sábado, 28 de abril de 2018

NOTA DE PESAR DO DEPUTADO GEORGE SOARES PELO FALECIMENTO DE EDMILSON CALDAS

O deputado estadual George Soares (PR) manifesta seu pesar pelo falecimento de Edmilson Lins Caldas, neste último dia 26. Agropecuarista, cooperativista e cidadão assuense de caráter ilibado.
EDMILSON LINS CALDAS  foi um dos grandes amigos de meu avô, o saudoso Edgard Montenegro, e possuía uma relação de grande amizade com nossa família. Estamos tristes com a sua partida aos céus, mas sabemos que será bem recebido no Reino de Deus por ter uma alma boa e que a dor dos que sentem sua falta possa ser confortada.
Seu Edmilson foi um assuense exemplar e deu grande contribuição ao desenvolvimento econômico e social de nossa terra e do Vale do Açu. Uma reserva moral que agora está ao lado do nosso Senhor Jesus. Luto.
Deputado George Soares

quinta-feira, 26 de abril de 2018

NOTA
Comunico aos familiares e amigos que tombou ferido de morte, meu velho pai (aquele que me levantou de todas as quedas que sofri na vida) chamado Edmilson Lins Caldas. Morreu como sempre viveu: tranquilo, sereno e em paz com Deus e com os homens.
(O seu enterro ocorrerá amanhã às 16 horas na cidade de Assu).

Fernando Caldas

quarta-feira, 25 de abril de 2018

Escola de Sagres
Vicente Serejo
O Grande Ponto do meu tempo era para nós, os mais jovens, uma espécie de Escola de Sagres. Dali, ouvindo lições de marear, partíamos para o mar-oceano, e uns chegavam a dobrar o Borjador. Assim foi comigo e com toda minha geração. Uma escola de paixões. Uns eram apaixonados por cinema; outros, por artes plásticas, e outros mais por literatura. Além dos mais lidos e bem informados que entendiam de tudo, pois naquela pequena praça cabia o mundo que a nossa imaginação construía. Sem soberba e sem ambição.
De uma feita fizeram uma reforma na Praça Kennedy. O busto, sobre uma pequena parede, ficou mais para os lados do Nordeste, com aquela frase em letras de bronze, e nos canteiros que eram rentes ao chão ergueram umas jardineiras. Espécie de jardins suspensos do Potengi. Daí o apelido de Cocadas que nasceu para identificar aqueles volumes sobre os quais nós nos sentávamos. Do nosso Promontório olhávamos o oceano e sonhávamos com atlânticas viagens que só muitos anos depois conseguimos realizar.
Aliás, ali também tínhamos aquilo que nem mesmo nós sabíamos, porque o modismo da expressão só viria muito tempo depois: o pluralismo democrático. A liberdade de pensamento e de expressão das nossas opiniões, com alguns pontos de convergência centrados nos mais experientes nas leituras e descobertas do mundo. Como Inácio Magalhães de Sena e Manoel Onofre Jr., que um dia se fez juiz, chegou a desembargador anos depois, mas sempre fiel aos velhos amigos do Grande Ponto, como até hoje.
Eram estudantes de medicina, direito, engenharia, profissionais disso ou daquilo, quase todos de famílias simples e a espera de um bom destino. Naqueles anos sessenta, a vanguarda natalense esperneava em festivais e happenings – isso que hoje chamam de performances – sonhando mudar o mundo. Marcos Silva espantava a cidade cantando no Palácio dos Esportes com um despertador no pescoço; Mirabeau com o carrocel de cavalinhos; Dailor fazendo poema-processo, e Falves, o maldito, expondo no Francesinha.
Duas mulheres abalavam nossas fantasias eróticas: Gisele, a espiã nua que abalou Paris, em historias de livros de bolso; e Justine, do Marquês de Sade, que circulava numa misteriosa edição portuguesa, de capas vermelhas, que um dia caiu na nossa curiosidade pelas mãos de Neguinho. Um tipo magro, cobrador de uma famosa clínica de odontologia, sempre numa bicicleta preta, de farol e buzina, pregando a revolução socialista sussurrada com certo charme, até que um dia desapareceu envolvido numa nuvem suspeitíssima.
O Grande Ponto do meu tempo tinha Manida, o louco genial que pregava a força acima de todas as coisas. Nestor, do Magazin Jóia, uma pequena perfumaria ali na esquina da Rio Branco com a João Pessoa, a descrever ao vivo as maiores e mais apaixonantes conquistas amorosas. Medeiros, um sertanejo do Seridó com alma de vaqueiro que falava com um ritmo como se aboiasse. Os irmãos Diógenes e Demócrito, o galego Zelande, e Hélio Brucutu, baixo e forte, contando histórias nas quais era sempre o grande vencedor.
O Bar Cisne resistia, pagando o silêncio da decadência com garrafas de uísque na pequena vitrine. E onde hoje não é mais nem o luxuoso Hotel Ducal, com seu mural feito das areias coloridas de Tibau, havia uma sorveteria que fazia cartolas. De longe, da João Pessoa, vinham os gritos de Arthuzinho conversando no Dia-e-Noite sobre os gols do América. Gasolina era garçom, o Oásis ainda respirava e na Rádio Nordeste entravam e saíam figuras importantes da política, além da valentia de Eugênio Neto contra Erivan França.
O Grande Ponto do meu tempo fugia, certas noites, para as margens escuras do Potengi. Lá estava, meio ancorado como um barco velho, o tombadilho do Brisa Del Mare. Cerveja, rum com coca-cola e caranguejos flamejantes que nós batíamos até altas horas e onde uma vez quebrei um dente e fiquei com vergonha de encontrar com Rejane. A cidade era calma. Voltávamos caminhando e cantando, como naquela canção. De vez em quando, passava um caminhante noturno enchendo as ruas, assobiando mágoas de amor.

