quinta-feira, 12 de março de 2020

Evolução da economia do RN no final do século XX (1970-2000)


Imagem: Reprodução https://www.saibamais.jor.br


Até a primeira metade do século XX o Rio Grande do Norte (RN) ainda apresentava 
perfil de uma típica economia primário-exportadora, pautada na agricultura de 
sequeiro, na pecuária extensiva e no extrativismo. No entanto, uma 
reviravolta vai acontecer no período seguinte, quando ocorrem mudanças 
profundas na base produtiva estadual.

De fato, no curto espaço de três décadas (1970-2000), registra-se uma alteração substancial na configuração da economia norte-rio-grandense, com as atividades primárias tradicionais reduzindo sua importância relativa, enquanto a indústria e, especialmente, os setores de comércio e serviços passam a liderar a composição do Produto Interno Bruto (PIB).

O salto da indústria potiguar ocorre no final dos anos 1970 estimulado pelo incremento da exploração de petróleo e gás natural via PETROBRAS, que se torna a “espinha dorsal” da nossa economia. Paralelo a isso, a indústria têxtil e de transformação em geral avança com o reforço dos subsídios da SUDENE e, em seguida, com a ajuda dos incentivos fiscais do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Industrial do Rio Grande do Norte (PROADI).

É também nos anos 1990 que a agropecuária estadual expande, mesmo tardiamente, a modernização de sua base técnica após a falência do ciclo do algodão, tendo como destaque a produção irrigada de frutas tropicais para exportação no polo Açu-Mossoró e em outras áreas dispersas no território estadual.

Já o setor terciário ganha relevância impulsionado pelo crescimento da urbanização e das atividades industriais concentradas na Grande Natal e em outras cidades de porte médio, como Mossoró. Nesse segmento, além do comércio varejista e no atacado, merece destaque o papel desempenhado pela expansão dos serviços de saúde e educação em todos os níveis. Ademais, as atividades turísticas passam a exercer um peso significativo em alguns municípios, principalmente naqueles localizados no litoral leste.

Esse amplo conjunto de transformações, apenas sumarizado aqui, repercute positivamente na capacidade de geração de riqueza no território norte-rio-grandense. Como mostra as séries históricas de estatísticas do IBGE, de 1970 a 2000, com exceção do início dos anos 1990, a taxa real de crescimento do PIB do RN foi superior à média do Brasil e do Nordeste.

Com efeito, merece destaque a performance obtida pelo PIB local na década de 1970, cuja taxa de crescimento variou acima de 10%. Nos anos 1980, a trajetória da economia estadual manteve seu ritmo acelerado, motivada pelo avanço da indústria do petróleo, perdendo velocidade nos primeiros anos da década de 1990, mas logo voltando a crescer 5,0% entre 1996-2000.

O RN termina o século XX, portanto, com um desempenho econômico bem acima da média brasileira e nordestina. De uma economia primário-exportadora, dependente da agropecuária e do extrativismo, o estado diversifica sua base produtiva e assume um perfil mais urbano-industrial, alcançado em 2000 a 19ª posição no PIB do Brasil e a 6ª posição entre os estados do Nordeste.

É pertinente sublinhar que as mudanças produtivas elencadas também agravaram as desigualdades intra-estaduais, com a riqueza se concentrando no entorno da Região Metropolitana de Natal e nos municípios que sediam as atividades dinâmicas do petróleo, da fruticultura etc. Outra questão desafiadora ao final do período analisado era a persistência de um alto nível de pobreza, que em 2000 atingia 45% da nossa população, conforme o Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil.

Diante desses e outros tantos desafios, o governo potiguar busca atrair investimentos públicos federais e privados visando ampliar a trajetória ascendente da economia estadual. Contudo, apesar dos avanços vindouros, o “elefante” não conseguirá manter o mesmo ritmo de crescimento e vai enfrentar muitos problemas em sua jornada no transcorrer das duas primeiras décadas do novo século.

