segunda-feira, 9 de setembro de 2019

Natal Nostálgica.
Estádio Juvenal Lamartine em dia de jogo, década de 20

ALECRIM… – LUÍS DA CÂMARA CASCUDO


Luís da Câmara Cascudo

Autor – Luís da Câmara Cascudo
Publicado originalmente – A República, Sábado, 10 de outubro de 1942


“O bairro do Alecrim, com todos os elementos sociais que caracterizam uma Cidade, já se espalha e derrama sua população em quilômetros e quilômetros, num avanço tentacular e dominador.
Há quem viva seis meses sem vir ao Natal porque o Alecrim é bastante para a ressonância de interesses comerciais e domésticos.
Como teria começado esse Alecrim?


Rua Amaro Barreto.

Não conta ainda cem anos de existência. Em abril de 1856, quando o Cemitério foi inaugurado, o Presidente Antonio Bernardo de Passos informava ter adquirido um carro fúnebre em razão da “grande distância entre o Cemitério e esta Cidade”.
O Alecrim ficava no fim do Mundo…
Em outubro de 1871, o Presidente Delfino informava que a única desvantagem da Fonte Pública (Bica), no Baldo, “era ficar no último ponto do bairro alto da Cidade”.


Foto postada no blog http://www.canindesoares.com
Em dezembro de 1878, o Vice-Presidente Manuel Januário Bezerra Montenegro aludia ao Cemitério, “situado à grande distância da Cidade”.
Raríssimas pessoas residiam naquele descampado. Era terra de roçados de mandioca e milho, zona de caçada para os Morros. Umas quatro casinhas, de taipa, cobertas de palha, sem reboco, denominadas “capuabas”, estavam dispersas num âmbito de légua quadrada.
Quando, a 7 de setembro de 1882, o Presidente Francisco de Gouveia Cunha Barreto pôs a primeira pedra para o “Lazareto da Piedade” (Asilo dos Alienados), o Alecrim era uma capoeira, entrecortada de tufos verdes de vegetação. Dizia-se que por ali passava a “estrada velha de Guararapes”. Nada mais.


Bonde da linha do Alecrim, fotografado em fins de 1942, pelo oficial da USAAF Robert C. Henning. Fonte – Livro Eu não sou herói-A história de Emil Petr, de Rostand Medeiros, 2012, pág. 92
Nos primeiros anos da República, o negro Manuel Lourenço possuiu o sítio mais distanciado, “Mangueira”, hoje Praça Gentil Ferreira.
Alguns cochicholos erguiam as humildes cumieiras na Av. José Bernardo e Praça Pedro II. No principio desta última residia uma velha que costumava enfeitar com raminhos de alecrim os caixões de “anjinhos” quando esses passavam caminho do Cemitério, carregados pelos meninos das escolas públicas. “A velha do Alecrim” deu origem ao apelido que se estendeu a todo bairro.
João Vicente Ferreira e Flora Lourival eram os únicos moradores, em casas distanciadíssimas, na primeira década republicana.


Igreja São Pedro e Praça Dom Pedro II no Alecrim – Fonte – https://guiadeturismoblog.wordpress.com/2016/05/17/historia-do-bairro-do-alecrim/
O ponto mais longínquo era “Mangueira”, de Manuel Lourenço (Praça Gentil Ferreira), onde depois Fausto Leiros plantou um roçado.
Seguia-se o “Alto da Bandeira”, tendo essa denominação porque o industrial Amaro Barreto, abrindo a estrada de Macaíba para Natal, ali fincou uma alta e grande bandeira para orientar os trabalhadores. Ficou o topônimo: – “Alto da Bandeira” no cruzamento da Rua Fonseca e Silva com a Av. Presidente Quaresma, num comoro.
Aí se levantava, assombrando os tardios transeuntes, a “Cruz do Amaro”, recordando o assassinato de Amaro Xavier do Nascimento, em 1894.
Outro ponto de concentração demográfica era a “Baixa da Égua”, que o Vigário João Maria mudou para “Baixa da Beleza” e onde se construiu a capela de S. Sebastião.
Em 1905, na epidemia de varíola, o Alecrim estava densamente povoado, campo da inesgotável caridade do Padre João Maria. Ao redor da Praça Pedro II, as casinhas se aprumavam.
Mesmo assim, de Natal até o Baldo (Praça Carlos Gomes), havia caminho limpo. Para cima era uma trilha serpeando no meio do mato.


