sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Esmeraldo Homem Siqueira

A pena aguçada do escritor e crítico contumaz – Esmeraldo Siqueira

II – Ensaios
“Mais um dia … E é o mês de Agosto,
Mês de Itajubá e o meu
Conquanto irmãos no desgosto
Foi mais feliz: já morreu”
(Esmeraldo: Mês de Agosto)
Introdução
A sede de conhecimento do homem é ilimitada. Esmeraldo Homem Siqueira era um desses curiosos insaciáveis. Um homem de um saber amplo e profundo. A limitação da vida faz dessa busca de conhecimento uma dolorosa e angustiante contingência. Esmeraldo quer saber tudo, e ver na vida e obra do outro uma forma de aprendizado e lição. O livro é a sua matéria. Em “ Modus Vivendi”, o poeta faz a sua profissão de fé: Para o meu tédio curar ( mal que, aliás, não tem cura), / Ponho-me a ler e a estudar, / Cultivo a literatura.
Esmeraldo tem pressa e escreve tudo que sabe e leu em sua vasta e diversificada biblioteca de um médico de província. Felizmente, para a cidade de Natal, parte dessa rica biblioteca que leva o nome de seu famoso proprietário encontra-se atualmente na Capitania das Artes, ali na rua onde morava o escritor Câmara Cascudo. Esmeraldo Siqueira escreveu em torno de duas dezenas de livros. Neles convivem o homem de ciências e o poeta lírico. Escreveu entre outros livros: Caminhos Sonoros, Trovas Pretéritas, Taine e Renan, Variações em Prosa, Gregos e Latinos na literatura, Sugestões da Vida e dos Livros, etc.
Esmeraldo é um homem irascível e muitas vezes impiedoso na sua crítica ferina a alguns escritores locais e estrangeiros. Sua pena é afiada e não faz concessões.
“Se eu respeitasse o jumento/ Mesmo o bravio e coiceiro, / Adeus meu divertimento / Alegre humor galhofeiro…”
Um Agrippino Grieco potiguar, com algumas limitações. Um poeta que sabe escrever bem. Nem sempre um bom prosador é um bom poeta, observa Esmeraldo. De minha parte, prefiro o Esmeraldo prosador e aguçado leitor dos clássicos. Um Esmeraldo que tem necessidade de mostrar toda a sua erudição e faz uma babel de suas citações e comentários. A Teoria da Evolução se une com a economia. A biologia com as ciências naturais. O escritor comenta sobre o papel da Universidade e do ensino Básico.
São compilações com comentários e análises bibliográficas relevantes sobre a vida e a obra dos escritores. Informações curiosas e instigantes são reveladas, muitas vezes de forma aleatória e sem a profundidade e sistematização de um erudito. Esmeraldo é um Spenceriano que tudo quer saber. Sinto falta das referencias bibliográficas e justificativas das fontes referidas. Alguns autores citados são poucos conhecidos e, isso, pode ser um mérito, ou desinformação. O autor é um poliglota e faz citações abusivas (sem traduções) em latim, francês, italiano, Inglês e outros idiomas.
Esmeraldo foi professor de Francês e um dos fundadores da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Esmeraldo dá palestras, aula da saudade e escreve para uma terra de poucos interlocutores. Homem de poucos amigos e um exemplo de escritor sagaz que não faz concessões.
Os prefácios são geralmente inúteis e supérfluos, diz Esmeraldo no prefácio ao livro “A Canção da Montanha”, do grande poeta Othoniel Meneses. Sem uma crítica consistente a literatura não avança. A literatura potiguar se ressente do elogio fácil de amigos, ou do silencio sepulcral da maioria. O crítico e escritor Esmeraldo ajuda e desvelar o tênue tecido da hipocrisia de algumas carcaças e pérolas literárias. Em Bem- aventurados …, ele destila o veneno:
Os asnos são divertidos,
Asnos bípedes, é claro,
Todos se julgam sabidos,
Dotados de senso raro.
A melhor forma de homenagear um poeta e escritor é lê-lo criticamente. Em 2008 comemoramos o centenário do poeta Esmeraldo Siqueira, nascido a 16 de agosto de 1908 (Vila Nova, atual Pedro Velho-RN), escrevendo esse artigo que enfatiza uma faceta menos conhecida do poeta e escritor Esmeraldo: o crítico literário. Uma forma de lembrar essa grande figura que conheci flanando e poetando na urbe potiguar, e agora o tenho na companhia dos livros. Um poeta saudoso da bucólica cidade; “Nesta hoje terra de cimento armado / já fui um venturoso potentado” (Romancete).