Joacir Rufino de Aquino 

(Economista, pesquisador e professor da UERN)

quarta-feira, 11 de março de 2020

O SINDICATO DO CRIME EM CAICÓ – A NOTÍCIA DA PRISÃO DO PISTOLEIRO TONHO DO LETREIRO EM JORNAIS DE RECIFE

Houve um tempo que na bela cidade de Caicó, na região do Seridó potiguar, membros de sua sociedade resolveram seus problemas na bala. Mas alguns deles não seguravam as armas. Preferiam contratar pistoleiros utilizando os serviços de agenciadores com atuação em várias áreas do Nordeste, que formaram um grupo que ficou conhecido como Sindicato do Crime. Entre as mortes ocorridas em Caicó na época, a que alcançou maior repercussão e chegou a ser notícia na mídia nacional, foi a do médico e deputado estadual Carlindo de Souza Dantas. Um dos seus algozes foi o pistoleiro Edmar Nunes Leitão, conhecido por Tonho do Letreiro, pois tinha uma mira tão acurada que com tiros “escrevia” qualquer letra do alfabeto em uma parede. Aqui trago a transcrição e as notícias divulgadas nos periódicos recifenses Jornal do Comércio e Diário de Pernambuco dos dias 28 e 29 de abril de 1970.
AGRADECIMENTO – Ao amigo Marcelino Barbosa, verdadeira lenda da Polícia Civil do Estado do Rio Grande do Norte, com grande atuação contra o crime no sertão e grande conhecedor da História dessa instituição de segurança pública.
DIÁRIO DE PERNAMBUCO, TERÇA-FEIRA, 28 DE ABRIL DE 1970.
POLÍCIA FEDERAL SE CONCENTRA NO RIO GRANDE DO NORTE PARA DESBARATAR “SINDICATO DO CRIME”
O pistoleiro Edmar Nunes Leitão, autor de oito crimes na região nordestina, inclusive dos assassinatos dos deputados Carlindo de Souza Dantas e Francisco Miguel, ocorridos em Caicó e Sergipe, chegará às 7 horas de hoje ao Aeroporto Augusto Severo, em Natal, fortemente escoltado por quatro agentes do Departamento de Policia Federal. O delegado regional da Polícia Federal, Sr. Júlio Freire de Revoredo, viajará na manhã de hoje para a capital potiguar, a fim de presidir as investigações que serão procedidas e, inclusive, pessoalmente, fazer acareações e ouvir depoimentos no curso dos trabalhos que serão realizados. Objetiva, segundo as próprias declarações do Sr. Júlio Revoredo pôr a limpo a série interminável de crimes em Caicó e, consequentemente, a detenção de todos que, direta ou indiretamente, concorreram para o estabelecimento do “Sindicato do Crime”.
ORDEM É PRENDER
Frisou o agente federal que fará executar no Rio Grande do Norte, as determinações dadas anteriormente. Baseia-se nas prisões de todos aqueles que estejam envolvidos nos crimes ocorridos em Caicó, quer sejam os autores materiais ou intelectuais das chacinas. Razão porque, acrescentou o Sr. Júlio Revoredo, as pessoas apontadas pelo bandoleiro Edmar Leitão, no curso de seus depoimentos, serão imediatamente detidas, principalmente aqueles que têm ou tiveram ligação com o “Sindicato do Crime”.
Um detalhe que vem intrigando a Polícia Federal diz respeito à “cobertura” que um influente cidadão residente em Natal vem dando ao médico Osvaldo Lobo, acusado de mandante no crime que foi vítima o deputado Carlindo Dantas. Informou o agente Otávio Ruas que o Sr. Osvaldo Lobo é natural da Paraíba, onde foi preso numa fazenda, juntamente com o capataz conhecido por Eronildes. Na fazenda, que é de propriedade do médico, foi encontrado um verdadeiro arsenal composto de seis revólveres, três rifles e uma arma calibre 45.
PONTO OBSCURO
Posto em liberdade, após prestar depoimento na Paraíba, o médico Osvaldo Lobo dirigiu-se a Natal, a fim de homiziar-se na residência de um cidadão influente naquela capital, fugindo à responsabilidade e, inclusive, furtando-se a prestar novos depoimentos á Polícia.
Repórteres, fotógrafos e correspondentes de jornais do Sul radicados em Natal, estão sendo impedidos de entrevistar-se com o médico. Os federais, por sua vez, estão tentando descobrir o local onde se encontra o acusado. Edmar Nunes Leitão, ou “Antônio Letreiro”, como vulgarmente é conhecido, denunciou, como mandantes da morte de Carlindo Dantas, os médicos Osvaldo Lobo e Pedro Militão (assassinado no ano passado), além de um coronel da Polícia Militar do Rio Grande do Norte.
