terça-feira, 2 de junho de 2015

POESIA MATUTA:


ATO INTENCIONÁ 

Se num fartá a mimóra,
Eu vô contá uma históra
Qui aconteceu no Sertão:
- Foi cum Vicente e Vicença,
Qui abuzaro da decença
Cairo na incapação.

Vicente, comprava fato,
Despois de fazê o trato
Ia vendê no Mercado;
Vicença, tinha mais prumo,
Comprava um tóro de fumo
E, desmanchava in torrado.

Torrava o fumo num cáco,
Apreparava o tabaco...
E sabia anunciá:
- O meu tabaco é cheiroso,
É Reméido poderoso,
Querendo pode poivá.

... Um dia uma muié errada,
Qui foi comprá panelada
Se saiu cum esse reprente:
- Parece uma coisa feita,
Eu só fico sastisfeita
Cum a tripa do Seu Vicente.

Vicença era ciumenta,
Meteu o dêdo na venta,
Esbravejo – deu cavaco.
Mas Vicente arrespondeu:
- Eu vendo o legume meu,
Você, venda o seu tabaco.

Tava a briga começada.
Toda muié relachada,
Comeu tripa sem pagá.
Vicença por sua vez,
Gritava: - chega freguez
O meu tabaco é pra dá.

Nisso chega o Delegado
E, Cuma era arrochado,
Mandô os dois pra prisão.
Botô os troço num saco;
Misturô tripa e tabaco,
Arresorvendo a questão.

Despois dixe o Delegado:
- D’hora in vante no Mercado
Ninguém faz mais o qui qué.
De amenhã in diente
Vem sem a tripa Vicente
E sem tabaco a muié.
...............................................
Eu achei forte esse ato...
O freguez qui vende fato
Precisa a tripa amostrá...
- Num fica de loiça um caco –
Pra quem véve do tabaco...
Cuma é qui vai passá?

Autor: Renato Caldas. 
Do blog: Assu na ponta da língua, de Ivan Pinheiro

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