terça-feira, 14 de julho de 2020

Nessa vida já dei muita mancada
Por cachaça, já fiz muita baderna
Dava o passo maior que minha perna
E o meu ímpeto sempre acabava em nada
Vi toda a minha fama acabada
Parei por um instante e pensei
Não foi isso da vida o que almejei
Vou agir de forma mais cautelar
APRENDI COM O TEMPO, A ESPERAR
POIS QUANDO TIVE PRESSA, EU ERREI

sábado, 11 de julho de 2020

Alba Fonseca de Sá Leitão



Morreu Alba Leitão. Hoje. Desaparece  com ela uma época.

Alba Leitão personificou o glamour, em Assu, por muitos anos.  Ela foi a imagem dos bailes elegantes e das grandes festas, quando se apresentava com vestidos especiais, calçava luvas, colocava sapatos altos  e resplandecia  pelo bom gosto.  Gestos e voz se harmonizavam.  Eram os anos finais da década de 1950. A década de 1960. Os anos dourados das orquestras que enchiam o ar com o som dos metais, ou  o  ritmo dado pelas maracas, pois as grandes orquestras  seguiam o estilo americano ou mexicano. Esse era o ambiente em que Alba se movia e impregnava de elegância.

Para compor a  personagem  vem a frase  que lhe atribuía a qualidade de árbitro da moda, na cidade. 

Se Alba  vestiu é porque está na moda, era o sussurro à sua passagem.  Mas   não era uma moda  simplesmente  vinda da costureira fina e dos tecidos nobres  ou como decorrência da   reprodução dos  trajes  da revista “O Cruzeiro” ou dos figurinos  importados. A moda de Alba era feita de  bom gosto e, por isso, conferia  destaque e se afirmava sem retoques, por inteiro como um retrato completo e perfeito.  Tudo era exato, nem a mais nem a menos. A fulguração era suave, pois não era de bom tom a estridência.

Não  me recordo de qualquer vestido  que Alba usou para descrever aqui. Dos adornos do que poderia ser chamado de vaidade, lembro apenas os brincos de pérola presos à orelha, grandes pérolas, clássicas. O que descrevo, esse pouco mundano ou material,  é próprio da elegância, em que  o  importante é o  gesto, a postura, a voz, um conjunto que identifica a pessoa e lhe cria uma marca pessoal, inimitável. Um certo  jeito de dizer. Uma certa forma de se comportar.  Um conjunto que  registra o estar no mundo, ocupando o lugar que é seu  e é único.

Afinal o poeta Paulo Valery afirmou  que – “Elegância é a arte de não se fazer notar, aliada ao cuidado sutil de se deixar distinguir.”

Dessa forma feita de harmonia e sutileza, Alba compôs  o retrato das festas  que, como dizia dona Sinhazinha, o Assu já teve. De finesse e harmonia. O grandioso palco da época foi o Clube Municipal. E o som de Orquestras como a de Ed Mandarino que animaram festas nos anos 1960 e sempre retornam à saudade daquela época.

Hoje Alba partiu. Ao encontro de José de Sá Leitão. Ao encontro dos familiares que a precederam. 

Foi para a casa do Pai Eterno. Ficaram  seus filhos, Raissa e Caio César, que, em meio às lágrimas da despedida, devem encontrar o conforto da gratidão nos anos de vida de Alba. Para os assuenses,  faço o registro que homenageia e relembra  toda uma época que recendia a rosas e  modula  as lembranças  com os  afetos. Uma luz  que presente nas histórias  que são contadas  sobre Assu.

