sábado, 30 de setembro de 2017

"Malhando meu português"

-Poeta, você malha em qual academia?
-Na de cordel e na de trovas.
-Mas poeta, você não tem medo de ficar com o bucho grande não?
-Não, eu tenho medo é de fome e de quem se preocupa só com o bucho dos outros...
-Assim, você não quer ficar sarado?
-Menino, eu já sou sarado...
-Oxe, como?
- De Sarampo, Catapora, Chikungunya...
-Aff! Você também...


 Manoel Cavalcante

ASSÚ RN IMAGENS

ASSÚ RN IMAGENS

ASSÚ RN IMAGENS

ASSÚ RN IMAGENS
Qual o remédio jocundo
Que ao mal nos serve de escudo?
- Fechar os olhos a tudo
E rir de tudo no mundo

Foi esta a resposta clara,
Que me deu, interrogado,
Um homem que tinha achado,
Coisa rara!
A ventura neste mundo.

Caldas, poeta potiguar
O artista de vera mesmo faz com que a criança apalpe as palavras nuas, toque nas partes de um livro, na pele de um quadro, no corpo de um poema, nas dimensões do infinito... O resto é falta de recurso poético.
  
Manoel Cavalcante

quinta-feira, 28 de setembro de 2017

28/09/1968 - Criação da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte.Criada pela Lei Municipal nº 20/68, assinada pelo prefeito de Mossoró, Raimundo Soares de Souza, a UERN nasceu com o nome de Universidade Regional do Rio Grande do Norte(URRN), vinculada à Fundação Universidade Regional do Rio Grande do Norte – FURRN. Somente no ano de 1987, no governo de Radir Pereira, a instituição foi estadualizada através da lei estadual nº 5.546, de 8 de janeiro de 1987. Em 1999 passou a ser denominada de Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, com a sigla UERN. Sediada na cidade de Mossoró/RN, a universidade mantém os campi de Mossoró, Assu, Pau dos Ferros, Patu, Natal e Caicó. Também funcionam os Núcleos Avançados de Ensino Superior de Caraúbas, Areia Branca, Apodi, Macau, João Câmara, São Miguel, Alexandria, Umarizal, Touros, Santa Cruz e Nova Cruz.

 Francisco Veríssimo De Sousa Neto

quarta-feira, 27 de setembro de 2017

SOBRE O MUSICO SERESTEIRO SILVIO CALDAS NO ASSU


Sílvio Caldas um dos maiores artífices da Canção Popular Brasileira, responsável pela introdução da seresta na MPB esteve em 1972 de passagem para Fortaleza na cidade do Assu, importante interior da terra potiguar, para rever e abraçar o bardo assuense que o Brasil consagrou chamado Renato Caldas, seu velho primo, amigo e companheiro de farras  intermináveis nos tempos que ele, Renato, viveu o Rio de Janeiro (década de trinta e começo dos anos quarenta). Silvio, ao chegar na modesta casa de Renato, da praça Pedro Velho, número 74, na cidade assuense, de violão em punho, começou a cantar "numa típica serenata interiorana", para surpresa do velho poeta boêmio que após ouvir Silvio cantando ao pé da janela de sua casa, uma de suas modinhas, foi recebê-lo chorando de alegria e saudade. Fato este, (era uma tarde de 1972) presenciado por mim (tinha eu, 14 anos de idade) e de tantos outros assuenses admiradores do poeta Renato e do próprio Silvio.

Para registrar mais ainda, o músico e compositor Silvio no seu disco intitulado História da Música Popular Brasileira, 1974, LP gravado ao vivo no Teatro Santa Isabel, no Rio de Janeiro, externou: "...os Caldas do Assu, todos meus parentes. Sabe lá o que é isso, Renato Caldas, o grande poeta." E vai mais adiante Silvio ao lembrar de outros velhos amigos Norte-riograndenses como Grácio Barbalho e Nei Marinho.
 .
Por sinal, fora Silvio que apresentou Renato Caldas (poeta consagrado, que segundo Celso da Silveira, foi ele, Renato, que deu nome as letras potiguares publicando em 1940, o livro intitulado "Fulô do Mato") a Noel Rosa, Chico Alves (o rei da voz), além de Almirante. Ambos se tornaram amigos íntimos, companheiros de mesa de bar, claro.