VIÚVA PRESENTE
Edmar vai para Natal, segundo deixou claro, com “a finalidade de resolver esta questão”. Além de vários interrogatórios a que será submetido, “Antônio Letreiro” será acareado com o médico Osvaldo Lobo, com o sargento Antônio Libório e com a viúva do médico Pedro Militão, que também já se encontra era Natal para prestar informações aos federais, acerca da chacina de que foi vítima o seu marido, que por sua vez foi acusado de mandar matar Carlindo Dantas. Edmar Leitão, por outro lado, voltará a avistar-se com pistoleiros e empreiteiros do “Sindicato do Crime” da Paraíba. Todos os pistoleiros e “coiteiros” dos bandidos, presos recentemente em fazendas paraibanas, serão acareados com Edmar, a fim de que seja estabelecido o elo entre os crimes praticados naquele Estado e também no Rio Grande do Norte. As acareações terão início hoje, em Natal, com a presença do delegado regional da Polícia Federal, Sr. Júlio Freire de Revoredo, além dos agentes Otávio Ruas, Mair de Oliveira, Júlio Teixeira e outros.
Antiga cadeia de Pombal, ainda dos tempos do Império. Quem desse local fugiu foi o cangaceiro Jesuíno Brilhante.
POMBAL ERA “QUARTEL GENERAL ” DO CRIME
JOÃO PESSOA (De Raimundo Carrero e Maurício Coutinho, enviados especiais) — No depoimento que prestou à Polícia Federal da Paraíba o pistoleiro Levi Olímpio, apontado como um dos principais membros do “Sindicato do Crime” tende agido, inclusive, como empresário para os crimes de Edmar Leitão, preso no Ceará, negou que tivesse até o momento praticado qualquer crime. Mas confirmou a existência do “Sindicato”.
Disse ainda que a reunião para o assassinato do médico rio-grandense, Carlindo de Sousa Dantas, realizou-se na casa de um dos coiteiros do grupo, na cidade de Pombal, não tendo precisado o nome. Negou que alguém recebesse dinheiro para os crimes. Acrescentando: “As mortes eram feitas por amizade aos mandantes ou por prazer, nunca por dinheiro”.
MORTE DO DEPUTADO
“Posso acrescentar ainda — disse — que Antônio Letreiro” foi “peitado” pelo deputado e coronel José Alves Lira, para matar o também deputado coronel Luiz de Barros”.
Na Paraíba, Edmar Leitão, por questões de segurança, fazia se passar por “Antônio”, assim como seu irmão José Maria, por “Ednaldo”; Acusou este último de ter assassinado em São Bento do Bofete, na Bahia, o cidadão conhecido por “Neném Leiteiro”.
POMBAL
Pombal, a cidade do terror, foi apontada por Levi Olímpio, como o quartel general do “Sindicato da Crime”. Na extensão dessa cidade, todo fazendeiro, pobre ou rico, colaborava com os membros do “Sindicato”, uns por cumplicidade (coiteiros), outros por medo.
 Embora Levi tenha negado que recebesse dinheiro com os crimes, a polícia acredita que ele detém em seu poder uma verdadeira máquina montada para morte contra pagamento.
CIGANO BITÓ
Entre os coiteiros apontados por Levi Olímpio, dois nomes são completamente desconhecidos da polícia, e parecem criação do pistoleiro, na esperança de esconder o nome de algum amigo seu. São eles: “Cigano Bitó” e “Dedé Boiadeiro”. “Cigano Bitó”, segundo afirmou Levi, é fazendeiro em Campina Grande, embora até bem pouco tempo fosse um “pobre diabo, não ostentasse nenhuma riqueza”.
Quanto a “Dedé Boiadeiro”, não soube acrescentar nada, afirmando apenas “uma pessoa boa, mas muito perigosa”.
FEDERAIS ADMITEM QUE BANDIDOS FORMAVAM ORGANIZAÇÃO PODEROSA
JOÃO PESSOA (De Raimundo Carrero, Maurício Coutinho e Teobaldo Landim, enviados especiais) — A descoberta de como funcionava o “Sindicato do Crime”, começa a estarrecer o povo desta cidade. A própria polícia mostra-se impressionada, pois não imaginava ser o “Sindicato” uma organização de tamanha amplitude. Os membros do “Sindicato do Crime”, não somente matavam, como ainda fabricavam dinheiro e por cima, realizavam casamentos. Dentro da organização existia até posições hierárquicas, pelo menos, por questão de segurança. O chefe maior era o mandante; depois vinha o empresário; a seguir o contato; e finalmente o assassino. O primeiro mandava eliminar o inimigo e pagava pela execução; o segundo ficava com a missão de conseguir um bom pistoleiro(o assassino), que tivesse boa pontaria: o contato, encarregava-se de saber como andavam as coisas; o último executava o crime conforme o preço que pedisse, Exigia-se muita segurança, honestidade e pouco conhecimento com a Polícia.
