sexta-feira, 3 de junho de 2016

PAU-DE-SEBO*
Martins d’Alvarez
– Vamos ao pau-de-sebo?
– Onde é o pau-de-sebo?
– Lá na esquina do Batista!
– O pau é dele?
– Diz quê! Mas o dinheiro é do telegrafista.
E a cidade toda admirava o pau,
O pau do Batista, ereto, linheiro,
Com seis metros de altura
E uma arroba de sebo.
– Diz que vem a Música?
– A musga não vem porque o Mestre tá bebo.
Às cinco horas rompeu a função.
Gritos, assovios e o povo todo a namorar:
Em baixo, os moleques, e, em cima
A “pelega” nova, com a efígie de Afonso Pena
E a nota: Paga-se em ouro na Caixa de Conversão.
E a garotada suja abraçava-se ao pau,
Fazia esforço, subia,
Escorregava, caía…
Rolava na areia, tornava,
Lutava, fungava, escorregava, descia…
– Lá vai o negro Bastião!
– Lá vai o negro Bastião!
– Agüenta, negro! Segura, negrão!
– Epa! Epa! Epa!…
E o negro Bastião, exultado,
Todo empolgado com a cena:
– Ainda vi a cara do bruto!
– Ainda vi a cara do bruto!
(O bruto era Afonso Pena)
O povo gozava, a canalha vibrava…
Os moleques forcejavam, lutavam, venciam,
Escorregavam, enchiam os bolsos de terra
E a terra comia o sebo.
– Lá vem o negro Bastião!
– Agora é o negro Bastião!
– Upa, negrinho! Upa negrão!
Desta vez o negro tira… tira… tira…
Tirou, tirou, tirou.,. tirooooooooooooooooo
E o negro desceu com a “pelega” no dente,
Pulou no chão e amassou-a
Na mão imunda e pequena,
Gritando, saltando e enchendo de sebo
A cara de Afonso Pena…

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