Afinal, foi Silvio Caldas, o responsável da introdução da seresta na MPB, e Renato Caldas, ao lado de Catulo da Paixão Cearense (autor da canção Luar do Sertão), o responsável pela introdução da poesia matuta nas letras populares do Brasil. Registro e dou fé.

Fernando Caldas




STJ vai decidir sobre adicional de 25% a aposentado que precisa de assistência permanente

STJ vai decidir sobre adicional de 25% a aposentado que precisa de assistência permanente

21 Setembro 2017
A Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça (STJ) determinou que seja suspensa em todo o território nacional a tramitação de processos individuais ou coletivos que discutam se o adicional de 25%, previsto para o segurado aposentado por invalidez que precisa da assistência permanente de outra pessoa – na forma do artigo 45 da Lei 8.213/91 –, pode ser estendido, ou não, a outros aposentados que, apesar de também necessitarem da assistência permanente de terceiros, sejam beneficiários de outras espécies de aposentadoria, diversas da aposentadoria por invalidez.
A decisão foi tomada pelo colegiado ao determinar a afetação do Recurso Especial 1.648.305 para julgamento pelo rito dos recursos repetitivos (artigo 1.036 do novo Código de Processo Civil). A relatora do processo é a ministra Assusete Magalhães.
O tema está cadastrado sob o número 982 no sistema de recursos repetitivos, com a seguinte redação: "Aferir a possibilidade da concessão do acréscimo de 25%, previsto no artigo 45 da Lei 8.213/91, sobre o valor do benefício, em caso de o segurado necessitar de assistência permanente de outra pessoa, independentemente da espécie de aposentadoria."
A suspensão do trâmite dos processos não impede a propositura de novas ações ou a celebração de acordos.
Recursos repetitivos
O novo Código de Processo Civil (CPC/2015) regula nos artigos 1.036 a 1.041 o julgamento por amostragem, mediante a seleção de recursos especiais que tenham controvérsias idênticas. Conforme previsto nos artigos 121-A do RISTJ e 927 do CPC, a definição da tese pelo STJ vai servir de orientação às instâncias ordinárias da Justiça, inclusive aos juizados especiais, para a solução de casos fundados na mesma controvérsia.
A tese estabelecida em repetitivo também terá importante reflexo na admissibilidade de recursos para o STJ e em outras situações processuais, como a tutela da evidência (artigo 311, II, do CPC) e a improcedência liminar do pedido (artigo 332 do CPC).
Na página de repetitivos do STJ, é possível acessar todos os temas afetados, bem como saber a abrangência das decisões de sobrestamento e as teses jurídicas firmadas nos julgamentos, entre outras informações.
Do STJ

segunda-feira, 25 de setembro de 2017

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As 20 melhores fotos antigas de Natal-RN (muitas você nunca viu)


