sábado, 9 de dezembro de 2017

ASSU

Assu eu voltei para ficar
Não vou mais te deixar
Eu gosto de ti
Foi a saudade que me fez voltar
Pois aqui eu vim para ficar
Já resolvi quero morrer aqui
Assu terra dos carnaubais
Do grande Renato Caldas
Poeta que satisfaz
Assu teu nome é tradição
És a cidade mais bela
Do meu querido sertão.

(Não me recordo o nome do autor deste poema canção)

Fernando Caldas



quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

ASSÚ - RESUMO HISTÓRICO DE 1913

O Jornal Almanak Laemmert; Administrativo, Mercantil e Industrial (RJ), no ano de 1913, trouxe as seguintes informações sobre o município do Assú:

Passou de Julgado a Villa, com a denominação de Villa Nova da Princesa, em 11 de agosto de 1788 e depois a cidade, com a atual denominação, em virtude da lei provincial nº 124, de 16 de outubro de 1845. Compreende os distritos judiciários de Assú, Sant’Anna de Mattos e Augusto Severo, paroquia de S. João Batista. Foi criada a comarca em 1835, sendo o seu primeiro juiz de direito o Dr. Basílio Quaresma Torreão. Há minas de carvão, ferro, chumbo e enxofre.

Imprensa – A Cidade, redator e proprietário: Palmério Augusto de Amorim Filho.

Administração Municipal – Intendentes: Luiz José Soares de Macedo; Palmério Augusto Soares de Amorim Filho; Francisco Freire de Carvalho; Manoel Soares Filgueira; José Paulino de Oliveira. Presidente do Conselho: Antonio Saboya de Sá Leitão. Secretário: Américo Soares de Macedo. Procurador: Manoel Pereira de Faria. Fiscais: 1º Pedro Soares de Macedo; 2º José Soares de Macedo Filho. Porteiro: Manoel Lins de Vasconcelos. Guardas: Benevenuto Dionysio da Silva, Felix Sabino do Espírito Santo. Zelador do mercado: Julião Alexandre da Silva. Administrador do Cemitério: Manoel Lins de Vasconcelos. 

Administração Judiciária – Suplentes do Juiz substituto seccional: 1º Luiz Bezerra da Rocha Cabral; 2º Vicente Germano da Costa Ferreira; 3º Luiz Corrêa de Sá Leitão. Ajudante do procurador Seccional: Theogenes Augusto Caldas de Amorim. Promotor: Joaquim Ignácio Filho. Juízes Distritais: Luiz Gomes de Amorim; José Laurentino Martins de Sá; Francisco Justiniano Lins Caldas. Juiz de Direito: José Corrêa de Araújo Furtado. Tabelião e escrivão do júri: João Celso da Silveira Borges. Oficial de Justiça: Manoel Lins de Vasconcelos. 

Administração Policial – Delegado: Luiz Corrêa de Sá Leitão. Subdelegado: João Candido Guabiraba. Suplente: Francisco Soares Filgueira Filho. Escrivão: Olegário Olindino de Oliveira. 

Instrução Pública – Professores municipais: D. Luiza de França das Chagas, D. maria Carolina Wanderley e professor Manoel Assis.

Coletorias – Coletor Estadual: Antonio Freire de Carvalho Sobrinho. Coletor Federal: Pedro José Soares de Macedo. Escrivão: Manoel Batista Ximenes.

Correio – Agente: Pedro José Soares de Macedo. Estafetas: Francisco Umbelino de Sousa, João Carneiro da Silva, João Francisco Salles, Luiz Antonio Xavier e Manoel Ricardo da Silva. 

Telegrafo – Encarregado: Ildefonso Rodrigues Villares. Praticante: Joel Oliveira. Guardas: Francisco Ribeiro Campos, Pedro Ferreira Jacob. Estafeta: Eugenio Caetano da Silva. Editor: Manoel Coelho Ferreira. 

Religião – Paroquia: São João Batista. Padre: José Antonio da Silva Pinto. Sacristão: Olegário Olindino de Oliveira. Irmandades: Coração de Jesus. Sacramento. São João Batista, Rosário, Carmo, Bomfim, Dôres. Confrarias: São Sebastião, Senhor do Bomfim.

Comércio – Exportadores: José Soares Filgueira Sobrinho, Luiz Cabral & Cia, Minervino Wanderley & Cia. Fazendas, armarinho, ferragens, secos, molhados, etc. Berlindo de Medeiros, Clementino Galvão & Cia, Ezequiel Epaminondas da Fonseca, J. Pinheiro, Fonseca & Cia, João Batista & Irmão, José Antonio de Moura, José Neves Filho, Luiz Cabral & Cia, Manoel Januario Cabral, Oswaldo Justino de Oliveira, Sebastião Cabral de Macedo, Vicente Germano de Costa Ferreira, Viúva J. V. Fonseca & Filho. Padarias: Etelvino Caldas, Francisco Bezerra de Araujo. 

Industria – Engenhos: São João, de João Rodrigues Ferreira de Mello; São Luiz, de Luiz de Gomes de Amorim; Lagoa do Mato, de José Laurentino Martins de Sá; Bonito, de Manoel Catunda de Souza.

Profissões – Advogado: Arthur Soares de Macedo. Barbeiro: Alexandre Pio Dantas. Carpinteiros: Joviniano Martins da Costa, Miguel José do Nascimento, Rodolpho Wanderley. Ferreiros: Romão da Silva, Salviano Guida. Funileiro: João Gomes de Amorim. Mecânico: Francisco Justiniano Martins Caldas. Médicos: Dr. Ernesto Emílio da Fonseca, Dr. Pedro Soares de Araújo Amorim. Pedreiros: Agostinho Hermes de Sant’Anna, Basílio Quaresma Torreão, Francisco Velho, João Grande da Silva, José Cabral, Manoel Cyriaco da Silva. Sapateiros: José Felix de Souza, Moysés dos Santos. 

Agricultores e lavradores: Antonio Corrêa de Menezes, Antonio Pedro celestino, João Rodrigues Ferreira de Mello, Luiz José de farias, Justiniano Lins Caldas, Francisco Soares Filgueira, José Amancio da Silva, José Ignacio de Mendonça, José Pedro Marreiro Pessoa, José Soares Figueira Sobrinho, José Soares de Macedo, Misael Cabral de Farias, José Laurentino Martins de Sá, Luiz Gomes de Amorim, Francisco José das Chagas, Francisco Valentim & Oliveira, Francisco Piçarra, João Henrique da Fonseca e Silva, Joaquim Alfredo de Siqueira Cortez, Manoel Amancio de Mello, Manoel do Nascimento e Oliveira Barros, Camilo de Lellis Bezerra, Thomaz Antão de Senna, Joaquim Antão de Senna, Joaquim Thomaz de Senna, João de Macedo. 