Concurso de redação propõe reflexão sobre a origem do Brasil

SEEC/ASSECOM23 Apr 2018 15:46

SEEC/ASSECOM
Com a proposta de despertar o conhecimento cultural do Rio Grande do Norte e de estimular o sentimento de pertencimento ao território potiguar nos estudantes do estado, o Governo do RN, por meio de uma parceria entre as secretarias estaduais de Educação (SEEC) e de Turismo (Setur), lançou nesta segunda-feira (23) o edital do “Tudo Começa Aqui - I Concurso de Redação das Escolas do RN”. Nesta primeira edição o tema central será “O Brasil nasceu aqui?”.

“Durante muitos anos esse conhecimento sobre o descobrimento do Brasil a partir do Rio Grande do Norte não teve a importância devida. Agora estamos resgatando isso e fazendo com que os próprios potiguares se apropriem dessa ideia, a de que o país possa ter começado por aqui. E nada melhor do que contar com a participação dos nossos alunos, que estão estudando o assunto em sala de aula. A iniciativa vai elevar a autoestima dos estudantes e abrir espaço para uma reflexão sobre o tema”, destacou o governador Robinson Faria.

A secretária de Educação do RN, Cláudia Santa Rosa, reforçou um ponto forte do concurso: a interdisciplinaridade. “Professores de língua portuguesa, história e geografia, por exemplo, podem promover rodas de debates e trazer mais informações sobre o tema aos alunos. Isso vai proporcionar ao estudante um leque maior de justificativas que irão embasar seu ponto de vista”, comentou Santa Rosa.

Manoel Gaspar, novo titular da Setur, apontou que a iniciativa é mais uma ação do governo voltada para o fortalecimento da identidade do potiguar quanto a suas origens. “A campanha é mais uma ação que o Estado faz para resgatar ideia de que o Brasil foi descoberto aqui. Isso tem um link muito forte com a campanha de marketing que estamos fazendo”, disse, em referência à campanha “Tudo Começa Aqui”, lançada pela Setur em março deste ano.

O público-alvo do concurso são alunos das redes de ensino pública e privada, que será dividido em duas categorias: uma voltada para o ensino médio e outra para os anos finais do ensino fundamental. Para se inscrever o professor orientador ou coordenador pedagógico da escola deve preencher um formulário até o dia 15 de junho, disponibilizado eletronicamente no site https://sigeduc.rn.gov.br e anexar a redação selecionada pela escola mediante comissão de avaliação.

O concurso vai ocorrer em duas fases. A primeira, no âmbito da escola, na qual serão selecionadas duas redações. Na segunda fase, que ocorre no âmbito da SEEC, uma comissão de avaliação, composta por professores especialistas representantes das redes de ensino municipal, estadual, federal e privada, avaliam diversos itens como estrutura textual e abordagem criativa e textual da temática.