CASAMENTO
Até casamento o “Sindicato” fazia. O mais importante deles, foi o de Edmar Leitão (preso cm Fortaleza), também conhecido por “Zé Letreiro” e “Antônio”. Edmar vivia aperreando Levi para casar. Já tinha uma noiva; Rosa Pereira. Como gostava muito dela queria casar e abandonar sua vida de crimes. Todos os dias fazia o mesmo pedido e insistia muito. Levi Olímpio não sabia o que fazer; Edmar era muito procurado pela polícia do Estado e seria perigoso levar um padre para a fazenda. Um juiz, pior ainda. Não era nem para se pensar. O que fazer então? Mas Edmar vivia insistindo. E agora até ameaçava matá-lo se não conseguisse, imediatamente, um padre.
Um dia indo na cidade de Pombal, mandou o motorista do carro em que viajava vestir uma batina, arranjou uns papéis para servir de documento, e mais dois padrinhos e fez o casamento. Levi assegura que nem o próprio Edmar sabe disso.
EDMAR E LEVI VÃO SE AVISTAR CARA O CARA
JOÃO PESSOA (De Raimundo Carrero e Maurício Coutinho, enviados especiais) — O pistoleiro Levi Olímpio Ferreira, pessoa importante dentro do “Sindicato do Crime”, estará seguindo, hoje, para Natal, para um encontro com Edmar Leitão o “Antônio Letreiro”, que virá de Fortaleza, Ceará.
Levi Olímpio seguirá fortemente escoltado por policiais da Polícia Federal, em horário não divulgado, pois teme-se um atentado. A vida de Levi é importante para que se possa desvendar muita coisa que ainda está escondida, na existência do “Sindicato”.
DINHEIRO FALSO
A polícia paraibana continua investigando a denúncia de que os participantes do “Sindicato do Crime” teriam diversas máquinas de fabricar dinheiro. Dessas máquinas eram extraída as cédulas para pagamento aos pistoleiros. Já foram realizadas diversas batidas nas fazendas dos coiteiros apontados por Levi Olímpio Ferreira, nada sendo encontrado.
Enquanto será feito o encontro dos assassinos Levi e Edmar, em Caicó. A Polícia Federal continuará suas investigações, acreditando-se que qualquer novidade possa surgir de um instante para outro.
NECO DA IMACULADA
Noticia-se, ainda nesta cidade, que o pistoleiro Neco da Imaculada, um dos mais perigosos do Nordeste, foi preso numa cidade do interior paraibano, ninguém, no entanto, sabe precisar o local.
Neco da Imaculada é acusado de mais de 20 crimes bárbaros a serviço de poderosos donos de terras e políticos influentes. Os agentes federais admitem, por outro lado, que Neco da Imaculada esteja envolvido em cinco crimes ocorridos era Caicó. Sabe-se, até agora, que das chacinas ali ocorridas, somente as que foram vítimas Carlindo Dantas e o industrial Aníbal Macedo estão praticamente esclarecidas. Edmar Leitão seria o autor das mortes dos dois cidadãos, muito embora os crimes de que foram vítimas os médicos Onaldo Queiroz e Pedro Militão, além do jovem Aníbal, filho do industrial Aníbal Macedo, estão sem solução, admitindo-se que Neco da Imaculada seja autor de um deles.
Isto será minuciosamente investigado pelos federais, a partir do momento em que as diligencias forem prosseguindo em Caicó, principalmente agora com a presença, ali, do bandoleiro Edmar Leitão.
JORNAL DO COMÉRCIO, RECIFE, 28 DE ABRIL DE 1970
FEDERAIS CAPTURAM BANDOLEIRO QUE PRATICOU 20 ASSASSÍNIOS
JOÃO PESSOA (Sucursal) — Durante diligências realizadas ontem, na cidade de Teixeira (PB), 12 agentes do Departamento de Policia Federal efetuaram a prisão do bandoleiro Manoel Batista de Araújo, o “Neco de Imaculada”, autor de 20 assassínios no Nordeste e Juntamente com o pistoleiro Edmar Leitão, é responsável pelos últimos crimes ocorridos em Caicó.
