sábado, 31 de agosto de 2013

Arnóbio Abreu, uma figura



José Arnóbio de Abreu (1948-2000) era um amigo leal, admirável, influente, de bem e do bem, estatura mediana, voz rouca, andar curto e ligeiro. Lembro-me dele (eu era ainda menino) adolescente, já metido a gente grande, discursando nas praças publicas do Assu, sua terra natal querida, nas eleições de 1962 quando disputava a prefeitura da terra assuense Walter de Sá Leitão e Maria Olímpia Neves de Oliveira/Maroquinhas.

No Assu viveu a sua infância, adolescência. A sua juventude entre Assu, Natal, Manaus (onde formou-se em medicina), Rio de Janeiro onde fez amizades com renomados médicos do Brasil como Lídio Toledo que foi médico da Seleção Brasileira.

Ele, Arnóbio, conviveu na intimidade com grandes figuras da política potiguar e conheceu muitas outras do Brasil, participando das Diretas Já, ao lado de Geraldo Melo, Henrique Eduardo, Ulisses Guimarães, Tancredo Neves.

O seu nome singelo e sonoro estampa em letras vivas nas páginas da história do Rio Grande do Norte, estado que ele representou na qualidade de deputado estadual constituinte de 1989 chegando a ser o seu presidente e promulgar a sua Carta Magna. Antes, porém, teria sido candidato a prefeito do Assu nas eleições de 1982 pelo PMDB, perdendo para Ronaldo Soares do PDS. Naquele parlamento potiguar foi líder do governo Garibaldi Alves.

Arnóbio foi também diretor do Hospital Walfredo Gurgel, empresário sócio fundador do Instituto de Traumatologia do Rio Grande do Norte – ITORN, presidente do Instituto de Previdência dos Servidores do Estado – IPE.

Para defini-lo melhor, era “um festeiro permanente, tempo integral, sem perda da seriedade”, assim depõe Agnelo Alves.

Já , sobre Arnóbio,Valério Mesquita escreveu: "Qual pássaro estrangulado no canto desapareceu Arnóbio do nosso convívio, ainda jovem e ávido de vôos inspirativos. Menino alegre do Açu revelado líder estudantil, logo atendeu ao impulso político, disputando a Prefeitura de sua terra, para chegar a parlamentar estaduano.

De presidente da Constituinte Estadual no primeiro mandato, embora não logrando êxito nas eleições seguintes, a angústia e o sofrimento não abateram o ânimo desse anjo irrequieto, mas terno, esgrimidor de pelejas que não se fez de exilado da política, na gaiola de si próprio. Perseverou na lide tanto política quanto profissional.

Arnóbio teve uma carreira política meteórica. Viveu o transitório e transitoriamente viveu, mas deixou marcas de eternidades na efetividade dos seus gestos. Soube, melhor como ninguém, de forma forte e intensa, nos descompassos da política, ser o capataz dos silêncios e das longas esperas.

Todos sentimos a falta que ele hoje nos faz, quando penetrou na longa e interminável noite que não lhe reservará mais auroras nem mais lhe oferecerá o sol de novas manhãs da visão milagrosa do Vale do Açu.
Conforta-nos o dizer do poeta "que ao seu encontro virão um dia despedaçadas estrelas e astros da noite dos boêmios sem ostentação e com ela a saudade como uma certeza do nosso sofrimento".

Afinal, José Arnóbio de Abreu empresta o seu nome (decreto do governador em exercício Fernando Freire), a Adutora Médio Oeste, um reconhecimento pelos seus serviços prestados a terra potiguar, além do Ginásio Esportivo do Assu com muita justiça. O seu nome honra e dignifica a terra assuense. Com ele, Arnóbio, tive o prazer da boa convivência.

Fernando Caldas


Refrigerante Crush. Quem se lembra?



"Dentro dos meus sonhos mora uma borboleta que voa durante a noite buscando cor pro meu dia seguinte Ela viaja muito e nunca se cansa De dia ela dorme, depois que me entrega o arco-íris."

Vanessa Leonardi
I
Gosto de ti apaixonadamente,
De ti que és a vitória, a salvação,
De ti que me trouxeste pela mão
Até o brilho desta chama quente.