Os estudantes e professores orientadores que vencerem a competição serão premiados com uma comenda de honra ao mérito para 1ª, 2ª e 3ª colocações de cada etapa de ensino, uma viagem pelos principais pontos turísticos e históricos do RN, além da publicação de um e-book com as redações dos dez primeiros colocados de cada etapa de ensino. A solenidade de premiação vai acontecer no dia 7 de agosto de 2018, data em que se comemora o dia do Rio Grande do Norte.

Para acessar o edital, clique aqui.

Serviço

Concurso: Tudo Começa Aqui! I Concurso de Redação das Escolas do Rio Grande do Norte
Tema: “O Brasil nasceu aqui?”
Data de lançamento do Edital: 23 de abril de 2018.
Período de inscrição: 30 de abril a 15 de junho de 2018, através de formulário disponível no site https://sigeduc.rn.gov.br/.
1ª fase: 15 de junho de 2018.
2ª fase: 20 de julho de 2018.
Resultado: 27 de julho de 2018.
Premiação: 7 de agosto de 2018.

O FUTEBOL DO RIO GRANDE DO NORTE ATÉ 1930 – 1° PARTE

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FriedSelecaoBR1919
Já em 1919, tal é a importância que o futebol consegue no país, que já tínhamos um selecionado nacional. Ainda não era a tradicional camisa amarela, mas apontava a importância que este esporte adquiria na vida nacional.
AUTOR – Gil Soares de Araújo.
Fonte – jornal O Poti, Natal-RN, edição de 4 de setembro de 1985, página 16.
Informação do TOK DE HISTÓRIA – O nosso blog trás a primeira parte do longo relato realizado pelo jornalista e escritor Gil Soares de Araújo sobre os primórdios do futebol potiguar. Nascido em 1907 na cidade de Martins, Gil Soares era bacharel formado pela faculdade de Direito de Recife em 1935 e neste endereço eletônico existem mais detalhes sobre sua vida –http://adcon.rn.gov.br/ACERVO/secretaria_extraordinaria_de_cultura/DOC/DOC000000000111712.PDF
Com este depoimento procuro despretensiosamente atender ao apelo do velho amigo Luís da Câmara Cascudo, para uma reunião de informações sobre a História de nossos esportes (O livro das velhas figuras, volume 2, página 119).
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Gil Soares – Fonte – http://adcon.rn.gov.br/ACERVO/secretaria_extraordinaria_de_cultura/DOC/DOC000000000111712.PDF
Direi em linhas gerais o que soube ou li, assisti ou vivi. Trata-se de período ingrato para pesquisadores, quando os poucos e pequenos jornais da terra traziam raras e escassas noticias sobre a matéria. Que os de minha geração possam, ainda, completar o que, distante de Natal e com muito esforço de memória aqui menciono. Ou então me corrijam, se tiverem realmente base.
O futebol apareceu em Natal no princípio do século. Trouxeram-no diretamente da Europa estudantes da família Pedroza, que aqui logo contaram com o concurso de colegas das famílias Maranhão, Barreto, Tavares, Roselli. Começou, portanto, como esporte da elite.
Durou pouco o Sport Clube Natalense, que Fabrício Pedroza Filho fundou em 1904[1]. Nem chegava a constituir dois times. Praticava-se, na realidade e em dias espaços e incertos, o chamado bate bola. De início, na chamada Rua Grande (atual praça André de Albuquerque) e, em seguida, no extenso terreno da praça Pedro Velho, ou no Polígono de Tiro Deodoro, no Tirol[2]
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Diante do crescimento e atenção do público, na década de 1910 os jornais brasileiros abrem cada vez mais espaço aos esportes.
Certa manhã, em final de treino, um dos filhos do aeronauta Augusto Severo, estendeu-se para repousar, na grama molhada. Faleceu, dias depois, de pneumonia dupla. A pequena capital, consternada, repudiou o futebol durante longo tempo[3].
Foi pelos fins de 1914 que Cincinato, neto do governador Ferreira Chaves, organizou um time, o PCR (Partido Republicano Conservador), no grande quintal da residência oficial, a fim de enfrentar o PRP (Partido Republicano Paulista), que aparecia na praça fronteira. Nesta época surgiram, pouco depois, o Atheneu Norte-rio-grandense e o denominado Natal, de Jayme dos Guimaraes Wanderley e outros rapazes. Disputavam partidas com o Potiguar, preparado na Ribeira pelo poeta Mário Mendes, sargento do Exército, mais tarde goleiro do segundo time do ABC.