Esmeraldo pertence àquela classe de escritores que lêem muito. Um escritor que conhecia profundamente a literatura local e universal. Um homem plural que não via sentido na separação entre o saber científico e literário. Opinou sobre tudo e todos. Nesse artigo fazemos uma breve antologia das opiniões do crítico literário Esmeraldo sobre alguns escritores e poetas locais, e outros temas relacionados com a literatura. Uma forma de tornar mais conhecida a rica literatura norte-riograndense. São florilégios pinçados da obra multi-facetada desse profícuo escritor. Um autêntico Esmeraldo a iluminar e realçar com sua lente aguda o vasto e pouco conhecido oceano da literatura potiguar e universal. Um convite para a leitura dos nossos poetas e escritores
A poesia Esmeraldina é ferina com a humanidade e suas fraquezas, vícios e hipocrisia.
“A mediocridade infesta / Os arraiais literários. / Asnos exibem na testa / Triunfos extraordinários.
Dão-se prêmios repetidos / A livros que valem nada, / De versos desenxabidos / Ou prosa vazia e aguada (Áurea Mediocritas).
Poesia é verdade e “jurar que é fingimento tudo que o poeta diz / Não tem nenhum fundamento, / É afirmação infeliz”.
Terminamos o artigo com um poema do Esmeraldo “Brasilae Jumentorum” que faz um cumprimento irônico a todos os jumentos do Brasil. Aliás; os burros, asnos, muares e jumentos participam com muita freqüência da fauna poética do poeta. Esmeraldo não espera recompensa por sua poesia. É um solitário que escreve para viver. E vive porque escreve. O poeta Esmeraldo não finge, e toda a sua poesia toca na solidão de sua existência já descrente do amor dos homens e dos guizos fáceis da mediocridade.
O POETA DAS QUADRINHAS FERINAS, para o bem e para o mal.
Brasilae Jumentorum
In Poemas do Bem e do Mal – inéditos e recentes 1984
Mais uma vez quero cumprimentar
Os jumentos de sorte no Brasil,
Celeiro mundial, hoje sem par,
Dessa garbosa espécie tão gentil.
Por toda parte, em todos os setores.
Da vida nacional, ei-los felizes:
São médicos, dentistas, professores,
Boticários, agrônomos, juizes.
Na militar carreira ou na política,
Gozam de imunidades, valem ouro,
E ai de quem, arriscando qualquer crítica,
Mostre em seus atos o menor desdouro.
O clero é outro exemplo edificante
Dessa prosperidade jumental.
Mas, no mesmo sentido, o protestante.
Não fica atrás como valor rival.
E o populacho, o anônimo rebanho.
Que se esfalfa no campo ou na oficina,
Estranho ao bem-estar, ao gozo estranho,
Incapaz de entender a própria sina?
O povo é isto, a plebe, a populaça,
A ralé, a gentalha, o João Ninguém
Pratica o futebol, ama a cachaça,
Crê no padre Romão como convém.
Epitáfio
Amou o belo e a verdade
Sem crer no Céu nem no Inferno
Do mundo, em vez de saudade.
Sente agora alívio eterno
Antologia crítica do ESMERALDO DEL SITU IN NATAL
Nesse breve ensaio fazemos uma breve antologia das opiniões do crítico literário Esmeraldo sobre alguns escritores e poetas locais, e outros temas relacionados com a literatura. Uma forma de tornar mais conhecida a rica literatura norte-riograndense. São florilégios pinçados da obra multi-facetada desse profícuo escritor. Um autêntico Esmeraldo a iluminar e realçar com sua lente aguda o vasto e pouco conhecido oceano da literatura potiguar e universal. Um convite para a leitura dos nossos poetas e escritores
Polycarpo Feitosa
Os contos e romances são de leitura amena. Ele não gaguejava escrevendo. Sua pena era ágil, corria sem esforço.
Segundo Wanderley
Foi, no Brasil, o maior imitador de Castro Alves.
Lourival Açucena
O livrinho que o instituto histórico publicou reúne 46 composições do poeta perfeitamente legíveis todas elas, embora nenhuma capaz de entusiasmar-nos. Esses versos valiam e valem mais na voz dos cantadores.
Obs: Lourival foi um grande modinheiro e algumas de suas letras foram musicadas em belas canções.
Auta de Souza
A poetisa teria sido amada em qualquer parte civilizada do mundo, tal a encantadora pureza dos seus versos. Ela havia lido os românticos brasileiros e, da França, seu ídolo era Alphonse de Lamartine.
Manoel Virgílio Ferreira Itajubá
Natalense da beira do Potengi, foi também, apesar de semi-analfabeto, um lídimo poeta.
João Lins Caldas
Adotou as formas tradicionais de poetar. Depois tornou-se modernista. Sobressaiu nas duas maneiras, porque a natureza o dotara de imaginação e sensibilidade excepcionais.
Juvenal Antunes de Oliveira
Nascido em Ceará Mirim, compôs hinos e canções que tiveram consagração popular.
