segunda-feira, 25 de junho de 2018

POESIA MATUTA

MINHA FOGUEIRA
Sinhá dona, o tempo passa,
mas porém, essa desgraça,
Êsse amô, êsse arrespeito,
Qui o cristão guarda no peito,
Essa paixão pru muié...
Êsse veneno danisco,
Essa pedra de curisco,
Essa dô, essa afrição,
êsse estrépe invenenado,
êsse cão amolestado,
Qui mastiga o coração.
Essa sodade afitiva
Qui pru maias qui a gente viva,
Cum a gente véve tombém...
Essa lembrança danada,
Essa coisa amalinada,
Qui só sente quem qué bem...
Mecê já sabe o que é...
Pode num sofrê inté,
Mas, sente rescordção...
Daquela noite brejeira,
Qui nós casô na fogueira,
De nosso sinhô S. João.
A sua bôca falava,
Meus ouvidos escutava,
- aí... meus óios chorô -
Jurguei qui mecê num visse,
Aquela minha tolice...
Mas, sinhá dona notô.
E dixe pra eu baixinho:
- São João, foi o nosso padrinho,
São Pedro e Nosso Sunhô...
- Eu serei tua querida,
- Tu serás a minha vida
- Eu serei o teu amô.
Outros São João já vieram;
Mais fogueiras se fizeram;
E nós dois, sempre a lembrá...
Daquele aperto de mão,
Do qui juremo a São João,
Na fogueira - O nosso artá.
Mas, o tempo, êsse marvado,
Qui leva a vida ocupado,
Sem nenhuma ocupação...
Acendeu outra fogueira,
De miôlo de arueira,
Na minha rescordação.
Renato Caldas, poeta potiguar
Em, Fulô do Mato, 2, edição

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