segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Viva a Cultura Popular e seus heróis : Da Paz




                                                                                                                                                                 






Por onde ando, tenho encontrado ou ouvido falar de pessoas, personagens que insistem em manter a Cultura Popular viva. Mané Beradero, Mestre Paulo Varela, Hailton Mangabeira (meu ex-aluno), José Acaci (grande amigo de infância), Kidelmir Dantas (grande amigo e conterrâneo da bela Paraíba), ele de Nova Floresta e eu da visinha Picuí, no cenário musical temos Carlinhos Zens e um apanhado e por que não dizer um punhado de
verdadeiros heróis da resistência, onde o cordel perdeu a xilografura para a impressão colorida e a imbira de agave substituída pelas prateleiras, os pífanos e flautas na maioria das vezes foram substituídas pelos saxofones e clarinetes (que por sinal gosto demais), a poesia matuta, rimada, de causos e que muitas vezes faziam o papel do Jornal noticiário mesmo, pois levavam a informação de acontecimentos distantes, como por exemplo: "A morte de uma adolescente por um vizinho malvado". Tenho profunda admiração por Jessier Quirino. Suas poesias são retratos fiéis do cenário rural nordestino e como ele mesmo diz" cagado e cuspido". Ele é o que o matuto chama de Dotôr, estudado dos bancos de Universidade, morador de área urbana e nobre de Campina Grande, conhecedor dos palavrórios dos mais diversos dicionários. Mas, se apropriou da fala "falada" do cabôclo da roça ( o que faz com destreza e respeito). Assim, também faz Onildo Barbosa, um natubense intimamente ligado com o ar rural do sertanejo nordestino e com letras faz um retrato, digo, uma fotografia de cenáriosperfeitos da Cultura popular regional. E assim fez o  mestre maior Patativa do Assaré. E entre casas caiadas e salas de reboco, nos milharais, entre quengos e panelas de barro, nos munturos da fazendas, nos oitões das casas grandes, nas rodadas de anedotas e Trancoso, nas budegas das cidades, a qualquer hora do dia ou da noite, esses homens e tantos outros não citados vão juntando os pedaços da nossa cultura como se fozem retalhos e nós, os aprendizes de poetas vamos montando uma colcha para agasalhar nossos sentimentos, saudosismo ou coisa assim. Quero agradecer a Deus por essas pessoas existirem no nosso cotidiano de leitores apreciadores de todo a qualquer forma de manifestação cultura e cada um deles pela dedicação e pela coragem de carregarem a Bandeira do Nordeste.

O Plantador de Milho

Sou eu caboclo da roça
Criado dentro da mata
Nunca calcei um sapato
Nunca usei uma gravata
Moro perto da cidade
Mas pra falar a verdade
Só vou lá de feira em feira
Ou quando há precisão
De batizar um pagão
Ou buscar uma parteira

No dia que registrei
O meu filhinho mais novo
O juiz estava nervoso
Brigando no meio do povo
Me chamou de maltrapilho
Sujo, plantador de milho
E disse mais uma piada
Dessas que a boca não cabe:
Matuto pobre só sabe
Fazer menino e mais nada.

O juiz não tinha filhos
Que enfeitassem sua vida
Eu conhecia a história
E fui direto na "ferida":
O senhor está zangado,
Tem dez anos de casado
E a mulher não tem um filho;
A sua comida fina
Não contém a vitamina
Que há na massa do milho.

A minha família é grande
Dez filhos e a mulher.
Sua família é pequena
Mas é porque você quer.
A sua mulher lhe embroma
Quase todo dia toma
Anticoncepcional
Lhe vicia em novela
Dorme tarde e faz tabela
E esquece do "principal".

Ouvi o senhor dizer
Que está gastando por mês
Mas de dez salários mínimos
Só com perfume francês
Diz que a vida é uma bomba
Que foi não foi leva tromba
Com mercadoria falsa
Comprar perfume estrangeiro
É pra quem possui dinheiro
Nos quatro bolsos da calça

Caro doutor, lá em casa
Ninguém nem conversa em luxo
A fora uma simples roupa,
O resto é encher o bucho
Não acostumei meu povo
Exigir sapato novo
Para as festas de São João
Ao invés de um colar de ouro
Compro a rabada de um touro
Pra se comer um pirão.

Lá ninguém fala em perfume,
O que há na minha casa
É cheiro de carne assada
Pingando em cima da brasa
Minha cabocla Maria,
Gorda, disposta e sadia,
Pra toda vez que eu quiser
Botar fogo na geléia
Para isso a minha "véia"
É mulher, sendo mulher.

Como!, é galinha caipira
E não galeto de granja
Ao invés de coca-cola
Tomo suco de laranja
Com rapadura de mel.
E escute aqui, bacharel,
Conversa longa me atrasa.
Quer ver a mulher Ter filho?
Bote um plantador de milho
Pra dormir na sua casa.

Autor: Daudeth Bandeira


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