domingo, 3 de abril de 2016

ALGODÃO – A SUPREMACIA DO ALGODÃO MOCÓ NAS LAVOURAS SERIDOENSES

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Ouro Branco – Imagens deste tesxto são meramente ilustrativa 
Texto – Alzira Soares
“Ouro branco que faz nosso povo feliz / Que tanto enriquece o país / um produto do nosso sertão”
A minha curiosidade de saber um pouco mais sobre algodão foi aguçada na minha infância, de tanto ouvir meu pai cantar a música Algodão – era uma das suas preferidas do nosso Rei do Baião. A música é uma crônica sobre o dia-a-dia do sertanejo na lida com o algodão. Meu pai fazia questão de frisar: Algodão Mocó – é o melhor algodão produzido no Brasil e é plantado aqui nas lavouras do Seridó. Tem outros tipos de algodão, dizia com orgulho de bom sertanejo que era: “Mocozinho”, “Quebradinho”, “Rim de Boi”, mas bom mesmo é o Mocó – esse sim é o Ouro Branco que o Luiz Gonzaga fala na música!.”
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Usina de beneficiamento de algodão.
Planta   da família das Malváceas, espécies nativas  das áreas tropicais da África, Ásia e Américas. O algodão é a matéria fibrosa que envolve as sementes  algodoeiro, e embora macia, suas fibras apresentam boa resistência a esforços de tração, o que permitiu sua utilização na confecção de tecidos.
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A palavra algodão deriva de  al-qu Tum, na língua árabe, porque foram oa árabes que, na qualidade de mercadores, difundiram a cultura do algodão pela Europa. Ela gerou os vocábulos cotton, em inglês, coton em francês e cotone, em italiano.
O algodoeiro é uma planta dotada de raiz principal cônica, profunda, e com pequeno número de raízes secundárias grossas e superficiais. O caule herbáceo ou lenhoso, tem altura variável e é dotado de ramos vegetativos  e ramos frutíferos
As folhas são pecioladas, inteiras ou recortadas (3 a 9 lóbulos). As flores são hermafroditas,. Elas se abrem a cada 3-6 dias entre 9-10 horas da manhã. Os frutos (chamados “maçãs” quando verdes e “capulhos” pós abertura) são capsulas de abertura longitudinal, com 3 a 5 lojas cada uma, encerrando 6 a 10 sementes.
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As sementes são revestidas de pêlos mais ou menos longos, de cor variável, (creme, branco, avermelhado, azul ou verde) que são fibras (os de maior comprimento) e linter (os de menor comprimento e não são retirados pela máquina beneficiadora. As fibras provém das células da epiderme da semente e tem, como características comerciais, comprimento, finuramaturidade, resistência, entre outras.
HISTÓRIA DO ALGODÃO NO MUNDO
As primeiras referências históricas do algodão estão no Código de Manu, do século VII a.C., considerado a legislação mais antiga da Índia.Há cinco mil anos antes de Cristo  escavações arqueológicas feitas no Paquistão, encontraram-se vestígios de tecidos de algodão. No Peru, na mesma época foram encontrados vestígios da cultura e utilização do algodão para suprir as necessidades humanas.
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Os escritos antigos, de antes da era Cristã, apontavam que as Índias eram a principal região de cultura e que o Egito, o Sudão e toda a Ásia menor já utilizavam o algodão como produto de primeira necessidade.
Na Europa, o algodão se tornou conhecido através dos árabes. Foram eles os primeiros a fabricar tecidos e papeis com essa fibra. Em 1736 iniciou-se na Inglaterra a manufatura de fios de algodão com linho. No século XVIII, com o desenvolvimento de novas maquinas de fiação, a tecelagem passou a dominar o mercado mundial de fios e tecidos.
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Durante as colheitas havia uma grande participação das sertanejas.
Nos Estados Unidos, quando Eli Whitney inventou os descaroçadores de serra deflagrou-se uma verdadeira revolução na industria de beneficiamento de algodão, tornando então os Estados Unidos o maior produtor mundial de algodão. Tempos depois, outros países, aproveitando as novas técnicas de plantio e beneficio, passaram também a ser grandes produtores em escala comercial, como Rússia, China, Índia, Paquistão, Egito e Brasil.
HISTÓRIA DO ALGODÃO NO BRASIL
No Brasil, na época do descobrimento, os indígenas já cultivavam o algodão e usavam os fios na confecção de redes e cobertores. Usavam também o caroço esmagado e cozido para fazer mingau e com o sumo das folhas curavam feridas. Os primeiros colonos chegados ao Brasil, logo passaram a cultivar e utilizar o algodão nativo. Os jesuítas do padre Anchieta introduziram e desenvolveram a cultura do algodão (confecção de suas roupas e vestir os índios).