Criadores: Alfredo Soares de Macedo, Baronesa de Serra Branca, João Lourenço da Silva Cardoso, João Henrique da Fonseca e Silva, João Rodrigues Ferreira de Mello, José Laurentino Martins de Sá, José Pinheiro, José Soares Filgueiras Sobrinho, Justiniano Lins Caldas, Luiz José de Farias, Misael Cabral & Farias. 

Capitalistas: João Rodrigues Ferreira, José Antonio de Moura, José Soares Filgueiras Sobrinho, Luiz Cabral & Cia, Manoel Januario Cabral e Minervino Wanderley & Cia. 
Nota: Não se recebendo as informações solicitadas ao digníssimo intendente municipal, publicam-se todas as informações anteriores.
(Fonte: ALMANAK LAEMMERT: administrativo, Mercantil e Industrial (RJ) – Ano 1913 / Edição B00069).

CARNATAL 2017 - MAPA DE EVENTOS

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Presente de Natal
Criança faz (ou diz) cada uma! É o que ouvimos tantas vezes por este mundo afora. A criança é espontânea, é natural, é sincera. Diz-se que à medida que uma criança cresce e gradativamente vai se tornando um adulto, também deixa de ser espontâneo, natural e, por vezes, perde a sinceridade. Na ilustração que enviamos, conta-nos exatamente um flagrante em que uma criança, em sua inocência e ingenuidade, percebe o genuíno e autêntico valor dos laços de família, sabendo dar a devida importância ao amor que entrelaça e une os membros de uma família. Mesmo com a figura fictícia de “Papai Noel”, reafirma essa ilustração certos valores que se acham muito deteriorados em muitos lares em nosso mundo. Torna-se absolutamente necessário e premente resgatar esses valores.
Faltando poucos dias para o Natal, nota-se um abrandamento de sentimentos, um quebrantamento de emoções, não obstante a avassaladora febre de consumo que domina a sociedade. Compra-se muito, mas dá-se pouco. E o melhor em nós seria dar-nos de nós mesmos. Foi isso que o pequeno guri fez quando entendeu o amor que o enlaçava ao seu pai e vice-versa.
A maior dádiva de Deus naquele primeiro Natal não foi um presente sofisticado e nem mesmo de grandes proporções. Ele deu o Seu único Filho que veio ao mundo para restabelecer a comunhão entre o ser humano e seu Criador (daí a origem da palavra religião = religar). E o valor representado foi o preço de uma vida. Assim, torna-se mais compreensível a dimensão do que é realmente o Natal. Aquela criança da ilustração, em sua pureza e ingenuidade conseguiu traduzir esse sentimento.
Que todos de seu lar, incluindo sua pessoa, passem um final de semana muito abençoada, gostoso e alegre, sob os olhares paternais e amorosos de nosso querido Senhor e Salvador Jesus Cristo, preparando o seu coração para celebrar o genuíno espírito do Natal.
É o que lhe deseja este seu irmão em Cristo Jesus

Presente de Natal
Um dia, Gabriel acordou, muito contente, era a véspera de Natal, pois para ele era uma data muito importante! Era o dia do Aniversário do Menino Jesus, e também o dia que Papai Noel vinha visitá-lo todos os anos. Com seus seis aninhos, esperava ansiosamente o cair da noite para voltar a dormir, e no outro dia encontrar em seu pé de meia, o seu presente de Natal, pois nem tinha uma árvore de Natal.
Dormiu muito tarde, para ver se pegava aquele velhinho no "flagra”, mas como o sono era maior que sua vontade, dormiu profundamente.
Mas, na manhã de Natal, percebeu que seu pé de meia não estava lá, e que não havia presente nenhum em toda sua casa.
Seu pai desempregado, com os olhos cheios de água, observava atentamente o seu filho, e esperava para tomar coragem para falar que o seu sonho não existia, e com muita dor no coração, o chama:
- Gabriel, meu filho, vem cá!
- Papai?
- O que foi filho?
- O Papai Noel se esqueceu de mim...
Falando isso, Gabriel abraça o pai, e os dois se põem a chorar, quando Gabriel fala:
- Ele também se esqueceu de você pai?
- Não meu filho. O melhor presente que eu poderia ter ganhado na vida, está em meus braços, e fique tranquilo pois eu sei que o Papai Noel não se esqueceu de você.
- Mas todas as outras crianças vizinhas estão brincando com seus presentes... ele pulou a nossa casa...
- Pulou não...o seu presente está te abraçando agora, e vai te levar para um dos melhores passeios de sua vida!
E assim foram para um parque, e Gabriel brincou com o pai durante o resto do dia, voltando somente no começo da noite.
Chegando em casa muito sonolento, Gabriel foi para seu quarto, e "escreveu" para o Papai Noel:
"Querido Papai Noel, eu sei que é cedo demais para pedir alguma coisa, mas quero agradecer o presente que o senhor me deu. Desejo que todos os Natais que eu passe, faça com que meu pai se esqueça de seus problemas, e que ele possa se distrair comigo, passando uma tarde maravilhosa como a de hoje. Obrigado pela minha vida, pois descobri que não são com brinquedos que somos felizes, e sim, com o verdadeiro sentimento que está dentro de nós, que o senhor desperta nos Natais. De quem te agradece por tudo, Gabriel."
E foi dormir com um lindo sorriso nos lábios.
Entrando no quarto para dar boa noite ao seu filho, o pai de Gabriel viu a cartinha, e a partir desse dia, não deixou que seus problemas afetassem a felicidade dele, e começou a fazer que todo dia fosse um Natal para ambos.
Se um simples garotinho de seis anos, conseguiu perceber que os melhores presentes que se pode receber não são materiais, porque nós não fazemos o mesmo?
Que todos vocês que estão lendo esta mensagem, faça com que cada dia seja um Natal, valorizando a fé em Cristo, a família, a amizade, carinho e todos os sentimentos bons que existem dentro de cada um, e depende somente de nós mesmos para botar pra fora...
Feliz Natal com Cristo!!!
Porque um menino nos nasceu, um filho nos foi dado, e o governo está sobre os seus ombros. E ele será chamado Maravilhoso Conselheiro, Deus Poderoso, Pai Eterno, Príncipe da Paz. (Isaías 9:6)
Porque Deus tanto amou o mundo que deu o seu Filho Unigênito, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna.
(João 3:16)