De: https://curiozzzo.com


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Você já deve ter visto muitas fotos antigas de Natal por aí, mas será que já viu uma coletânea das melhores de todos os tempos?
Vale muito a pena vislumbrar todas elas, uma por uma, calmamente, afinal são registros épicos surpreendentes.
Embarque neste túnel do tempo e boa viagem!
(ah, essas fotos merecem ser vistas em tamanho maior né? É só clicar encima delas!)
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Ponta Negra nos anos 80.
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Ponta Negra em 1955.
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Colégio Winston Churchill em 1973. Av. Rio Branco.
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Rua João Pessoa e o Grande Ponto em 1941. Dá uma olhada nesse semáforo com “guarda-sol” sensacional!
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Foto da Via Costeira ainda em construção em Novembro de 1979. Detalhe: nenhum hotel na praia. Enviada por Maxwell Oliveira.
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Foto da Praia de Ponta Negra e o Morro do Careca em 1959. Enviada por Eldanira Souto, filha do autor da foto o Sr. José Souto.
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Morro do careca em ângulo inverso de quem está no morro. Detalhe para a praia de Ponta Negra sem prédios. Foto de Netto Fotografias. Enviada por Carmem Daniella Spínola.
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Antiga fábrica da SORIEDEM, atual Via Direta, bairro do Mirassol. O ano é 1977. O terreno abaixo, na frente da fábrica virou um condomínio chamado Chacon e ao lado o terreno que iria ser o Natal Shopping. Contribuição de Thiago Azevedo.
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Bosque dos Namorados [atual Parque das Dunas] em 1980.
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Fábrica da SAM’S no cruzamento da Av. Salgado Filho com a Amintas Barros. Foto de meados dos anos 70. O cheiro dos doces ao redor da fábrica ainda estão na sua memória?
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Av. Salgado Filho em frente onde fica hoje o Nordestão.
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Av. Prudente de Morais por volta de 1975. O local que você está vendo na foto é onde atualmente é o complexo viário próximo ao Arena das Dunas (Dom Eugênio Sales). Do lado esquerdo era o antigo Castelão, e a subida para Candelária ao fundo. Foto: acervo do “A República”.
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O Baldo e a subida da Av. Deodoro da Fonseca em 1972.
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Alto do Morro do Careca entre a década de 40/50. Foto do acervo pessoal do Leandro Menezes.
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Chegada de Hidroavião no Rio Potengi em 1941 na Rampa.
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Antigo Hotel Reis Magos, Praia do Meio, Natal/RN
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Do tempo em que era permitido subir no Morro do Careca em Ponta Negra. Foto enviada por Íris Ciríaco.
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Supermercado Nordestão do Alecrim em 1975 em época Natalina. Foto enviada por Nelma Leonardi.
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Imagem registrada em 1959 da Praia de Ponta Negra. Na foto pescadores e veranistas fazem um arrastão. Ao fundo o Moro do Careca e a casa dos padres pertencente a arquidiocese de Natal. Registrada pelo Sr. José Correia Souto. Enviada por Eldanira C. Souto.
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Foto de 1961 da Praia de Ponta Negra e a vista do Morro do Careca. Enviada por Igor Freire sendo o autor da foto o seu avô Nadelson Freire. Detalhe para as placas dos carros que ainda não tinham letras.
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Agradecemos à página Natal Como Te Amo de onde extraímos as fotografias deste post.

domingo, 24 de setembro de 2017

DEUSDETHE, O ÚLTIMO VAQUEIRO

Tipo manso, atencioso, andar curto e ligeiro, bom amigo, tinha o senso familiar muito forte e gostava de sentir útil, agradável e necessário. O seu sorriso contagiava a todos que dele se aproximava. Era assim Deusdethe Julião Neto, um amigo que tombou ferido de morte, na última terça-feira (20/9), aos 80 anos de idade.

Amante da vaquejada, seu esporte preferido, derrubador de gado dos melhores, ganhador de muitos prêmios, conhecido em todo o Nordeste brasileiro. O seu nome (Deusdhete) vem do Latim e significa DADO POR DEUS. 

Por volta de 1967 chega ao Assu, procedente de Currais Novos, interior do Rio Grande do Norte, salvo engano, sua terra natal, para trabalhar no escritório da COSERN, uma empresa então estatal, distribuidora de energia elétrica, da terra potiguar.


Deusdethe Julião como eu habitualmente lhe chamava, bebeu água do Assu e por lá se casou com Salete Tavares (uma prima carnal de minha mãe), enraizou-se, deixou descendência: Sâmara, Sumara (filhas) e netos a quem deixo registrado, nesta página,  o meu pesar, o abraço solidário, pela partida inesperada dele, Deusdethe, por quem eu nutria admiração e simpatia.
 

Afinal, Deusdethe, "na verdade, na verdade vos digo que, se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas, se morrer; dá muito fruto". É da Bíblia.
 

Descanse Desdethe, durma o sono dos justos e que, a sua alma, certamente, há de brilhar no céu.

Pena, que eu não pude comparecer a sua última despedida.

Fernando Caldas

sexta-feira, 22 de setembro de 2017

( O Rosário )
Arma de artilharia de todo cristão .
Mistérios : Da alegria, da luz , da dor e da glória da ressurreição .
Cada momento vivendos Unidos a Virgem Maria.
Na obediência, na fé , na paz e no amor da paixão .
Rosário no peito.
Ostentação !
Rosário proclamado.
É a anunciação .
Rosário meditado.
É calma em toda aflição.
Cada conta uma rosa
Ofertada por nós .
Em desagravo ao Vosso Imaculado Coração
Sônia Maria Caldas Câmara
22/09/2017
 Futebol do Assu das antigas
Lucílio Filho Cici  - Rádio Princesa do Vale
O time dos Guerreiros Unidos foi fundado no Bairro de Lagoa do Ferreiro. Hoje o time é considerado do Bairro Vertentes. Nesta formação das antigas podemos ver a presença do avô do craque @g.guerron_11 o saudoso Zeca.
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LOURIVAL AÇUCENA – O GRANDE ARTISTA DE NATAL


