quinta-feira, 25 de junho de 2015


A DOR DO ABANDONO”
Era uma manhã de sol quente e céu azul, quando o caixão contendo um corpo sem vida foi baixado à sepultura. De quem se trata? Quase ninguém sabe. Poucas pessoas acompanham o féretro. Ninguém chora. Ninguém sentirá a falta dela. Ninguém para dizer adeus ou até breve.
Depois que o corpo desocupou o quarto do asilo, onde aquela mulher passou boa parte da sua vida, a responsável pela limpeza encontrou em uma gaveta ao lado da cama, umas anotações. Um diário sobre a dor... Sobre a dor que ela sentiu por ter sido abandonada pela família num lar para idosos... Talvez o sofrimento fosse muito maior, mas as palavras só permitem extravasar uma parte desse sentimento, gravado em algumas frases:
Onde andarão meus filhos? Aquelas crianças sorridentes que embalei em meu colo, alimentei com meu leite, cuidei com tanto desvelo, onde estarão? Estarão tão ocupadas? Talvez, que não possam me visitar, ao menos para dizer olá, mamãe? Ah! Se eles soubessem como é triste sentir a dor do abandono... A mais deprimente solidão... Se ao menos eu pudesse andar...
Mas dependo das mãos generosas dessas moças que me levam todos os dias para tomar sol no jardim... Jardim que já conheço como a palma da minha mão.
Os anos passam e meus filhos não entram por aquela porta, de braços abertos, para me envolver com carinho...
Os dias passam... E com eles a esperança se vai... No começo, a esperança me alimentava, ou eu a alimentava, não sei... Mas, agora... Como esquecer que fui esquecida? Como engolir esse nó que teima em ficar em minha garganta, dia após dia?
Todas as lágrimas que chorei não foram suficientes para desfaze-lo. Sinto que o crepúsculo desta existência se aproxima... Queria saber dos meus filhos... Dos meus netos... Será que ao menos se lembram de mim? A esperança, agora, parece estar atrelada aos minutos... Que a arrastam sem misericórdia... para longe de mim.
Às vezes, em sonhos, vejo um lindo jardim... É um jardim diferente, que transcende os muros deste albergue e se abre em caminhos floridos que levam a outra realidade, onde braços afetuosos me esperam com amor e alegria... Mas, quando eu acordo, é a minha realidade que eu vejo... Que eu vivo... Que eu sinto... Um dia alguém me disse que a vida não se acaba num túmulo escuro e silencioso... Que a vida continua após a morte, de uma outra forma... Mas com certeza a minha matéria, a minha mente, o meu eu dessa vida que vivo agora, com o nome que tenho... Nunca mais existirá! E quando a morte chegar, só restará a saudade que com o passar do tempo se ameniza... (se é que alguém vai sentir saudade de mim, já que não sentem enquanto ainda estou viva neste asilo)
Sinto que a minha hora está chegando. Depois que eu partir, gostaria que alguém encontrasse essas minhas anotações e as divulgasse. E que elas pudessem tocar os corações dos filhos que internam seus pais em asilos, e jamais os visitam... Que eles possam saber um pouco sobre a dor de alguém que sente o que é ser abandonado... Pensai que a cada pai e a cada mãe Deus perguntará: "- O que fizestes do filho confiado a vossa guarda?" e aos filhos: "- O que fizestes aos vossos pais?".

quarta-feira, 24 de junho de 2015

CANGAÇO – A COR QUE INVADIU O SERTÃO

Marcas do cangaço - Cabeças cortadas e uma estética própria nos equipamentos -  Na foto vemos as cabeças dos cangaceiros Mariano, Pai Véio e Zeppelin, mortos em 25 de outubro de 1936, na fazenda Cangalexo, Porto da Folha, Sergipe.
Marcas do cangaço – Cabeças cortadas e uma estética própria nos equipamentos – Na foto vemos as cabeças dos cangaceiros Mariano, Pai Véio e Zeppelin, mortos em 25 de outubro de 1936, na fazenda Cangalexo, Porto da Folha, Sergipe. CLIQUE NAS FOTOS PARA AMPLIAR.

