segunda-feira, 11 de setembro de 2017

O ABOIADOR POR LUÍS DA CÂMARA CASCUDO

  

https://tokdehistoria.com.br
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Sítio Novo – RN – Foto – Rostand Medeiros
Texto enviado pela amiga Daliana Cascudo.
“O terreiro da fazenda, todo em barro vermelho batido, chapeado por lajes brancas, rebrilhava ao sol forte de Agosto. Das latadas, vinha o burburinho das gentes apinhadas. Uma multidão de vaqueiros encourados de novo, caracolava airosamente. Mocinhas de fita à cintura, de flor ao cabelo negro, olhavam, com o pasmo quieto dos espíritos mansos, para os cavalos suados que pulavam sob a pressão dos acicates. Era dia da apartação. De muitas léguas ao redor, tinham vindo pessoas assistir a festa. A música da vila mais próxima tocava. Numa atmosfera da alegria serena, toda a terra era um tapete verde, e de longe, grandes oitizeiros, robustos juazeiros, oiticicas imensas, esgalhavam-se gloriosamente como múltiplas mãos abençoando aquela terra fecunda.
Luís da Câmara Cascudo (18)
Luís da Câmara Cascudo
No curral de pau à pique, atropeladamente, entrevia-se o gado rebanhado. Bois enormes, pesados e magníficos como velhos sultões, touros ágeis, nervosos, de musculatura potente, de olhos brilhantes e pontas aguçadas, novilhos irrequietos, saltitantes, erguendo as narinas como se aspirassem o cheiro da várzea florida, todos se apertavam no estreito espaço da porteira, olhando pasmadamente ao aspecto festivo da fazenda calma. Parou a música. Dois vaqueiros pularam com varas de ferrão para o curral. Outros, encourados, vermelhos de sol, com os gibões enfeitados de fios de retrós branco, colocaram-se do lado da porteira. Uma novilha apareceu, pulou e num salto brusco desatou numa carreira terrível pelo campo. Os cavalos iam-lhe no piso.
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Serra Talhada – PE – Foto – Rostand Medeiros
esteira conservou-a em linha reta, o outro baixou-se, apanhou a cauda, firmou-se na sela, e numa nuvem de pó as patas da novilha ergueram-se para o ar. Todo o dia este fato se repetiu inúmeras vezes. A tarde caía. O gado já se tinha apartado. Só uma grande parte pertencente ao dono da fazenda, é que se premia no curral. Deviam mandá-la ao rio que se estendia, preguiçoso e límpido, a alguma distância. Fizeram um círculo de vaqueiros. Falavam surdamente. De repente puxaram de um tamborete, um negro e o levaram para a costumada façanha. Era Joaquim do Riachão, o melhor aboiador das cercanias.
O preto era baixo, magro, vestia calça de zuarte azul, cinto vermelho e uma camisa de algodãozinho que lhe mostrava o peito descarnado e as clavículas rompendo a pele. O pescoço fino, cheio de músculos, numa alto relevo de estatuária, prendia-lhe a cabeça poligonal, desbastada à largos golpes de camartelo, com o cabelo encarapinhado, o rosto chupado, com a arcada zigomática acusada através da epiderme franzina. Completava-o uns olhos claros, tristes, contemplativos como se evocassem silenciosamente a saudade da pátria distante, a África longínqua dos seus avós. Caminhou balouçantemente para o cercado. Trepou ao moirão da porteira. Tirou o seu chapéu de couro ponteado de botões de madrepérola, bateu-o na coxa, pô-lo na cabeça, ergueu-a e soltou um grito moldurantemente forte, estridente, alto como uma fanfarra gloriosa de clarins em tarde de vitória. O gado continuava impaciente, pulando, apertando-se no estreito espaço do curral.
O negro aboiava.
Potente, sinuoso, dobrado em curvas felinas, o som se espraiava em tonalidades estranhamente emotivas. Dir-se-ia um rapsodo, o último cantor das terras do sertão, cantando sem uma palavra, somente encantando pelo som. Desdobrava-se o surto sonoro, num grito estridente. Depois descia, quebrava-se, vinha em volutas para um smorzado magoado, sentido, bizarro, esdrúxulo.
O negro aboiava.
Recordação musical das dores sofridas. Cantava naquela tarantela febril, a ânsia dolorida de uma raça. Febre, lutas, vibrações, sentimentos, a coragem eterna do trabalho heroico contra os elementos. Era um canto triste, uma melopeia vagamente monótona, que subia aos céus levando envolta em notas a saudade sem fim dos dias que passaram. Estalava no ar a voz de Riachão. De repente parava e no silêncio religioso do pátio repleto, só se ouvia o rumorejo farfalhante das ingazeiras distantes.
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Barro – CE – Foto – Rostand Medeiros
O negro aboiava.
Lembrança da terra querida. Impressão indelével dos trabalhos da seca. A morte do gado, os rios secos, o açude esgotado, o sol em fogo, a terra em brasa, os caminhos ladeados pelas ossadas brancas, o sussurro gemente do carnaubal esguio, o grito agônico e último do derradeiro boi morrendo ao pé das árvores ressequidas.
Som, queixume, esperança, prece e desalento se alavam para aquele céu azul, meigo, sereno, bendito, o mesmo céu da seca passada, o mesmo azul, puro, tranquilo, implacável. O gado se aquietava junto à porteira. Os focinhos se inclinavam para a terra como procurando as pegadas deixadas pelas retiradas dolorosas.
O negro aboiava.
Era um soluço. Um canto tristíssimo que impressionava. Cantos doloridos de pesar, era o aboio, o lamento lançado ao sol moribundo, como se imprecasse a sua luz que fecundava a terra e que depois a ressequia. Recordava o sofrer angustioso das retiradas, quando faiscava a luz da madrugada, e a levada dos retirantes, sem pão, sem lar, sem descanso, nua, esfarrapada, doente, cambaleando procurava o caminho de uma natureza mais clemente, das terras melhores, de um céu mais amigo. Desenrolava-se no ar a sonoridade doentia do aboio.
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Vaqueiro do Nordeste, 1941, Percy Lau – Fonte – http://www.desenhandoobrasil.com.br
Riachão desceu devagar, abriu a porteira tirando pau a pau aboiando sempre, pôs a vara de ferrão no ombro ossudo de artrítico, e vagaresco, soberbo, andou para o caminho serpenteante que levava ao rio espelhento aos últimos raios do sol. O gado saiu do curral, todo ele, bois imensos, touros nervosos, novilhos tráfegos, cabisbaixo, pensativo, numa fila lenta, num mugido doloroso e foi seguindo no rasto do vaqueiro, o trilho sonoro do aboio. Nenhum correu, nenhum se apressou, nenhum daqueles animais rompeu a forma original daquela parada. Atravessaram o pátio cheio de vaqueiros descobertos, ladearam a casa de farinha e desceram para o rio, entre as juremas em flor e o cheiro forte dos pereiros verdes.
E assim, homem e gado, desapareceram na volta da estrada, e no ar sereno da tarde luminosa, ficou perdurando a dolência rítmica do aboio, o canto distante da dor eterna das gentes do mato, tão saudoso, tão forte e tão sonoro, como se fosse a própria alma do sertão que ia cantando…
Natal, Julho de 1920.”
FONTE: Revista do Brasil, N. 67, Julho, 1921, Editor: Monteiro Lobato & Comp., São Paulo. Este raríssimo artigo foi enviado pelo escritor Jorge Baleeiro de Lacerda, de Francisco Beltrão, Paraná, em 2006, e constitui um dos primeiros textos de Luís da Câmara Cascudo sobre a temática folclórica.

