quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

NO DIA DA SAUDADE

INFÂNCIA: BOLA DE MEIA

Na nossa época de criança, a meninada era igual a qualquer turma. Meninos pobres e humildes que tinham criatividade para brincar. Os sonhos eram realizados numa época que poucos tinham acesso a bola de plástico ou de couro.

Todavia, a confecção de um brinquedo que ganhou o mundo em popularidade, que encantava crianças e adolescentes, era a cilíndrica, envolvente e majestosa bola de futebol. Consegui-la nas nossas brincadeiras era quase impossível, diante das dificuldades financeiras daquele pequeno grupo de atletas mirins. Porém, o sonho de vê-la rolando nos campos improvisados, sob os nossos pés, era a mais pura realidade.

A bola tradicional de borracha ou couro era uma utopia, daí termos de improvisar e construir aquele objeto tão desejado. O primeiro passo seria conseguir uma meia, geralmente dos nossos pais, o que era teoricamente impossível, pois aquele par jamais poderia ficar ímpar, segundo a argumentação das nossas mães. E, para dificultar ainda mais, o estoque era muito limitado, já que os nossos genitores não usufruíam, rotineiramente, de tal indumentária.

Conseguida a dificílima peça de algodão ou nylon, na maioria das vezes subtraída, ilegalmente, restava arregimentar um amigo para conseguir o algodão descaroçado ou alguns pedaços de pano macio para formatar a futura bola, que iria ser lançada no campo sagrado da nossa imaginação para a alegria da nossa infantilidade.

O jogo ocorria em fundo de quintal ou em um beco. A minha turma, geralmente, jogava entre a casa onde papai morava (casa de Solon) e o antigo prédio dos Correios (que nunca foi inaugurado), onde hoje localiza-se a Junta Militar. A partida só terminava com o grito de nossas mães para o almoço ou quando a noite estava chegando e ninguém via mais a bola. As traves eram formadas por sandálias ou por bandas de tijolo.

Bola de meia que proporcionou amizades, brigas, alegrias, topadas em pedras, gols...e que gols.
Amiga bola de meia, quanta saudade. Você está patenteada no
amor, na alma, na nossa infância pobre e feliz.


Por Marcos Calaça, jornalista da UFRN

Ilustração do blog

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