sexta-feira, 23 de junho de 2017

MINHA FUGUERA

Sá dona, o tempo passa,
Mais porém, essa disgraça,
Qui a gente tem, pruquê qué...
Êsse amô, êsse arrespeito,
Qui o cristão guarda no peito,
Essa paixão pru muié...

Êsse veneno danisco,
Essa pedra de curisco,
Essa dô, essa afrição,
Esse estrépe invenenado
Êsse cão amolestado,
Qui mastiga o coração
Essa sodade afitiva
Qui pru mais qui a gente viva,
Cum a gente véve tombém...
Essa lembrança danada,
Essa coisa amalinada,
Essa só sente quem qué bem...
Mecê já sabe o que é...
Pode num sofrê inté,
Mas, sente rescordação...
Daquela noite brejera,
Qui nós casô na fuguera
De nosso sinhô São João.
A sua bôca falava,
Meus ouvidos escutava,
- aí... meus óios chorô -
Jurguei qui mecê num visse,
Aquela minha tolice...
Mais, sinha dona notô.
E dixe pra eu baixinho:
- São João, foi Nosso padrinho...
São Pedro e Nosso Sinhô...
- Eu serei tua querida
- Tu será a minha vida
- Eu serei o teu amô
Outros São João já vieram;
Mais fuguera se fizeram;
E nós dois, sempre a lembrá...
Daquele apêrto de mão,
Do qui juremo a São João
Na fuguera - o nosso artá.
Mais o tempo, êsse mavado,
Qui leva a vida ocupado,
Sem nenhuma ocupação...
Acendeu outra fuguera,
De miôlo de Aruera,
Na minha rescordação: -
"São João dixe,
São Pedro confimô:
Qui nós se cazasse hoje,
Qui Jesus Cristo mandô"

(Renato Caldas, poeta matuto Norte riograndense)
___________in "Fulô do Mato"
Fernando Caldas



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