domingo, 10 de setembro de 2017

Nessa casa morou o Cel Cascudo, Cascudinho menino. Depois, pertenceu ao capitão José da Penha.
Praça Leão XIII, hoje José da Penha.
Foi demolida para dar lugar ao Grande Hotel
C

"Antigas imagens em Cartões Postais".


André Madureira
Cartão postal com vista tomada da rua Augusto Severo, antiga rua da Frente, no centro da cidade de Macau
Essa rua ficou famosa pelos sobrados de dona Ingrácia Cariello, sobrado do coronel José Fernandes de Oliveira, pelo Grupo Escolar Duque de Caxias e o sobrado do Serviço Social da Cirne.
No prédio da esquina, no lado direito, funciona hoje o museu José Elviro. O imóvel foi cedido pela CIRNE — Companhia Industrial do Rio Grande do Norte.
Fotógrafo: Emídio do Vale
Ano: Início dos anos 50
Recorte de jornal O Poti, de Natal, 1983.


segunda-feira, 4 de setembro de 2017

IMAGEM MOSTRA NATAL (RN) EM SEUS PRIMEIROS TEMPOS

por Henrique Araujo

Natal foi habitada por povos indígenas Tapuias até aproximadamente o ano de 1000. Depois a região foi invadida por povos Tupis vindos da Amazônia, que expulsaram os Tapuias para o interior. Foi aí que um desses povos tupis passaram a habitar o local: os Potiguaras.