Nessa época o algodão tinha pequena expressão no comércio mundial. A lã e o linho dominavam como tecidos. A cultura era feita em pequenas “roças” em volta das habitações, e o artesanato têxtil era trabalho de mulheres (índias e escravas). Foi só pelos meados do século XVIII com a revolução industrial, que o algodão foi transformado na principal fibra têxtil e no mais importante produto das Américas.
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A cultura de algodão no Brasil começou no Norte e no Nordeste. O primeiro grande produtor foi o Maranhão que em 1760 exportou para a Europa suas primeiras sacas do produto. Ao Maranhão seguiu-se todo o Nordeste tornando-se a primeira grande região produtora do pais com as produções do Rio Grande do Norte, Piauí, Ceará, Pernambuco, Paraíba, Alagoas e Bahia que se dedicavam ao plantio do algodão arbóreo perene, de fibras mais longas.
Mais tarde, São Paulo se firma como grande centro produtor. Imigrantes norte-americanos que se localizaram na região de Campinas e Santa Bárbara D`Oeste, trouxeram com eles sementes de algodão herbáceo, de fibra mais curta que os do Nordeste, porém, muito mais produtivos e que são plantados anualmente.
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De São Paulo o algodão expandiu para o Paraná, Mato Grosso e Goiás formando a zona meridional, responsável pela grande produção algodoeira do Brasil.
Hoje o centro algodoeiro brasileiro é composto, principalmente, por Mato Grosso, Goiás e algumas partes da Bahia. Essa nova fronteira algodoeira possibilitou o ressurgimento do algodão no nosso país, quase que por verdadeiro milagre, pois, de grande exportador o Brasil passou a ser importador de grandes quantidades oriundas dos Estados Unidos, Rússia e África. Atualmente voltamos a exportar, e a nossa Industria Têxtil vem tendo a opção de se abastecer tanto no mercado interno quanto no mercado externo.
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HISTÓRIA DO ALGODÃO NO RIO GRANDE DO NORTE
A partir de 1905 o cultivo do algodão ocupa lugar de destaque na economia do Rio Grande do Norte. Embora prioritariamente voltado para o mercado interno, em favor das indústrias têxteis nacionais, o algodão norte-rio-grandense também encontrava colocação no mercado estrangeiro, principalmente o algodão “mocó”, de fibra longa, posto que se destinasse à confecção de tecidos finos.
Duas variedades de algodão eram plantadas no Rio Grande do Norte: o arbóreo (“mocó” ou “Seridó”) e o herbáceo. O algodão “mocó” foi a variedade que melhor se adaptou aos sertões: por suas raízes profundas, era mais resistente às secas; por seu vigor, era uma variedade mais infensa às pragas e ,por outro lado, produzia até por 8 anos. Em suma, era muito mais vantajoso que o herbáceo, que tinha um ciclo vegetativo muito curto – geralmente um ano e, além disso, mais suscetível a pragas. O cultivo do algodão arbóreo “mocó” alimentava um grande número de usinas de beneficiamento. Além da fibra de excelente qualidade, tinha como subprodutos óleo vegetal e ração animal ( torta de algodão). Por ser na época fonte segura de renda para o produtor foi chamado de “ouro branco”.
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A produção do algodão era muito importante no aspecto econômico no Rio Grande do Norte e igualmente movimentava as principais cidades das áreas de produção. Na foto temos um registro da escolha da “Rainha do Algodão”, na cidade de Currais Novos, em 1954, durante um congresso. Da esquerda para direita vemos Maria Lourdes Medeiros (Representando a cidade de Jardim do Seridó), Deise Trindade (De Caicó e vencedora do concurso) e Nazareth Cortez (Currais Novos).
Durante muito tempo o algodão do Seridó deteve a reputação de algodão de primeira qualidade. O Dicionário Geográfico do Brasil em 1922 registrava: O produto é de ótima qualidade. Na exposição Nacional de 1908,o da zona do Seridó obteve o grande prêmio e o de toda região sertaneja alcança sempre cotações superiores nos mercados internos e externo”.
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No entanto, o algodão nordestino foi perdendo paulatinamente,  sua posição hegemônica como principal matéria-prima consumida pela indústria têxtil brasileira. As crises de oferta da fibra nordestina estariam ligadas, por um lado, às devastadoras secas que atingiam impiedosamente as lavouras sertanejas. Por outro lado, com a chegada do bicudo (nos anos 80), praga de difícil controle e depois com a abertura do mercado nacional às importações subsidiadas de países da Ásia nos anos 90, a cultura, que  nos anos 80 chegou a ser plantada em mais de 2 milhões de hectares no Nordeste, entrou em declínio e hoje a área cultivada está em torno de 1.300 hectares.
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Resultado da colheita de algodão guardada em um armazém.