A tua linda voz de água corrente
Ensinou-me a cantar…e essa canção
Foi ritmo nos meus versos de paixão,
Foi graça no meu peito de descrente.

Bordão a amparar minha cegueira,
Da noite negra o mágico farol,
Cravos rubros a arder numa fogueira!

E eu, que era neste mundo uma vencida,
Ergo a cabeça ao alto, encaro o Sol!
– Águia real, apontas-me a subida!

Florbela Espanca - Charneca em Flor 

sexta-feira, 30 de agosto de 2013

"Boa noite a todos que estiveram aqui comigo até agora. Durmam com os anjos e bons sonhos."


"Buraco do Prefeito"

Buraco do Prefeito, fotografia abaixo, é uma denominação dada pelo povo irreverente do Assu, interior potiguar, a um anfiteatro que leva o nome oficial de Arcelino Costa Leitão que foi prefeito daquele município (1958-62), da praça Getúlio Vargas, servindo para realizações de festas populares e até mesmo de quadra de futsal e outros eventos da cidade, desde 1985. Era prefeito Ronaldo Soares. 

Fernando Caldas

Foto da web

Chove em Assu...

Foto de Jeová Liberato.


Soneto



SEGREDOS

(Gilmar Rodrigues de Lima*)

Ah se pudesse desvendar o peito,
Abrir os olhos, descrever a mente,
Tudo o que faz, que fala e que sente,
Fosse escrito do modo mais perfeito.

Sim, um jeito, quem me dera um jeito,
De transformar num todo convergente,
A insensatez, hipócrita indolente,
Apenas uma ilusão que eu tenha direito.

Sei, no amor seria o pior dos réus,
Sentir o tempo parar o meu desejo,
Sentir o tempo jogando-me ao espaço.

Erguer os olhos alcançando os céus,
Lábios vazios implorando um beijo,
Braços abertos mendigando um abraço.


* Gilmar faz parte do cenário humano do Assu.



Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas ...Que já têm a forma do nosso corpo ...E esquecer os nossos caminhos que nos levam sempre aos mesmos lugares ...É o tempo da travessia ...E se não ousarmos fazê-la ...Teremos ficado ... para sempre ...À margem de nós mesmos...

Fernando Pessoa

A boa da noite

Bela Natal hoje. Foto da web.

Quem vive desenha ideias, e aprende que Viver não é apenas existir.
Quem vive pinta de diferentes cores as várias fases que viveu.
Quem vive escreve sonhos, e com esses sonhos aprende a caminhar, seja em busca deles ou com eles.

Ter um sonho é imaginar novas histórias, ver novas terras e desenhar novas paisagens. É olhar para o futuro com o coração vivendo no presente e a memória sempre de olho no passado. Viver um sonho, ter um sonho ou ser um sonho é dar asas ao nosso sentido mais interno - e descobrir-se, pouco a pouco, no mundo maravilhoso de sentimentos e sensações.

Ter um sonho é revelar a si mesmo os segredos que tanto escondemos.
É contar para a sua imagem refletida no espelho os anseios mais urgentes e as angústias mais dolorosas.
Acreditar num sonho é encher-se da força necessária para buscá-lo; e da energia inesgotável de um novo renascer.

Um sonho é exatamente isso: é o renascer de um corpo e de uma mente exaustos da mesmice da rotina. É o presente do ócio para os momentos vazios e escuros que nos sujeitamos a viver... Ou que somos obrigados a viver.

Entregar-se a um sonho é dar um novo sentido ao que parecia perdido.

Quando acreditamos que podemos fazer algo impossível, percorremos pelo menos metade do caminho rumo ao supostamente inalcançável; quando acreditamos em um sonho, por mais distante que ele possa parecer, dizemos a todo o universo...

"Somos do tamanho dos nossos sonhos, e não daquilo que dizem..."

www.aterceiraidade.com é muito mais que viver uma fase da vida: é acreditar que cada momento tem seu sentido e o seu complemento.


Antiquário Epoca — em Antiquário Época Café

Av Afonso Pena 1173- Tirol Natal RN. Reservas (084) 2226-5424/9952-7731
Sábias palavras. Não deixem cair no esquecimento.