O profissional do gatilho que é considerado um dos mais lendários e sanguinários, há alguns anos vive exclusivamente a custa de coiteiros e ricos fazendeiros a quem prestou serviços na execução de perversos crimes a exemplo do seu comparsa “Tonho do Letreiro” que se acha recolhido em Fortaleza, depois de sua captura na cidade de Icó (CE).
SADISMO
“Neco de Imaculada”, conforme afirmam os marginais que o cercam nunca esconde o enorme sadismo e para provar que é um homem mau, conta que Já eliminou 20 pessoas e cortou muito busto de mulheres, alguns somente para ver a fisionomia de quem sente dores horríveis.
De acordo com as Informações em poder das autoridades policiais a área de ação do bandoleiro sempre foi no interior do Rio Grande do Norte, Paraíba, Alagoas e Ceará, onde cumpriu contratos mediante elevadas importâncias para eliminar inimigos dos mandantes, dependendo da posição social das vitimas e poder econômico dos contratantes dos crimes.
ESQUARTEJA, TAMBÉM
Os dois últimos homicídios por ele praticados, verificaram-se há cerca de 45 dias, no Interior cearense, onde matou e esquartejou um casal de Jovens namorados, repetindo o que anteriormente havia feito com uma amante que prometeu abandoná-lo para viver com outro homem. De conformidade ainda com as informações transmitidas pelas autoridades policiais o bandoleiro ora detido na cidade de Teixeira, formava com Edmar Nunes Leitão a dupla de bandidos mais procurada para execução de assassínios, não só pela excelente pontaria que possui, mas, sobretudo em decorrência de não deixar pista.
A ÚLTIMA PRISÃO
 A última vez que “Neco de Imaculada” esteve sendo interrogado pelas autoridades, foi no dia 30 de março do corrente ano quando sequestrou a Jovem Maria José dos Santos, no sitio Saquinho, no interior paraibano, a quem infelicitou nos arredores de Pombal.
Durante a resistência oferecida, como castigo, o bandoleiro a deixou despida diversos dias sob o sol ardente da caatinga e, além de sucessivas surras, foi arrastada sobre cardeiros e proibida de beber água, até ceder aos Intentos do sequestrador.
QUASE LOUCA
No final de suas declarações fornecidas a polícia, a jovem acrescentou que, de certa feita, ele amarrou as suas mãos com o cinturão, lhe cortou a barriga a faca e, não satisfeito, a arrastou pelo chão sobre pedras, paus e espinhos até cansar.
Foi nessa oportunidade que, pensando que a Jovem se achava morta e não desacordada, ele a abandonou e fugiu. No dia seguinte, após recobrar os sentidos, a moça, quase louca, saiu rastejando até que encontrou um casal de agricultores, o qual penalizado de sua situação a levou a um hospital, onde ela pastou diversos dias internada.
FAZENDEIRO QUERIA MATAR PISTOLEIRO
Em depoimento prestado a Polícia Federal, o fazendeiro Levi Olímpio, preso na semana passada juntamente com outros mandantes de crimes, confessou que pertencia ao Sindicato da Morte, contratou pistoleiros para eliminar Inimigos e diversas vezes tentou matar o bandoleiro Tonho do leiteiro envenenado, porque ele sabia demais. O rico agricultor, a quem é atribuída a responsabilidade por uma série de crimes, esclareceu também que há multo tempo pertence à organização que espalha o terror em diversas regiões do país, especialmente no Nordeste, onde nos últimos anos profissionais do gatilho derrubaram indefesos cidadãos.
APONTADO POR LETREIRO
O fazendeiro Levi Olímpio, em virtude de denúncias transmitidas as autoridades pelo pistoleiro profissional Edmar Nunes Leitão, o Tonho do Letreiro, como é conhecido entre os integrantes do Sindicato da Morte, foi detido na semana passada no município de Pombal, juntamente com os criadores Antônio Pereira, Zeca Mãezinha e Francisco de Assis. No transcorrer da gigantesca operação que visava desmantelar a força da organização criminosa atuante nos Estados do Ceará, Alagoas, Rio Grande do Norte e Paraíba, os agente do Departamento de Polícia Federal conseguiram também apreender numerosas arma s e farta munição principalmente na propriedade pertencente a Levi Olímpio.
SABIA DEMAIS