FONTES:
  • Antonio Fagundes – Leituras Potyguares – Editora Sebo Vermelho-Natal/2009 ( Edição original/1933)
  • Algodão – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA) – Brasília / 1981
  • Breve História do Algodão no Nordeste do Brasil – EMBRAPA Algodão – Brasília / 2003
  • Algodão – Semira Adler Vainsencher –  Fundação Joaquim Nabuco- Recife/PE
  • Pesquisas Google  – Sites:
  1. http://www.cnpa.embrapa.br/produtos/algodão/apresentacao.html
  2. http://www.noticiasagricolas.com.br/noticias.php?id=28594
  3. http://www.cnpa.embrapa.br./publicacoes/2003/DOC117.PDF
  4. http://basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar
  5. http:??noticiasdeontem.net/materias/anoIV/XXVII/0_algodao_moco_do_serido.html
Foto: Rogério Avelino.
Da linha do tempo/Facebook de AML.

sábado, 2 de abril de 2016

O Mundo é Grande - Carlos Drummond de Andrade (vídeo)

"...o blues é um estado de espírito e a música que dá voz a ele. O blues é o lamento dos oprimidos, o grito de independência, a paixão dos lascivos, a raiva dos frustrados e a gargalhada do fatalista. É a agonia da indecisão, o desespero dos desempregados, a angústia dos destituídos e o humor seco do cínico. O blues é a emoção pessoal do indivíduo que encontra na música um veículo para se expressar. Mas é também uma música social: o blues pode ser diversão, pode ser música para dançar e para beber a música de uma classe dentro de um grupo segregado. O blues pode ser a criação de artistas dentro de uma pequena comunidade étnica, seja no mais profundo Sul rural, seja nos guetos congestionados das cidades industriais. O blues é a canção casual do guitarrista na varanda do quintal, a música do pianista no bar, o sucesso do rhythm and blues tocado na jukebox. É o duelo obsceno de violeiros na feira ambulante, o show no palco de um inferninho nos arredores da cidade, o espetáculo de uma trupe itinerante, o último número de uma estrela dos discos. O blues é todas estas coisas e todas estas pessoas, a criação de artistas famosos com muitas gravações e a inspiração de um homem conhecido apenas por sua comunidade, talvez conhecido apenas por si mesmo".