Fonte – https://guiadeturismoblog.wordpress.com/2016/05/17/historia-do-bairro-do-alecrim/

Em 1912 a Escola de Aprendizes Marinheiros ficou no Refoles, articulando-se com os centros do Alecrim pela Rua Silvio Pelico. Em 1914, o Governador Ferreira Chaves fala na “grande distância para Natal”. A 15 de agosto de 1919, Alecrim é freguesia com sede na Igreja de S. Pedro.
Apesar desse progresso, ainda em 1910 caçavam veados e cotias na Av. Alexandrino de Alencar.
Atualmente, com suas praças iluminadas, auto-falantes, cinemas, jogos populares, elegâncias, confeitarias, cafés, bilhares, namoros, brigas, delegacia de polícia, farmácias, médicos, dentistas, comércio ativo e farto, Alecrim recebe, hospeda e fixa dois terços dos visitantes dos sertões seridoenses e do oeste, no amavio do seu conforto e nas possibilidades de sua atividade incessante.
Diariamente suas ruas transbordam para o sul e para oeste, crescendo, crescendo…
O Alecrim é de ontem. Em plena meninice mostra o que será na futura maturidade.”
Fonte: A República, Sábado, 10 de outubro de 1942.

ALECRIM… – LUÍS DA CÂMARA CASCUDO






Luís da Câmara Cascudo

Autor – Luís da Câmara Cascudo
Publicado originalmente – A República, Sábado, 10 de outubro de 1942


“O bairro do Alecrim, com todos os elementos sociais que caracterizam uma Cidade, já se espalha e derrama sua população em quilômetros e quilômetros, num avanço tentacular e dominador.
Há quem viva seis meses sem vir ao Natal porque o Alecrim é bastante para a ressonância de interesses comerciais e domésticos.
Como teria começado esse Alecrim?


Rua Amaro Barreto.

Não conta ainda cem anos de existência. Em abril de 1856, quando o Cemitério foi inaugurado, o Presidente Antonio Bernardo de Passos informava ter adquirido um carro fúnebre em razão da “grande distância entre o Cemitério e esta Cidade”.
O Alecrim ficava no fim do Mundo…
Em outubro de 1871, o Presidente Delfino informava que a única desvantagem da Fonte Pública (Bica), no Baldo, “era ficar no último ponto do bairro alto da Cidade”.


Foto postada no blog http://www.canindesoares.com
Em dezembro de 1878, o Vice-Presidente Manuel Januário Bezerra Montenegro aludia ao Cemitério, “situado à grande distância da Cidade”.
Raríssimas pessoas residiam naquele descampado. Era terra de roçados de mandioca e milho, zona de caçada para os Morros. Umas quatro casinhas, de taipa, cobertas de palha, sem reboco, denominadas “capuabas”, estavam dispersas num âmbito de légua quadrada.
Quando, a 7 de setembro de 1882, o Presidente Francisco de Gouveia Cunha Barreto pôs a primeira pedra para o “Lazareto da Piedade” (Asilo dos Alienados), o Alecrim era uma capoeira, entrecortada de tufos verdes de vegetação. Dizia-se que por ali passava a “estrada velha de Guararapes”. Nada mais.


Bonde da linha do Alecrim, fotografado em fins de 1942, pelo oficial da USAAF Robert C. Henning. Fonte – Livro Eu não sou herói-A história de Emil Petr, de Rostand Medeiros, 2012, pág. 92
Nos primeiros anos da República, o negro Manuel Lourenço possuiu o sítio mais distanciado, “Mangueira”, hoje Praça Gentil Ferreira.
Alguns cochicholos erguiam as humildes cumieiras na Av. José Bernardo e Praça Pedro II. No principio desta última residia uma velha que costumava enfeitar com raminhos de alecrim os caixões de “anjinhos” quando esses passavam caminho do Cemitério, carregados pelos meninos das escolas públicas. “A velha do Alecrim” deu origem ao apelido que se estendeu a todo bairro.
João Vicente Ferreira e Flora Lourival eram os únicos moradores, em casas distanciadíssimas, na primeira década republicana.