A BOTIJA DE CEARÁ-MIRIM

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Botija
Fonte – http://cgretalhos.blogspot.com.br/2014/08/um-cacador-de-botija-em-campina-grande.html#.WgbpL2hSzIV
Texto original de Maria da Conceição Cruz Spineli, intitulado MITOLOGIA DO VALE DE CEARÁ-MIRIM: A ESTÓRIA DA BOTIJA NO ENGENHO SÃO PEDRO TIMBÓ e publicado por Pedro Simões Neto.
Fonte – https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1791189677839427&set=a.1375732419385157.1073741828.100008452352746&type=3&theater
No nordeste (dizem…), os holandeses, jesuítas ou ricos fazendeiros, deixavam escondidas verdadeiras riquezas, que ficavam enterradas no chão, em paredes de taperas, em mourões de porteiras ou nas proximidades de grandes árvores, até que um dia, através de sonho, mostrava-se a um escolhido, o local exato onde estava aquele tesouro. No sonho era informado como se comportar para a retirada da “Botija. Sempre à noite e sem acompanhantes. Quem não cumprisse as determinações, não receberia o tesouro. E, com a fortuna nas mãos, a pessoa deveria se mudar para um lugar distante, caso contrário, não desfrutaria da riquezas.
O Ceará-Mirim também teve as suas “botijas”. Muito se ouviu falar das riquezas obtidas por esse meio, embora tudo estivesse no campo do “boato”. Hoje, finalmente, a Acadêmica Ceiça Cruz apresenta um desses casos, por ela vivenciado.
Botijas_boteja_y_botejo_Museo_Chinchilla_de_Montearagón
Tipos de botijas – Fonte – http://www.wikiwand.com/es/Botija_(recipiente)
MITOLOGIA DO VALE DE CEARÁ-MIRIM:
A ESTÓRIA DA BOTIJA NO ENGENHO SÃO PEDRO TIMBÓ
Maria da Conceição Cruz Spineli, ocupante da Cadeira 19 da ACLA
Em Dicionário do Folclore Brasileiro, pág. 681, Câmara Cascudo afirma que tesouro significa “dinheiro enterrado, o mesmo que botija para o sertão do Nordeste, ouro em moedas, barras de ouro ou de prata, deixadas pelo holandês ou escondidos pelos ricos, no milenar e universal costume de evitar o furto ou o ladrão de casa, de quem ninguém evita”.
Ainda no mesmo verbete, Câmara Cascudo diz que “os tesouros dados pelas almas do outro mundo dependiam de condições, missas, orações, satisfação de dívidas e obediência a um certo número de regras indispensáveis, trabalhar de noite, ir sozinho, em silêncio, identificar o tesouro pelos sinais sucessivamente deparados […]. O tesouro é encontrado unicamente por quem o recebeu em sonhos […]. Se faltar alguma disposição, erro no processo extrativo, o tesouro transformar-se-á em carvão.”
izrael11
Fonte – http://www.idividi.com.mk/Shqip/Bote/496113/index.htm
Lá pelo Timbó também encontramos estórias de tesouros enterrados, de minas, botijas. O assunto era para adultos, mas as crianças curiosas escutavam. Falava-se em sussurros as coisas do além, do sobrenatural, de almas penadas querendo livrar-se do fardo da mina enterrada de que nada lhes servia no outro mundo. Geralmente o pedido da alma penada vinha sob a forma de sonho. No Engenho Timbó, um homem e uma mulher tiveram um sonho idêntico, na mesma noite, e logo cedo os dois confabulavam a experiência e se arvoraram na empreitada. A mulher me contou, anos depois, detalhes do sonho: que era um homem alvo e bonito, vestido com rica indumentária (inclusive me falava de abotoaduras douradas em sua roupa e nas botas), cortês e educado, e que lhe indicava a existência de um tesouro enterrado debaixo da tamarineira que ficava no meio do curral dos burros, no Timbó de Dentro. O homem do sonho era bem didático, riscando o chão com um graveto, para explicar-lhe com muita clareza o local exato onde enterrara o tesouro. 
Ela deveria sair de casa ainda escuro da madrugada, ele insistia que fosse cedo, antes do sol nascer. Que fossem só ela e o senhor que tivera o mesmo sonho, que fizessem orações no percurso e durante toda a operação, que levassem água benta e não portassem objetos cortantes, pontiagudos ou armas de fogo. No sonho, ele ficava de cócoras, mexia na terra com as mãos dizendo que a terra onde estava enterrado o tesouro era bem fofinha, que ela não teria dificuldades em encontrá-lo, que o sinal era uma bola de ouro que estaria amarrada a uma corrente, também de ouro, fechando a tranca de um caixão comprido.
la botija
Fonte – https://sites.google.com/site/curiosidadesdefabio/leyendas/las-botijas
Durante o sonho, enquanto conversava com o senhor bem trajado, aparecia uma mulher, maltrapilha, os poucos cabelos ralos desalinhados pelo vento. Ela parecia estar suspensa do chão. A figura acanhada não falava, só olhava com olhar vago e mortiço o senhor que dava detalhes de como proceder para a retirada da mina. Dessa figura, a mulher que me contou o sonho tinha medo, muito medo.
Depois de muito conversarem, resolveram sair em busca do local onde estava a mina. De cara, contrariaram quase todas as regras impostas pela alma penada doadora do tesouro. Saíram com o sol alto, levaram um grupo grande de pessoas com pá, enxada, até gente com arma de fogo na cintura. Eu acho que eles tinham medo de saírem ainda escuro e só os dois.
Começaram a retirada do tesouro, o homem mandava os trabalhadores cavarem com a enxada e a pá, e a mulher pedia que só usassem as mãos como lhe ensinara o doador da mina, no sonho; assim o fizeram. Na busca, começaram a ver a bola de ouro, o sinal anunciado no sonho, quando surgiu um enorme cachorro com os olhos de fogo e um dos trabalhadores que cavava o chão gritou: “ô cachorro da mulesta!”; o cachorro saiu em disparada e o local em que já aparecera a bola de ouro virou um imenso formigueiro.
A frustração da mal sucedida empreitada ainda persiste após muitas décadas. Conta-se que poucos dias após o ocorrido, um trabalhador com serviço alugado em tempo da safra da cana, e que se hospedava na casa grande do Zumba, no Timbó de Dentro, havia tirado essa mina nas caladas da noite. Esse homem desapareceu do engenho misteriosamente. No local onde estava enterrada a botija, só um grande buraco.
https://tokdehistoria.com.br
A CAGADA

*Por Damasceno Bezerra
Outro gozo não há, bem se pensando,
Que se compare ao gozo da cagada…
Depois de digerida a feijoada,
Quando toda a barriga está roncando…
Os peidos, um por um, vão ribombando
Como em noite de inverno a trovoada…
O cu vai , pouco a pouco, se esticando
E a merda vai fugindo em debandada…
Então, o camarada fecha os olhos,
- convencido que a vida é um mar de abrolhos…
Mas, a merda sendo rala – que canudo
Vermelho e quente que da bunda sai:
Rompe as pregas do cagão, se esvai
Mela o cu, mela as pernas, mela tudo!