Perpetua Wanderley,  10/07/2020

(Fotografia do blog).



quinta-feira, 9 de julho de 2020

IMPOSSÍVEL
Tudo findo. Deixaste-me e seguiste
O primeiro que veio ao teu caminho;
Não pensaste sequer que fiquei triste,
Preso à desgraça de viver sozinho!
Dois longos anos! ... Nunca mais me viste! ...
Foram-se as aves, desmanchou-se o ninho! ...
Hoje, me escreves: "Meu viver consiste
Na mistura de lágrimas e vinho!"
E me imploras: "Perdoa-me e consente
Que eu vá viver contigo novamente,
Pois só contigo poderei ter paz!"
Eu te perdôo... mas o empecilio é este;
Eu amava aquela alma que perdeste...
Alma que nunca reconquistarás! ...
(Rogaciano Leite)
Fortaleza, Dezembro de 1948.

terça-feira, 7 de julho de 2020


RESGATE DO LENDÁRIO VALDETÁRIO CARNEIRO NO IMAGINÁRIO POPULAR

A história do Valdetário de 'carne e osso' - Tribuna do Norte

Entre as muitas façanhas e bravuras no campo da violência e criminalidade legada ao vasto histórico de Valdetário Carneiro, encontramos um causo que achamos por bem transcrever como um resgate do tempo em que seu nome imperava como terror no município de Caraúbas, RN e estados circunvizinhos. 
Veja a belíssima narrativa do episódio intitulado - O Finado Manoel:
O lendário Valdetário Carneiro também teve seu dia mais descontraído quando acabou contribuindo para os Causos de Caraúbas.
 Ia ele na sua pickup possante na zona rural de Apodi, quando já próximo da cidade, um senhor, meio alquebrado pelos anos, acenou pedindo carona.
Valdetário prontamente atendeu o pedido, abriu a porta e facilitou a entrada do passageiro. Já aboletado e no conforto do ar condicionado o senhor começou a puxar conversa:
“O senhor vai pro Apodi?” “Vou sim”, respondeu Valdetário. “Vou tratar de negócios no Banco”.
Aí o carona por gratidão resolveu dar uma de conselheiro: “ O senhor tenha cuidado. Se vai tirar dinheiro no Banco e andando nesse carrão, aqui por essas bandas, há muita gente perigosa por aí.
Tem um tal de Valdetário Carneiro de muita fama na região que pode ser um grande risco, principalmente pra quem é de fora.”
Valdetário riu da situação e até agradeceu: “Obrigado, eu vou ficar atento”.
Em seguida devolveu a pergunta: “E o senhor não tem medo de estar sozinho nessa beira de estrada?
E se de repente lhe aparece o tal do Valdetário Carneiro?” .
“Ele que venha” completou o carona com aquela valentia de quem se sente em confortável distância do perigo.
E ainda acrescentou “ Um homem nasceu pra outro”.
Chegados ao destino, o carona já ia descendo quando resolveu fazer mais uma pergunta em meio aos agradecimentos: “Obrigado por tudo senhor. Vá com Deus. Mas como é mesmo o seu nome?” Com toda naturalidade Valdetário respondeu: “Eu sou Valdetário Carneiro.
E o senhor, como se chama?”
Branco como um capucho de algodão, suando por todos os poros, com as pernas trêmulas e a voz embargada, o carona mal conseguiu balbuciar: “Eu sou o finado Manoel”.

Postado por Aluizio Lacerda às 12:52


SONETO

Pobre, morri sem me ver... Disseram
Os que da parte dela me chamavam...
E havia lágrimas no falar... Vieram
Porque seus tristes olhos me buscavam.

Noite... Segui... Os homens soluçavam.
E, nos meus olhos  só tristeza leram,
Os que  subiram e, a tremer desceram
Na noite escura em que me acompanhavam.

Cheguei tremendo...e, quando aberta a  porta,
Era tarde demais: - estava morta,
- Pertencia-lhe a glória do renome...

Vi-a e notei: nas lágrimas do rosto
Soluçava meu nome com desgostos,
Repartindo nas sílabas do nome.