"Aos que não casaram,
Aos que vão casar,
Aos que acabaram de casar,
Aos que pensam em se separar,
Aos que acabaram de se separar.
Aos que pensam em voltar...

Não existem vários tipos de amor, assim como não existem três tipos de saudades, quatro de ódio, seis espécies de inveja.
O AMOR É ÚNICO, como qualquer sentimento, seja ele destinado a familiares, ao cônjuge ou a Deus.

A diferença é que, como entre marido e mulher não há laços de sangue, A SEDUÇÃO tem que ser ininterrupta...

Por não haver nenhuma garantia de durabilidade, qualquer alteração no tom de voz nos fragiliza, e de cobrança em cobrança, acabamos por sepultar uma relação que poderia SER ETERNA.

Casaram. Te amo pra lá, te amo pra cá. Lindo, mas insustentável. O sucesso de um casamento exige mais do que declarações românticas.
Entre duas pessoas que resolvem dividir o mesmo teto, tem que haver muito mais do que amor, e às vezes, nem necessita de um amor tão intenso. É preciso que haja, antes de mais nada, RESPEITO. Agressões zero.

Disposição para ouvir argumentos alheios. Alguma paciência... Amor só, não basta. Não pode haver competição. Nem comparações. Tem que ter jogo de cintura, para acatar regras que não foram previamente combinadas. Tem que haver BOM HUMOR para enfrentar imprevistos, acessos de carência, infantilidades. Tem que saber levar.

Amar só é pouco.
Tem que haver inteligência. Um cérebro programado para enfrentar tensões pré-menstruais, rejeições, demissões inesperadas, contas para pagar. Tem que ter disciplina para educar filhos, dar exemplo, não gritar.
Tem que ter um bom psiquiatra. Não adianta, apenas, amar.

Entre casais que se unem , visando à longevidade do matrimônio, tem que haver um pouco de silêncio, amigos de infância, vida própria, um tempo pra cada um. Tem que haver confiança. Certa camaradagem, às vezes fingir que não viu, fazer de conta que não escutou. É preciso entender que união não significa, necessariamente, fusão. E que amar "solamente", não basta.

Entre homens e mulheres que acham que O AMOR É SÓ POESIA,
tem que haver discernimento, pé no chão, racionalidade. Tem que saber que o amor pode ser bom, pode durar para sempre, mas que sozinho não dá conta do recado.

O amor é grande, mas não são dois.
Tem que saber se aquele amor faz bem ou não, se não fizer bem, não é amor. É preciso convocar uma turma de sentimentos para amparar esse amor que carrega o ônus da onipotência. O amor até pode nos bastar, mas ele próprio não se basta.

Um bom Amor aos que já têm!
Um bom encontro aos que procuram!
E felicidades a todos nós!"

Artur da Távola


Ponta Negra hoje pela manhã, dia nublado. Foto de Rafael Barbosa.


Há coisas que não se podem mudar,
para todas elas, paciência.
Para todas as outras 
é preciso muito Luta e muita Fé!


Cristina Costa


O amor na prateleira: 10 livros para ajudar você a achar a pessoa ideal

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Tédio

Ir levando no caminho os amores perdidos 
e os sonhos idos 
e os fatais sinais do olvido. 

Ir seguindo na dúvida das horas apagadas,
pensando que todas as coisas se tornaram amargas
para alongarmos mais a via dolorosa.

E sempre, sempre, sempre recordar a fragrância
das horas que passam sem dúvidas e sem ânsias
e que deixamos longe na estéril errância.

Pablo Neruda

















De: Pablo Neruda Poemas da Alma
O que precisa nascer
aparece no sonho
buscando frinchas no teto,
réstias de luz e ar.
Sei muito bem
do que este sonho fala
e a quem pode me dar
peço coragem.