Por mais de uma vez, segundo revelou o fazendeiro, verificando que Tonho do Leiteiro sabia demais a respeito de sua vida e futuramente poderia complicá-lo, fato que constantemente se observa entre mandantes de crimes e profissionais do gatilho, tentou matá-lo envenenado.
Entretanto, muito hábil e desconfiado o bandoleiro sempre recusou fazer refeições e tomar bebidas em sua fazenda, fato que fez ruir todos os seus planos. Agora, em decorrência da delação do bandido, teve o seu nome ligado aos recentes acontecimentos, inclusive com provas difíceis de serem pelo menos atenuadas.
DIÁRIO DE PERNAMBUCO, TERÇA-FEIRA, 29 DE ABRIL DE 1970.
PISTOLEIRO CHEGA A NATAL ESCOLTADO POR FEDERAIS
NATAL (Gledson Oliveira e Maurício Coutinho enviados especiais) — O bandoleiro Edmar Nunes Leitão, que chegou ontem fortemente escoltado a esta capital, deverá ser acareado hoje com o coiteiro Levi Olímpio e o tenente Antônio Libório. O oficial está preso no Quartel da Polícia, em Natal, como autor intelectual da morte do medico Pedro Militão, uma das vítimas dos crimes ocorridos em Caicó.
Edmar chegou a Natal exatamente às 7 horas, escoltado por agentes federais que não permitiram o acesso de repórteres no aeroporto Augusto Severo. Nosso fotógrafo, inclusive, foi solicitado a deixar o “hall” do aeroporto, momentos antes do pouso do Boeing da VASP.
Embora discreto, o aparato policial foi dos mais rigorosos temendo se pela vida do famigerado pistoleiro.
COM MEDO
Edmar ao ser conduzido a Rural Willys da Polícia Federal, placa 2-66 85, que desde às 6 horas se encontrava na pista do Augusto Severo, mostrava-se nervoso e assustado, temendo ser assassinado pelos seus inimigos do “Sindicato do Crime” que ainda estão soltos no Rio Grande do Norte, embora já denunciados nos depoimentos do marginal.
O aparelho da VASP pousou distante a fim de possibilitar aos federais o cerco do pistoleiro. Três agentes entraram na aeronave e o algemaram, enquanto mais dois cercavam no quando desciam a escada do avião em direção a Rural Willys, estacionada frente ao aparelho, aguardando a descida de Edmar, que, propositadamente foi o ultimo passageiro a deixar o Boeing.
Em seguida ele foi levado para a sede da Polícia Federal, Rua Vigário Bartolomeu, 581, sendo de Ia transferido para o Quartel da Polícia Militar onde ficou incomunicável. Hoje, Edmar deverá avistar se com o Sr. Júlio Freire Revoredo, que se deslocou do Recife a fim de acompanhar, em Natal, as investigações que estão se processando. O delegado regional da Polícia Federal chegou a esta capital por volta das 15 horas evitando manter contato com a imprensa.
Não quis revelar, inclusive, onde Edmar será interrogado no dia de hoje, mas admite-se que os trabalhos serão realizados na Polícia Militar, Iocal mais seguro para evitar um possível atentado contra a vida do bandoleiro.
VIU SÔ
O medico e deputado Carlindo de Souza Dantas, abatido pelo pistoleiro Edmar Nunes Leitão, na noite de 28 de outubro de 1967, defronte ao Caicó Esporte Clube, vem sendo apontado como o homem que matou, sozinho, o diretor do SESP daquela cidade, médico Onaldo Pereira de Queiroz, crime ocorrido na madrugada de 28 para 29 de junho de 1968.
O doutor Onaldo, na noite do crime, após tomar alguns drinques com amigos num restaurante daquela cidade, dirigiu-se ao seus aposentos no posto de saúde, onde ficou a descansar numa rede. A noite era fria. Checou a tirar uma soneca, mas despeitou ao ouvir um tiro.
 O CRIME
Notou então que a iluminação da rua fora apagada com a quebra da luminária de um poste que ficava a uns 6 metros de onde estava. Olhou em seu redor e nada viu ou ouviu. Voltou a deitar-se. Um minuto depois ouviu outro disparo, desta vez contra a lâmpada que estava no alpendre do terraço.
Não teve tempo de levantar-se. Um terceiro tiro trespassou-lhe o crâneo, matando-o instantaneamente. Ninguém viu o criminoso, o médico estava só. No chão ficou uma poça de sangue que ia escorrendo pela calçada, enquanto a cabeça da vitima pendia da rede.
