponto forte na cidade. Já na década de 20, figuravam em Assu, alguns nomes da poesia, que alcançaram abrangência nacional. O já citado João Lins Caldas; Sinhazinha Wanderley, poeta e compositora – autora do hino oficial de Assu – foram alguns ilustres a compor o patrimônio cultural da cidade.

(Artigo transcrito do Jornal Tribuna do Norte, 19.4.2010)


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