Adélia Prado

De: Yara Darin


ÂNGELO ROQUE – A REGENERAÇÃO DE UM CANGACEIRO



Manchete da reportagem da década de 1950, sobre a regeneração de Ângelo Roque
Manchete da reportagem da década de 1950, sobre a regeneração de Ângelo Roque
Autor – Rostand Medeiros
No Brasil a palavra “regeneração”, definitivamente é algo que o nosso povo não sabe trabalhar muito bem em suas mentes e seus corações, quando aplicada aqueles que erraram junto a sociedade, contra os que praticaram crimes diversos, contra os que sofreram as duras penas da lei e estiveram um período em alguma unidade prisional.
Dificilmente vemos o antigo presidiário como alguém que se regenerou. Olhamos para ele mais com medo do que com esperança de que ali está uma pessoa recuperada. Isso não é difícil diante verdadeiras masmorras medievais que existem nos nossos presídios.
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Por isso é que na história carcerária brasileira chama tanto atenção o fato dos homens que foram cangaceiros, pelo menos os que se entregaram e passaram um tempo presos, terem tido um índice de reincidência criminal baixíssimo.
Na verdade digo “terem tido um índice de reincidência criminal baixíssimo”, pois ouvi isso de outros pesquisadores do tema cangaço. Mas confesso que nunca li e não tenho dados que comprovem especificamente quantos antigos cangaceiros padeceram na prisão e quantos voltaram ao crime após a liberdade.
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Entretanto é vasto, inclusive amplamente divulgado na imprensa brasileira das décadas de 1950 e 1960, que vários homens que andaram nas caatingas debaixo do peso do chapéu de couro e do “pau de fogo”, ao deixarem a prisão se tornaram os ditos “cidadãos de bem”, totalmente regenerados. Muitos se tornaram pacatos funcionários públicos, pequenos comerciantes, caixeiros viajantes e outros exerceram simples e honestas atividades. Um dos casos mais emblemáticos na minha opinião é a recuperação do chefe cangaceiro Ângelo Roque.
Vida Bandida
Em uma entrevista a um periódico carioca, repleta de fotografias, temos a história de Ângelo Roque da Costa, o conhecido cangaceiro Anjo Roque, o conhecido Labareda. Teria nascido em 1910, no lugar Jatobá, depois pertencente ao município pernambucano de Tacaratu (e por isso conhecido como Jatobá de Tacaratu), era filho de família humilde, mas respeitada em seu lugar.
Lampião, o primeiro a esquerda, e seus cangaceiros
Lampião, o primeiro a esquerda, e seus cangaceiros
Na reportagem afirmou que entrou na vida do cangaço após matar um soldado de polícia que desvirginou a sua irmã de 14 anos de idade. Roque contou que o conquistador se chamava Horácio Cavalcanti, que havia casado quatro vezes e quatro vezes abandonou as esposas. Consta que sua família buscou a justiça de sua região, mas um juiz e outras autoridades pouco deram importância ao sentimento de raiva de seus familiares.
Logo houve um encontro dos dois homens em um trem, a faca vibrou e ambos ficaram feridos. Mas logo o jovem Roque, então com 16 ou 17 anos, matou o soldado com um tiro de rifle e caiu “em desgraça” perante a justiça.
Para sobreviver em uma situação como esta, naquele sertão atrasado, só entrando para o cangaço. Foi em uma propriedade denominada Jurema que Roque entrou no bando de Lampião, que lhe deu apoio e ambos se tornaram grandes amigos.
Um Cangaceiro
Na reportagem Ângelo Roque detalhou que esperou 13 dias por Lampião na propriedade Jurema. Logo Roque ficou alcunhado no bando como Labareda. Comentou que Lampião sempre foi um homem de pouca conversa, mas era extremamente hábil na luta das caatingas. Labareda informou que passou dois anos andando junto a Lampião no seu bando, onde teve um grande aprendizado na arte da guerrilha nordestina. Devido a sua capacidade de comando e de combate, logo Labareda passou a comandar um subgrupo de cangaceiros.
No seu processo de regeneração, o antigo cangaceiro aprendeu a ler e escrever
No seu processo de regeneração, o antigo cangaceiro aprendeu a ler e escrever
Para Roque era normal Lampião ter cerca de 60 homens em seu bando. Já o famigerado cangaceiro Corisco andava com um grupo que tinha em torno de 20 a 25 combatentes e Labareda seguia com uma média de 15 cangaceiros. Nesta vida Ângelo Roque da Costa permaneceu 16 anos em luta, onde afirmou a reportagem ter combatido “200 vezes contra a polícia”.