João Lins Caldas

Mostre suas feridas somente a quem pode curá-las. Saiba pedir; saiba a quem pedir.
(Câmara Cascudo)
MEU TORRÃO DE ANTIGAMENTE
A panela era de barro;
O fogão era a lenha;
O café era torrado em casa, batido no pilão;
O sabão era em pedra, de oiticica;
O banho era de cuia e de balde;
O vaso de sanitário era de cimento e latrina;
A lâmpada era o candeeiro, a piraca e a lamparina;
A geladeira era o pote e a moringa;
O bebedouro era a 'quartinha';
A piscina era o açude;
O carro de lixo era a carroça;
O sapato era a sandália de couro;
A televisão era o rádio de marca ABC;
A fechadura era a tramela;
O supermercado era a bodega;
O baile era o assustado;
O mosquiteiro era o esterco de boi;
O refrigerante era o ponche de limão;
O carro era a carroça e o jumento.
E por aí, vai...
Calaça é poeta e cordelista matuto.

Marcos Calaça, Poeta potiguar

A imagem pode conter: Marcos Calaça

sábado, 4 de julho de 2020



Procuro-te
Procuro a ternura súbita,
os olhos ou o sol por nascer
do tamanho do mundo, 
o sangue que nenhuma espada viu,
o ar onde a respiração é doce,
um pássaro no bosque
com a forma de um grito de alegria.
Oh, a carícia da terra,
a juventude suspensa,
a fugidia voz da água entre o azul
do prado e de um corpo estendido.
Procuro-te: fruto ou nuvem ou música.
Chamo por ti, e o teu nome ilumina
as coisas mais simples:
o pão e a água,
a cama e a mesa,
os pequenos e dóceis animais,
onde também quero que chegue
o meu canto e a manhã de maio.
Um pássaro e um navio são a mesma coisa
quando te procuro de rosto cravado na luz.
Eu sei que há diferenças,
mas não quando se ama,
não quando apertamos contra o peito
uma flor ávida de orvalho.
Ter só dedos e dentes é muito triste:
dedos para amortalhar crianças,
dentes para roer a solidão,
enquanto o verão pinta de azul o céu
e o mar é devassado pelas estrelas.
Porém eu procuro-te.
Antes que a morte se aproxime, procuro-te.
Nas ruas, nos barcos, na cama,
com amor, com ódio, ao sol, à chuva,
de noite, de dia, triste, alegre — procuro-te.
Eugénio de Andrade
Ninguém atira pedras em árvore que não dá fruto.
Nem inimigo estaria atacando, se não tivesse algo de muito bom dentro de ti.
Porque ladrões não se dão ao trabalho de tentar roubar casas vazias.
Fica esperta, fica crente. 

Cristina Costa

sexta-feira, 3 de julho de 2020



Do http://rabiscosdosamueljunior.blogspot.com/
Quero asas de borboleta pra que eu encontre: O caminho do vento... As flores dos sonhos... A janela do meu ser... O caminho de mim... Keylacandido
Do livro: À SOMBRA DOS JUAZEIROS (páginas 51 e 52): ISSO É CAGADO E CUSPIDO PAISAGEM DE INTERIOR Brinquedo de roladeira Garoto tá com ramela Fechadura de tramela Menino de baladeira Tem pontaria certeira Respeito o agricultor E também o professor Cachete é um comprimido Isso é cagado e cuspido Paisagem de interior. Cachaça boa e caju Curral de vaca de osso No rio, banho de poço Esgoto tem cururu No mato peba e tatu Tem a carroça e trator Açude sem pescador O jumento é atrevido Isso é cagado e cuspido Paisagem de interior. A velha rede no canto Cuscuz com porco torrado O boi puxando um arado Oratório tá com santo Fogo fátuo e espanto Sertanejo é produtor Coitado do eleitor O ferro à brasa aquecido Isso é cagado e cuspido Paisagem de interior. A gaiola e alçapão Lua linda prateada A poeira na estrada A porteira com mourão Tem poeira no estradão Vira-lata caçador Tem touro reprodutor Ele está gordo e nutrido Isso é cagado e cuspido Paisagem de interior. Tem um velho desdentado Pimenta ao leite curtida Cachorro lambe ferida Chapéu de palha furado Um retrato amarelado O cavalo tem valor Queijo novo com sabor Guri prova de metido Isso é cagado e cuspido Paisagem de interior. Mote: Poeta Jessier Quirino. Estrofes: Cordelista Marcos Calaça.