Igreja São Pedro e Praça Dom Pedro II no Alecrim – Fonte – https://guiadeturismoblog.wordpress.com/2016/05/17/historia-do-bairro-do-alecrim/
O ponto mais longínquo era “Mangueira”, de Manuel Lourenço (Praça Gentil Ferreira), onde depois Fausto Leiros plantou um roçado.
Seguia-se o “Alto da Bandeira”, tendo essa denominação porque o industrial Amaro Barreto, abrindo a estrada de Macaíba para Natal, ali fincou uma alta e grande bandeira para orientar os trabalhadores. Ficou o topônimo: – “Alto da Bandeira” no cruzamento da Rua Fonseca e Silva com a Av. Presidente Quaresma, num comoro.
Aí se levantava, assombrando os tardios transeuntes, a “Cruz do Amaro”, recordando o assassinato de Amaro Xavier do Nascimento, em 1894.
Outro ponto de concentração demográfica era a “Baixa da Égua”, que o Vigário João Maria mudou para “Baixa da Beleza” e onde se construiu a capela de S. Sebastião.
Em 1905, na epidemia de varíola, o Alecrim estava densamente povoado, campo da inesgotável caridade do Padre João Maria. Ao redor da Praça Pedro II, as casinhas se aprumavam.
Mesmo assim, de Natal até o Baldo (Praça Carlos Gomes), havia caminho limpo. Para cima era uma trilha serpeando no meio do mato.


Fonte – https://guiadeturismoblog.wordpress.com/2016/05/17/historia-do-bairro-do-alecrim/

Em 1912 a Escola de Aprendizes Marinheiros ficou no Refoles, articulando-se com os centros do Alecrim pela Rua Silvio Pelico. Em 1914, o Governador Ferreira Chaves fala na “grande distância para Natal”. A 15 de agosto de 1919, Alecrim é freguesia com sede na Igreja de S. Pedro.
Apesar desse progresso, ainda em 1910 caçavam veados e cotias na Av. Alexandrino de Alencar.
Atualmente, com suas praças iluminadas, auto-falantes, cinemas, jogos populares, elegâncias, confeitarias, cafés, bilhares, namoros, brigas, delegacia de polícia, farmácias, médicos, dentistas, comércio ativo e farto, Alecrim recebe, hospeda e fixa dois terços dos visitantes dos sertões seridoenses e do oeste, no amavio do seu conforto e nas possibilidades de sua atividade incessante.
Diariamente suas ruas transbordam para o sul e para oeste, crescendo, crescendo…
O Alecrim é de ontem. Em plena meninice mostra o que será na futura maturidade.”
Fonte: A República, Sábado, 10 de outubro de 1942.

segunda-feira, 2 de setembro de 2019

“QUEM DORME MAL, PENSA MAL, TRABALHA MAL, DECIDE MAL, VIVE MAL”

Teresa Paiva deu uma entrevista ao número de março de 2019 da revista Visão Saúde, nas bancas desde o início do mês. A entrevista tem como título  “quem dorme mal, pensa mal, trabalha mal, decide mal, vive mal”
A neurologista e especialista em medicina do sono, directora do Centro de Electroencefalografia e Neurofisiologia Clínica, referiu, por exemplo, sobre a importância do sono na capacidade e bem-estar das pessoas: 
“Está provado cientificamente que o sono é bom conselheiro no aspecto cognitivo e emocional”.
“Se aprendemos qualquer coisa e dormimos a seguir, há uma taxa de melhoria de aprendizagem. E durante o sono há uma reorganização da informação do dia a dia que leva a uma melhoria cognitiva, pois grande parte de memórias desnecessárias é deitada fora. As essenciais são guardadas e organizadas”, acrescentou.
E sobre as consequências de um mau sono disse Teresa Paiva :
“Dormir pouco é um risco social porque aumenta a violência, as más decisões, o número de doenças e de acidentes, aumenta a mortalidade precoce”.
http://www.isleep.pt

