quinta-feira, 23 de agosto de 2012

"A Casa" de João Lins Caldas



Fechaia a casa toda vós todos que estais dentro de casa.
A casa vai nos dar o seu segredo, a casa nos vai dizer o que é ela a nossa casa.

Aqui cresceram choros de crianças
Os nascidos choram
Embalaram-se da rede adolescentes
Velhos saíram nos seus caixões, esticados os pés, hirtos e mudos como tijolos levados.

Escrevi dos meus versos
Pensei dos meus pensamentos amargurados.
O cabelo comprido
A barba ponteaguda, mal alinhada,
E das mesas sobre as toalhas velhas os pratos fumegantes a incidência da luz sobre os armários.

Vamos, irmãos, tudo é entre sombras.
O medo
O cuidado
As mãos mortas
O pavio do candeeiro
Tudo é recordado.

...E ao comprido da rede que se balouça esticada,
Uma cabeça, uma cabeleira preta,
Pés que se estiram, mãos alongadas...
Vamos, irmãos, eu que estou reparando, de retrato, esse quadro que se alonga ao longo da parede.

(Há informações que este poema fora escrito em 1917, muito antes da Semana de Arte Moderna no Brasil, 1922. Por isso, Caldas é considerado por alguns críticos de arte e conhecedores da poesia moderna no páis, como "o pai do modernismo" brasileiro, o primeiro a cantar no verso branco, emancipado de métrica. João Lins Caldas era natural de Goianinha, litoral sul do Rio Grande do Norte, onde nasceu em 1. de agosto de 1888, faleceu em 18 de maio de 1967, na cidade de Assu, interior potiguar - terra dos seus ancestrais -, onde está enterrado).

Fernando Caldas

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Que eu seja eternamente eterno louco e nunca deixe de sonhar na vida. (João Lins Caldas, pensador potiguar).