Luxo místico e riqueza marcam a estética do cangaço 

“Olê, mulher rendeira/
Olê, mulher rendá/
Tu me ensina a fazer renda/
Que eu te ensino a namorar” 
Assim diz a canção-símbolo do cangaço. Sobre moda, Lampião e seus homens tinham pouco a aprender e muito a ensinar. Vestiam-se de forma colorida, cobertos por adornos de ouro e, como bons sertanejos, sabiam confeccionar toda a sorte de objetos e vestimentas sem que por isso se questionasse sua virilidade: o “rei do cangaço” costurava suas roupas e a de seus afilhados e bordava à máquina com perfeição, orgulhando-se da sua habilidade. “O bando de Lampião, sobretudo nos anos 1930, possuía preocupações estéticas mais frequentes e profundas que as do homem urbano moderno”, afirma o historiador Frederico Pernambucano de Mello, pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco e autor do livro Estrela de couro: a estética do cangaço, com 300 fotos históricas e 160 reproduções de objetos de uso pessoal dos cangaceiros, muitos pertencentes ao próprio autor.
Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião - Figura maior do cangaço
Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião – Figura maior do cangaço
Tamanho apuro visual, pleno de detalhes nas coisas mais cotidianas (cães com coleiras trabalhadas em prata!), servia como proteção ao mau-olhado, instrumento de hierarquia interna, tinha funcionalidade militar e era um poderoso instrumento de propaganda junto às populações pobres, que se admiravam diante de todo aquele luxo, cor e brilho. Era também uma forma de arte que o cangaceiro carregava no seu corpo.
“Havia orgulho em tudo aquilo, um esforço para que se pudesse chegar ao anseio de beleza de cada um dos cabras. Era notável ainda um desprezo sistemático pela ocultação da figura, atitude oposta à de quem se considera criminoso”, explica. “Morando num meio cinzento e pobre, o cangaceiro vestiu-se de cor e riqueza, satisfazendo seu anseio de arte e conforto místico.
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Era como se os mais esquivos habitantes do cinzento se levantassem contra o despotismo da ausência de cor na caa­tinga e proclamassem a folia de tons e de contrastes.” Em vez de procurar camuflagem, os cangaceiros desenvolveram uma estética brilhante e ostensiva com roupas adornadas de espelhos, moedas, metais, botões e recortes multicores que, paradoxalmente, os tornavam alvo fácil até no escuro. “Todos armados de mosquetões, usando trajes bizarramente adornados, entram cantando suas canções de guerra, como se estivessem em plena e diabólica folia carnavalesca”, escreveu o Diário de Notícias, de Salvador, em 1929.
“Ainda que o fascínio pelo cangaço tenha existido sempre, fomentado pela literatura de cordel, Lampião soube jogar com todos os registros do visual para ‘magnificar’ a sua vida e transmitir a imagem de um bandido rico e poderoso. Foi o primeiro cangaceiro a cuidar de sua estética, usando modos de comunicação modernos que não faziam parte da sua cultura original, como a imprensa e a fotografia”, explica a historiadora francesa Élise Grunspan-Jasmin, autora de Lampião: senhor do sertão.
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Após terem seu visual cantado pelo cordel, a fotografia, ao chegar ao sertão na primeira década do século passado, fez a delícia do cangaço. “Essa existência criminal parece ter sido criada para caber numa fotografia, tamanho o cuidado do cangaceiro com o visual, com a imponência e a riqueza do traje guerreiro”, avalia Pernambucano. “As vestimentas dos bandidos foram sendo incrementadas até se tornarem quase fantasias. Esse era um dos aspectos da extrema vaidade daqueles bandoleiros”, observa o historiador Luiz Bernardo Pericás, autor de Os cangaceiros: ensaio de interpretação histórica. O homem do cangaço era um orgulhoso que se esmerava no traje, até o final, como se pode ver na célebre foto das cabeças de Lampião e seus homens ao lado de seus chapéus: “Dentre os treze, não há dois iguais, tão ricos em tema e valor material quanto o do chefe, prova da imponência da estética, cuja afetação exagerada adjetivou o cangaço em sua etapa final, quando se chegou a incrustar alianças de ouro na boca das armas”, nota Pernambucano.
A indumentária dos cangaceiros do grupo de Lampião o período anterior a 1930 não era esteticamente tão rica. Como podemos ver nesta foto de junho de 1927, em Limoeiro do Norte, Ceará, após o ataque deste bando a cidade de Mossoró.