Lembrou aos repórteres que seu primeiro combate, sem especificar datas, foi em Sergipe, onde cerca de 40 cangaceiros brigaram diretamente com vários policiais, sem perdas para os “cabras” de Lampião, mas com a morte de vários homens da lei.
Ângelo durante a entrevista
Ângelo durante a entrevista
Para o cangaceiro Labareda os dias de cangaço eram “Dias miseráveis!”, onde os cangaceiros tinham um ódio extremo aos policiais e, assim que tinham alguma oportunidade, não perdiam a oportunidade de desfechar terríveis ações violentas contra os membros da “Força”.
Em seus relatos Labareda afirmou categoricamente que era “Um bandido”, que aquela vida lhe trazia muitas amarguras. Tanto que para conceder a entrevista ele perguntou primeiramente ao Professor Estácio de Lima se aquela exposição na imprensa seria positivo para ele. O Professor Estácio concordou.
Ângelo Roque e o Professor Estácio de Lima
Ângelo Roque e o Professor Estácio de Lima
Na época da entrevista Ângelo Roque era um pacato funcionário do Concelho Penitenciário da Bahia, morando em Salvador, onde trabalhava como auxiliar de confiança do Professor Estácio.
Na Prisão
Após a morte de Lampião em 28 de julho de 1938, o cangaceiro Labareda andou ainda quase dois anos pelas caatingas de armas na mão, tendo se entregado as autoridades no início de abril de 1940, em Paripiranga, Bahia. Logo ele e mais outros companheiros foram recambiados para Salvador.
Fim de Lampião e seu bando
Fim de Lampião e seu bando
Na capital baiana, nos primeiros contatos com a imprensa na Secretaria de Segurança, os cangaceiros já se encontravam de cabelos cortados e usando paletó e gravata, mas Labareda fazia questão de ser tratado pela patente de “capitão”. Na ocasião houve um encontro muito animado com o cangaceiro Juriti, que já se encontrava detido. Comentaram que do terraço da repartição chamou atenção dos agora ex-cangaceiros a chegada ao porto de Salvador do paquete “L’Argentine”.
Saracura, companheiro de cangaço e de prisão de Ângelo Roque
Saracura, companheiro de cangaço e de prisão de Ângelo Roque
Após a sua entrega justiça, Ângelo Roque da Costa foi julgado e condenado a 95 anos de prisão, depois reduzidas a 30 anos e comutadas a apenas 10 anos de cárcere. Mesmo com condenações tão elevadas no início do seu período de detenção, ele manteve a calma e se tornou um prisioneiro de comportamento exemplar.
O antigo cangaceiro Labareda entre as cabeças de Corisco e Lampião
O antigo cangaceiro Labareda entre as cabeças de Corisco e Lampião
Primeiramente foi enviado para o “Campo Experimental de Ondina”, em Salvador, onde passou a cumprir seu tempo de prisão junto com os companheiros de luta.
Lembrou que na época do início do cumprimento de sua pena, lhe chamou atenção o interesse e a curiosidade provocada em várias pessoas pelos ex-cangaceiros. Recordou que em uma ocasião receberam a visita de Renato Monteiro, documentarista da “Tupy Films”, que realizou um pequeno filme (provavelmente pago pelo Governo Federal), mostrando a regeneração dos anteriormente temidos “Guerreiros das Caatingas”. Foram realizadas filmagens daqueles homens em uma lavoura, tendo sido capturado as imagens do antigo Labareda, de Saracura, Juriti, Jitirana, Velocidade e cinco outros ex-cangaceiros.
Inclusive pelo bom trabalho realizado nesta lavoura, em 1944, durante o período da Segunda Guerra Mundial, ele e outros 20 condenados pela justiça receberam um prêmio da LBA-Legião Brasileira de Assistência. Este programa era denominado “Hortas para a vitória!” e havia sido implantado para incrementar e ampliar o que hoje denominamos de agricultura familiar, tudo em prol do esforço de guerra brasileiro.
Ângelo Roque e a cabeça de Lampião
Ângelo Roque e a cabeça de Lampião
Como comentei anteriormente, não sei estatisticamente quantos dos cangaceiros que se entregaram as autoridades reincidiram no crime. Mas não deixa de chamar atenção pelas fotos aqui publicadas, como as autoridades faziam questão de propagar a regeneração dos antigos cangaceiros a imprensa brasileira.
Não sei se é utopia da minha parte, sei que os tempos e os problemas são outros, mas bom seria se alguém da área de direito penal, ou de alguma área relativa aos estudos penitenciários, se dispusesse a pesquisar mais a fundo estes casos específicos dos ex-cangaceiros.
Talvez o resultado de um trabalho assim, poderia trazer lições do passado que possam ajudar os “homens das leis” dos nossos conturbados e violentos dias, a terem uma nova abordagem para a recuperação dos nossos apenados.

