segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Biografia reúne novas evidências que podem indicar assassinato de Neruda


SYLVIA COLOMBO



Apenas 12 dias haviam se passado desde o golpe militar que dera início à ditadura chilena (1973-90) quando o poeta Pablo Neruda morreu, aos 69 anos, na clínica Santa María, em Santiago.

Padecendo de um câncer de próstata, o autor de "Canto Geral" e "Para Nascer Nasci" (ambos publicados no Brasil pela Bertrand Brasil) vinha se tratando, e seu médico pessoal havia-lhe dito que era improvável que a doença o matasse em menos de cinco anos.

A derrubada do governo do socialista Salvador Allende por Augusto Pinochet, no entanto, deprimiu profundamente o prêmio Nobel de Literatura, e seu estado de saúde se agravou. Ele morreu em 23 de setembro daquele ano.

Até hoje, a explicação oficial sobre o fim do poeta era esta, mas dúvidas existiram desde o primeiro momento.
AFP
Picture dated 21 October 1971 of Chilean writer, poet and diplomat Pablo Neruda, then ambassador in France, answering journalists' questions at the embassy in Paris after being awarded the 1971 Nobel Literature Prize. AFP PHOTO ORG XMIT: IMF11
Pablo Neruda em foto de 1971, tirada em Paris

Para a viúva do poeta, Matilde Urrutia, que encontrou a casa revirada após o funeral, Neruda poderia ter sido morto, de alguma maneira, no hospital. A falta de provas, porém, motivou um silêncio de décadas, rompido apenas em 2011.

Naquele ano, o ex-motorista da família, Manuel Araya, afirmou que Neruda estava em bom estado de saúde quando foi levado à clínica e que, no dia de sua morte, havia-lhe telefonado e dito: "Deram-me uma injeção e estou queimando por dentro". Em 2013, iniciou-se uma investigação que levou à exumação do corpo do poeta.

Na semana passada, um documento oficial do Ministério do Interior do governo do Chile e uma biografia lançada na Espanha trouxeram novas evidências que apontam para a possibilidade de Neruda ter sido assassinado.

"Deram-lhe uma injeção, cujo conteúdo ainda se estuda, mas que pode ter precipitado sua morte, que ocorreu apenas algumas horas após a aplicação", conta à Folha o historiador Mario Amorós, que já havia escrito um livro defendendo a tese de assassinato —"Sombras sobre Isla Negra", de 2012— e que agora lança a biografia "Neruda - El Príncipe de los Poetas" (Edicciones B).

Essa injeção, que na época se dizia que continha um tipo de calmante, agora é o alvo de estudo dos legistas.

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Que eu seja eternamente eterno louco e nunca deixe de sonhar na vida. (João Lins Caldas, pensador potiguar).