A indumentária dos cangaceiros do grupo de Lampião o período anterior a 1930 não era esteticamente tão rica. Como podemos ver nesta foto de junho de 1927, em Limoeiro do Norte, Ceará, após o ataque deste bando a cidade de Mossoró.
“Havia uma estética rica que conferia uma ‘blindagem mística’ ao cangaceiro, satisfeito com a sua beleza e ainda seguro em meio a uma suposta inviolabilidade.” A ponto de contaminar as roupas dos policiais, que copiaram suas vestimentas, e mudar o foco da guerra. “O contágio inelutável dá a força dessa estética e evidencia a existência de outra luta, travada em paralelo, no plano da representação simbólica. A vingança estética do cangaço contra a eliminação militar se dá quando o ícone principal de sua simbologia se transforma na marca do Nordeste: a meia-lua com estrela do chapéu de Lampião.”
Bandidos
Estimulando essa “gana de ostentação” estava a própria essência política do cangaço. “Os cangaceiros não admitiam ser comparados ou confundidos com bandidos comuns, uma ofensa imperdoável. Viam-se como atores sociais distintos, na mesma estatura dos ‘coronéis’”, explica Pericás. O que lhes permitia usar e abusar dos figurinos: orgulhosos de si mesmos, tinham ainda um gosto pelas patentes militares, promovendo “cabras” a postos de hierarquia militar e considerando membros de seus efetivos como “soldados”. “Observe que todo grupo militar preza os símbolos, as insígnias, as representações de poder.
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Lembra-se do Brejnev com medalhas que não cabiam no peito no tempo da Rússia soviética? Sujeito inteligentíssimo, Lampião fez da costura e do bordado um critério a mais de promoção e status no seio do bando e ele mesmo costurava as vestimentas de seu bando. Saber prepará-los e conferi-los a seus homens era uma grande vantagem”, salienta Pernambucano. “Não se chama o boi batendo na perneira”, dizia o “rei”, consciente da necessidade de uma política de afagos interna para amenizar a disciplina de que não abria mão. “A estética era uma ferramenta para infundir o orgulho do irredentismo cangaceiro nos recrutas de modo quase instantâneo. Antes desse recurso estético, imagino que essa inoculação devesse ser lenta.”
Patrões
“Os bandos de cangaceiros eram estruturas hierarquizadas com claras distinções entre as lideranças e a ‘arraia-miúda’, sem voz de comando em posição claramente subordinada aos chefes. Muitos consideravam os líderes do cangaço como ‘patrões’. E esses comandantes se viam assim, quase como os coronéis, com os quais mantinham boas relações, colocando-se em posição igualitária aos potentados rurais”, afirma Pericás. Na contramão do senso comum, os comandantes cangaceiros eram de famílias tradicionais e relativas posses. Lampião, por exemplo, pertencia à classe dos proprietários de terra e ele próprio foi um criador de gado. Por isso o cangaço não foi, diz o pesquisador, uma luta para reconstruir ou modificar a ordem social sertaneja tradicional, como preconizado por boa parte da literatura sobre o fenômeno.
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“Eles não lutavam para manter ou mudar nenhuma ordem política, mas para defender seus próprios interesses mediante o uso da violência, indistinta e indiscriminada. Os bandidos procuravam, sim, manter vínculos com os protetores poderosos, o que podia resultar, inclusive, em agressões contra o seu próprio povo”, diz Pericás. Nesse sentido, a famosa justificativa da adesão ao cangaço por motivos de disputas sociais ou vinganças familiares deve ser vista com desconfiança. “Os cangaceiros diziam-se vítimas, obrigados a entrar na luta por honra, mas isso era, na maior parte dos casos, um ‘escudo ético’, um argumento para convencer as populações pobres de que eram movidos por questões elevadas, se diferenciando dos bandidos comuns, o que não era real.” Lampião nunca viu como prioridade ajudar os necessitados. “Em geral, guardavam o dinheiro grande e davam alguns tostões aos pobres e às igrejas. E sempre faziam questão de que isso fosse divulgado para criar uma imagem positiva junto ao povo.”
