Assu/RN. Fotografia de Roberto Meira.
domingo, 13 de outubro de 2019
Há dias o sol não aparece
E eu não consigo me mexer
Passo as horas pensando, pensando
Rejeitando a certeza de que não posso viver.
Que escuridão, que frio
Minha alma se acaba em arrepios
Cada vez que busco teus olhos no infinito.
Minha pele está rugosa e disforme,
Meus ossos estão doloridos
E eu não consigo sair...
Venha me buscar, ainda estou à sua espera
Quero mais um abraço
Preciso dos seus carinhos
Necessito falar-te mais uma vez.
Tire-me deste buraco profundo
Quero voltar pro teu mundo,
Não me deixe tão sozinho...
Marianna Melles.
De: Psicografici
"Deus não perdoa. Deus não perdoa porque Ele é Justo. E um justo não perdoa. Não existe justiça com perdão. Alguém que está sendo acusado de ter praticado um crime, se for considerado culpado, a justiça o condenará; se for considerado inocente, a justiça o inocentará. Dar a cada um aquilo que lhe pertence é a essência da justiça. Se o justo perdoasse o culpado, ele seria bondoso, misericordioso, totalmente amor, mas perderia sua qualidade de justo. O perdão é um ato de bondade, de misericórdia. A justiça não! Ela julga com retidão e dá àquilo que é de direito. Por isso, sendo Deus perfeitamente justo, não haveria de perdoar, já que um justo não perdoa."
João Lins Caldas
João Lins Caldas
Amanhecer... Perfeição da Natureza. Areia Branca/RN
Belo click nas lentes de Willgton Costa.
Da Linha do Tempo/Facebook de Lúcia Rodrigues
Belo click nas lentes de Willgton Costa.
Da Linha do Tempo/Facebook de Lúcia Rodrigues
sexta-feira, 11 de outubro de 2019
10 poemas memoráveis de Manuel Bandeira
Rebeca Fuks
Doutora em Estudos da Cultura
Manuel Bandeira (1886-1968) foi um dos maiores poetas brasileiros tendo ficado conhecido pelo grande público especialmente pelos célebres versos Vou-me Embora pra Pasárgada e Os sapos.
Mas a verdade é que, além dessas duas grandes criações, a obra do poeta comporta uma série de pérolas pouco conhecidas entre os leitores.
Na tentativa de preencher essa lacuna selecionamos aqui 10 poemas memoráveis do escritor modernista Manuel Bandeira com as suas respectivas explicações.
Manuel Bandeira (1886-1968) foi um dos maiores poetas brasileiros tendo ficado conhecido pelo grande público especialmente pelos célebres versos Vou-me Embora pra Pasárgada e Os sapos.
Mas a verdade é que, além dessas duas grandes criações, a obra do poeta comporta uma série de pérolas pouco conhecidas entre os leitores.
Na tentativa de preencher essa lacuna selecionamos aqui 10 poemas memoráveis do escritor modernista Manuel Bandeira com as suas respectivas explicações.
1. Os sapos
Enfunando os papos,
Saem da penumbra,
Aos pulos, os sapos.
A luz os deslumbra.
Em ronco que aterra,
Berra o sapo-boi:
- "Meu pai foi à guerra!"
- "Não foi!" - "Foi!" - "Não foi!".
O sapo-tanoeiro,
Parnasiano aguado,
Diz: - "Meu cancioneiro
É bem martelado.
Vede como primo
Em comer os hiatos!
O poema Os sapos (o trecho inicial encontra-se reproduzido acima) foi criado em 1918 e deu o que falar ao ser declamado por Ronald de Carvalho durante a emblemática Semana de Arte Moderna de 1922.
Numa crítica clara ao parnasianismo (movimento literário que definitivamente não representava o poeta), Bandeira constrói esse poema irônico, que tem métrica regular e é profundamente sonoro.
Trata-se aqui de uma paródia, uma maneira divertida encontrada pelo eu-lírico de diferenciar a poesia que praticava daquela que vinha sendo produzida até então.
Os sapos são, na verdade, metáforas para os diferentes tipos de poetas (o poeta modernista, o vaidoso poeta parnasiano, etc). Aos longo dos versos vemos os animais dialogarem sobre como se constrói um poema.
Conheça uma análise aprofundada do poema Os sapos e confira os versos declamados:
Enfunando os papos,
Saem da penumbra,
Aos pulos, os sapos.
A luz os deslumbra.Em ronco que aterra,
Berra o sapo-boi:
- "Meu pai foi à guerra!"
- "Não foi!" - "Foi!" - "Não foi!".O sapo-tanoeiro,
Parnasiano aguado,
Diz: - "Meu cancioneiro
É bem martelado.Vede como primo
Em comer os hiatos!
O poema Os sapos (o trecho inicial encontra-se reproduzido acima) foi criado em 1918 e deu o que falar ao ser declamado por Ronald de Carvalho durante a emblemática Semana de Arte Moderna de 1922.
Numa crítica clara ao parnasianismo (movimento literário que definitivamente não representava o poeta), Bandeira constrói esse poema irônico, que tem métrica regular e é profundamente sonoro.
Trata-se aqui de uma paródia, uma maneira divertida encontrada pelo eu-lírico de diferenciar a poesia que praticava daquela que vinha sendo produzida até então.
Os sapos são, na verdade, metáforas para os diferentes tipos de poetas (o poeta modernista, o vaidoso poeta parnasiano, etc). Aos longo dos versos vemos os animais dialogarem sobre como se constrói um poema.
Conheça uma análise aprofundada do poema Os sapos e confira os versos declamados:
2. Pneumotórax
Febre, hemoptise, dispneia e suores noturnos.