*/Paul Oliver

Yara Darin


Se estivesse encarnado, Chico Xavier estaria completando hoje, 2 de abril de 2016, 106 anos. Nascido na cidade de Pedro Leopoldo, em Minas Gerais, Francisco Cândido Xavier foi um brasileiro que viveu com simplicidade, dedicando-se à divulgação da Doutrina Espírita. Ele desencarnou no dia 30 de Junho de 2002, aos 92 anos, após anos de abençoada atividade mediúnica e prática da caridade.
Nossa gratidão a Deus que nos envia missionários que se transformam em "Cartas-vivas" do Evangelho - nas inspiradas palavras do Apóstolo dos Gentios - e que como grandes almas, transcendem rótulos e sectarismos tolos e distanciados da pureza evangélica da mensagem de Jesus.

SOBRE COMO AREZ É MAIS UM PATRIMÔNIO HISTÓRICO POTIGUAR INEXPLORADO


  1 COMENTÁRIO


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Conrado Carlos – Jornalista 
Um sujeito forte, de olhar mortífero e desconfiado, à sombra de um boné, me situou quanto ao itinerário:
“Aqui é Carnaúba”.
É um distrito de Senador Georgino Avelino, cidade vizinha ao meu destino, Arez, esta a segunda vila fundada na então capitania do Rio Grande, em 1760, cuja história registra presença de piratas franceses e espanhóis desde o final do século XVI, no escambo com índios por madeiras nobres, sobretudo pau-brasil – Extremoz foi a primeira.
Isso foi na última quarta-feira (23), dia em que eu e o fotojornalista John Nascimento saímos de Natal em busca de um paraíso perdido, em seu potencial turístico.

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Arez tem 14 mil habitantes e uma das igrejas mais antigas do Estado

Por R$5,20 peguei o ônibus na praça central de São José do Mipibu rumo a Arez, casa de 14 mil habitantes e de diversas atrações para além de sol, mar e areia.
Ainda na estrada, vislumbro um naco de terra coberto por vegetação fechada,
com um cruzeiro cristão no centro, cercado por águas sossegadas.
Falo de um dos maiores patrimônios históricos desta esquina da América do Sul: a Ilha do Flamengo, encravada na Lagoa de Guaraíras, palco de uma batalha selvagem entre holandeses e portugueses, no tempo em que aqueles tomaram parte do nordeste da Coroa lusitana.
A Lagoa abrigou uma aldeia chefiada pelo cacique Jacumaúma, dissidente da antiga Papari, hoje Nísia Floresta – sua taba ficava na atual Usina Estivas, enquanto outro aglomerado indígena sob seu poder ficava na Lagoa de Aranum.
Esse pacote cultural fica distante 60 km da capital potiguar, à espera de um olhar sensível ou da gritaria generalizada por investimentos equivalentes a meia dúzia de suingueiras patrocinadas a fole por prefeituras.
Antes das 09h estávamos em companhia de Ricardo Dantas, coordenador da Secretaria Municipal de Cultura e de Eclécio Fernandes, gestor ambiental e funcionário da Secretaria do Meio Ambiente.
Ao chegarmos à Lagoa, uma notícia preocupante: a maré baixava, o que vetava barco em direção a Ilha.
Era atolar o pé no mangue ou voltar outro dia.
APA Bomfim-Guaraíras
Seguimos por uma trilha ainda em terra firme, dentro da Área de Preservação Ambiental Bomfim-Guaraíras.
É uma porção do RN com 42 mil hectares, delimitado em 1999 via decreto estadual – mas só dez anos depois o Ministério Público começou a caçar licenças de carcinicultores; a partir de 2012, o IDEMA começou a explodir viveiros para, enfim, o manguezal se restabelecer e a fauna revigorar.
Hoje Senador Georgino Avelino e Arez formam um conjunto natural importante para o ecossistema do Estado, em um corredor ecológico que vai até Baía Formosa.