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A Provinciana Natal dos tempos de Lourival Açucena.
Rostand Medeiros – Membro do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte – IHGRN
Seu nome de batismo era Joaquim Eduvirges de Melo Açucena, nascido em Natal no dia 17 de outubro de 1827, quando a Independência do Brasil havia sido proclamada apenas cinco anos antes. Quando aquele jovem veio ao mundo a sua cidade era então muito acanhada, de população reduzidíssima, provinciana, longe de tudo e de todos e sem nenhuma importância. Tão sem importância que só recebia uma vez por mês um navio de cargas e passageiros.
Ele era filho de Manoel Joaquim Açucena, homem robusto, um nacionalista exaltado e grande tocador de violão. Aventuroso, consta que para se encontrar com sua futuras esposa, Maria Pacífica de Melo, o pai de Lourival Açucena atravessava o rio Potengi a nado e com a roupa na cabeça, depois andava léguas até a região de São Gonçalo do Amarante para se encontrar com a jovem Maria[1].
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De sua mãe Lourival Açucena herdou o gosto pela leitura dos clássicos do nosso idioma, o instintivo rigor gramatical e as frases apuradas. Do pai ficou a voz forte, o gosto pelo violão e uma fidelidade romântica pelas noites enluaradas.
Consta que Lourival Açucena estudou francês, latim, retórica, filosofia, mas não foi um estudante exemplar destas matérias. Exemplar mesmo o jovem foi com o violão nas mãos, que aprendeu com seu pai.

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Fonte – http://www.brasiliana.usp.brhandle1918011391-085
Em 1839, no final do Período Regencial, a Província do Rio Grande do Norte era governada pelo goiano Manuel de Assis Mascarenhas (veja imagem acima), que tinha inclusive o título de “Dom”[2]. Por esta época o jovem Lourival Açucena já era um exímio cantador e foi levado até o fidalgo Presidente por seu pai. Ao invés de declamar versos clássicos, como seria a praxe na época, o garoto atacou com um animado lundu e o então mandatário potiguar gostou bastante.[3]
Um Funcionário Público de Voz e Violão
Os que conhecem do tema, que não é o meu caso, afirmam que a sua poesia era ligada ao Romantismo, mas tinha forte relação tardia com o Arcadismo.
Jovem de espirito alegre, que fazia amizades de maneira muito fácil, amante das serestas, das noitadas, teve uma vida agitada e participava ativamente dos serões boêmios de Natal. Apesar disso, segundo Luís da Câmara Cascudo, não era chegado a bebidas. Isso talvez explique como alguém que gostava de cantorias e da noite chegou aos 80 anos, em um tempo onde a medicina era bastante limitada.

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Antiga matriz do Corpo Santo em Recife, atualmente demolida. Local da apresentação de Lourival Açucena na capital pernambucana em 1848 – Fonte – https://patrimonioespiritual.org/2016/03/02/matriz-do-santissimo-sacramento-e-santo-antonio-recife-pe/
Já como cantor alcançou fama nos festejos religiosos, sendo considerado um cantante de grande qualidade e que se acompanhava ao violão. Na semana santa de 1848 realizou a sua única viagem para fora do seu estado natal, onde apresentou “As lamentações de Jeremias” em Recife. O fato se deu na imponente igreja do Corpo Santo, que atualmente não existe mais[4]. O padre local, conhecido tenor sacro, ficou impressionado com a apresentação do natalense[5].
Artista praticamente completo, Joaquim Eduvirges de Melo Açucena também participou de peças teatrais. Em 1853 representou o personagem capitão Lourival na peça O Desertor Francês, aparentemente uma adaptação da peça Le Desérteur, um drama de cinco atos do francês Louis Sèbastien Mercier[6]. Sabemos que a sua apresentação foi tão marcante, que até a sua morte todos em Natal passaram a lhe chamar pelo nome do personagem que interpretou.