sexta-feira, 30 de agosto de 2019

Rosa - Marisa Monte

A misteriosa Ilha de Manoel Gonçalves

Por João Felipe da Trindade
A misteriosa Ilha de Manoel Gonçalves
Manoel Rodrigues de Melo tinha um sonho de escrever um livro sobre Macau, comemorativo ao 1º centenário desse município. Estava escrevendo, também, um livro sobre a família Rodrigues Ferreira, pois descendia do português Manoel Rodrigues Ferreira, um dos que deixaram a Ilha de Manoel Gonçalves para povoar Macau. Foi juntando informações, mas não sei se deixou alguma coisa pronta desses dois desejos. Mas, aqui e acolá vamos encontrando alguns registros deixados por ele.
Por um artigo na revista Bando, escrito por Manoel Rodrigues, sabe-se que houve um saque por parte dos ingleses, em 1818, na Ilha de Manoel Gonçalves. Nesse mesmo artigo cita o individuo Alexandre José Pereira como Chefe do Degredo da Ilha, revelando um lugar para cumprimento de pena. Há nesse mesmo documento trechos de uma carta escrita pelo Capitão João Martins Ferreira para o Governador José Ignácio Borges.
Não se sabe, exatamente, quando a Ilha de Manoel Gonçalves surgiu. Tampouco se sabe o ano em que ficou totalmente coberta. Se cogita, também, a possibilidade dela ressurgir. Há dúvidas, até hoje, quanto à origem do seu nome. Uns falam que se originou de um sesmeiro que a possuía, mas nunca apresentaram uma Sesmaria concedida a Manoel Gonçalves. Outros dizem que Manoel Gonçalves era um piloto que a descobriu. Como a ilha é de Manoel Gonçalves, poderia seu nome ter se originado de alguém com esse nome que viveu por lá. Talvez algum documento, ainda escondido, possa esclarecer mais adiante essa incógnita.
Acho que era um ponto de muitas atividades, e que muitas pessoas que tinham interesses na Ilha não viviam na mesma, mas sim, em algumas fazendas naquela região. Ali houve muitos casamentos e batismos. Passaram por lá padres, freis, militares, comerciantes, navegadores, degredados e outras pessoas em busca de oportunidades. É, entretanto incrível como poucas informações nos chegaram até hoje, por parte dos que moraram ou tinha algum negócio por lá. Nem os descendentes, dos que viveram ou passaram por lá, trazem informações mais precisas sobre a Ilha.
Encontramos o seguinte trecho no livro “A indústria extrativa do Sal e a sua importância na economia do Brasil” de Dioclécio Duarte
“Deixamos atrás a ilha de Manoel Gonçalves, que as águas arrebataram, há um século, criando a lenda da nova Atlântida nas terras do nordeste brasileiro. Para essa ilha, os antigos piratas, reza a tradição, conduziam o ouro que roubavam dos barcos que singravam o oceano.”
Manoel Rodrigues de Melo escreveu, sobre uma disputa de terras, entre os compadres Francisco Trajano Xavier da Cunha e o Capitão João Martins Ferreira, habitante da Ilha de Manoel Gonçalves, na Revista da Academia Norte-riograndense de Letras, de número 11, o que se segue:
“A Ilha de Manuel Gonçalves já não existia, em 1836, como centro de comércio e porto de pescaria, mas, tão somente como ponto de referência de um mundo velho que desaparecia em face de um novo mundo que surgia
E a prova é que, três anos depois, em 1839, realiza-se na povoação de Macau, em casa de aposentadoria do Capitão André de Sousa Miranda, Juiz de Paz Suplente, uma audiência, em que o Escrivão de Paz do Distrito de Guamaré, Antonio Carneiro da Costa, tomava por termo uma Petição de conciliação em que eram partes como Autores os Capitães Jacinto João da Ora, Francisco Trajano Xavier da Cunha, José Pedro da Silveira, Tenente Coronel João Marques Carvalho, e como Réus o Capitão João Martins Ferreira e sua mulher Dona Josefa Clara Lessa.”
A essa audiência compareciam, como procurador de José Pedro da Silveira, Tomas Vieira de Melo, e como procurador do Tenente Coronel João Marques de Carvalho da Silva Loureiro, o Coronel Jerônimo Cabral Pereira de Macedo.
Este documento, trás, a meu ver, muita luz à história de Macau, pois nele figuram Jacinto João da Ora e João Martins Ferreira, dados como fundadores da nova povoação, além do Coronel Jerônimo Cabral Pereira de Macedo, que teria mais tarde, grande atuação, na elevação à categoria de Vila e depois Cidade de Macau.
Além disso, as terras em questão eram as sobras denominadas Canafístula, da data do Curralinho, e Águas Novas, do mesmo município, ainda hoje conhecidas por estes nomes.”
Para concluir, transcrevo um registro de casamento na Ilha de Manoel Gonçalves, no ano de 1830, e um batismo em 1840. Lembro que Francisco Lopes Galvão casou na Ilha, em 1835, com Felipa Maria da Conceição.
“Aos dezoito dias do mês de Julho de mil oitocentos e trinta pelas nove horas da manhan na Capela de Nossa Senhora da Conceição da Ilha de Manoel Gonçalves, com minha presença e das testemunhas abaixo nomiadas, se receberão por Esposos presentes, Nicolau Vieira de Mello e Maria Francisca da Fonseca meus fregueses, Dispensados os Proclamas pelo Ilustríssimo e Reverendissimo Senhor Doutor Provisor. O Esposo de vinte e seis annos, filho legitimo dos fallecidos Vicente Correa de Mello e Maria Dantas Faria, a Esposa de vinte e dous annos filha legitima de José Antonio da Fonseca e Maria Magalona, naturaes e moradores neste Assu e sem impedimento logo lhes dei as bênçãos matrimoniaes, sendo primeiramente confessados e examinados na Doutrina Christan, presentes por testemunhas o Capitão João Martins Ferreira e o Capitão Silvério Martins de Oliveira, casados, todos deste Assu, e para constar fis este assento em que me assignei, Joaquim José de Santa Anna, Parocho do Assu.”
O último registro que encontrei, até agora, na Ilha de Manoel Gonçalves, foi o batismo de Maria, filha de Francisco de Sousa e Maria Ferreira, na data de 23 de Novembro de 1843, pelo Coadjutor Francisco Urbano de Albuquerque Montenegro. Esse mesmo Coadjutor esteve batizando no dia 25 em Alagamar, no dia 26 na Boca do Rio e em 1 de Dezembro, do mesmo ano, nas Oficinas.