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Na prática, o comportamento dos cangaceiros era parecido com o dos coronéis, que agiam de forma paternalista com aqueles que eram considerados “seus” pobres. “Eles não eram bandidos sociais e se pode mesmo dizer que sua presença foi um obstáculo a um protesto social mais significativo. Apesar disso, como um executor independente da raiva silenciosa da pobreza rural, o cangaceiro tinha o apelo popular de um agente superior. A sua violência era um gesto admirado de afirmação psíquica na ausência de justiça e mudança positiva”, acredita a historiadora Linda Lewin, da Universidade da Califórnia, autora de The oligarchical limitations of social banditry in Brazil.
Um membro das forças de repressão contra o cangaço em 1927. Apesar da roupa ser muito próxima aos cangaceiros, a indumentária dos componentes da repressão era normalmente mais simples em termos de adornos.
Um membro das forças de repressão contra o cangaço em 1927. Apesar da roupa ser muito próxima aos cangaceiros, a indumentária dos componentes da repressão era normalmente mais simples em termos de adornos.
Câmara Cascudo já notara que “o sertanejo não admira o criminoso, mas o homem valente”. “O cangaço pode ser visto como uma continuidade do ambiente violento do sertão, onde era comum que paisanos carregassem e usassem armas no cotidiano, pautando sua vida em questões morais, de honra e prestígio”, diz Pericás. Os cangaceiros construíram a imagem de indivíduos injustiçados que haviam ingressado na criminalidade por bons motivos. Mas, se eram violentos, o mesmo pode ser dito dos soldados que os perseguiam. “A população que sofria violências das volantes se voltava para os bandoleiros como uma resposta ou por vê-los em contraposição aos ‘agentes da lei’”, analisa Pericás.
“Com seus trajes inconfundíveis e nada tendentes à ocultação, se sentiam investidos de um mandato mais antigo, havido por mais legítimo que a própria lei, esta, a seus olhos, uma intrusão litorânea sobre os domínios rurais”, completa Pernambucano. Os cangaceiros supriram a falta de poder institucionalizado no sertão. “Eles seriam os fiéis da balança em muitos casos, sendo um poder paralelo, mais fluido e inconsistente, mas que tinha apelo para as massas rurais”, diz Pericás.
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Com o tempo, porém, o cangaço se revelou um negócio, o “Cangaço S/A”, como o descreve Pernambucano. “Era uma ‘profissão’, um ‘meio de vida’. Os bandidos estavam equidistantes do ‘povo’ e dos mandões, ainda que com maior proximidade das elites rurais”, concorda Pericás. Como eram “independentes”, tinham sua imagem dissociada diretamente dos coronéis. “Não sendo empregados de ninguém, eram de certo modo autônomos, tirando das camadas mais ricas e dos governos o monopólio da violência. Mas é sempre bom lembrar que a maioria da população sertaneja, apesar da miséria, da exploração, da falta de emprego e das secas, não ingressou no cangaço.”
Segundo o pesquisador, um dos motivos para a longevidade da “boa” recordação dos cangaceiros seria sua contraposição à ordem instituída. “Os policiais representavam o governo, mas usavam a farda para transgredir. Assim, parte dessa sociedade se voltou para os cangaceiros e viu neles o oposto, ou seja, aqueles que lutavam contra a ordem.” Suas atividades crimi­nosas, então, eram justificadas no quadro maior da luta entre os dois “partidos”: cangaço e polícia.
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Politicamente “reabilitados” e bem vistos, permitiam-se o luxo da ostentação, que se iniciava pelos chapéus, cujas abas levantadas podiam chegar aos 20 cm de raio anular, uma hipérbole em relação ao modelo original dos vaqueiros, de abas viradas, mas curtas. “Experimentei o chapéu de Lampião no Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas: o pescoço bambeou. Tanto peso ornamental não teria nada a ver com funcionalidade militar, mas com valores bem mais sutis”, conta Pernambucano. O objeto tem cerca de 70 peças de ouro, entre moedas, medalhas e outros adereços, o que levou um repórter da época a defini-lo como “verdadeira exposição numismática”. O chapéu era o ponto de concentração dos adendos simbólicos que caracterizam o traje do cangaceiro.
Amuletos
Coisas comuns eram transformadas em amuletos que, além de reforçar a hierarquia, viravam símbolos de uma crença mística. “A blindagem mística se traduziu nos muitos signos (estrela de Davi, flor de lis, signo de Salomão e outros) e na profusão do seu uso em todos os ângulos das vestimentas, o que dividia a atenção com o puro anseio estético, a se mesclar a este, conferindo utilitarismo à fusão, pela força de dar vida à crença tradicional numa suposta inviolabilidade em meio a riscos extremos.” Mas não se iluda o espectador ao pensar que os bandos eram “escolas móveis de superstição”. “O grosso da cabroeira, muito jovem, entre os 16 e os 23 anos, pautava-se pela lei da imitação, sem consciência daquilo de que se servia. O chefe usava? Basta.” As mulheres seguiam as modas de perto, mas de forma distinta.