http://tokdehistoria.wordpress.com
"Ilusão Perdida"

Pablo Neruda

Florida ilusão que em mim deixaste
a lentidão duma inquietude
vibrando em meu sentir tu juntaste
todos os sonhos da minha juventude.

Depois dum amargor tu afastaste-te,
e a princípio não percebi. Tu partiras
tal como chegaste uma tarde
para alentar meu coração mergulhado

na profundidade dum desencanto.
Depois perfumaste-te com meu pranto,
fiz-te doçura do meu coração,

agora tens aridez de nó,
um novo desencanto, árvore nua
que amanhã se tornará germinação.

quarta-feira, 28 de agosto de 2013



Ilusão Perdida

Florida ilusão que em mim deixaste
a lentidão duma inquietude
vibrando em meu sentir tu juntaste
todos os sonhos da minha juventude.

Depois dum amargor tu afastaste-te,
e a princípio não percebi. Tu partiras
tal como chegaste uma tarde
para alentar meu coração mergulhado

na profundidade dum desencanto.
Depois perfumaste-te com meu pranto,
fiz-te doçura do meu coração,

agora tens aridez de nó,
um novo desencanto, árvore nua
que amanhã se tornará germinação.

Pablo Neruda


De: Pablo Neruda Poemas da Alma
"Modéstia...
Está aí uma palavra que admiro.
Poucos a tem, muitos a esnobam e outros a usam como se vestissem uma roupa menor que seu manequim!!!"

G.Fernandes

Abra Seu Coração!!! Voe Como As Borboletas.

terça-feira, 27 de agosto de 2013

CONTO

PERNA DE PAU
- Eugênia!!!... Bote o comer filha de rapariga! – Esse tom ameaçador era o grito de guerra de Marcolino para sua esposa, quando se aproximava de casa embriagado. 

Marcolino era pescador. Um sujeito diferente. Moreno, alto, barrigudo, barba descuidada, cabelos compridos e encaracolados. Para terror da criançada tinha uma perna de pau. Tal qual a de alguns piratas das estórias infantis. Devido a sua experiência não tinha dificuldades para andar. Caminhava a passos longos. No entanto, quando estava bêbado andava desengonçado, aos tombos, muitas vezes caindo. Atolava em qualquer areal.

A comunidade de Juazeiro ficava pavorosa, quando tinha notícias de que Marcolino Perna de Pau estava bebendo. Era sinal de desgraças, arruaças, intranquilidade para todos.

Ele já havia brigado com quase todos os habitantes do lugarejo. Não tinha respeito e consideração a ninguém, nem homem nem tampouco mulher. Era tido por todos como um elemento revoltado, nocivo à sociedade. Alguns diziam que tinha sido trauma por ter perdido a perna com apenas treze anos de idade num acidente, quando tentava ancorar um barco no porto de Areia Branca. A barcaça bateu noutra, sem dar tempo de retirar a sua perna da rota de colisão.

Quando chegava a seu barraco, construído de taipa, se a mulher não tivesse “pronta” a peia comia o couro. Água fria, comer quentinho, rede armada no alpendre da cozinha, eram o tripé de conforto exigido pelo valentão.

Os mais velhos diziam que ele apareceu na comunidade de Juazeiro num final de semana para uma pescaria na lagoa. Daí em diante nunca mais saiu do lugar. Casou, teve cinco filhos. Apesar de aparentar um cinquentenário possuía apenas 42 anos de idade.