Onaldo, um jovem médico de 28 anos, gozava de grande prestígio na classe e junto à população. A sua fama corria o Estado, a ponto do ganhar o cargo de diretor do SESP. A nomeação veio estarrecer e causar inveja a muita gente, inclusive ao Dr. Carlindo Dantas, que sempre pleiteava o lugar. No dia da nomeação houve certo tumulto na cidade, provocado pelo deputado que tinha um temperamento explosivo, razão porque gostava de bebericar na cidade, onde, também, era, enormemente conceituado como bom médico e líder político.
PUNIDO
Carlindo tempos atrás, fora diretor do SESP. Algumas irregularidades afastaram-no das funções. Muito pior: trabalhando no posto subordinado ao médico Onaldo Queiroz, Carlindo voltou a cometer outros desatinos, a ponto de ser novamente por este punido. Isto inflamou os ânimos e provocou, mais ainda, a inveja.
As autoridades que investigam o crime estão propensas a admitir esta hipótese: um acerto de contas em função do orgulho profissional de Carlindo. Vão mais além, fixando-se na suposição de o deputado ter se ressentido porque tinha sido substituído por Onaldo Queiroz. E, assim, sem auxílio de pistoleiro, foi sozinho dar vasão aos recalques que lhe tomaram conta: matar o médico Onaldo friamente, utilizando-se de um revólver calibre 38 duplo.
O LÍDER
Desde tão Carlindo passou a ser visto como criminoso. Todos o apontavam como assassino do colega do SESP, por questões de ciúme e Inveja. Mesmo assim Carlindo continuou sua campanha política, enquanto prosseguiam as investigações que culminaram com a decretação sua custódia preventiva. 33 anos, moço, líder em Caicó pela maneira de tratar seus clientes, a quem, inclusive, receitava de graça. Era querido e estimado por todos. No Estado o seu nome passou a ser uma bandeira em defesa dos humildes.
No período da decretação da prisão preventiva, ele, acusado de assassino, já era visto como um virtual candidato a Assembleia Legislativa do Rio Grande do Norte. Foi preso. Conseguiu a liberdade pelo Tribunal de Justiça, saindo vitorioso nas urnas. Então abriu frente de combate contra seus acusadores e inimigos, entre os quais o médico Pedro Militão e Osvaldo Lobo.
A MORTE
Eleito deputado, Carlindo voltou a ofensiva, combatendo os que lhe acusavam e prometendo apontar os verdadeiros assassinos de Onaldo Queiroz. Isto muitas vezes, da tribuna da Assembleia, ele, prometia fazer. E fez.
No dia 28 de outubro de 1967, um ano após a morte do diretor de SESP, Carlindo de Souza Dantas, naquela noite, dirigiu-se a um bar e publicamente disse que “eles não tem para onde fugir, vou apontá-los, muito breve”. Passaram-se cinco dias. Carlindo no volante de um Aero-Willys, ia participar de uma festa no Caicó Esporte Clube. Ao entrar foi interceptado pelo pistoleiro José Maria, irmão de Edmar Leitão:
A história de Edmar Nunes Leitão foi transformada em cordel pelo poeta João Domingos da Silva. O pistoleiro seria morto em uma emboscada, anos depois, após fugir da penitenciária de Natal.
“Doutor, o Senhor deixou a luz do carro acessa. Carlindo voltou e ficou de frente para Edmar que, de um DKW passou a disparar incesantemente com dois 38, enquanto “Zé Maria” fazia a cobertura, disparando a esmo, indo três balas atingir o industrial Aníbal Macedo, que, naquela noite — eram 23 horas — acompanhava o deputado. Ambos caíram na calçada, morrendo tempos depois.
 MAIS DUAS MORTES
O jovem Nilson Macedo, filho do industrial Aníbal Macedo, em dezembro do ano passado foi assassinado. Para vingar a morte do pai e do irmão, o jovem Antônio Macedo, “Toinho”, descarregava toda a carga do seu revólver contra o médico Pedro Militão, quando este entrava na Escola Normal de Caicó, onde era professor.
Estes crimes estão impunes. A Polícia Federal investiga a possível participação de Edmar e alguns de seus comparsas nas chacinas. Até agora os federais obtiveram valiosas informações que estão sendo mantidas em sigilo, evitando-se a divulgação pela imprensa. Sabe-se que três inquéritos estão concluídos nos quais estão relacionados os matadores de Nilson Macedo e Pedro Militão.