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Ecossistema da Lagoa revigorou com fim da carcinicultura

Quem me explicou tudo isso, no dia seguinte a minha ida a Arez, foi Gustavo Szilagyi, geógrafo, mestre em desenvolvimento regional, professor universitário, ex-diretor do IDEMA e atual supervisor de fiscalização ambiental da prefeitura de Natal.
Segundo ele, “A APA Bomfim-Guaraíras é da categoria de uso sustentável. É administrada pelo IDEMA e teve por principal objetivo salvaguardar e manter os recursos hídricos. É uma APA muito extensa. Envolve também a Mata Atlântica, extremamente importante para o Estado, pois na Lagoa do Bomfim é de onde parte a adutora Monsenhor Expedito, que abastece 23 municípios da região Agreste e Trairi. E essa APA ainda não tem um plano de manejo, não está regulamentada”.
A Ilha do Flamengo também é um importante berçário de aves silvestres.
Gustavo foi professor de Eclécio, nosso guia na jornada e morador de um sítio deslumbrante às margens da Lagoa.
O jovem de 20 anos empunhava um facão e nos explicava as dificuldades enfrentadas para manter o equilíbrio ambiental na redondeza.
“Nossa maior dificuldade aqui é a questão do desmatamento e do cuidado com o lixo. Um exemplo disso é que algumas pessoas utilizam a Lagoa de Guaraíras para divertimento no final de semana, mas deixam garrafas e sacolas plásticas na margem. Aí a maré enche e as correntes marítimas levam para outro espaço. Isso polui o mangue, alguns animais comem esse lixo. Aqui já aconteceu de tartaruga, que sempre tem entrado na Lagoa, comer esse lixo e morrer. E nas matas é o desmatamento, com frequência”.
Na medida em que nos aproximávamos da Ilha, o solo amolecia, com aquela pasta acinzentada e odorenta cada vez mais acima da canela. Para firmar o pé era preciso enfrentar uma espécie de corredor polonês de mariscos sob a lama. Qualquer vacilo, abriria um talho.
Ilha das lendas
Um dos cronistas holandeses da época das Invasões, Joan Nieuhof permaneceu no Brasil entre 1640 e 1649, a serviço da Companhia das Índias Ocidentais.
Assim ele descreveu a Ilha do Flamengo, em seu livro Memorável Viagem Marítima e Terrestre ao Brasil:
“No lago de Groaíras, há uma quantidade incrível de peixes e a região produz farinha em grande escala. Daí vieram os fartos abastecimentos de carne e peixe para as nossas guarnições da Paraíba e outras partes, durante a rebelião dos portugueses”.
Em língua indígena, Guará significa ‘Pássaro’, e Iras, ‘peixe’.
Senhores da Ilha, os holandeses edificaram uma casa-forte no alto do terreno, voltada para onde fica a atual Tibau do Sul.

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Ilha do Flamengo fica na Área de Preservação Ambiental Bomfim-Guaraíras

Duas trincheiras de tropas luso-brasileiras, comandadas pelo ‘governador dos pretos’ Henrique Dias, massacraram 40 neerlandeses e um sem número de índios e escravos africanos “[…] não perdoando o sexo nem a idade”, segundo relato do Frei Rafael de Jesus.
O confronto durou toda a madrugada de 06 de janeiro de 1648, e somente cinco holandeses conseguiram fugir.
Trinta anos após a matança, os jesuítas fundaram a aldeia de Guaraíras – apesar dela existir em caráter oficioso desde 1647.
Seria a origem oficial de Arez.
E de lendas, como a existência de tesouros enterrados e de espíritos dos mortos na batalha a vagar e atormentar curiosos.
Semanas após a leitura de Luís da Câmara Cascudo, Tavares de Lyra, Olavo de Medeiros Filho, Marlene da Silva e Luiz Eduardo Brandão Suassuna e do Monsenhor Paulo Heroncio de Melo, venci o mangue o cheguei a Ilha do Flamengo.
Logo de cara, uma triste constatação: garrafas pet, copos d’água, sacolas de supermercado, latas de cerveja e até um sapato nos lembravam de que a besta humana é incansável, incurável e chega aos recantos mais impossíveis.

