quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

DA CAMPANHA DE 1958, NO ASSU


Desconheço a autoria da poesia abaixo transcrita, intitulada ''Advertência''. A cuidadosa pessoa que guardou o panfleto original – nossa saudosa prima Terezinha Segunda Soares de Macêdo – afirmava que havia sido contratada uma dupla de violeiros para a animação da campanha eleitoral municipal de 1958, talvez tenham sido eles os inspirados autores.

“Alertai assuenses valorosos
Atendei um irmão que vos chama,
Não deixeis o Assu cair na lama
Olhai vossos passados gloriosos,
Vossos pais e avós tão corajosos,
Deveis ter então esta lembrança
Vamos todos lutar com esperança
De sairmos ilesos da trincheira,
Edgard Montenegro é a bandeira
De civismo, bondade e confiança.
Foi nascido a 22 de junho
De 1920 o vulto nobre
Pois aqui conviveu com rico e pobre
Inda está dando o mesmo testemunho.
Sempre erguendo aqui seu forte punho
Ele vem desde os dias de criança,
Pois não guarda rancor, nem quer vingança
Porque ama esta terra hospitaleira,
Edgard Montenegro é a bandeira
De civismo, bondade e confiança.
Com o seu complacente coração,
Mesmo quando ainda era menino,
Se acordava ouvindo a voz do sino
Para ir à igreja de S. João.
Conservando a fiel religião
Contra o mal ele luta e não descansa,
De vencer em Jesus tem esperança
Com a fé e crença verdadeira,
Edgard Montenegro é a bandeira
De civismo, bondade e confiança.
Ele há de saber nos governar
Com a bondade que em seu peito encerra,
Não deseja a grandeza desta terra
Quem não vota na chapa de Edgard,
Moço honesto de um passado exemplar
Onde reina a verdade e a bonança
Não precisa de espada, escudo ou lança
P’ra sair triunfante da trincheira,
Edgard Montenegro é a bandeira
De civismo, bondade e confiança.
5 anos foi nosso governante
Quando a seca assolou sem nos dar porto
Mas a sua palavra de conforto
Não saía da boca um só instante.
Este povo de fome agonizante
Só restava uma única esperança,
Edgard com a voz firme e tão mansa
Dava ao povo que tinha sem canseira,
Edgard Montenegro é a bandeira
De civismo, bondade e confiança.
Vamos todos unidos, irmãos meus
Desprezarmos o mal, buscar o bem.
Dar a César o que é que César tem
E dar a Deus tudo quando for de Deus.
Não deveis errar, pois, os passos teus
Guardai teu passado na lembrança,
Eis então nossa única esperança
De salvar a mãe pátria e altaneira
Que Edgard Montenegro é bandeira
De civismo, bondade de confiança.”

Trata-se, como se vê, da disputa eleitoral entre o engenheiro agrônomo Edgard Borges Montenegro e o senhor Arcelino Costa Leitão, que, por sua vez, desfrutava de considerável prestígio local, gerenciando a firma algodoeira João Câmara & Irmãos.

O primeiro, no auge dos seus trinta e oito anos de idade, com a experiência ter sido prefeito do Assu entre 1949 e 1953. Culto, orador fluente, detentor de grandioso patrimônio material, polido, manso e elegante; filho, neto e bisneto de ex-deputados, líderes atuantes no antigo município de Santana do Matos.

Edgard firmava-se, de fato, como herdeiro político do seu tio-afim, o médico e farmacêutico Pedro Soares de Araújo Amorim, ex-presidente da Intendência, ex-prefeito do Assu e que tinha sido várias vezes deputado estadual, chegando inclusive a ser presidente da Constituinte Estadual de 1947, portanto, a grande liderança política da região.

O nome de Costa Leitão foi preterido pelo Dr. Pedro Amorim para ser o candidato a vice-prefeito de Edgard naquele mesmo ano. A preterição foi traduzida como um ato solidário de Amorim para com um amigo, cuja esposa havia abandonado o lar encantada pelo romantismo sedutor de Arcelino. - Certamente, em razão desse fato chocante à moral então predominante, os versos acima insistam tanto em realçar a observância à “fiel religião” e o “passado exemplar” de Edgard.

Após a rejeição, Costa se lançou a prefeito com o apoio do grupo opositor.
Foi uma campanha de elevada animosidade, tendo como desfecho a vitória do prestativo cidadão Arcelino Costa Leitão, que desempenhou administração de elogiável destaque.

Gregório Celso Macêdo

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