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“Com alguns traços de Valquíria e quase nenhum da amazona, a matuta que se engajou no cangaço jamais adotou o chapéu de couro, coisa de homem. A elas ficou reservado uma cobertura de feltro, de aba média, e a colocação, sobre a cabeça, de toalha ou lenço”, conta Pernambucano. O mesmo se dava com os punhais que podiam chegar a 80 cm para os homens (o tamanho limite era o do punhal de Lampião, que não poderia ser superado), mas não passavam dos 37 cm no caso das mulheres.
As armas brancas, aliás, são paradigmas na vestimenta do cangaceiro. Com função militar quase morta após o advento da espingarda de repetição, os punhais serviam no ritual letal do sangramento nordestino ou como símbolo de status. “Era usado orgulhosamente sobre o abdome, à vista de todos, aço da melhor qualidade europeia com cabo decorado de prata. Desfrutável ao primeiro olhar. Ou à primeira fotografia.” O punhal de Zé Baiano, presente de Lampião, foi avaliado em mais de 1 conto de réis, preço de uma casa. Outros símbolos de prestígio eram a bandoleira, correia para segurar a espingarda no ombro, e a cartucheira trespassada, essa uma necessidade nascida de se prover um adicional de munição: 150 cartuchos de fuzil Mauser presos com enfeites de ouro. Era comum, porém, que as volantes, cientes do prestígio de seu uso, mirassem em quem portasse uma dessas. A seu lado, iam os cantis, decorados com esmero, um espaço surpreendente de arte de projeção. Como as luvas a que, nota Frederico Pernambucano, o cangaceiro, no fausto dos anos 1930, juntou um bordado colorido.
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O lugar privilegiado das cores, porém, eram os bornais, cuja policromia levou um jornalista a descrever os cangaceiros como “ornamentados e ataviados de cores berrantes que mais pareciam fantasiados para um carnaval”. Visíveis por todos os ângulos, os bornais eram responsáveis por mais de dois terços desse “porre de cores”, o resto ficando por conta do lenço de pescoço, a jabiraca, com que também se coava o líquido extraído de plantas da caatinga. “Nela, nada de nós, mas puxadas as duas pontas para frente, em paralelo, o cangaceiro ia colecionando alianças de ouro, tomando-se como rico quando formava o cartucho. Houve quem tivesse mais de 30 alianças no pescoço”, conta. Viajando por Sergipe, em 1929, Lampião teve os “apetrechos” pesados numa balança de armazém: 29 quilos sem as armas. No total, o peso carregado no calor tórrido da caatinga podia chegar a quase 40 quilos.
Místico
Com menos aprumo, a vestimenta contagiou os policiais. “A sedução da indumentária dos cangaceiros arrebatava pelo funcional, pelo estético e pelo místico. A volante se mimetizou a tal ponto que dela não restou imagem própria”, diz Pernambucano. Para desespero das autoridades, que se sentiam derrotadas também no simbólico. “Cumpre que se adote a proibição de fardamentos exóticos, de berloques, estrelas, punhais alongados e outros exageros notoriamente conhecidos, porque a impressão se faz no cérebro rude e, à primeira oportunidade, o chapéu de couro cobre a testa e o rifle pende a tiracolo”, alertava um relatório oficial.
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Curiosamente, nota o pesquisador, pintores como Portinari ou Vicente do Rego Monteiro não souberam captar o luxo e o colorido dessa estética em suas reproduções do cangaço, optando, ideologicamente, por uma visão monocromática opaca, para ressaltar o aspecto social do fenômeno, à custa da fidelidade ao real. “Não é exagero dizer que ainda está por surgir, na pintura ou no cinema, quem consiga combinar o ethos e o ethnos dessas comunidades para retratá-las”, avalia Pernambucano. “O cangaço foi o último movimento a viver ‘sem lei nem rei’ em nossos dias, após varar cinco séculos de história. E o último a fazê-lo com tanto orgulho, com tanta cor, com tanta festa e com uma herança visual tão significativa.” Como, aliás, já diziam os versos de Mulher rendeira:
“O fuzil de Lampião
Tem cinco laços de fita
No lugar em que ele habita
Não fartá moça bonita”

