terça-feira, 14 de julho de 2015

CONTO:

O SEGREDO DE LAURINHA

Maria Consuelo atendeu ao telefone. Era Laurinha, a sua melhor amiga, pedindo-lhe que fosse com urgência à sua casa, que tinha algo a lhe contar.
A tarde, Maria Consuelo apareceu.
- Que há criatura? Alguma cousa com as crianças ou com o Argemiro?
- Com as crianças, não. Estão na escola... É com meu marido... Mas, sente-se. Tome primeiro este copo de suco de pitanga. Está uma delícia.
- Que foi, que há com o Argemiro? Por acaso te bateu, arranjou amante?
- Não, nada disto, ele é um santo. Não sabe o que faz para me agradar. Ontem mesmo, me trouxe um lindo vestido da butique. Sempre que vem da rua me traz alguma cousa. Até flores me oferece.
- Bem, então você é uma felizarda. Eu nunca tive o gostinho de receber um buquê de flores do meu marido. Ele é machista demais.
- Bem, sabe o que foi?
- Diga logo, criatura.
- Eu botei um par de chifres nele.
O copo caiu das mãos de Maria Consuelo.
- Mulher, pelo amor de Deus, o que foi que te deu na cuca?
- Nada, Maria, só que enjoei de comer arroz doce todo o dia... Com ele...
- E agora?
- Tô apaixonada. O cara é macho prá valer, é um barato, estou renovada, mal consigo respirar. Sinto o sangue ferver em minhas veias...
- E ele?
- Quer que eu vá todas as tardes para o nosso encontro.
- Então, você agora é a “Bela da Tarde” – Viu o filme? – Disse com ironia na voz.
- É a minha cópia fiel.
- Laurinha, só tenho um conselho a lhe dar. Cuidado. Não se iluda com esses homens calmos e mansos. Eles podem trazer dentro do peito um vulcão. Então, doce lar, adeus! Ademais, o Argemiro não merece isto. Tenha juízo, Laurinha, dedique-se mais aos seus filhos e esquece esse romance.
- Maria, obrigada pelos seus conselhos. Vou pensar em tudo isto.
Maria Consuelo preocupada se despediu da amiga. Na rua, monologava baixinho:
- Sexo! Caldeirão do mundo. Que caldeirão!


Autora: Maria Eugênia Maceira Montenegro - Todas as Marias – FJA – 1996. 
Foto Ilustrativa: sentavemhistoria.wordpress.com

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