Júlio Soares e sua verve


Poeta, compositor e boêmio empedernido, passou pela vida esbanjando talento. De família abastada, viveu vivendo o momento, até a sua morte no Ceará, em estado lamentável.




*Franklin Jorge
Boêmio impenitente, o poeta Júlio Soares marcou uma época no Açu. Nascido em 1898, numa família abastada e amante da música, morreu em Fortaleza em 1954. Todos os seus irmãos e irmãs tocavam um instrumento. Sua participação nas serenatas era indispensável. Também tinha vocação para o teatro, tendo se apresentado em diversas peças que granjearam para si uma certa notoriedade como ator.
Ainda muito moço vendeu a um irmão o seu direito à herança paterna, numa antecipação a uma vida de dispersão e esbanjamento não apenas dos recursos materiais, mas do próprio talento que desapareceu com ele em condições de extrema penúria.
Em sua mocidade, graças a uma substanciosa mesada paterna, viveu vários anos no Rio de Janeiro, a capital do País, onde conheceu e se relacionou com artistas famosos, como Vicente Celestino, chegando mesmo a gozar de algum prestigio em meio a boemia carioca, por sua verve e prodigalidade que mantinha a família em estado de alerta.
Autor inspirado pela circunstância, não chegou a publicar nenhum livro nem registrou as músicas que compôs, especialmente, quando vivia no Rio. Consta que muitas dessas composições ele as vendeu a outros músicos, renunciando à autoria como era costume na época, sobretudo para financiar suas incríveis bebedeiras.
Versejando com espontaneidade e verve, produziu além da lírica, numerosas poesias fesceninas, entre as quais um soneto célebre através do qual defendeu com muita picardia a superioridade da xoxota da mulher negra sobre a das brancarronas insípidas, que considerava desenxabidas e sem fôlego nos embates sexuais.
Mestre da sátira, ao voltar para o Açu, desentendeu-se com o prefeito Francisco Amorim – Chisquito para os seus conterrâneos – e o caricaturizou impiedosamente em versos cheios de vitríolo. Vale recordá-los:
O prefeito do Açu é um ser descrente.
Um ser satânico, mordaz e desleal.
Uma figura cômica do circo,
Um sagaz jogador profissional.

Nada fez nem fará por nossa terra
Esse tipo indolente. Irresoluto,
Cuja língua babosa, suja, lambe
Continuamente a bunda de um charuto.

Salvo seja.
Fonte: https://www.navegos.com.br/

segunda-feira, 9 de março de 2020

A queixa
Fiz-lhe ver o que aquilo representava para a minha vida
O que representava para o meu destino.
Era a minha vida
Era o meu destino.
- Aos seus olhos porém nada que aquilo lhe representou.
E queimou a minha alma
E queimou o meu destino,
(Caldas)

quinta-feira, 5 de março de 2020

VERON, O PRIMEIRO ASSUENSE A DISPUTAR UM LIBERTADORES

 

Natural de Assú no Rio grande do Norte, Gabriel Veron (Foto) com a camisa 27 fez sua estreia ontem em Libertadores na Argentina ao entrar no segundo tempo no lugar de Luiz Adriano. O palmeiras venceu o jogo por 2 a 0. Curiosamente, o camisa 27 teve o nome inspirado em um ídolo local: Juan Sebastián Verón, meio-campista argentino que fez história no final dos anos 90 e início dos anos 2000 com passagens marcantes por clubes como Estudiantes-ARG, Parma-ITA, Lazio-ITA e Internazionale-ITA e Manchester United-ING, entre outros. Gabriel estreou pelo Profissional do Verdão em 28/11/2019, contra o Fluminense. Logo em sua segunda partida pela equipe principal, a Cria da Academia balançou as redes duas vezes e concedeu uma assistência no duelo com o Goiás, pelo Campeonato Brasileiro, tornando-se o segundo mais jovem atleta a marcar gol pelo Verdão, com 17 anos, três meses e dois dias, desbancando Mazzola, cujo gol de estreia em 1956 foi com 17 anos, seis meses e cinco dias – apenas Juliano, com 16 anos, 11 meses e 23 dias em 1998, está à frente no ranking. O jovem está no clube desde o Sub-15 e ganhou títulos por todas as categorias da base em que jogou. Veloz, habilidoso e forte fisicamente, Veron também acumula prêmios individuais, tendo recebido os troféus de artilheiro e melhor jogador no Mundial de Clubes Sub-17 de 2018, vencido pelo Palmeiras, e a Bola de Ouro da Copa do Mundo Sub-17 de 2019, competição que conquistou com a Seleção Brasileira.



Fonte: Tatutom Sport
De: https://souzajrdivulgacoes.blogspot.com

 


Que eu seja eternamente eterno louco e nunca deixe de sonhar na vida. (João Lins Caldas, pensador potiguar).