*Damasceno Bezerra era poeta, boêmio, nasceu em Natal/RN, em 1902 e morreu em 1947 na capital potiguar onde está enterrado.

terça-feira, 5 de dezembro de 2017

RENATO CALDAS - SAUDADES DE GUARAPARI

                       Antiga imagem da Praia de Guarapari/ES, disponível no Google.

"Renato Caldas, dando expansão ao seu temperamento cosmopolita, conheceu o Brasil de ponta a ponta, nas suas intermináveis andanças de romântico caminheiro", como depõe Expedito Silveira que era também poeta assuense, seu amigo e companheiro de vida boêmia.

Pois bem, em 1964 Renato fora convidado pelo governador do Espírito Santo Francisco Alves de Athayde que era entusiasta da poesia Renatocaldiana, para que ele, Renato Caldas fizesse uma temporada na cidade de Vitória/ES, apresentando seu trabalho, a sua arte poética irreverente, ao povo capixaba. Tudo as custas daquele governo. Convite aceito, Renato partiu e, após suas apresentações que durou um mês, retornou ao Rio Grande do Norte, a sua cidade de Assue e, dias depois, escreveu o poema intitulado "Saudades de Guarapari" em homenagem a uma das praias do litoral Espirito-santense, cujos versos, seu sobrinho Chico Elion Caldas Nobre musicou. Senão vejamos abaixo, o poema canção, para o nosso bem estar:

Guarapari é a praia da saudade
Onde a felicidade
Fez um ninho pra morar
À noite o eterno candeeiro
Ilumina seus coqueiros
Com alvos flocos de luar
Na praia branca o mar verde se derrama
Tudo vive e tudo ama
Tudo nos fala de amor
Da triste lenda de um rancho no abandono
Que chora a falta do dono
Um valente pescador.
Guarapari, Guarapari, felicidade!
Quero lembrar com saudade
O bem que tive e perdi
Nas horas tristes que passar de ti distante
Eu direi a todo instante
Saudades Guarapari.


segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

A mulher é melhor do que o homem.

Ariano Suassuna

Natal é cidade que tem a maior cultura empreendedora do Brasil

Natal é a cidade que tem a maior cultura empreendedora do Brasil e a terceira mais empreendedora do Nordeste
A percepção da importância do empreendedorismo e o potencial para empreender com alto impacto – isto é, com visão das oportunidades, proatividade, criatividade e sonho grande dos empreendedores natalenses – levaram a capital potiguar a ser considerada a cidade que tem o maior índice de cultura empreendedora do Brasil. É o que revela o estudo feito pela Endeavor Brasil, instituição que analisa o ecossistema brasileiro com foco no empreendedorismo e elege as 32 melhores cidades. Denominada Índice das Cidades Empreendedoras, a pesquisa vem sendo feita desde 2014 e foi divulgada nesta semana.
O estudo traz rankings de desempenho por temas e faz análises regionais dos avanços e retrocessos no mundo dos negócios, principalmente os de pequeno porte. A Endeavor levou em conta seis pilares para determinar a relação das 32 cidades do país mais empreendedoras: ambiente regulatório, infraestrutura, mercado, acesso a capital, inovação, capital humano e cultura empreendedora. Para chegar averiguar o município campeão nesse último quisito, a Endeavor se baseou em pesquisa de opinião feita em parceria com o Instituto Meta e a Opinion Box.
Na avaliação do diretor de operações do Sebrae no Rio Grande do Norte, Eduardo Viana, parte desse visão se deve ao trabalho desenvolvido pelo Sebrae no Rio Grande do Norte e parceiros, principalmente as instituições de ensino superior que têm se esforçado para inserir o empreendedorismo no meio acadêmico. “O conjunto de atividades desenvolvidas e essa parceria com as universidades, através do Programa de Educação Empreendedora, tiveram sua parcela de contribuição para que Natal alcançasse essa posição de destaque no Brasil quando se fala em cultura empreendedora. Os universitários que chegam ao mercado já vão com essa visão da importância da livre iniciativa e de identificar e aproveitar as oportunidades”, explica Eduardo Viana.
Estimular essa concepção está dentro da missão do Sebrae, que mantém programas de incentivo a quem pretende empreender. É o caso do Empretec, que desperta as caracteristicas do potencial empreendedor, tendo já capacitado cerca de 6 mil potiguares. Além disso, o Programa de Educação Empreendedora desenvolve ações que levam noção de empreendedorismo aos três níveis de ensino – Fundamental, Médio e Superior.
Avaliando esses itens principais e itens segundários, São Paulo é a cidade que reúne as melhores condições para abertura de empresas ou expansão de negócios no país, seguida por Florianópolis (SC). A capital paulista lidera pelo terceiro ano consecutivo o indicador justamente em função da conectividade, infraestrutura de terminais aeroportuários e serviços, além da desburocratização do processo de abertura e licenciamento de empresas.
Natal ficou na 23ª posição no ranking brasileiro. No entanto, no Nordeste, é a terceira cidade mais empreendedora da região, depois de Recife (20ª) e Aracaju (22ª). O Índice de Cidades Empreendedoras é um esforço da Endeavor em ajudar governos e sociedade civil a definir prioridades e acompanhar resultados na melhoria do ambiente de negócios.
De: http://agorarn.com.br

quarta-feira, 29 de novembro de 2017

ABRAÇOS

Na correnteza dos abraços
Anda a girar um coração...
Sou eu? És tu? Não é em vão
Meus braços...
Braços que vem, braços que vão
Que são enfim aqueles braços?
Os meus? Os teus? Um coração?
Abraços...
Gira o perfume, anda o luar
Anda a tremer a cerração...
O céu? A cor? A dor? O mar?
Em vão...
Feito de luz, para girar,
O sol é seiva, o sol é pão...
O céu é para cantar
Abraços
Vão a cantar nas ondas vão
Meus braços...
Abraços...