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A pequena Natal da época de Lourival.
Joaquim Açucena logo estará no funcionalismo público estadual como “Praticante dos Correios”, ganhando dezesseis mil réis. Depois passou para a Tesouraria e em 1859 chegou a Oficial-Maior. Câmara Cascudo comenta que esta última promoção se deu neste ano pela sua voz. Mas não foi na base do grito. Mas cantando!
Nesse tempo as festas na igreja de São Miguel, em Extremoz, que então estava em construção, eram muito populares e Joaquim Açucena arranjou um jeito de fugir do trabalho para cantar nas missas. Ocorre que naquele ano o baiano João José de Oliveira Junqueira[7], então recém-empossado Presidente da Província do Rio Grande do Norte, assistiu a festa religiosa em Extremoz, onde o bardo Açucena tocou e cantou.
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A autoridade gostou do que ouviu e perguntou quem era o ilustre trovador. Ao responder o questionamento de Oliveira Junqueira, um dos acompanhantes aproveitou e contou a história da tal fugida de Lourival Açucena da sua repartição. Este foi então chamado diante do Presidente e se apresentou bastante trêmulo, certamente imaginando algum tipo de castigo. Mas para sua surpresa e do bajulador safado e extremamente invejoso que o denunciou, o Presidente Oliveira Junqueira pediu ao cantador para tocar alguns lunduns, modinhas[8], xácaras[9] e realizar alguns solos de violão. A autoridade ouviu tudo extasiado e ao final declarou “Gostei muito! Você é um artista Seu Açucena. Está nomeado Oficial Maior da Tesouraria”.
É provável que com este gesto o Presidente Oliveira Junqueira quisesse mostrar sua indignação com a denúncia destinada a prejudicar o cantador. Ou talvez desejasse ter por perto alguém com a capacidade que Lourival Açucena tinha com a viola nas mãos, para lhe distrair nas horas de folga[10].
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Se para entrar no serviço público nos dias atuais as pessoas tem de “queimar as pestanas” estudando muito, Lourival Açucena, sem demérito algum já que era a realidade do seu tempo, subiu no funcionalismo publico de viola na mão e declamando versos.
O Bardo No Xilindró Da Fortaleza Dos Reis Magos
Se em Recife foi onde Lourival Açucena se apresentou com galhardia e sucesso na igreja do Corpo Santo, foi igualmente na capital pernambucana que em 1861 ele teve seus textos publicados pela primeira vez em um pequeno jornal chamado “O Recreio”.
Mas no ano de 1888 houve muita dor de cabeça para Lourival Açucena, inclusive ele passou um período atrás das grades.
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Consegui uma cópia do periódico “Gazeta de Natal”, edição de sábado, 21 de janeiro de 1888, onde na primeira página dá conta que o então Presidente da Província potiguar, o pernambucano João Capistrano Bandeira de Melo Filho, do Partido Conservador, abriu um inquérito para apurar desvios de recursos na coletoria de impostos da cidade potiguar de Macau, onde o titular era Lourival Açucena.
O periódico natalense não explica detalhes do caso, afirmando que Bandeira de Melo usava de muita rigidez das leis existentes para punir Lourival, entretanto era extremamente brando com um caso semelhante ocorrido em Nova Cruz, com o funcionário publico A. Lopes Pessoa da Costa, seu correligionário. Aquela velha história, ainda bem atual, de se utilizar a lei para os inimigos e abrandar tudo para os amigos!