Depois disso, mais precisamente a partir de 1535, houve a chegada de uma frota a serviço do Rei de Portugal com objetivo de colonizar as terras da região, tarefa que sofreu forte resistência dos índios e dos piratas, e de uma nova esquadra comandada por Manuel Mascarenhas Homem pelo Rio Potengi 60 anos depois. Foi após esta última que começou a construção da Fortaleza da Barra do Rio Grande, que logo se tornou a enorme Fortaleza dos Reis Magos dos dias atuais.
E foi justamente uma dessas indas e vindas de novos povos que esta imagem curiosa foi obtida. O cenário foi registrado em forma de desenho, pois eram tempos tão remotos que não haviam máquinas fotográficas. As fotografias eram na verdade a reprodução talentosa de um momento real avistado e memorizado pelo “fotógrafo”. Ou seja, alguém de forma genial traduzia para o papel a situação que estava presenciando.

Se olharmos a cena como um todo vemos o que parece ser um desembarque na beira da praia

Ao mesmo tempo que em primeiro plano parece ser um cenário de desembarque tranquilo de mercadorias, parece ser de confronto ao fundo.

Isto porque observamos nesta parte da imagem homens que parecem checar bagagens ou mercadorias

Homens negros aparentemente são escravos a serviço de senhores brancos, estes provavelmente eram fiscais ou autoridades encarregadas da Capitania.

E pelas vestimentas e acessórios dos participantes da cena, isto se torna ainda mais claro

Os homens, que parecem ser escravos africanos, carregam cestos e usam pouca roupa, já os seus fiscais estão armados, bem vestidos e à cavalo.

E por fim nesta parte da imagem homens trabalham em algo como uma enorme rede de pesca

Note que já não haviam roupas cobrindo os criados, demostrando tempos bem antigos e rudes, e o tipo de trabalho era pesado e variado.
A imagens foram obtidas através do pesquisador Eduardo Alexandre Garcia no Facebook em um álbum entitulado “Natal dos Primeiros Tempos”. Não há informações de onde foram originadas.
É praticamente uma relíquia de um período que desconhecemos quase que totalmente, e do qual não há registro fotográfico. Se gostou veja a incrível tese de que o Brasil foi descoberto no Rio Grande do Norte e não na Bahia

Do portal: https://curiozzzo.com




domingo, 3 de setembro de 2017

BLOG MARCOU PRESENÇA NOS 93 ANOS DE ZÉ PRETINHO (ASSÚ)
















Neste sábado 02 de setembro tivemos a grata satisfação de participar de uma confraternização solidária da Família Sousa e outros amigos assuenses que foram até a casa do amigo Zé Pretinho comemorar seus 93 anos de vida completados no último 29 de agosto do mês que findou.

Foi na verdade um dia especial para o aniversariante, ensejo em  que uma quinzena de amigos estavam ao seu lado relembrando fatos e acontecimento da sua longevidade na cidade dos poetas.
Zé Pretinho era ímpar em três atividades distintas: Debaixo dos três paus defendendo o arco do Centro Esportivo Assuense, sendo até o presente  momento o nome mais consagrado dos goleiros que vestiram sua camisa. Boêmio por natureza, dono de um vozeirão que encantava todos ao som de um violão. Exímio Churrasqueiro preparava com requinte de apurado gosto uma picanha, maminha ou um contra filé na brasa.

Finalmente era um verdadeiro gentlman o goleiro que parecia o Yaschim (Aranha Negra) arqueiro da seleção Rússia considerado o melhor do mundo. Neste contexto Zé Pretinho foi o melhor do Assú. A farra bem distribuída com boa conversa, dosagens de Wisky e pinga marvada alegrando os amantes de levantamentos de copos.