Abner de Brito
Caicoense Talentoso. Tremendamente desorganizado, o poeta só nos legou um livro, de título “Ossário”, cujos versos ninguém sabe por onde andam, pois nunca foram publicados. (Esmeraldo em “Do meu reduto Provinciano”)
Henrique Castriciano
A franqueza nos obriga a elogiar mais a sua prosa. Os versos nos parecem guindados, desprovidos de espontaneidade quase sempre, sem belas imagens nem delicadezas poéticas.
Othoniel Meneses
(In prefácio à primeira ed. de “A Canção da Montanha”)
A que escola poderá ser filiado este novo livro de Othoniel Meneses?
Não importa a discussão das escolas literárias.
Classificar o poeta nesta ou naquela escola é questão de segunda ordem.
– Othoniel é passadista? É modernista? É futurista?
Só interessa saber se ele é de fato um poeta, desses que trazem do berço a estrela da predestinação, a vivencia que os torna capazes de romper os véus das aparências e revelar segredos do ser, como os grandes inspirados, cujo canto reproduz os esplendores do universo visível e invisível. Só interessa saber se, de acordo com o pensamento de Platão, ele foi tocado do desejo das Musas e pôde aproximar-se do santuário da poesia, porque o verdadeiro poeta ultrapassa a arte e o seu canto é a expressão de uma “divina loucura”, e não o que os sábios mais esforçados poderiam realizar.
Os versos de Othoniel, sejam da adolescência, da juventude, ou da maturidade, atestam esse destino privilegiado.
….
“A glória poética de Othoniel Meneses é tão sagrada para o RN como a de Auta de Souza e Ferreira Itajubá”.
ANTOLOGIAS
Ezequiel Wanderley
Perpetrou bons versos na mocidade, e em toda a sua existência amou profundamente a literatura. Teve em 1922 a feliz idéia de publicar a coletânea “ Poetas do Rio Grande do Norte”.
Rômulo Wanderley
Querendo ampliar e melhorar o plano do livro do Ezequiel, deu a lume o “Panorama da poesia Norte-Riograndense”. Apesar dos encômios do prefaciador, o livro padece de mil faltas e defeitos: nenhum rigor na seleção dos autores e dos poemas, erros de datas, de nomes, etc. A obra assim, recomenda mal as nossas letras.
O ESMERALDO ERUDITO
Idioma
Um povo que se preza e deseja continuar como nação unida e soberana deve cuidar carinhosamente do seu idioma, defendendo-o sem descanso de deformações e deturpações perigosas que o transformem num instrumento bárbaro a serviço do estrangeiro, em detrimento da alma e do espírito da pátria. A língua é uma herança que deve passar mais ampla e aperfeiçoada de geração em geração, rica no seu vocabulário e nas suas expressões, dotada de clareza e propriedade sempre maiores, capazes de refletir meridianamente o grau de civilização e de cultura daqueles que a falaram.
Estilo
O estilo, nas letras, não depende somente da cultura lingüística. Da educação, e do estudo dos melhores modelos. Quantos que temos conhecido percorrem longamente esses caminhos e não lograram aprender o segredo do estilo! Notória é a incapacidade de escrever ou falar bem da quase totalidade dos que se diplomam nos cursos superiores.
Ensino (o lombrosiano)
Não se deve esperar muito do valor moral do ensino. A educação poderia ter um valor absoluto? Devemos pensar nas taras, nas predisposições congênitas, nas faculdades positivas ou negativas trazidas do berço. Tanto é impossível a educação fazer milagre, como em botânica obter, por exemplo, que um cajueiro produza mangas.
Literatura (na ANL discursando sobre Castro Alves, uma de suas paixões)
Uma literatura é organismo vivo que se nutre e precisa assimilar elementos estranhos, tanto mais quanto for capaz de bem digeri-los. Caso esteja decrépita, terá o dilema: indigestão ou inanição. Mas, noutra hipótese, terá de rejuvenescer à custa de sangue novo.
Veja-se a França do começo do século XVII. Corneille teve de superar as bagatelas do Hotel de Rambouillet ao influxo das letras da Espanha e Molière, sob a influência da Itália. No século XVIII, que teria sido da França sem os escritores ingleses?
João Da Mata
Professor de física da UFRN. Amante da Literatura, dos Livros e das Artes
Para referencia no caso de citação do artigo
Fonte: www.substantivoplural.com.br





João Da Mata

Professor de Física da UFRN. Amante da Literatura, dos Livrose das Artes
Para referenciar no caso de citação do artigo
Costa, J. M.

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