OUTROS SERTÕES – ESTUDO REVELA A ARQUITETURA RURAL DO SEC. XIX NO INTERIOR DO NORDESTE



terça-feira, 23 de junho de 2015

MUSEU DO SERIDÓ PRESERVA E DIVULGA MEMÓRIA E CULTURA DO RN

23 de junho de 2015 — por O Potiguar
Povoada por índios tapuias, invadida por holandeses e colonizada por descendentes de portugueses e atravessada pelos ciclos do gado, do algodão e da mineração, a região do Seridó é muito rica de história e de cultura. O Museu do Seridó é uma unidade suplementar da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e cuja meta é preservar e divulgar esse patrimônio, por meio do ensino, da pesquisa e da extensão.

O acervo do museu conta com coleções de tecnologia tradicional (engenhos de rapadura e farinha, tecelagem e bordados) e arqueológica (machados de pedra), instrumentos de trabalho no pastoreio, como roupa de vaqueiro, ferros de marcar gado e selas, arte sacra cristã, armas brancas e de fogo, móveis e utensílios domésticos, como louças e cerâmicas.
O museu fica no centro da cidade de Caicó, na rua Amaro Cavalcanti, nº 123 (antiga rua da Cadeia Velha). É aberto à visitação de segunda a sexta-feira, das 8h às 11h e da 14h às 17h; no sábado e no domingo, somente com agendamento prévio, pelo telefone (84) 3421-3515. A entrada é gratuita.
História


Construído na década de 1960, por iniciativa do padre Antenor Salvino de Araújo, o Museu do Seridó foi inicialmente batizado “Pena de Ouro”. A administração e a posse do acervo foi de responsabilidade da Diocese de Caicó até 1981, quando foi transferida para a UFRN em razão da criação do Centro de Ensino Superior do Seridó (CERES) e do curso de História naquele campus.


MEU SÃO JOÃO 

Seis horas da tarde...
arde
em mim, a fogueira da ausência...
nostalgia!
A noite se debruça
nos escombros do dia.
- Evocação -
O sol vermelho cor de brasa,
desce, e a porta de sua casa,
acende uma fogueira a São João.

Renato Caldas

segunda-feira, 22 de junho de 2015

“RN ESTÁ PREPARADO PARA O HUB”, DIZ ROBINSON FARIA

22 de junho de 2015 — por O Potiguar
Neste final de semana o governador Robinson Faria escreveu em suas redes sociais que o Rio Grande do Norte está preparado para receber o Hub da TAM. No texto o governador fala sobre os incentivos que o estado oferece, além das forças que estão sendo somadas para a conquista do centro de conexões. Confira.
O que até bem pouco tempo era um termo distante para o Rio Grande do Norte virou sinônimo de esperança, empregos e geração de renda. A primeira vez que tratei sobre a instalação de um centro de conexões da TAM no Nordeste foi, ainda, no mês de fevereiro. Eu estava na sede da companhia em São Paulo para anunciar a redução do ICMS sobre o querosene de aviação e viabilizar as contrapartidas para o Estado. A redução do imposto era, há muito tempo, esperada pela cadeia produtiva do turismo. Foi assim que credenciamos o Rio Grande do Norte para a disputa do Hub.