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Jayme dos Guimarães Wanderley – Fonte – http://radionorn.blogspot.com.br/2011/04/aguinaldo-rayol-no-elenco-da-radio-poty.html
Quanto ao remo, havíamos tido, em 1905, o clube de regatas, presidido pelo comandante Pereira Franco, Capitão dos Portos e, em 1910 o Sport Náutico Potengi, fundado por Antônio Odilon de Amorim Garcia – associações essas de vida efêmera.
1915 tornou-se, finalmente, o ponto de partida, estável, do futebol e do remo em Natal, com a fundação do ABC e do América, do Centro Náutico e do Sport.
Outra interrupção das atividades pebolísticas viria pouco adiante. Morreu o jovem Agnaldo Fernandes, filho do des. Luís Fernandes e Vice-presidente do América[4]. Em treino, uma bolada, o atingiu na região abdominal. Febre alta, incrível, levo-o ao cemitério. Sustentaram médicos, firmados em sintomas anteriores, que ele seria portador de apendicite. Novo clamor entre as famílias, principalmente da classe média, que geralmente consideravam o futebol jogo bruto e impróprio para clima quente…
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Primeiros jogos de futebol no Brasil – Fonte – http://www.metro.org.br/orsini_faustino/ii-o-futebol-no-brasil-inicio-brinquedo-de-menino-rico
Tudo isso concorreu para que tivéssemos em 1918 o primeiro Campeonato da cidade, suspenso devido à chamada gripe espanhola.
A Liga E Os Clubes
Tiveram a Liga de Desportes Terrestres e seus filiados, nos primeiros tempos, recessos inesperados e imprevisíveis.
Enquanto os clubes náuticos, certamente por possuírem sede própria, atuavam com certa regularidade e promoviam duas ou três regatas anuais – os de futebol, quando às vezes precisavam mudar de sede, reapareciam até com novos dirigentes. Creio que o extravio, no todo ou em parte, de atas livros e papéis, tornara muito difícil (pelo menos até 1930) completo histórico da vida destas entidades. Impossível também admitir, também, realização de Campeonatos sem o controle da Liga, para a homologação dos resultados e premiação dos vencedores.
Assisti aos Campeonatos de 1919, 22, 24 oi 25. Ouso afirmar que não os tivemos em 20, 21 e 23. Provavelmente em 1926, salvo se este começou no fim daquele ano. Simplesmente porque a Liga não os organizava. Ela vinha primando pela inércia ou displicência e estava às voltas com divergências internas ou atrito com filiado que ameaçasse abandoná-la. Era, pelo menos, o que constava cá fora. 
Como, porém, o futebol não podia mais parar em Natal, devido à popularidade alcançada, desenrolava-se no Campo da Liga (Polígono Deodoro), anos a fio, ainda que espaçadamente, prélios animadíssimos. Não podem ser confundidas partidas amistosas, ou comemorativas, com jogos de Campeonato.      
No quadro de árbitros, destacarei Lóris Cordovil, funcionário da Agência do Banco do Brasil, pela experiência que trouxe de atuação em campeonatos cariocas.
O pior é que, Campeão de 24 e 25, teve o Alecrim de esperar inutilmente de diploma e pertinentes medalhas. A Liga se dissolveu – dizia-se – num gesto grotesco de “elitismo”, para não premiar clube de subúrbio.
Depois, conseguiu o professor Luís Soares reorganizá-la com a cooperação de todos os clubes. E acabou aceitando a presidência.   
No Diário de Natal, às terças-feiras, costumava o cronista Oscar Wanderley (depois de 1924) anunciar e às vezes comentar os resultados dos jogos do domingo anterior. Excelente roteiro, ainda, para os que pretenderem escrever a História do nosso futebol dos primeiros tempos[5].
Monteiro Chaves
O tenente Antônio Afonso Monteiro Chaves, carioca, chegou a Natal em 1908, como imediato da Escola de Aprendizes de Marinheiros, comandada pelo seu colega Sílvio Pélico[6].
De tal modo se identificou com a sociedade natalense que dela só saiu definitivamente em 1922, para ser promovido a capitão de fragata. Comandou aquela Escola e exerceu o cargo de Capitão dos Portos. Só se ausentava mesmo de nossa pequena Capital para atender as exigências da carreira. Esteve na Inglaterra, em 1911, num curso de Artilharia e Defesa de Costa.