Caldas, poeta norte-rio-grandense

Imagem de: Delicadezas



terça-feira, 28 de novembro de 2017

IMPRENSA ELEGE GEORGE SOARES O PARLAMENTAR DO ANO DA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA


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Os jornalistas que atuam nos jornais, rádios, TVs, blogs e sites e que cobrem diariamente as atividades da Assembleia Legislativa elegeram, na manhã desta terça-feira (28), o deputado estadual George Soares (PR) como o Parlamentar do Ano de 2017. Ele foi escolhido com 24 votos dos 32 registrados.
“Estou muito feliz, muito emocionado também, com essa indicação por parte dos jornalistas que tem essa presença muito forte aqui na atividade dos 24 parlamentares, e agradecer em meu nome, em nome da minha família e a todos que fazem o meu gabinete”, disse George. “Estamos há 7 anos na Casa, mas representando uma história”, afirmou George, referindo-se a familiares que exerceram mandatos na Assembleia Legislativa.
O Parlamentar do Ano de 2017, que foi cumprimentado pelo presidente da Casa Ezequiel Ferreira, e pelo vice Gustavo Carvalho (PSB), disse que se sente satisfeito em levar, pela primeira vez, o título para a região do Assu, mas ressaltou que divide o prêmio com os outros 23 parlamentares. Ele disse que o título conquistado nesta terça-feira, aumenta a sua responsabilidade como homem público. 

]“Aumenta a responsabilidade de a gente estar mais atento às questões do Estado”, concluiu o deputado.
A deputada estadual Cristiane Dantas (PCdoB), Parlamentar do Ano de 2016, ficou em segundo lugar com 2 votos. Também foram votados os deputados Ezequiel Ferreira de Souza (PSDB), Galeno Torquato (PSD), Hermano Morais (PMDB), Fernando Mineiro (PT), José Dias (PSDB), e Nelter Queiroz (PMDB), com um voto cada.
“Esse ano tivemos uma participação expressiva e mais uma vez os jornalistas escolheram o deputado que teve uma boa performance. Isso não quer dizer que os demais deputados não tiveram uma boa participação, mas só um pode ser eleito, e este termina representando toda a Assembleia”, disse Oliveira Wanderley, presidente do Comitê de Imprensa, responsável pelo processo eleitoral.
A eleição se realiza desde o ano de 1972, quando o primeiro eleito pelos jornalistas foi o ex-deputado Roberto Furtado. Em 2015, o eleito foi o presidente da Casa, o deputado Ezequiel Ferreira de Souza. 

De acordo com as regras do Comitê, todos os jornalistas que realizam a cobertura jornalística das atividades legislativas têm direito ao voto para escolher o parlamentar que mais se destacou durante o ano. No final de quatro anos, é escolhido o deputado que mais se destacou na Legislatura.
ALRN

segunda-feira, 27 de novembro de 2017

COMO ERA NATAL EM 1872



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Por esses dias encontrei um interessante texto bem interessante, que mostra vários aspectos da minha velha cidade Natal em 1872.
Foi um trabalho publicado no jornal “A República”, edição de 14 de maio de 1972, intitulado “Natal há 100n anos atrás” e de autoria do escrito pelo advogado, juiz, professor e jornalista Veríssimo de Melo. O autor resgatou um texto escrito originalmente por João Lindolpho Câmara e publicado em 1938, como um dos capítulos do seu livro Memórias e devaneios.
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Mas quem foi João Lindolpho Câmara?
Não encontrei nenhuma foto que mostre seu semblante, mas sabemos que nasceu em Natal no dia 14 de maio de 1863. Estudou no Ateneu e ingressou no Tesouro Provincial em 1881. Em Natal atuou politicamente em prol da campanha abolicionista e foi um dos que assinaram a Ata da Proclamação da República no Rio Grande do Norte. Formado em Direito no Recife passou a viver no Paraná, Bahia e depois no Rio de Janeiro. Neste último local atuou como inspetor e conferente da Alfandega e foi deputado federal pelo Rio Grande do Norte entre 1908 e 1911, onde se destacou por apresentar o primeiro projeto de repatriação dos restos mortais de D. Pedro II para o Brasil e o de anistia da família Imperial.
Era extremamente destacado na função e duro com os que erravam. Lindolpho da Câmara chamou a atenção da imprensa nacional quando descobriu um desfalque na Caixa Econômica 400 contos de réis no Paraná e um outro desfalque de 178 contos no quartel do 39° Batalhão de Infantaria.
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Anos depois, com a vitória da Revolução de 1930, teve o nome cogitado para ser o primeiro interventor do novo regime no Rio Grande do Norte, mas abriu mão por problemas de saúde e o cargo foi ocupado por Irineu Joffily. Aposentou-se do serviço público em 1931.
Lindolpho da Câmara escreveu alguns livros, a maioria com foco técnico na área da atividade alfandegaria. Foram eles Contas assinadas (1923); Projeto de reforma das tarifas (1928); Projeto de Código Aduaneiro (1929); Tarifa dos impostos de consumo (1930). Escreveu um livro de cunho histórico intitulado Na República Velha: aspectos administrativos, econômicos, financeiros, políticos e sociais (1931) e seu último trabalho de prosa e versos denominado Memórias e devaneios (1938). É nesta derradeira obra onde se encontra um capítulo denominado “Natal do meu tempo”, onde o autor trás as suas memórias sobre a sua cidade de nascimento nos primeiros anos da década de 1870.
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Foi casado com Constança Valença Câmara, gerando uma família com dez filhos, mas ela faleceu em 1938. Lindolfo Câmara por sua vez morreu no Rio de Janeiro, em 2 de julho de 1944, aos 81 anos, tendo o corpo sido enterrado no Cemitério São João Batista. O seu detalhado necrológico foi publicado no diário carioca Jornal do Commercio, edição de segunda e terça-feira, 3 e 4 de julho de 1944, na página cinco.


www.tribunadonorte.com.br
Veríssimo de Melo – Fonte – http://www.tribunadonorte.com.br/

Aparentemente como resultado da publicação feita por Veríssimo de Melo no jornal “A República” de maio de 1972, esse material foi também publicado na Revista do Instituto de Ciências Humanas da UFRN e em 2006 foi reeditado pela Editora Sebo Vermelho.
O leitor deve ficar atento que algumas passagens escritas por Veríssimo de Melo estão bem ligados a situações típicas do início da década de 1970, quando o texto foi escrito.
Gostaria de informar que devido a exiguidade de fotos da década de 1870 sobre Natal, utilizei o material do início do Século XX, quando muita coisa na cidade ainda tal e qual como visto e relatado por Lindolfo Câmara.
O TEXTO DE VERÍSSIMO DE MELO SOBRE AS MEMÓRIAS DE LINDOLPHO DA CÂMARA
“Natal há 100 anos passados”
Como seria Natal há cem anos passados? Quais as dimensões da cidade, topônimos, festas, superstições, costumes, condições gerais de vida da Província do Rio Grande do Norte aí pelos idos de 1872?


