domingo, 6 de dezembro de 2015

COMEÇANDO PELO FIM...

(Nota do blog: - Artigo publicado em Atualidade (antigo jornal de Assu/RN), edição de 19 de Março de 1950).

Chagas Araújo

Não se pode negar ter sido das mais brilhantes e louváveis a iniciativa do Sr. Costa Leitão que resultou na construção do estádio Senador João Câmara, não sendo lícito a ninguém, por outro lado, duvidar do sadio propósito que animou o nosso único paredro esportivo no planejamento e realização dessa obra, grandiosa em função das dificuldades vencidas e do esforço dispendido. E sôbre melhorar o aspecto urbanístico da cidade, referido estádio, que poderá futuramente transformar-se numa completa praça de desportos, tem a finalidade de, vez por outra, quebrar a nossa monotonia provincialístico, seguido de animado baile.

Ao observador descuidado, porém, passou despercebido que o trabalho de Costa foi menos palpável no plano material que no moral.

Com efeito, sua ação quase individual foi mais uma insinuação discreta e maliciosa aos filhos da terra, no sentido de procurarem solução adequada para os problemas da Cidade e do Município, dentro dum programa de esforço contínuo e de cooperação eficiente. É Costa, em verdade, um espírito dinâmico e empreendedor, mostrando-se incisivo contra nossa passividade quando comumente aparece na vanguarda dos movimentos de imediato interesse social. Sisudo, cara de poucos amigos, mas otimista e valente nas suas investidas realizadoras, Costa é hoje um elemento de real prestígio e destaque em nossa sociedade, merecendo, sem favores, que se lhe conceda o diploma de cidadania assuense. Não foi sem motivo, pois, que um poetaço produziu a seguinte quadra, em que se adivinham  suas qualidade de homem operoso e sem grande simpatia pessoal:

Parece que pouca gente
Quer ver a frente de Costa...
Porém toda a gente gosta
De ver o Costa na frente.

 Se nos mirássemos nesses exemplos de franca vivacidade progressista, de certo conseguíamos concretizar muita coisa de que nos ressentimos, principalmente na parte de assistência social. Onde o nosso hospital? E a nossa maternidade? O cotejo entre o que existe em outras comunas do Estado, talvez de menores possibilidades econômico-financeiras e o que não existe em Assú patenteia mais ainda nossa displicência em relação ao progresso, que é um imperativo dos tempos. Sem falarmos no seu magnifico logradouro público, que por si só recomendaria uma administração, Santana do Matos, do tamanho de Nossa Praça Getúlio Vargas, ostenta ao visitante a sua modesta porém eficiente maternidade, que pode abrigar em seu seio nada menos de dez parturientes. A pedregosa Angicos tem hoje o seu hospital, que representa esforço, dedicação e amor ao solo pátrio.Pode ser que essa casa hospitalar não esteja moderna e convenientemente aparelhada, que não haja médicos disponíveis, ou que os clientes sejam os ratos e as baratas. não importa. O principal, a medida primeira está aí, como medida um monumento a engrandecer Angicos e seus filhos - O PRÉDIO.

Oportunamente terá registros a sua beneficente finalidade. Não se pretenda, com argumentos insustentáveis, dessa natureza, justificar a inexistência dum hospital em Assú e a falta de empenho em construí-lo. É inconsequência, outrossim, acreditar que tal benefício nos cairá do Céu ou esperar simploriamente por bafejos políticos, que não virão. O povo, representado por seus dirigentes constituídos e figuras exponenciais da sociedade e das classes conservadoras, enfim, é que deve encarar o problema, arrostar as naturais dificuldades, vence-las e dotar a centenária Assú duma casa hospitalar que esteja à altura de suas reais necessidades e congruente com a sua condição de cidade civilizada.

Passeiemos nosso olhar até Mossoró e,naturalmente, deslumbrar-nos-emos ante o grau de atividades, diurnas e noturnas, que o fornecimento ininterrupto de força e luz possibilita. (Será ensejo para detida reflexão acêrca de nossa luz declinante e possível de breve desaparecimento total). Aí, o Povo, compreendendo o perigo que traria para sua economia a extinção quase certa de sua energia elétrica, decidiu, congregado em sociedade anônima, doar a Mossoró esplendidos e possantes motores, reconhecendo, destarte, que os benefícios espalhados à coletividade seriam gozados por cada um em particular. Hoje, não falta luz nem força e a tranquilidade provinda de iniciativa tão nobre superou o espetro da intranquilidade que assomava.

POR QUE não se fazer o mesmo aqui, na solução de nossos imperiosos problemas?

A fatalidade, com os seus caprichos ironizados, fez que ocorresse, por ocasião do a última peleja aqui realizada e nas proximidades do estádio Senador JOÃO CÂMARA, um desastre de proporções apreciáveis e de consequências lamentáveis. Muita gente ferida; a maioria crianças. Não onde alojar tôda essa desditosa gente, para receber os inadiáveis curativos, e creio que os feridos na sua totalidade, foram socorridos mesmo  nos consultórios médicos. Foi uma sorte grande  que não tivessem sucumbido algumas pessoas. 

Registrando êsse acontecimento, admito que nem o dia nem o local eram próprios, uma vez que se não contava com o serviço hospitalar de emergência, como não se dispunha de acomodação conveniente. Conclusão, ilógica, mas necessária: - ter sido adiado, em razão das dificuldades do momento...

Daí dizermos que, apesar de ser útil e bom o nosso estádio, estamos começando pelo fim, embora reconheçamos que o patrocinador e orientador de sua construção não merece a nossa crítica, pois é êle apenas um adventício que se integrou,pelo trabalho, em nossos meios sociais e comerciais. 

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