Eram intensas suas atividades na Maçonaria, no Natal-Clube, na Liga de Ensino e em outras entidades. Fundou o Centro Sportivo Natalense e a Liga de Desportes Terrestres. Promoveu até o futebol feminino (hand-ball), fazendo as moças do Sportivo e do ABC treinarem diante de sua residência, em terreno da Igreja Nova (atual praça Pio X) e realizarem, festivamente, as partidas no Campo da Liga, no Tirol. Organizou, igualmente, o Clube Náutico Feminino, presidido por sua filha Dagmar, utilizando escaleres de seis remos do encouraçado Deodoro, estacionado no porto longo período. Um médico local desaconselhara o uso de ioles por moças[7]. As regatas femininas partiam no Refoles. Numerosa assistência ia, também, saudar e animar as remadoras na passagem dos barcos defronte ao Passo da Pátria. Tornou-se, enfim, em seu tempo, o maior incentivador dos esportes natalenses.
Com Henrique Castriciano e Luís Soares fundou, em 1917, na Cidade Alta, a Associação Brasileira de Escoteiros do Rio Grande do Norte, na qual ingressei no ano seguinte. Era o nosso diretor-técnico.
Veio seu período de embarque. Como queria manter a colaboração empenhada, teve de ficar temporariamente na reserva, prestando serviços em Natal relacionados com a Marinha Mercante.
Elementos de grande projeção social, para garantir-lhe a promoção por antiguidade, haviam obtido do governador Ferreira Chaves a promessa de inclui-lo na próxima chapa de deputados estaduais, a qual, na época, já era única, e só de governistas – prova mais do que expressiva da decadência, no Estado, da Primeira República…
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Problema do comandante Monteiro Chaves com sua carreira militar.
Mas o governador não quis ou não pode cumprir a promessa. E, poucos anos depois, já ministro da Marinha no governo Epitácio, também não se lembrou mais de Monteiro Chaves. Este, por haver confiado em política, atrasara e prejudicara a carreira. Se não se houvesse prendido tanto ao nosso Estado talvez chegasse, em atividade, a almirante, como foram seus sobrinhos Atila Aché (pai e filho). Assim, reformou-se em 1923, com o posto de capitão de mar e guerra. E recolheu-se à vida privada.
Em 1950, quando faleceu, coube-me da tribuna da Câmara dos Deputados manifestar, em algumas palavras, o pesar da bancada do Rio Grande do Norte.
Não há em Natal, onde ficaram enterrados seus filhos Osmar e Ivanoska – ao menos uma rua lembrando tão admirável amigo da terra potiguar[8].
Cazuza e Miranda
No bairro das Rocas, onde nasceu e viveu, sucumbiu de cirrose hepática aos vinte e poucos anos, a maior revelação de goleiro que Natal conheceu até hoje. José da Silva, o Zé da Cega, durante a infância guia da avó que tirava esmolas pelas ruas da Ribeira. Treinara na posição durante longo período no Campo dos Coqueiros, um terreno baldio no final da Esplanada Silva Jardim. Esquio, muito forte, com cerca de 1m80 de estatura.
Aguinaldo Tinoco o trouxe para o América e lhe deu o apelido de Cazuza.
Senhor absoluto da posição. Com agilidade assombrosa defendia pênaltis. Se, na época, a linha atacante se atirava sobre a meta, para mandar as redes bola e goleiro, rebatia com a maior segurança a pelota ao meio do campo, a soco ou a botinas 44.
Graças a Cazuza o América foi o Campeão em 1919 vencendo a zero todos os jogos!
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Notícia do resultado do campeonato potiguar de 1919.
Nenhuma vantagem oferecida a esse pobre biscateiro o fez mudar de clube. E nunca cedeu a qualquer tentativa de suborno. Tipo padrão do jogador correto da época do Amadorismo. Se as circunstâncias houvesse favorecido poderia ter alcançado o escrete brasileiro, como aconteceu com o mais jovem do seu time, o atacante Nilo Murtinho Braga. Indo Cazuza a Mossoró, jogou pelo Centro Esportivo Mossoroense, mas não teve sorte no torneio devido ao fracasso da zaga.