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Mapa de Natal nas últimas décadas do Século XIX. basicamente só existiam a região do centro da cidade e a Ribeira, cujo manguezal desta última área ainda não tinha sido aterrado.

Temos agora em mãos um depoimento de valor histórico, que nos permite visão e comentário em torno dos aspectos mais interessantes da nossa cidade, naqueles velhos tempos. Documento que não vimos citado pelos nossos historiadores, mas que tem valor não somente histórico, mas igualmente sociológico e antropológico. Trata-se do capítulo “Natal do Meu Tempo”, do livro “MEMÓRIAS E DEVANEIOS”, de autoria de Lindolpho Câmara, editado em 1938 no Rio de Janeiro. (Devemos ao Dr. Marciano Freire a lembrança de nos permitir compulsar o documento).
Esse Lindolpho Câmara, estamos sabendo agora, era homem probo, ligado à tradicional família Câmara, do Estado, tendo exercido postos os mais elevados no funcionalismo provincial e federal.
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Comparando-se os dados históricos de Lindolpho Câmara com os do historiador Manoel Ferreira Nobre, (“BREVE NOTÍCIA SOBRE A PROVÍNCIA DO RIO GRANDE DO NORTE”-1877), vemos que eles se completam e ampliam as informações sobre a época. Ferreira Nobre foi o nosso primeiro historiador. Seu livro já obedece a uma sistemática, atendo-se, preferentemente, aos aspectos político, educacional, administrativo e socioeconômico da Província. Lindolpho Câmara, embora consigne alguns dados estatísticos da cidade, estende-se mais a respeito de costumes e tradições. Seu depoimento, menos extenso, é mais pitoresco, mais vivo do que o de Ferreira Nobre. Em muitas passagens, escreve com objetividade e graça.
A primeira impressão de Lindolpho Câmara sobre Natal é a respeito da extrema pobreza da população. Em 1870, a cidade contava 12 mil almas. A população total da Província, segundo o censo de 1872, por ele citado, elevava-se a 233.960 habitantes, número quase idêntico ao que nos dá Ferreira Nobre.
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Os que aqui nasciam, diz o autor, em face da precariedade do meio, só tinham condições de ser pescadores, roceiros ou soldados de Polícia. O comércio era pobre. Não havia água encanada, nem esgoto, nem luz. Os poucos lampiões existentes, que queimavam azeite de mamona, antes do querosene, não se acendiam nas noites de lua… O 33º Presidente da Província, Henrique Pereira de Lucena, em 1872, pronunciava-se tristemente sobre Natal: “Vila insignificante e atrasadíssima do interior”. Daí o trocadilho da época, sobre Natal: Cidade? Não-há-tal.
A respeito da mendicância, Lindolpho Câmara afirma, simplesmente, que não havia em Natal, porque ninguém tinha o que dar… Nesse sentido, evoluímos muito.
Natal constituía-se da Cidade Alta e da Cidade Baixa ou Ribeira. As tradicionais lutas entre Xarias e Canguleiros são mencionadas pelo autor como fato de um século atrás, embora nada tenha visto a respeito. Além dos prédios públicos principais, a casa dos governadores, a Câmara e Cadeia e o Erário, só existiam quase as mesmas igrejas de hoje: a da Matriz, de Santo Antônio, do Rosário e do Bom Jesus.
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Os nomes de logradouros e ruas foram quase todos mudados, o que é lamentável, pois eram muito mais bonitos do que os atuais. O Canto do Mangue, por exemplo, era chamado o Canto das Jangadas. E as ruas principais eram a da Tatajubeira, das Virgens, das Laranjeiras, do Fogo, Rua Grande, Praça da Alegria, Rua da Palha, Rua Nova, Rua dos Tocos, Uruguaiana, Beco Novo. Os logradouros mais famosos eram o Baldo, a grande piscina pública, e o cais do Passo da Pátria, onde ancoravam as embarcações vindas do interior. A única devoção popular conhecida era a da Santa Cruz da Bica, hoje decadente. Há referência a uma lagoa de José ou João Felipe, e que deve ser a atual lagoa de Manoel Felipe.
Os dois mercados existentes eram precários: o da Ribeira funcionava debaixo de uma velha Tatajubeira. O da Cidade Alta, à Rua Nova, sob “frondosas gameleiras”. As medidas e pesos usados na época eram a cuia, a vara e a libra. As moedas eram o xenxém de 10 réis; dobrões de cobre de 20 e 40 réis; notas de 1$000 e 2$000; sendo que unidade era pataca, equivalente a dezesseis vinténs. Lindolpho Câmara faz uma afirmação importante do ponto de vista financeiro: “Naquele tempo, tudo era barato, menos o dinheiro”. É que a desgraçada da inflação ainda não tinha sido inventada pelos economistas…
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COMER E BEBER
Parece oportuno verificar o que comia e bebia o natalense há cem há anos passados: as frutas, os peixes, os doces, as bebidas, os pratos típicos.