Num sábado foi para Assu vender o peixe pescado durante a semana. Entrou numa roda de pif-paf no ‘beco do mercado’ e enrolou a noite, bebendo e jogando. O jogo acabou, quando os parceiros desconfiaram de que ele estava roubando e reclamaram. Foi o suficiente para Marcolino dar de mão de uma faca de doze polegadas e de um revólver calibre 38 e apontar em tom ameaçador para os companheiros de jogo. Todos correram. 

O dono do ambiente mandou um menino avisar à polícia. Quando soube de quem se tratava, o soldado de plantão mandou avisar que estava ocupado cuidando dos presos e que o delegado tinha viajado.

No Cabaré de Rosemary as mulheres ainda estavam curtindo a ressaca, quando as portas dos quartos começaram a ser abertas a bofetes.

- Levanta raparigas, que Marcolino Perna de Pau chegou e quer fuder!

As mulheres saiam dos quartos correndo. Descabeladas, enroladas em lençóis, outras nuas. Buscavam um lugar seguro. Afinal o “elemento” já era conhecido no trecho. Foi um domingo de horror: as mulheres dançaram e desfilaram peladas; beberam a força copos cheios de cachaça; tomaram banho de cerveja; fizeram fila para praticarem sexo oral no delinquente... 

O sol já buscava repouso no horizonte, quando despontou na rodagem que dá a cesso a comunidade de Juazeiro um burro mulo conduzindo algo parecido com uma pessoa. Depois de algum tempo foi reconhecido.

- Valha-me Nossa Senhora, lá se vem Marcolino! Bêbado rodando! 

A velha Rita tinha reconhecido a silhueta devido à perna de pau esticada, ao lado direito do estribo da cela posta sobre o pobre animal.

À medida que Marcolino ia passando ao longo da estrada, as poucas famílias da comunidade iam fechando suas portas. Não sem antes dar uma olhadinha para ver o estado daquele temível e indesejável morador.

- Eita terrinha de corno! Terra de cabuetas manobrados por muiê! - Dizia Marcolino ao passar à frente de cada casa fechada. 

Quando foi se aproximando de sua casa, viu saindo em toda carreira o jovem Benedito, garoto que ele já tinha escutado falar de que enamorava Ritinha, sua filha mais velha, de 16 anos de idade.

- Epa negro bom de peia. Volta aqui! Seja homem! Se te pego namorando Ritinha... – Gritou Marcolino descendo do burro de ligeira em punho. Não perdendo tempo, as duas primeiras ligeiradas acertaram as costas da sua filha Ritinha. A mãe, Eugênia, tentou evitar e levou três lapadas que deixaram marcas no seu corpo. Por sorte os outros quatro filhos menores entraram na baderna e conseguiram, com muitos esforços, dominar o agressor.

Naquela noite ele não saiu mais de casa. Acordou pela manhã cedo, pegou a canoa e entrou na água da lagoa. Não chamou nenhum dos meninos, como de costume. Provavelmente estava curtindo uma ressaca moral. Afinal, havia muito tempo que os filhos de Marcolino não se envolviam numa briga em casa. De certo estavam ficando grandes. 

Três dias se passaram. Nenhuma notícia de Marcolino Perna de Pau. Um garoto entrou afrontado na casa gritando: 

- Dona Eugênia!... Dona Eugênia! Encontraram Perna de Pau... Tá morto na beira da lagoa.

A notícia se espalhou rapidamente. Todos os habitantes de Juazeiro foram para um matagal de junco existente à margem da lagoa. O corpo de Marcolino estava fétido. Podiam-se ver, por todo o corpo, diversos cortes de faca peixeira, mais de trinta facadas. 

Uma curiosidade: o criminoso e a perna de pau usada por Marcolino nunca foram localizados. Dizem que em noite de lua cheia, ouve-se o baralho da perna de pau perambulando por Juazeiro.
Do Livro Dez Contos & Cem Causos - Ivan Pinheiro 

  UMA VEZ Por Virgínia Victorino (1898/ 1967) Ama-se uma vez só. Mais de um amor de nada serve e nada o justifica. Um só amor absolve, santi...