Forte dos Reis Magos
Fachada da Capelinha do Forte dos Reis Magos e parte do pátio interno. Foi nesta fortaleza que Lourival Açucena passou alguns meses preso.
Mas como na história potiguar tudo que envolveu Lourival Açucena terminava em festa, consta que a sua passagem pelos cárceres da Fortaleza dos Reis Magos foi marcado pela pouca rigidez do seu aprisionamento. Sabemos que através da anuência do comandante da fortaleza, amigo do cantador de longa data, a farra foi tanta e tão boa que Lourival Açucena passou mais alguns dias na fortaleza por vontade própria.
Percebi que os biógrafos de Lourival Açucena focaram muito mais no burlesco do caso, do que na ideia de entender o que realmente aconteceu. Mas não sei o quanto Lourival Açucena estava envolvido em desvios na coletoria de Macau, pois os dados são limitados e o meu conhecimento das leis da época é restrito. Mas lendo a edição de “Gazeta de Natal” fica nítido que seus amigos desejavam protegê-lo do rígido Bandeira de Melo, tanto assim que passou pouco tempo preso.
Muitos Filhos E Um Deles Morreu Pelo Uso de Morfina
Lourival ascendeu muito no funcionalismo público da sua época. Certamente por ser um homem competente no seu trabalho, mas sem dúvida ajudou bastante o fato dele ser bom de viola, de conversa e de amizades.
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Joaquim Açucena foi comandante de um dos destacamentos da Guarda Nacional do Rio Grande do Norte, onde recebeu a patente de capitão. Foi também delegado de polícia, 2° juiz de paz da paróquia de Natal, chefe de seção da Secretaria de Governo e exerceu a função de oficial de gabinete do Presidente Gustavo Adolfo de Sá. Ele se aposentou com um salário nada irrelevante de 1:300$000 (Um mil e trezentos réis)[11].
Mas se seu salário não era tão módico assim, ficou registrado que levava uma vida frugal, espartana e que quase passava necessidades, embora não lhe faltasse nada devido às inúmeras amizades que fez ao longo dos seus 80 anos de vida.
É provável que a sua remediada situação financeira fosse uma consequência de outra “atividade” na qual o bardo natalense foi extremamente atuante – Fazer filhos. Lourival Açucena foi pai de dezenove filhos legítimos e treze rebentos bastardos. Trinta e dois no total.

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Versos da lavra de Lourival Açucena, em honra ao marechal Deodoro da Fonseca.
Sabemos que ele teve três esposas que podemos enquadrar como “oficiais”. Estas foram Antônia Cândida de Albuquerque, cuja união aconteceu em 1852, com Flora Carlinda de Vasconcelos, em 1865, e a última, já no limiar da vida, com Silvânia, a quem carinhosamente denominou de “gentil porangaba”. Não é a toa que foi chamado por um jornal local de “O rouxinol das saias”[12].
Entre seus filhos, ao menos três deles seguiram a carreira militar no Exército. Foi o caso do tenente-coronel Reynaldo Lourival, que passou a residir no Rio de Janeiro, e do major Pedro Lourival, que passou a residir em Pelotas, Rio Grande do Sul[13].
Já  o cadete Carlos Lourival, outro filho de Lourival Açucena que seguiu a carreira das armas, morreu com 21 anos em decorrência do “uso imoderado de morfina”. Este jovem nascido em Natal era fruto do seu segundo casamento, morava em São Paulo e estava lotado no 10° Regimento de Cavalaria, onde e faleceu na madrugada de 4 para 5 de julho de 1889[14].

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Texto sobre a morte do cadete Carlos Lourival.
Segundo um jornal do Rio Grande do Sul, devido a sua ausência no quartel os seus companheiros de farda arrombaram as dependências do seu alojamento e encontraram seu corpo prostrado em sua cama ás onze da manhã de 5 de julho. O jornal informou ainda que o cadete Carlos Lourival sofria de insônia e utilizava morfina para conciliar o sono, mas na noite de 4 de julho tomou uma dose mais elevada que o normal e isso ocasionou a sua morte[15].
Cantor de Modinhas

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Terceira sede da redação do jornal A República, na Rua Dr. Barata, na Ribeira, Natal. Lourival Açucena escreveu em vários jornais da cidade.
Lourival Açucena escreveu em muitos jornais da cidade, mas não chegou a publicar nenhum livro durante a sua vida, preferindo a viola e a cantoria. Foram seus muitos amigos que publicaram um pequeno texto com alguns de seus poemas trinta dias após a sua morte.
Foi Luís da Câmara Cascudo, com a ajuda de Joaquim Lourival, filho do poeta, que recolheu o que foi possível de seus poemas, publicando um volume em 1927. Este filho do bardo foi igualmente uma figura muito conhecido em Natal, sendo proprietário de uma escola particular e chamado por todos de “professor Panqueca”.