Nos dois mercados, além da feira no Passo da Pátria, encontravam-se várias frutas apanhadas nos sítios e matas em redor da cidade. Umas abundantes ainda hoje. Outras, já raras. Por exemplo: eram e continuam abundantes, a mangaba, os cajus, cajaranas. Mas já não é fácil, nos mercados, frutas como a maçaranduba, guabiraba, camboins, oitis, ingás de corda, como ele chamava. E outras que até desconhecemos, como as ubais e os guajerus. Todavia, para colher essas frutas, havia que enfrentar os inimigos traiçoeiros dos matos: as formigas de fogo, cobras nas moitas e vespas na galhada. As caças mais abundantes na época eram os jacus, inhambus, cotias e tatus.
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Diz Lindolpho Câmara que não havia terra com maior abundância de peixes e crustáceos do que Natal daquela época. Trazidos pelas jangadas dos pescadores, enumeravam-se a cavala, o dentão, a cioba, o pargo, a pescada, a bicuda, o dourado, a corvina, o beijupirá e o cação. Nas praias, através dos currais ou da pesca de arrastão, com tresmalhos ou tarrafas, estavam as tainhas, sardinhas, espadas, palombetas, galos, carapebas, carapicus, bagre, baiacu, agulhas e agulhões. Pescados nos mangues e recifes da Fortaleza, lembra os camarões, lagostas, lagostins,  caranguejos, siris e aratus. Outras variedades eram os ouriços, ostras, mariscos, unhas de velho e polvos. De Ponta Negra, apesar da “longitude da travessia”, vinham os xaréus. Quanto à carne verde, o autor informa que eram abatidas duas rezes nos dias comuns e três, do sábado para o domingo e dias festivos, para toda população.
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A venda dos peixes, nos mercados, era feita tradicionalmente anunciada pelo eco de um grande búzio, “soprado por sujeito de fôlego e que estrondava pela cidade silenciosa até os seus confins”.
Os pratos típicos mais famosos parecem que eram as “dobradinhas”, “cobiça dos gastrônomos”, diz o autor, feitas com “livros” ou “folhoso”. A propósito desses “livros”, conta uma anedota de certo tipo popular, o negro Moisés, servente ou oficial de justiça, que andava sempre de sobrecasaca e cartola. Ao cruzar com o juiz de direito, sobraçando um “livro” (estômago de boi), indagou a autoridade:
– O que levas aí, é a Bíblia?
Resposta rápida do negro:
– Não senhor, é o Código Penal.
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O autor faz referências a outros pratos cuja fama chegou até nós: os mocotós, para as mãos-de-vaca ou panelada; os miolos, para as fritadas; as tripas e linguiças.
Das bebidas, só há registro da cachaça de Papari, que ele chama “a deusa dos ébrios”, e a “laranjinha”. Para as pessoas de categoria, havia a “genebra de Holanda”, importada em botijas de barro vidrado.
Já há cem anos certas bebidas se confundiam com remédios poderosos: a genebra era receitada também para cólicas intestinais, defluxeiras, espinhela caída, maus-olhados, sarampo e bexiga recolhida… Hoje, a cachaça corta resfriado e o uísque é bom para o coração…
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Em matéria de fumo, o melhor cigarro era o de fumo picado em papel de milho.
Só o nome depreciativo chegou até nós: Era o mata-rato…
SERENATAS E TERTÚLIAS
Há cem anos passados, Natal apresentava alguns costumes e tradições que chegaram até nós. Outros, porém, já se diluíram no tempo. Praticamente desapareceram da cidade em crescimento. Claro que ainda hoje, por exemplo, temos serenatas e tertúlias (estas com outros nomes). Mas os “Cantões”, – de que nos fala Lindolpho Câmara, – já desapareceram.
As festas de São João e Natal ainda persistem, embora perdendo sempre o brilho e entusiasmo de antigamente. Sobraram alguns vestígios, mas, estes mesmos, parece que estão fadados a se transformar rapidamente. Examinemos.
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As serenatas, há cem anos atrás, nas noites de lua, eram feitas ao som de violões, flautas, clarinetes e pistões. (Ora, quem sair, nos dias de hoje, com pistom e clarinete, pela madrugada, estará muito arriscado a ser levado pela Radiopatrulha. A lei do silêncio será logo lembrada, pelo telefone).
Lindolpho Câmara nos fala com tal entusiasmo das serenatas, do seu tempo, que chega a afirmar: “… até as pedras das calçadas se levantavam para ouvir” os seresteiros. Cantavam coisas assim: “Linda deidade chega à janela, vem ver a lua como está bela”. (A lua, coitada, depois que os astronautas estão lá dentro, já está meio desacreditada pelas moças). Mas frisa o autor que não era só a janela, que se abria, para os seresteiros. Era a porta, para deixar entrar “o bando canoro”. E o trago de vinho do Porto era servido a todos, “em um copo único”. A tradição do copo único, que já não existe, lembra a do mate gaúcho, servido de igual maneira. Com a divulgação dos princípios de higiene, ninguém mais se arrisca a beber no copo usado até mesmo por uma donzela… As festinhas familiares de hoje, aniversários, comemorações de qualquer espécie, entre amigos, eram chamadas antigamente de “tertúlias”.