“RN está preparado para o HUB”, diz Robinson Faria

Na última segunda-feira, não é exagero dizer que vivemos um momento histórico, de união de esforços políticos e empresariais, para atração dos investimentos na ordem dos R$ 3,9 bilhões de reais. A tradução mais rápida do que isso representa é a geração de até 12 mil empregos para o povo potiguar.
Um governo com o sólido propósito desenvolvimentista tem a marca do diálogo e da ação! O Governo do Estado já retomou a construção dos acessos ao aeroporto. O primeiro ficará pronto ainda no mês de dezembro de 2015. Vamos garantir novas isenções fiscais para os setores de alimentação e compra de aeronaves. Recentemente, estive com o presidente da Petrobras e cobrei a redução do QAV para as operações no RN. Somos produtores do combustível e não faz sentido repassar pelo mesmo valor dos estados que necessitam da contratação do frete.
Oferecemos as melhores condições para a conquista do Hub: posição geográfica estratégica, único aeroporto privado em operação, capacidade de construção de uma nova pista nas mesmas dimensões da atual, área disponível no entorno do aeroporto, capacidade de atração de empresas e indústrias relacionadas à atividade, com o Proadi e Progás, rede hoteleira com mais de 40 mil leitos, uma linha do VLT, o Veículo Leve sobre Trilhos, para o aeroporto, entre tantos outros diferenciais.
Só teremos a resposta oficial da companhia no final de 2015. Mas a disputa já produziu uma conquista a ser comemorada: a retomada da confiança no Governo do Estado, como o agente indutor do desenvolvimento do Rio Grande do Norte! 

 Fonte: http://www.opotiguar.com.br/

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CULTURA ASSUENSE:

Estatuto da Academia Assuense de Letras já está registrado em cartório



O registro do estatuto, do programa e normas da Academia Assuense de Letras (AAL) foi concluído junto ao 3º Cartório Judiciário da Comarca do Assu. O fato regulamenta o cumprimento das exigências legais de implementação e implantação da instituição.

Academia Assuense de Letras (AAL), associação civil, de direito privado sem fins econômicos, tem por finalidade o cultivo, a preservação e a divulgação do vernáculo, da literatura, da história e da atividade cultural em seus múltiplos aspectos. 

A primeira diretoria da Academia, constituída por sete membros eleitos por aclamação dentre os sócios fundadores tem como Presidente: Ivan Pinheiro Bezerra; Vice-presidente: Auricéia Antunes de Lima; 1º Secretário: Francisco José Costa dos Santos; 2º Secretário: Fernando Antônio Caldas; 1º Tesoureiro: Fernando Antônio de Sá Leitão Morais; 2º Tesoureiro: Francisco de Assis Medeiros e Secretário de Comunicação: Antonio Alderi Dantas.

Membros da AAL: José Costa, Francisco de Assis, Auricéia Lima,
Ivan Pinheiro, Fernando Caldas, Alderi Dantas e Fernando de Sá Leitão
No tocante aos primeiros ocupantes e as respectivas cadeiras da Academia Assuense de Letras o quadro é o seguinte:

Cadeira nº 1 – Patrono: Palmério Augusto Soares de Amorim Filho, Titular: Antonio Alderi Dantas

Cadeira nº 2 – Patrono: Celso Dantas da Silveira, Titular: Auricéia Antunes de Lima;

Cadeira nº 3 – Patrono: Francisco Augusto Caldas de Amorim – Chisquito, Titular: Francisco de Assis Medeiros;

Cadeira nº 4 – Patrono: Francisco Agripino de Alcaniz – Chico Traíra, Titular: Francisco José Costa dos Santos;

Cadeira nº 5 – Patrono: Renato Caldas, Titular: Ivan Pinheiro Bezerra;

Cadeira nº 6 – Patrono: João Lins Caldas, Titular: Fernando Antônio Caldas

Cadeira nº 7 – Patrono: Sílvia Filgueira de Sá Leitão, Titular: Fernando Antônio de Sá Leitão Morais.