PROIBIDO PARA MENORES DE 50 ANOS

Valério Mesquita*
Mesquita.valerio@gmail.com
Eu me lembro, eu me lembro das antiguidades como forma de renascer o espírito adormecido em todos nós. Não adianta enfrentar somente e sozinho o mundo novo das descobertas tecnológicas. É preciso, sempre que possível, retroceder ao tempo do Melhoral, da Emulsão de Scott, do Sal de Frutas Eno e do Calcigenol Irradiado. Ah, o perfume do Sabonete Ross no corpo úmido da namorada antiga. Aquele sorriso emoldurado pelo Batom Colgate e o brilho nos dentes da Pasta Odol. Como eram mágicos aqueles dias do Óleo Glostora, da Pasta Colype e da Brilhantina Coty. Não precisava de Saridon nem Instantina para dor de cabeça. Vivia-se forte com o Biotônico Fontoura e as Pílulas de Vida do Dr. Ross.
Eu me lembro, eu me lembro que tudo aquilo era um estágio esplêndido de ilusória felicidade. Como era gostoso o Vinho Reconstituinte Silva Araújo. E o jingle: “A dor logo passa quando se passa Gelol”. Na cozinha, a Cônsul a querosene, e na sala, o rádio a bateria faziam “reclame” do Sabonete Eucalol patrocinador do programa “Balança Mas Não Cai”, da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, e do programa de auditório do César de Alencar. Ah, os anos cinquenta das novelas “O Direito de Nascer” e “O Vento Levou...” e a propaganda da Cera Parquetina, a “amiga da Etelvina”. Que alegre retorno aos faroestes de Gene Authry, Roy Rogers, John McBrow, Durango Kid, Buck Jones, Hopalong Cassidy, Tom Mix ou os seriados do Capitão América, Batman e Robin, A Mulher Tigre ou a Deusa de Joba.
Em busca do tempo perdido me envolvo na fumaça da Souza Cruz, dos Cigarros Continental, Astória, Lincoln e os mais baratos Asa, Iolanda, além do charuto Valquíria. Um mundo velho de memória olfativa, vai, cada vez mais, me conduzindo às ternas lembranças do Almanaque Capivarol ou o da Saúde da Mulher que recomendava o Regulador Xavier: número 1, excesso e número 2, escassez, para aqueles dias do sexo frágil. Relembro as aguardentes Dois Tombos e Olho D’água e os não menos famosos Ron Merino e os conhaques São João da Barra e Macieira, que eu misturava no leite cru, ao pé da vaca, para curar tosse, bronquite e resfriado. E o Talco Palmolive, o Talco Gessy, o Sabonete “Vale Quanto Pesa” que era “grande, bom e barato” e não são mais fabricados como antigamente. Sapato era Fox, bico fino.
A farmacologia era abundante e que hoje não se vê mais nas prateleiras: Iodone Robin, Maitenil, Gotas de Carvalho (ainda existe?), Takazima, Bromil, Alcachofra, Chophitol (ainda se vende), Mezarin e tantos outros que só uma pesquisa pode me acudir.
O fato é que esse universo de produtos, imagens, e equipamentos desaparecidos registram uma época, balizam um tempo que foi modificado por novas invenções e tecnologias. São marcas que se foram, substituídas pelas descobertas e mudanças de um mundo que se renova. Vale a pena registrar porque todas essas coisas impregnaram a vida de muitos, hoje maiores de cinquenta anos.
(*) Escritor.

UM POUCO SOBRE MEUS ANTEPASSADOS

Meus bisavós chamados Manoel Cavalcante de Queiroz e Vigorvina Fontes Fernandes de Queiroz (Fotografias abaixo) nasceram na então Vila de Lu...