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Lindolpho Câmara refere que a falta de clubes recreativos na cidade determinava as comemorações caseiras. Parece que esse não era o motivo principal. Hoje, a cidade está cheia de clubes e as festinhas familiares continuam. São as mais gostosas.
Naquele tempo, já se recitava ao som de Dalila, um dedilhado ao violão, que chegou até nós. Alguns conservadores ainda fazem questão de Dalila, para recitar besteira. Numa dessas tertúlias, há cem anos passados, o autor lembrou distinta dama da sociedade, que a todos encantou interpretando uma melodia e acompanhando-se ao violão. Atualmente, de tanto “encher” a cidade as Maysas Matarazzos e outras vedetes do gênero, é mais aplaudida a dama que não canta e nem toca violão.
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Os “Cantões” eram reuniões permanentes de pessoas amigas, nas calçadas de certas residências, para bater papo e falar da vida alheia. O mau hábito de falar da vida alheia é universal e eterno. Mas em Natal, já agora, não se fala apenas em locais determinados. Fala-se por toda parte. Lembra Lindolpho Câmara o “Cantão” famoso do capitão José Antônio de Souza Caldas, na calçada da sacristia da Matriz. O capitão, que morava defronte, fornecia as cadeiras e a turma se reunia, toda tarde. Era uma roda de Conservadores, diz o autor, o que excluía os Liberais da época. Sabemos hoje, de raros casos de pessoas distintas de Natal, que ainda se reúnem em cadeiras nas calçadas, para papear. Mas, Deus nos livre de citá-los nominalmente e nem lembrar de quem ali se fala e toda a cidade sabe no dia seguinte… O perigo maior de sentar na calçada, nos dias atuais, para falar da vida alheia, não é tanto devido à possível repercussão dos assuntos tratados. O perigo mesmo está na passagem dos chamados “playboys”, com suas máquinas voadoras, podendo levar todos nós de roldão, para o beleléu…
SÃO JOÃO E NATAL
Duas grandes festas do povo, na cidade, há cem anos passados, eram também o São João e o Natal, afirma o memorialista Lindolpho Câmara.
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No São João, acendiam-se as fogueiras diante dos lares pobres ou remediados, para assar o milho verde e as batatas doces. Dentro das casas, armavam-se altares de banqueta, com a efígie de São João no alto. Entoavam-se cantos alusivos à data e na mesa de jantar estavam os pratos de canjica e bolos os mais variados. Moças e rapazes tiravam sortes, – como ainda hoje, – para saber com quem casavam. À meia-noite, diante do altar, cumpria-se velha superstição: todos deveriam olhar um espelho, para verificar se viam a própria cabeça. (É claro que todos a viam). Mas afirmava-se que, aquele que não a visse, deveria logo mandar encomendar o caixão mortuário…
Variante da mesma abusão, que já registramos no passado, mandava que se olhasse para o fundo de uma jarra com o mesmo fim. Sobre a festa do Natal, o autor refere que saíam às ruas o Bumba-meu-boi, o samba, o maracatu e o batuque. A referência ao maracatu é curiosa. Sabíamos da existência do tradicional maracatu do Recife, e, mais recentemente, em Fortaleza. Mas nunca tivemos notícia de maracatu em Natal. Pena que o autor não tivesse descrito o folguedo popular.
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Nas casas de famílias armavam-se os “vistosos presépios”, a nossa verdadeira tradição latina, hoje praticamente substituída pelas chamadas “árvores de natal”, pagãs e sem qualquer vinculação com a tradição brasileira e portuguesa. À meia-noite, informa Lindolpho Câmara, serviam-se comidas típicas, algumas “hoje” quase desconhecidas: os pastéis de carne de porco, o chouriço, os doces secos, os sequilhos, as castanhas de caju confeitadas.
Os cordões de pastorinhas invadiam as casas, entoando os cânticos tradicionais: “Entrai, entrai Pastorinhas, entrai, entrai em Belém vinde ver nascido Jesus, nosso Bem”. É preciso considerar o comportamento das moças nessa época, segundo refere o autor. O recato era rigoroso: “Não podiam pôr o pé fora do sapato,não podiam cruzar as pernas, nem falar alto, nem comer qualquer iguaria à porta ou à janela, nem olhar para rapazes”.
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O namoro era considerado indecoroso. As moças só casavam com quem os pais determinavam. Conta, a propósito, o que se verificou na casa do Dr. Loló, senhor de engenho no Ceará-Mirim. Certo dia apareceu um sujeitinho para pedir a mão de uma das suas filhas em casamento. Dr. Loló reuniu as meninas, avisou-as antecipadamente de que não deveriam aceitar a proposta e mandou-as para a sala. Falou na presença de todos: – O Sr. Manuel veio pedir uma de vocês em casamento. Qual a que quer? – Eu não quero, disse uma. – Eu também não, disse outra. Então o Dr. Loló exclamou diante do fracassado pretendente: – Está vendo Manuelzinho, elas não querem. Não posso satisfazer o seu pedido, embora fosse muito do meu agrado…
Mas, apesar disso, é fora de dúvida que as moças namoravam e casavam, vencendo ou driblando os obstáculos paternos. E havia muitas que fugiam, exatamente como hoje.
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MEIOS DE COMUNICAÇÃO
Quanto menor a cidade e mais pobre, mais precários são os seus meios de comunicação. Por aí já se tem uma ideia de como seriam os veículos de comunicação na velha cidade do Natal, há cem anos passados.
Das memórias de Lindolpho Câmara, que estamos comentando, destacam-se, nesse sentido, os sinais semafóricos, através do telégrafo ótico da Catedral e o movimento dos carretos à cabeça, em animais e carros de bois. Esse telégrafo, por meio de bandeiras e cores, montado no alto da torre da Matriz, foi também um dos nossos alumbramentos na meninice. Muitas vezes, foi também um dos nossos alumbramentos na mesmice. Muitas vezes, ficávamos horas esquecidas sentados no telhado de casa, só prá ver os escoteiros mudar as bandeiras coloridas. Mesmo sem entender o significado dos sinais, estamos convencidos, hoje, de que aquele serviço foi, na verdade, a nossa primeira TV a cores.
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Temos agora em mãos o folheto intitulado “CÓDIGO DO TELÉGRAFO ÓPTICO”, trazendo o Decreto Estadual n.º 156, de 18 de novembro de 1921, do Governador Antônio José de Mello e Souza, que restabeleceu o serviço semafórico, sob a direção da Associação dos Escoteiros do Alecrim. Segundo as “explicações”, o telégrafo começaria a funcionar a “um quarto antes do nascimento do sol, terminando um quarto de hora depois do ocaso”.
São centenas as convenções, de acordo com o Código Marítimo Internacional, mas o nosso, da Catedral, só empregava três bandeiras – azuis e vermelhas, quadradas e em forma de quadriláteros, – e três galhardetes. Entre outras informações, os sinais indicavam a saída e entrada dos navios; se eram de guerra ou transporte; nacionalidade; se estavam passando noutra direção ou vinham ancorar em Natal; se havia enfermo a bordo; se pediam o prático; nome da embarcação e da companhia de navegação, etc. Havia até um sinal que indicava se o navio batera na “baixinha”, a pedra famosa onde encalharam várias embarcações. O telégrafo óptico prestou serviço real à população natalense desde o século passado até, talvez, a década de trinta.
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Sobre os outros meios de comunicação, convém registrar a observação de Lindolpho Câmara quanto ao nosso primeiro carro de passeio. Afirma que, há cem anos passados, Natal não dispunha de um só veículo para tráfego na cidade. Tudo era feito a pé ou em animais. E ninguém cogitava de adquirir nem mesmo “uma caleça ou um tilbury”.
Daí, relata coisas incríveis como estas: o Presidente da Província, com o seu séquito, partia a pé, do Palácio (na Rua do Comércio, na Ribeira), subia a ladeira e vinha abrir a sessão da Assembleia Legislativa na Cidade Alta. Diz ele: “… chegavam esbaforidos, suarentos, que quase nem podiam subir as escadas do edifício…” Finda a cerimônia , tornava pela mesma rota ao Palácio.
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Os enterros eram penosos, acrescenta. Todos “chegavam deitando a alma pela boca, menos o defunto“.
Os casamentos “eram ridículos”: todo mundo a pé, inclusive os noivos, na frente, subindo e descendo ladeira, dando topadas nas pedras pontudas…
Só nas proximidades da proclamação da República, o Dr. Celso Caldas, médico, adquiriu um carro usado, no Recife, nele atrelando dois cavalos magros. Fazia as visitas aos doentes nesse carro e também passeava, emprestando-o, muitas vezes, para cerimônias oficiais.
CONCLUSÃO
Foi esta a imagem que pudemos inferir de Natal há cem anos passados, segundo o depoimento do Dr. Lindolpho Câmara.
Era, positivamente, uma cidade pobre, desprovida dos meios mais elementares ao desenvolvimento urbano. De certa forma, refletia a influência do plano nacional. Todavia, nestes cem anos de existência, Natal cresceu e desenvolveu-se muito mais do que poderia imaginar os já nascidos nas primeiras décadas deste século XX. Daqui a cem anos, isto é, no ano de 2072, o que dirão de nós os nossos pósteros? Possivelmente, ainda nos considerarão subdesenvolvidos como nós achamos hoje os nossos antepassados do ano de 1872. E assim é a vida…

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