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Lixo abandonado por frequentadores da Lagoa chega ao coração da Ilha

Uma trilha íngreme força o visitante a pensar que todo esforço é pouco para vivenciar um lugar místico, com resquícios de um passado que o poder público insiste em nos negar.
Dois minutos antes de chegarmos ao centro da Ilha, vejo o buraco profundo cavado por um antigo morador, após sonhar com moedas de ouro enterradas nos Seiscentos – algo comum durante os séculos de colonização das Américas.
Um urubu nos assusta, ao sair do buraco fantasmagórico.
Até que descemos uma encosta, diante de uma gameleira imponente, onde restos do fortim holandês estão incrustrados.
Se isso gera pouca ou nenhuma emoção em quem toma conhecimento dessas histórias através de livros ou pela boca de algum conhecido, lamento bastante.
Porque, para mim, ter a oportunidade de saltar das páginas impressas e sentir a brisa, o cheiro, o calor, em meio àquelas plantas tropicais, como sentiu um holandês do século XVII, teve algo mágico, algo inexplicável nesta nota alongada de Sábado de Aleluia.
Cansados, fizemos o percurso de volta com pressa – o nativo Ricardo desconhecia a Ilha naquela condição.
Tínhamos um canhão, um cemitério e algumas pessoas para conhecer.
A cidade
A Ilha do Flamengo fica no distrito de Patané (de Pati-Hé, Palmeira ruim, que dá frutos mirrados), coisa de cinco minutos do centro de Arez.

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Arez é bucólica, pacata, com encantos inesperados

Como em todo lugar, existe um ranço entre a sede do município e seus ‘afluentes’ – assim como o natalense da Zona Sul debocha do da Zona Norte e com mossoroenses.
Uma besteira sem tamanho.
Sei que a tarde iniciava, senhoras mostravam sua arte em renda de labirinto nas calçadas e o dindim de mangaba (R$0,75) amenizava a fúria do Astro-Rei.
Fomos ouvir o prefeito Erço de Oliveira Paiva, em seu ultimo ano de administração.
Indagamos sobre o que foi feito nesses quase oito anos de gestão para divulgar a cidade, oferecer estrutura aos forasteiros e revelar a riqueza cultural do entorno às crianças aresenses.
Eis sua resposta:
“Nós sabemos que a cultura é importante, a história, a tradição deve ser preservada. Com relação a Ilha do Flamengo, há um projeto nosso de fazer um terminal turístico. Já existe o projeto. Isso demanda uma parceria com o Ministério do Turismo, mas com essa crise a gente não conseguiu ainda alguma verba”.
O prefeito informa que seriam necessários quase dois milhões de reais para a construção do terminal e que sente orgulho em guiar o destino de um lugar de história tão rica.

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Peça de artilharia holandesa fica na praça central

Do canhão ao frontal
Após a breve entrevista, conhecemos o frontal do cemitério de Arez, bloco arquitetônico em estilo rococó dos mais impressionantes neste Estado, construído pelo Frei Herculano, em 1882.
O Frei nasceu Hermenegildo Vieira da Costa, em Uiraúna, na Paraíba. Ordenado sacerdote pelo Seminário de Olinda, ele mudou de nome e peregrinou pelos dois Estados, vestido com o hábito de são Francisco.
As colunas da ordem coríntia dividem o frontal em cinco partes, com arcada central de acesso (o portão original foi roubado) e quatro painéis ornamentados para nos congelar, diante tanta beleza.
O monumento é tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, o IPHAN.
Bem perto dali, como um conjunto de obras emolduradas por um céu azulado e gente sorridente, a praça central e a Igreja Matriz nos obrigou a postergar a volta no horário programado.
Da conversa de mais de uma hora que tivemos com o tabelião Giovany Teixeira de Menezes (foto), homem viajado e de raro nível intelectual, saíram os pormenores que acercam Arez como uma realidade incompleta.