Os demais nomes escolhidos como patronos para as 20 primeiras cadeiras cujos titulares serão escolhidos entre os futuros sócios são: Alfredo Vespúcio Simonetti, Eufrosina Fernandes, Ezequiel Epaminondas da Fonseca Filho, Ezequiel Lins Wanderley, Francisco Ângelo da Costa – Chico Daniel, Francisco Elion Caldas Nobre, João Carlos Wanderley, João Natanael Soares de Macêdo, Luiz Carlos Lins Wanderley, Maria Carolina Wanderley Caldas – Sinhazina Wanderley; Maria Eugênia Maceira Montenegro; Pedro Soares de Araújo Amorim; Samuel Sandoval da Fonseca. 

A solenidade magna de posse dos acadêmicos está prevista para o dia 30 de julho. Uma reunião prevista pela diretoria para sexta-feira (26) discutirá os procedimentos para a realização deste significativo momento na vida da Academia Assuense de Letras.
Secretária de Comunicação da Academia Assuense de Letras - AAL

ADEUS AGNELO








Por Geraldo Melo

Ele partiu, abatido pela covardia e crueldade sem limites de um câncer implacável e de uma infecção respiratória, capítulo final de um problema pulmonar que o acompanhou praticamente a vida inteira.


Se, por aqui, como é natural, a sua morte espalhou tristeza, onde ele agora vai morar deve ser um dia de alegria para Seu Nezinho e Dona Liquinha, para Aluízio, Zé Gobat, Expedito e Maristela. E também Aristófanes. Vai ser uma festa por lá.

A vida nos colocou ao lado um do outro e, de vez em quando, frente a frente. Convivemos à nossa maneira. Desde o curso primário no Colégio Marista até a visita que lhe fiz recentemente em casa quando nos falamos pela última vez. Ele doente, eu sabendo que tinha de sair para não incomodar demais, mas querendo ficar mais tempo com ele.


A essa amizade não faltaram aquele senso crítico de que ele nunca abriu mão, a mordacidade, a franqueza dura, alfinetadas (quase sempre) bem-humoradas, críticas severas de um ao outro. Nada disso comprometeu a continuidade da estima pessoal muito forte, nem o respeito, nem a admiração.


Lembranças estão hoje se acotovelando na minha memória – passam por um almoço em seu apartamento no Rio de Janeiro (era no Jardim Botânico? No Jóquei?): eu ainda solteiro, ele e Celina começando a fundar uma nova família. Naquele dia, por sugestão dele, marcamos um encontro para vinte anos depois, com a presença da mulher que eu ainda não tinha e dos filhos que esperávamos ter nós dois. Lembrança de viagens, de divergências maiores e menores, campanhas contra e favor, distância, aproximação. Amizade sempre.


Hoje ele se foi. Com a partida de Agnelo, começo a entender o significado de uma velha maldição chinesa, que dizem ser a mais cruel de todas: “sobreviverás a todos os teus entes queridos, a todos os teus amigos, a todos os teus parentes, a todos os teus conhecidos”. O problema é que não queremos ir e gostaríamos muito que eles também não fossem. Mas, não é assim.


Boa viagem, amigo

JOÃO E LAURITA


João e Laurita eram dois mendigos (Laurita ainda é viva) desajustados que perambulavam pelas ruas do Assu. Os dois podiam ser enquadrados entre os tipos populares da velha cidade. Renato Caldas, observando a filosofia de vida do casal, criou um mote e glosou:

JOÃO E LAURITA ABRAÇADOS
ZOMBAM DA FELICIDADE.

Felizes, não desgraçados,
Sem provar o amargo fel,
Vivem uma lua de mel
João e Laurita abraçados.
Felizes, resignados,
Pelas ruas da cidade,
implorando a caridade
Ao futuro indiferentes...
Laurita e João sorridentes
Zombam da felicidade.

Autor: Renato Caldas
Fonte: Lembranças e Tradições do Açu - Maria Eugênia.
Imagem ilustrativa: jackye-evellyn.blogspot.com

Que eu seja eternamente eterno louco e nunca deixe de sonhar na vida. (João Lins Caldas, pensador potiguar).