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Manchete do interessante texto produzido por Câmara Cascudo sobre Lourival Açucena em 1939, no jornal “A República”.
Câmara Cascudo, nascido em 1886, ainda teve oportunidade de assistir uma cantoria do então septuagenário Lourival Açucena na festa de Nossa Senhora da Apresentação. O bardo glosava os motes dados pela multidão de forma atenta e chamava atenção pela prontidão da rima e do vocabulário. Cascudo comentou em 1939 que o nosso artista era muito orgulhoso e vaidoso. Pois se em uma apresentação ele não fosse o primeiro a subir no palco, batia o pé e não cantava mais. E que ninguém falasse alto durante sua apresentação, pois ele parava e não recomeçava mais. Ainda bem que no tempo de Lourival Açucena não existiam os celulares![16]
Conhecido como o “cantor de modinhas”, Lourival Açucena teve durante 60 anos a primazia da voz nas festas e solenidades natalenses. Segundo Câmara Cascudo ele foi a alma alegre da cidade. Improvisador de festanças, marcador de quadrilha, artista dramático, fazedor de brindes, compadre de meio mundo de gente, respeitado e cortejador, era ainda aquele que conhecia “Os tristes desvios das altivosas criaturas”[17].


NOTAS
[1] Algumas fontes apontam que esta peripécia no rio Potengi teria sido realizada pelo próprio Lourival Açucena, mas em um interessante texto de Luís da Câmara Cascudo publicado em 1939 ele aponta o fato ligado ao pai do poeta. Ver o periódico A República, Natal-RN, edição de quinta-feira, 12 de janeiro de 1939, pág. 3.
[2] Manuel de Assis Mascarenhas nasceu em Goiás Velho no dia 28 de agosto de 1806, e faleceu no Rio de Janeiro, RJ, em 30 de janeiro de 1867. Filho de Francisco de Assis Mascarenhas, conde e marquês de São João da Palma, no Brasil, e 6º conde da Palma, em Portugal.
Proprietário rural em Campos (RJ) formou-se em leis pela Universidade de Coimbra e tornou-se condestável e diplomata do Império. Foi nomeado pelo Governo Imperial adido de 1ª classe na legação brasileira em Berlim e, em seguida, secretário da legação em Viena. Em 1830, deixou definitivamente a diplomacia e voltou ao Brasil, atendendo urgente chamado de seu pai, para ajudá-lo a gerir a propriedade da família em Campos. Nesta atividade, demorou-se, no interior fluminense, por três anos, para depois ingressar na magistratura. Foi juiz em Vassouras e desembargador da Relação da Corte. Filiado ao Partido Conservador, presidiu as províncias do Rio Grande do Norte (1838-43) e Espírito Santo, (1843). Eleito deputado-geral pelo Rio Grande do Norte à 4ª legislatura e, na seguinte, por Goiás. Em 1850, foi escolhido, em lista tríplice, senador pelo Rio Grande do Norte. Embora conservador, em várias oportunidades aprovou os liberais, tornando-se, por fim, conselheiro-chefe do Partido Liberal. Em 1º de junho de 1839, ingressou no Instituto Histórico e Geográfico do Brasileiro (IHGB) como sócio correspondente. Ver – https://ihgb.org.br/perfil/userprofile/MAMascarenhas.html
[3] O lundu, ou lundum, chegou ao Brasil através de escravos Bantu de Angola e áreas circundantes, sendo uma dança de casal muito sensual, voluptuosa e considerada bastante lasciva. Foi altamente popular em todo o Brasil no século XVII e início do século XVIII. Posteriormente substituído pelo maxixe (que também foi considerado escandaloso …) e, segundo alguns autores, em seguida pelo samba. Ver TINHORÃO, José Ramos. Pequena história da música popular: da modinha à lambada. São Paulo-SP: Art, 1991, p. 41. Sobre o encontro de Açucena com esta autoridade ver A República, Natal-RN, edição de quinta-feira, 12 de janeiro de 1939, pág. 3.
[4] O conjunto arquitetônico da igreja do Corpo Santo foi demolido para a construção da Avenida Marquês de Olinda em 1913.
[5] Ver http://adcon.rn.gov.br/ACERVO/secretaria_extraordinaria_de_cultura/DOC/DOC000000000113068.PDF