segunda-feira, 26 de agosto de 2019

JESUINO BRILHANTE, O FILME

Em 1972 o povo hospitaleiro e generoso do Assu de tantos poetas, de tradições pioneiras, recebeu um grupo de atores (cabeludos) cinematográficos, para que aquela cidade e região, fosse cenário principal do primeiro filme longa metragem produzido no Rio Grande do Norte, intitulado "Jesuíno Brilhante, O Cangaceiro", produzido pelo cineasta potiguar de Ipanguaçu/RN, então radicado no Rio de Janeiro, onde veio a falecer em 1991 chamado artisticamente de William Coobet (Cosme na tradução, seu sobrenome de registro, família tradicional daquela terra ipanguaçuense).


O filme tem fotografia de Carlos Tourinho, música de Mário Pariz e o seu protagonista é Neri Vitor, produção de Eliana Coobet. É uma produção em Eastmancolor. Suas filmagens tem duração de 1h40m., 35mm e o seu produtor associado é Jonas Garret. O enredo é sobre o cangaço e o gênero é de aventura - rodado que foi em reprise com destaque no 15º Festival de Cinema de Natal, realizado no mês de julho de 2006. Fez sucesso no Brasil e foi rodado especialmente a convite no Festival de Moscou, em 1973. Algumas das suas cópias estão espalhadas em diversos países como Russia, Espanha, Romênia, Checoslováquia, Índia e Polônia.

Conta a história de um cangaceiro romântico chamado Jesuíno Alves Calado (Jesuíno Brilhante), nome que herdara de seu tio, também cangaceiro. Jesuíno nasceu no sítio "Tuiuú", distante sete quilômetros da cidade de Patu, região oeste do Rio Grande do Norte.

Câmara Cascudo depõe que Jesuíno "é o primeiro cangaceiro na memória do oeste norte-rio-grandense. Deixou funda lembrança de valentia, destemor e fidalguia. Era o aut-low gentlil homem, imperioso, arrebatado, incapaz de insultos por vaidade ou de uma agressão inútil."