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Tabelião Giovany Teixeira é natalense, mas mora em Arez desde 1993

“O canhão, na verdade, se você observar, é diferente daqueles que tem lá no Forte dos Reis Magos. Outros só existem lá em Pernambuco ou aqui na Paraíba. E Arez tem um canhão. O que me chama atenção é que, certa vez, fui visitar a Europa e fui no museu da guerra em Paris e vi que os canhões de lá são iguaizinhos ao que tem aqui. Portugal não produzia armamento. Todo armamento que a Coroa tinha era comprado dos franceses ou dos ingleses. E o daqui de Arez não é característico dos portugueses e, sim, dos holandeses. Era uma coisa abandonada, não tinha valor nenhum, vivia jogado no meio da rua. Era uma coisa que ninguém queria, que servia de banco de pracinha. Foi na administração de um prefeito nos anos 1970, chamado José Ferreira, que colocaram naquele lugar e deram cuidado. Mas fizeram uma coisa que não deveria ter sido feita: entupiram de cimento, para que não ninguém jogasse lixo dentro do canhão”.
Um hipotético segundo canhão protagoniza outra lenda aresense.
Giovany diz que antigos moradores, via tradição oral, juravam que ele existiu e que o coronel João Aureliano de Lima, poderoso aliado de Aluízio Alves e primeiro prefeito da cidade (Arez foi alçada a essa categoria em 1938), teria escondido em sua fazenda.
Fato é que ninguém precisa o destino do objeto, cujo ‘irmão gêmeo’ decora a praça – ainda que Giovany acredite que o segundo canhão esteja na Ilha do Flamengo, soterrado pela mata.
“Eu não gostaria de fazer uma crítica a pessoa que está na prefeitura, mas, de um modo geral, a um descaso histórico. Eles não sabem o que é cultura. Não entendem o processo da cultura numa sociedade. Eles também não tiveram essa cultura, pois é preciso ter para dar valor a esse processo de transformação de um individuo. Quem administra um município que não abraça uma politica voltada para isso, simplesmente está fazendo papel de correntista de banco, só administrando conta corrente. Isso não é gestão, isso não é administração, não é desenvolver um município. É um faz de conta que eu administro e vocês fazem de conta que são administrados”.
No trajeto de volta para casa, pensei no que disse o tabelião.
Três técnicas em enfermagem falavam sem parar, no micro-ônibus sacolejante que gasta mais tempo entre Parnamirim e o viaduto de Ponta Negra do que de Arez até o início do engarrafamento da Grande Natal.
A empolgação das mulheres era total.
De repente, toca o celular de uma delas, sonorizado por uma música estridente que entendi ser um dos atuais forrós de sucesso.
“Diz!”.
Ela abriu um sorriso, olhou para as amigas.
“Não, faz tempo que já sai. Tu num sabe que só volto amanhã?”.
É o desejo de quem visita aquele pedaço de chão com tantas possibilidades outrora chamado Vila Nova de Arez.
Fotografias: John Nascimento

Do blog: http://tokdehistoria.com.br/
PONTA NEGRA NATAL
Ponta Negra Beach- NATAL / RN

Ponta Negra Beach / NATAL,RN.
Via: Aventura DeRocha
A VIDA

Por Wiliame Caldas*

A vida  é como uma planta
que as vezes dá bom fruto
mesmo em terras áridas.
Depende também do clima
do carinho e do adubo
e como a vida é cuidada.
As vezes nasce em terra boa
pelas mãos de que ama
e o fruto não tem sabor.
pois a planta cresce à toa
espalha demais suas ramas
pelo excesso de amor.
proteção demais desprotege
que tem tudo não dá valor
e a vida perde o sentido.
Com muito adubo só cresce
e seja no mundo que for
é mais um fruto perdido...

*Wíliame Caldas, professor e poeta de ipanguaçu/RN
(...) sempre na minha imaginação...
e nas entrelinhas dos meus versos!


  Capitão Manoel Varella Barca, lá de de Assú (III) João Felipe da Trindade ( jfhipotenusa@gmail.com ) Professor da UFRN, membro do IHGRN e ...