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Equipe alvirrubra campeã em 1919.
No remo, parece-me que a figura máxima foi Antônio Miranda Rey, anarquista espanhol, solteiro, admirador de Ferrer e Reclus, que, como fotógrafo profissional, morou entre os natalenses de 1915 a 1930[9]. Era vegetariano e adepto da hidroterapia[10]. Dino de conhecimentos gerais sobre o esporte. Manteve bom conceito e não fazia proselitismo da ideologia política. Declara que, entre monarquia e república, preferia ainda a primeira por que nela apenas uma família dispunha das rendas públicas. Narrava cronologicamente, a quem pedia, os treze atentados de que escapara o Rei Afonso XIII, os quais teriam cessado como aplauso dos anarquistas à recusa do monarca em envolver a Espanha na Primeira Guerra Mundial[11]. Nem poderia supor que, muitos anos depois, iria perder um milhão de patrícios em guerra civil.
Miranda ganhava, pelo Centro Náutico, como voga, a prova clássica de ioles a quatro, do final das regatas. Transferindo-se para o Sport, passou este, sob sua voga, a conquistar aquele troféu – o maior das competições náuticas. Faleceu canceroso no Rio de Janeiro.
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ABC Futebol Clube 1915
ABC F.C. em 1915 – Fonte – Luiz G. M. Bezerra.
O Tratado ABC (Argentina – Brasil – Chile), destinado a solução pacífica de controvérsias internacionais e assinado em Buenos Aires em 1915, teve a sigla aproveitada por Avelino Freire Filho (Lili), José Paes Barreto, Enéas Reis, Sólon Aranha, Manoel Avelino do Amaral, José Potiguar Pinheiro, Artur Veiga e outros rapazes da Ribeira para a denominação do clube de futebol, que organizavam. Fundaram-no a residência do cel. Avelino Alves Freire, um grande chalé da Avenida Rio Branco nos fundos do Teatro Carlos Gomes. Eleito presidente João Emílio Freire, filho do dono da casa.
Financeiramente, a nova agremiação não tinha problemas. Até auxílios conseguia de comerciantes do bairro. Torcida entusiástica apoiava o clube alvinegro, que, inicialmente, adotava as cores verticais, a exemplo do Botafogo, do Rio de Janeiro.
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Bem antes do primeiro campeonato, realizava o ABC o primeiro jogo interestadual natalense, ao trazer o Santa Cruz, de Recife, ao antigo campo da praça Pedro Velho[12]. Coube-lhe jogar com este na capital pernambucana, depois de viagem muito complicada no vapor Cururupu, por avarias de máquinas.
Mais adiante, ainda escoteiro, assisti à magnifica vitória do ABC, por 5×2, sobre o Cabo Branco, da Paraíba, já no Campo do Tirol.
A Ribeira e as Rocas sempre foram o grande celeiro de jogadores abecedistas, em sua grande maioria operários. Certa vez, elemento da Liga foi vigiar a súmula, para barrar um destes que supunha analfabeto. O estivador Manoel Francisco do Nascimento assinou, porém, corretamente seu nome e acrescentou os apelidos que ganhara nos treinos: Pé de Ouro.
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Vicente Farache – Fonte – http://www.ocuriosodofutebol.com.br/2015/11/vicente-farache-cartola-e-treinador.html
Todavia, somente a partir de 1927 passou o clube a alcançar constantes e expressivas vitórias, com os quadros modificados e fortalecidos, graças à insuperável operosidade e permanente dedicação de um grande benemérito, o antigo jogador Vicente Farache. Este acompanhara intensamente, na Capital Federal, como estudante e associado, a organização e as atividades do Flamengo. Por vezes, vinha de Mossoró, para ajudá-lo, os excelentes atacantes Alfredo Pinto (Moreno), Júlio Maciel, Pedro Borges (Pedrinho), Hilário Cunha e Jansen Nogueira (Ridoca), que tanto desarticulavam a defesa do América.
Farache consumia até os próprios ganhos e economias para manter os times na melhor forma e devidamente uniformizados. Creio que a agremiação abecedista não possui, até hoje, sócios com serviços mais relevantes durante anos a fio. Por isso, no meu tempo, gostavam de apontá-lo como “o dono do ABC”. E era o maior elogio[13].
NOTAS