Voltando ao filme, participaram da filmagem, artistas de nome nacional como Neri Victor, Rodolfo Arena (como Soares), Vanja Orico (como Maria de Goes - lembro-me que Vanja fora hóspede da escritora Maria Eugênia - além de Waldir Onofre (como Zé), Miltom Vilar (como Francisco Limão), Hilda Melo (como Margarida), Maria Lucia Escócia (Jesuíno´s Mother), Wandick Wandré, Rojerio Tapajós (como Silvestre), Eriel José (como Jojeu), Helio Duda (como Juvenal), Mário Paris (como Cobra Verde, Anteór Barreto (natural de Ipanguaçu), além de Regina Accioli, Clementina de Jesus, Jesiel Figueredo (ator potiguar que fez uma cena no Forte dos Reis Magos como o governador da província), Tony Machado, Rui Marques, Daniel Rosental e Nestor Saboia.

Varias pessoas da sociedade assuense deram a sua colaboração como figurantes. Entre tantos: Pedro Cícero de Oliveira, José Caldas Soares Filgueira Filho (Dedé Caldas), Zélia Amorim, Francisco Evaristo de Oliveira Sales (dr. Sales) que foi médico em Assu durante décadas, José Marcolino de Vasconcelos (Dedé de Aiá), Raimundo Márcio Borges de Sá Leitão (Itinho de Durval), Monte Lacerda, Fernando Montenegro, entre outros.

Além do município do Assu, as filmagens fora produzida em Ipanguaçu, Mossoró, Tibau, Patu e nos cerrados de Lages, bem como na cidade do Natal, onde fora concluída a filmagem.

Voltando a vida de Jesuíno, Sinhazinha Wanderley no livro de Walter Wanderley intitulado Família Wanderley, 1965, conta que no Assu existiu um pequeno museu onde se encontrava exposto um pedaço do osso do braço de Jesuíno Brilhante que fora morto pela polícia da paraíba no lugar denominado Palha, distrito do Estado da Paraibano.

Fica, portanto, esse registro, como um fato cultural de muita relevância para o Assu, pois, esse filme é patrimônio cultural que deve ser relembrando e ficar catalogado nas paginas da historia assuense e do Rio Grande do Norte.

Fernando Caldas



domingo, 25 de agosto de 2019

TROVINHAS DE RENATO CALDAS


Renato Caldas viajando de Assu com destino à Natal, deu uma paradinha num certo restaurante à beira da estrada, para almoçar e tomar ''umas e outras'. Depois de uma dúzia de cerveja, pediu a conta e prosseguiu viajem. Ao chegar no lugar de destino, encontrou entre a sua bagem, uma colher que,.provavelmente, seria do restaurante onde antes teria almoçado e bebido cerveja. Aquele recinto tinha uma garçonete  muito bonitona que carinhosamente era chamada "Chiquinha", mulher que ele, Renato,  muito admirava. Dias depois, de volta ao Assu, sua terra natal, parou naquele mesmo restaurante e, ao adentrar naquele recinto foi logo em direção a Chiquinha, entregando a ela, uma um papel de cigarros com a inscrição que diz assim:

Estou de volta, Chiquinha,
Pra trazer sua colher.
De coisa que não é minha
Eu só aceito mulher.

Renato, aos seus 70 anos de idade,  já sentia o peso da idade, a tristeza da cegueira (catarata quando não ainda não tinha cura), trovou com aquela irreverência que lhe era peculiar:

Está cegando Renato,
Pois, um objeto qualquer
Só conheço pelo tato...
Principalmente mulher.

E essa outra trova afirma o quanto ele, Renato, era conformado com a cegueira que lhe acometera durante grande parte de sua vida. Vejamos:

Meus olhos estão cegando,
Não maldigo a escuridão!
Pois cinto que vai raiando
A luz da conformação.

Nas eleições municipais de 1988, eu, Fernando Caldas, o editor deste blog, disputei a reeleição para vereador. Passando pelo centro da cidade me deparo com certo vendedor de canjica (iguaria típica da culinária do Nordeste brasileiro). Comprei aquela iguaria e pedi ao vendedor que entregasse a Renato Caldas. Dito e feito. Renato entendeu que eu estava querendo agradá-lo, para conquistar novamente o seu voto. Ele não perdeu a oportunidade, me enviando por aquele vendedor, essa trovinha escrita num pedacinho de papel:

Fernando, você triste fica
A proposta não convém,
Por um prato de canjica
Eu não voto com ninguém.