Veja que todos aí são craques nesta modalidade. Juninho Sousa, sendo o mais próximo da idade do aniversariante era o capitão deste time de canavieiros. Os irmãos Itinho e Ernesto com os primos Itamar e um pernambucano que não me recorda o nome fizeram as honrarias da casa, servindo a mesa e tocando violão. Chegaram para cumprimentar o aniversariante os amigos Raimundo Almeida, Agenor Galiza, Sousa da Cosern e Antônio Primo. Por telefone muitas mensagens de Natal para Zé Pretinho: João B. Machado, Osman Cabral, Franklin Firmino, Fanfa, João Cabral, Pedrinho de Mariná, o poeta Mora da Itália e outros que na intensidade das conversas não captamos suas identidades.

 O bom do encontro é que entre os levantadores de copos não havia arremessadores de piúba (fumantes).

De Carnaubais Nilson Dias ligou dando parabéns.

O ato falho do encontro faço questão de registrar: as ausências de Paulinho Montenegro e Dailor Pessoa, ambos responsáveis pelo o nosso convite. Um ficou em Natal e o outro  estando no Piató mais o primo Juliano Bezerra, não cumpriram o acertado comigo.

Chegamos a casa do aniversariante por volta das 11:00 horas em companhia do meu filho Adílio e netos Maria Izabel e Pedro Victor, permanecemos até ás 16:00 horas.
Todavia a farra de comemoração permaneceu e tenho certeza que entrou noite a dentro.
Feliz aniversário amigo Zé Pretinho.

Postado por Aluizio Lacerda 

sexta-feira, 1 de setembro de 2017

HISTÓRIA E ESTÓRIA DA POLÍTICA POTIGUAR I

Imagem da linha do tempo/Facebook de https://www.facebook.com/franciscoverissimo.sousaneto

Francisco de Oliveira Rocha (Chico Rocha) foi um político brasileiro. Nasceu em Patu, cidade do alto oeste do Rio Grande do Norte, no ano de 1923 e veio a falecer em Manaus/AM, em 2013, aos 90 anos de idade.

Nas eleições que disputou para deputado federal pelo Rio Grande do Norte, Rocha ganhou todas. Ele foi também candidato a senador da república em 1978. Chico Rocha não tinha liderança formada no estado, porém quando as eleições se aproximavam (ela era um homem rico), comprava o voto do eleitor. Conta-se que até automóvel, Rocha doou a alguns eleitorais que ele achava confiável. Numa das eleições que ele concorreu teve o apoio do combativo deputado estadual Olavo Montenegro, do então MDB, atual PMDB (Olavo foi um dos responsáveis pela formação da Cruzada da Esperançar que levou Aluízio Alves ao governo da terra potiguar em 1960) que exercia uma forte liderança no Assu e região). Pois bem, numa certa concentração pública, na Praça do Rosário, de Assu, povão na rua, o gracioso poeta Renato Caldas subiu no palanque e pediu a palavra. No que foi concedido, abriu o verbo, dirigindo a sua fala aquele parlamentar patuense, rimando assim:
Você que é Chico Rocha
O homem que afrouxa e arrocha
Que nem rosca sem fim
Já que entrou nesta campanha
Se perder já quase ganha
Deixe um transporte pra mim.

Para risos dos circunstantes.

Fernando Caldas

Em tempo: O deputado Chico Rocha segundo o Blog da Folha Patuense http://aluisiodutra.blogspot.com.br/"exerceu as seguintes funções Parlamentares: Comissão Permanente de Transporte em 1975. Algumas Condecorações recebidas: Medalha do Pacificador - Ministério do Exército, 1966; Medalha de Prata da Polícia Militar do Distrito Federal, 1966; Título de Cidadão Itaguaiense, 1968. Estudos e Cursos Diversos: Bacharel em Ciências Contábeis e Atuariais - Escola Técnica de Comércio União Caixeiral, Mossoró, RN, 1945; Direito, Centro de Ensino Universitário de Brasília - CEUB, 1975. Missões Oficiais: Membro, Delegação de Parlamentares Brasileiros em visita ao Japão, 1977; Membro da Comissão representante da Câmara dos Deputados na posse do Excelentíssimo Sr. Governador do Rio Grande do Norte, em Natal, RN, 1975. Fonte: Câmara dos Deputados. Em 1978 Chico Rocha foi candidato a Senador pelo MDB e na ocasião o mesmo esperava o apoio de Aluísio Alves, fato que não aconteceu pois Aluísio. 

  UMA VEZ Por Virgínia Victorino (1898/ 1967) Ama-se uma vez só. Mais de um amor de nada serve e nada o justifica. Um só amor absolve, santi...