[1] Se, como diz o autor deste texto, o Sport Club Natalense foi criado em 1904, a sua organização oficial ocorreu então no dia 13 de janeiro de 1907, um domingo, conforme se lê na página 2, da edição de 17 de janeiro de 1907 do jornal natalense “A República”, onde foi publicada na íntegra a reprodução de sua ata de criação.
[2] O Polígono de Tiro Deodoro da Fonseca foi oficialmente criado pelo governo potiguar através do decreto n° 200, de 27 de maio de 1909, sendo equipado com todos os materiais indispensáveis para a prática do tiro desportivo. Sai localização era na base do chamado Morro do Tirol, na área onde atualmente se encontra o Complexo Educacional Henrique Castriciano.
[3] O falecido foi Otávio Severo de Albuquerque Maranhão, que tinha 20 anos de idade e cursava o 4° ano da prestigiada Faculdade de Direito de Recife. Já sua morte aconteceu às três da manhã no dia 22 de julho de 1911, um sábado, na cidade de Canguaretama, na casa de Fabricio Maranhão, consta que ele teria ido para essa cidade em busca de “melhores ares” para a cura de sua tuberculose.
[4] Gil Soares de Araújo aponta o nome de Agnaldo Fernandes como um dos fundadores do América Futebol Clube, em uma lista publicada no jornal O Poti, de 14 de julho de 1985, página 7.
[5] Não confundir com o periódico Diário de Natal fundado na década de 1940 e que encerrou suas atividades em 2012. O jornql citado é das primeiras décadas do século XX.
[6] O comandante Monteiro Chaves fez muitos amigos e ajudou muito as práticas esportivas em Natal. Não sei se era pelo lado de sua esposa, mas Monteiro Chaves, além de possuir laços de parentesco com os almirantes citados pelo autor, possuía ligações com o marechal Napoleão Felippe Aché, comandante da missão médica militar brasileira enviada a Paris durante a Primeira Guerra Mundial. Descobri que sua casa se situava nas esquinas da Avenida Deodoro com a Rua Açu, onde se localizava o Cinema Rio Grande. Mas é verdade que sua permanência prolongada em Natal lhe trouxe problemas na carreira militar. No início da década de 1920 encontrei informações que apontam o comandante Monteiro Chaves como inspetor do Colégio Militar no Rio de Janeiro e depois, coincidentemente, imediato no destroier Rio Grande do Norte. Logo chegou sua baixa da Marinha do Brasil no início da década de 1930. Faleceu praticamente esquecido em sua casa, no Rio de janeiro, em 2 de maio de 1950. Ver Diário de Natal, edição de 14 de julho de 1969, segunda-feira, página 2.
[7] Espécie de canoa estreita, de remos, leve e rápida, de uso nos desportos aquáticos.
[8] Hoje existe a Rua Comandante Monteiro Chaves, no Pitimbu, Natal. Já sobre Osmar nada descobri, mas Ivanoska Monteiro Chaves faleceu e foi enterrada em Natal em janeiro de 1920.
Francisco Ferrer Guardia foi um pensador anarquista catalão, criador da chamada Escola Moderna em 1901, um projeto prático de pedagogia libertária e o francês Jean Jacques Élisée Reclus foi um geógrafo e um militante anarquista. Foi membro da Comuna de Paris e da Primeira Internacional dos Trabalhadores. Ambos atuaram entre os séculos XIX e XX.
[10] A hidroterapia é um dos recursos mais utilizados dentro da fisioterapia para tratamento e reabilitação dos mais diversos acometimentos, pois é um tratamento altamente eficaz e clinicamente comprovado que traz inúmeros benefícios a todos os pacientes.
[11] Afonso XIII se tornou Rei da Espanha em 1886 até 1931.
[12] O jogo começou às três horas da tarde do dia 15 de novembro de 1916 e na época o Santa Cruz era vice-campeão pernambucano. O time visitante ficou hospedado no Hotel Internacional, na Tavares de Lira, Ribeira e, mesmo com uma grande afluência de natalenses para torcer pela equipe local, a vitória coube ao Santa Cruz pelo placar de 4 a 1.
[13] Vicente Farache Neto nasceu em Natal em 19 de outubro de 1902 e faleceu em 16 de agosto de 1967 e sempre foi ligado ao time do ABC. Foi treinador, dirigente e ex-jogador. Atuou durante o fim dos anos 1910 e início dos anos 1920, quando interrompeu sua carreira para estudar Direito no Rio de Janeiro no Rio de Janeiro. Conquisto para o time abecedista o famoso Decacampeonato Potiguar, entre os anos de 1932 e 1941.
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