Chico Dias, Mirranha, Bodinho e JB, são figuras folclóricas da cidade de Assu. Nas eleições municipais de 1976, ambos se candidataram disputando uma cadeira na Câmara Municipal da terra assuense. Amos usavam o mesmo carro de som para falar ao povo da cidade e fazer a propaganda política. Chico era estudante, Mirranha motorista de profissão, Bodinho era funcionário da prefeitura (fiscalizava a carne vendida na pedra do Mercado Público) e JB, funcionário aposentado dos Correios que gostava de tomar 'umas e outras'. Pois bem, ficaram sendo chamados por adversários políticos local, como palhaços. Chico procurou Renato para fazer um versinho em sua defesa e dos demais. Renato trovou:

Dias fala aos estudantes,
Mirranha aos motorista.
Bodinho fala aos marchantes
Aos bêbados fala Batista.

Renato Caldas veraneando na casa de praia de seu cunhado Manoel Soares Filgueira Filho, mais conhecido como Bilé Soares (Bilé era pecuarista no Vale do Açu e fora superintendente da Caixa Econômica Federal/RN, nomeado por Café Filho, quando presidente da república, ambos eram amigos íntimos). Noite alta, acordou e, ao sair de casa para apreciar as belezas do mar, escreveu a trova (Conta-se que Câmara Cascudo muito apreciava esses versos), escreveu no melhor de sua inspiração, irreverência e criatividade poética:

Saí de casa andando,
Com vontade de mijar
E vi a lua cagando
No penico azul do mar.

Num certo Concurso Nacional de Trovas que tinha como tema "A Andorinha", Renato participou e, como não podia ser diferente em razão do seu estilo irreverente de poetar, mandou essa trova, pra sua desclassificação:

Uma andorinha assustada
Por cima dos capteis,
pensa em dar uma cagada
Na cabeça dos fiéis.

O ex-deputado  estadual Nelson Montenegro reunia costumeiramente amigos em sua casa da praça Getúlio Vargas ou praça da Matriz, para um amistoso bate-papo. Renato era um dos seus frequentadores assíduos. Pois bem, Nelson Certa vez fora picado por um potó (inseto de mijo ardente). Renato escreveu:

Sofre o pobre e sofre o rico
Todos tem o mesmo fim.
Porém, eu não sou penico
Pra potó mijar em mim.

Renato andou o Brasil de ponta a ponta, nas suas intermináveis andanças de romântico caminheiro, no dizer de Expedito Silveira. E de ponta a ponta ficou conhecido. Visitando a  cidade de Pedreira, interior do Piaui, alguém lhe pedira para fazer um verso em homenagem aquela terra piauense. Renato Caldas não deixou para depois:

Jardim de pedras imensas
No engate da pedra bruta,
Quem disse que esta merda presta
É um grande filho da puta.

Fernando Caldas

Capitão Manoel Varella Barca, lá de de Assú (III)


João Felipe da Trindade (jfhipotenusa@gmail.com)

Professor da UFRN, membro do IHGRN e do INRG

Manoel Varella Barca fez seu testamento em 10 de abril de 1844, na Fazenda Sacramento, tendo sido escrito por João Martins de Sá Junior. Nas suas disposições destacou uma sorte de terras, chamada Sítio Caeira ou Mutamba, herdada dos seus pais, para Maria Beatriz e Manoel de Mello Montenegro Pessoa, em atenção a fiel amizade que ambos dedicaram a ele. Fez, também, um destaque especial para a neta e afilhada Lusia Leopoldina, casada com Felis Francisco da Silva, em atenção à pobreza em que se achavam.

O segundo casamento do capitão Manoel Varella Barca foi com Dona Francisca Ferreira Souto, como vimos no primeiro artigo desta série. Vamos, pois, escrever um pouco sobre os filhos desse casal.

Domingos Varella Barca, com a idade de 20 anos, casou, em 9 de abril de 1823, na Fazenda Estreito, com Dona Gertrudes Lins Pimentel, 22 anos, filha de João de Souza Pimentel e Dona Josefa de Mendonça Lins. Houve dispensa pelo parentesco em que estavam ligados. Estavam presentes João Maurício Pimentel e Francisco Varella Barca, ambos casados.

