sábado, 22 de fevereiro de 2014

FRUTILÂNDIA - UMA EMPRESA A SER INSTALADA E GERENCIADA POR DOIS POETAS...


Acredite quem quiser: dois poetas deixam  o etéreo mundo daas musas, aterrissam os pés na materialidade da terra e planejaram, idealizaram um empreendimento empresarial de grande porte, que haveria de revolucionar a  vida social e econômica do vale do rio Assu. Frutilândia serria o seu nome e o seu objetivo era o mais grandioso:

Redenção econômica de toda a região gerando riqueza, justiça social, vilas operárias, escolas,, grande, inovando a produção de frutas, legumes, hortaliças, tudo em grande escala, gigantescas proporções. Os pobres sairiam da miséria, teriam moradia, grandes vilas operárias, escolas, assistência médica, futuro.  Largariam o secular corte da carnaúba, trabalho sazonal e mal- remunerado.

Cadeiras na calçada na tarde morna, sol dourando o crepúsculo sertanejo. Othoniel e amigo João Lins Caldas sonhavam alto.

Terra boa havia em grandes extensões, água de um grande rio perene até nas maiores secas, mão de obra abundante sendo mal paga em exploradores ou vivendo de míseros trabalhos manuais.

Moderníssimas máquinas, escavadeiras imensas, dragas-descomunais - desde  Roterdã - abririam largo e profundo canal, em linha reta, de Assu a Macau. Ali, mar a dentro, plantar-se-iam modernos, imponentes, equipados  cais, frigoríficos, grandes armazéns. Luzentes guindastes, esteiras  rolantes, secariam a fonte das bocarrAS DOS porões das grandes embarcações da própria Companhia, espalhando por Oropa, França e Bahia  cajus, mangas, pinhas, araticuns, mangabas, romãs, laranjas-cravo, abacaxis, maracujás, - os dúlcidos e tropicais produtos de gigante complexo agroindustrial da biliardária sociedade CALDAS & MENEZES...

Caldas e Menezes! Continuariam poetas, mas apenas por vocação ou para passar o tempo. Seriam sócios gerentes de uma grande firma. Adeus difinitivo aos problemas econômicos e aos mirrados salários.

Na tarde seguinte o sol se punha com a regularidade de sempre e os amigos - futuros sócios - cadeiras na calçada, repensavam e antecipavam o seu sonho.

o tempo passou e Othoniel teve de retornar a Natal. A empresa se tornou lembrança. Um poema nasce em uma folha de papel. Isto era até fácil para aqueles sonhadores. Uma empresa exigia muitas coisas, coisas que eles nunca imaginavam.

Uns dez anos mais tarde, Othoniel, sempre poeta e ex-quase empresário vitorioso, recomendou ao filho adolescente Laélio uma  visita a João Lins Caldas em Assu, que também continuava poeta e ex-quase  bem-sucedido homem de negócios.

Casa do poeta, pequena e moderna. Fazer como sempre se fazia: bater palmas e dizer ô de casa!

Apareceu o amigo do meu pai, o sócio do sonho tão sonhado, tão detalhado, idealizado na conversa dos dois. Disse-lhe quem era, fez uma festa daquelas, passando, suavemente, a mão na minha cachola, sonhadora. Era magro, baixo, gestos nervosos, rápidos. Dando o nó na gravata convidou-me a entrar, risonho, gentil, hospitaleiro.

O poeta assuense recebeu o rapaz com carinho e emoção. Lembrou o amigo Othoniel e ops momentos vividos ali em sua terra: Nada, também, acerca da razão social "CALDAS & MENEZES".

O poeta JOÃO LINS CALDAS, sublime sonhador, senhor de vaticínios para o seu vale - o sócio do meu pai - trancou a porta capenga da casinha. Apertou-me a mão, com calor, despedindo-se. Pediu desculpas pela pressa - ia caçar! Argumentou, cavalheiro, que aquela era a hora dos preás e das rolinhas, das nambus escondidas no panasco dourado. E lá se foi, engavetado, predador solene, feliz da vida - o sonhador...

Frutilândia havia sido um momento bom, breve como todos eles. Se não viveu na realidade teve sua formaa no mundo do sonhos, onde nada é exigido para criar e onde só o esquecimento destrói.

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FERREIRA DE MELO, Laélio. "A Frutilândia dos poetas". O Mossoroense. 26 de maio de 2006. São dessa crônica do pesquisador Laélio Ferreira de Melo (filho de Othoniel) os trechos nincluídos neste capítulo.


Do livro Principe Plebeu - Uma Biografia do Poeta Othoniel Menezes, de Cláudio Galvão, FAPERN, 2009.

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