[6] Louis Sèbastien Mercier (1740-1814) foi um escritor francês, autor dramático da época revolucionária, membro da Convenção. Autor do romance de costumes Tableau de Paris, conhecido documento de caráter histórico e sociológico sobre a situação da sociedade francesa na véspera da Grande Revolução.
[7] João José de Oliveira Junqueira (Salvador, 10 de março de 1832 – 9 de novembro de 1887) foi um magistrado e político. Era filho do senador João José de Oliveira Junqueira, ministro do Supremo Tribunal de Justiça. Foi deputado provincial, deputado geral, ministro da Guerra e senador do Império do Brasil de 1873 a 1887. Antes disso foi presidente das províncias do Piauí (1857 a 1858), Rio Grande do Norte (1859 a 1860) e de Pernambuco (1871 a 1872). Ver http://www.wikiwand.com/pt/Jo%C3%A3o_Jos%C3%A9_de_Oliveira_Junqueira_J%C3%BAnior
[8] A modinha era uma canção de origem portuguesa leve, sentimental e muito popular nos séculos XVIII e XIX. Alguns dos primeiros exemplos de modinhas estão nas Óperas Portuguesas (1733-41). Originalmente melodias simples, as modinhas costumavam serem abrilhantados com intrincados e elaborados efeitos musicais quando executados para a nobreza. Elas foram introduzidas no Brasil no final do século XIX onde permaneceram como expressões simples da vida urbana. Ver TINHORÃO, José Ramos. Pequena história da música popular: da modinha à lambada. São Paulo-SP: Art, 1991, p. 47.
[9] A xácara é uma narrativa popular cantada em versos também denominada romance, em que acontece algum episódio trágico, oriundas de Portugal e Espanha ainda encontradas no Brasil do século XIX. Ver FARIA, Edméia. Folclore Poético em Pompéu. Belo Horizonte-MG: Maza Edições, 2000, p. 59.
[10] Ver o periódico A República, Natal-RN, edição de quinta-feira, 12 de janeiro de 1939, pág. 3.
[11] Para se ter uma ideia podemos comparar os vencimentos da aposentadoria que Lourival Açucena ganhava com os vencimentos da aposentadoria de um juiz de direito na mesma época, que era de 4:800$000 (Quatro mil e oitocentos réis). Ver Mensagem lida pelo Governador Augusto Tavares de Lyra em 14 de julho de 1904, na abertura do Congresso Legislativo do Estado do Rio Grande do Norte, na página 114. Em 1904 Lourival Açucena tinha 77 anos.
[12] Sobre este apelido jocoso ver o periódico O Caixeiro, Natal-RN, edição de quinta-feira, 10 de agosto de 1893, pág. 4. Aparentemente as suas duas primeiras esposas faleceram em decorrência de partos mal assistidos.
[13] Ver o periódico A República, Natal-RN, edição de quinta-feira, 19 de outubro de 1927, pág. 1, na reportagem comemorativa dos 100 anos de nascimento de Lourival Açucena.
[14] Atualmente o local onde se situava o 10° Regimento de Cavalaria do Exército Brasileiro é a sede da Academia de Polícia Militar do Barro Branco (APMBB), da Polícia Militar do Estado de São Paulo. Ver CERQUEIRA, Homero De Giorgi. A disciplina militar em sala de aula. São Paulo-SP: Ed. Biblioteca 24 horas, 2009, p. 51.
[15] Sobre a morte de Carlos Lourival ver os periódicos A Gazeta de Natal, edição de sábado, 27 de julho de 1889, pág. 2 e A Federação, Porto Alegre-RS, edição de segunda-feira, 29 de julho de 1889, pág. 1. A razão do falecimento do cadete Carlos Lourival ter sido estampada na primeira página deste jornal gaúcho deve-se ao fato dele ter vivido alguns anos naquele estado, onde fez muitos amigos, serviu em alguns quartéis e chegou a cursar a Escola Militar.
[16] Ver A República, Natal-RN, edição de quinta-feira, 12 de janeiro de 1939, pág. 3.
[17] Ver CASCUDO, Luís da Câmara. Introdução. In: AÇUCENA, Lourival. (Joaquim Eduvirges de Melo Açucena). Versos reunidos por Luís da Câmara Cascudo. 2. ed. Natal: Editora Universitária, 1986, p. 25-26

  Capitão Manoel Varella Barca, lá de de Assú (III) João Felipe da Trindade ( jfhipotenusa@gmail.com ) Professor da UFRN, membro do IHGRN e ...