Rosa Francisca Ferreira Souto, outra filha de Manoel e Francisca, com 29 anos de idade, casou, também, na Fazenda Estreito, em 11 de maio de 1833, com José da Fonseca Silva, de 28 anos, filho legítimo de João da Fonseca Silva, falecido, e dona Anna Maria de Jesus. Estavam presentes João Pegado de Sirqueira Cortez, casado, e Gaspar Freire de Carvalho, solteiro.

De Dona Maria Beatriz Paz Barreto não encontrei o registro de casamento. Era casada com Manoel de Mello Montenegro Pessoa, natural de Goianinha. Ovídio, filho desse casal, nasceu aos 16 de novembro de mil oitocentos e trinta e cinco, e foi batizado, pelo Vigário Colado do Seridó, na época visitador, Francisco de Brito Guerra, em 6 de janeiro de 1836, na Matriz de São João Batista do Assú. Teve como padrinhos José Varella Barca, solteiro, e Angela Garcia de Araújo Freire, viúva; Manoel, outro filho de Maria Beatriz e Manoel de Mello, nasceu aos vinte e quatro de outubro de 1836, e foi batizado pelo vigário de Santana do Matos, Padre João Theotonio de Sousa e Silva, na Matriz de Assú, aos trinta do mesmo mês e ano. Foram padrinhos o capitão Manoel Varella Barca, casado, e Maria Hermelinda de Albuquerque Montenegro.

Maria Francisca Silvina Souto tinha 26 anos quando casou, em 22 de Agosto de 1833, no oratório de José Varella Barca, com o português João Rodrigues de Mesquita, 30 anos, filho legítimo de Antonio Rodrigues de Mesquita e Maria Joaquina, ambos falecidos. Estiveram presentes João Pio Lins Pimentel e Francisco Varella Barca, casados.

João Pio Lins Pimentel, citado acima, filho de João de Sousa Pimentel e Josefa de Mendonça Lins, casou, em 30 de janeiro de 1826, na Matriz de Assú, com Francisca Ferreira Souto, outra filha de Manoel e Francisca Ferreira Souto. Foram dispensados por impedimento no terceiro grau de consanguinidade, atingente ao segundo. Estavam presentes José Varella Barca, ainda solteiro, e Francisco de Sousa Caldas, casado. João Pio era irmão de Gertrudes, esposa de Domingos Varella.

Na época do inventário Dona Francisca Ferreira Souto, a esposa de João Pio, já falecida, foi representada pelos filhos João Pio Lins Pimentel Junior, maior de 21 anos, Francisca Victorina casada com Tertuliano de Alustau Lins Caldas, Irene, Maria, Josefa, Manoel, Júlia e Luis, com 11 anos de idade..

Manoel Varella Barca Junior, outro filho do segundo casamento, tinha o mesmo nome do primogênito de Manoel Varella Barca. Era, também, falecido, na época do inventário do pai. Com vinte e dois anos de idade, casou, em 23 de fevereiro de mil oitocentos e trinta, no sítio (ou fazenda) Estreito, com Ignácia Theodósia de Mendonça, de 22 anos de idade, filha de João de Sousa Pimentel e Dona Josefa Lins de Mendonça, dispensados, também, dos impedimentos que estavam ligados. Estavam presentes, o capitão Manoel Varella Barca e João Maurício Pimentel, casados. Ignácia, como se pode ver dos registros anteriores, era irmã de João Pio Lins Pimentel e Gertrudes.
No inventário, Manoel Varella Barca Junior foi representado por sua filha Francisca Theodósia de Mendonça Caldas, viúva. Não encontrei mais informações sobre essa neta do capitão. Foi seu procurador no inventário, Luiz Gonzaga de Brito Guerra.
José Varella de Sousa Barca, foto enviada por descendente Francisco Varela Barca

Fonte: Hipotenusa

UM POUCO SOBRE MEUS ANTEPASSADOS

Meus bisavós chamados Manoel Cavalcante de Queiroz e Vigorvina Fontes Fernandes de Queiroz (Fotografias abaixo) nasceram na então Vila de Lu...