A vida inteira que podia ter sido e que não foi.
Tosse, tosse, tosse.
Mandou chamar o médico:
— Diga trinta e três.
— Trinta e três… trinta e três… trinta e três…
— Respire.
— O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão direito infiltrado.
— Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax?
— Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino.
Esse brevíssimo poema também muito conhecido do autor carrega no título o nome de uma condição médica. Ao longo das primeiras linhas vemos listados uma série de sintomas.
Se na primeira estrofe o doente sofre sozinho, na segunda parte do poema assistimos a uma consulta com o médico. O doutor dá instruções ao paciente na tentativa de conseguir diagnosticar a doença.
Por fim, assistimos a triste constatação da doença comorbidade. O paciente ainda tenta encontrar uma saída para o seu problema, mas o médico, num tom poético e ao mesmo tempo irônico, aponta a música como única solução possível.
Febre, hemoptise, dispneia e suores noturnos.
A vida inteira que podia ter sido e que não foi.
Tosse, tosse, tosse.Mandou chamar o médico:
— Diga trinta e três.
— Trinta e três… trinta e três… trinta e três…
— Respire.— O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão direito infiltrado.
— Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax?
— Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino.
Esse brevíssimo poema também muito conhecido do autor carrega no título o nome de uma condição médica. Ao longo das primeiras linhas vemos listados uma série de sintomas.
Se na primeira estrofe o doente sofre sozinho, na segunda parte do poema assistimos a uma consulta com o médico. O doutor dá instruções ao paciente na tentativa de conseguir diagnosticar a doença.
Por fim, assistimos a triste constatação da doença comorbidade. O paciente ainda tenta encontrar uma saída para o seu problema, mas o médico, num tom poético e ao mesmo tempo irônico, aponta a música como única solução possível.
3. O último poema
Assim eu queria o meu último poema
Que fosse terno dizendo as coisas mais simples e menos intencionais
Que fosse ardente como um soluço sem lágrimas
Que tivesse a beleza das flores quase sem perfume
A pureza da chama em que se consomem os diamantes mais límpidos
A paixão dos suicidas que se matam sem explicação.
A morte é um tema frequente na poética de Bandeira, assim como, em termos estéticos, podemos apontar o uso de versos livres. O último poema condensa essas duas características do poeta, que pretende estabelecer com o leitor uma relação de cumplicidade nesse poema metalinguístico.
Os versos acima são característicos de um metapoema, de uma lírica que se debruça sobre ela mesma. O eu-lírico aqui tenta, num tom quase de desabafo, por de pé tudo aquilo que gostaria de inserir no seu último poema.
O interessante é perceber que ao dizer como quereria construir o seu poema, o sujeito poético já constrói o próprio poema.
Assim eu queria o meu último poema
Que fosse terno dizendo as coisas mais simples e menos intencionais
Que fosse ardente como um soluço sem lágrimas
Que tivesse a beleza das flores quase sem perfume
A pureza da chama em que se consomem os diamantes mais límpidos
A paixão dos suicidas que se matam sem explicação.
A morte é um tema frequente na poética de Bandeira, assim como, em termos estéticos, podemos apontar o uso de versos livres. O último poema condensa essas duas características do poeta, que pretende estabelecer com o leitor uma relação de cumplicidade nesse poema metalinguístico.
Os versos acima são característicos de um metapoema, de uma lírica que se debruça sobre ela mesma. O eu-lírico aqui tenta, num tom quase de desabafo, por de pé tudo aquilo que gostaria de inserir no seu último poema.
O interessante é perceber que ao dizer como quereria construir o seu poema, o sujeito poético já constrói o próprio poema.
4. Vou-me embora para Passárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconsequente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive
E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d’água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada
Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcaloide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar
E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
— Lá sou amigo do rei —
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada.
Eis o mais consagrado poema de Bandeira: Vou-me embora para Passárgada. Aqui encontramos um inegável escapismo, um desejo do eu-lírico de evasão, de sair da sua condição atual rumo a um destino altamente idealizado.
O nome do local não é gratuito: Pasárgada era uma cidade persa (para sermos mais precisos, foi a capital do Primeiro Império Persa). É ali que o sujeito poético se refugia quando sente que não consegue dar conta do seu cotidiano.
Tradicionalmente esse gênero de poética que almeja à liberdade propõe uma fuga para o campo, na lírica do poeta modernista, no entanto, há vários elementos que indicam que essa fuga seria em direção à uma cidade tecnológica.
Em Passárgada, esse espaço profundamente desejado, não existe solidão e o eu-lírico pode exercer sem limites a sua sexualidade.
Leia uma reflexão sobre o poema Vou-me embora pra Pasárgada.
Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolhereiVou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconsequente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tiveE como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d’água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra PasárgadaEm Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcaloide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorarE quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
— Lá sou amigo do rei —
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada.
Eis o mais consagrado poema de Bandeira: Vou-me embora para Passárgada. Aqui encontramos um inegável escapismo, um desejo do eu-lírico de evasão, de sair da sua condição atual rumo a um destino altamente idealizado.
O nome do local não é gratuito: Pasárgada era uma cidade persa (para sermos mais precisos, foi a capital do Primeiro Império Persa). É ali que o sujeito poético se refugia quando sente que não consegue dar conta do seu cotidiano.
Tradicionalmente esse gênero de poética que almeja à liberdade propõe uma fuga para o campo, na lírica do poeta modernista, no entanto, há vários elementos que indicam que essa fuga seria em direção à uma cidade tecnológica.
Em Passárgada, esse espaço profundamente desejado, não existe solidão e o eu-lírico pode exercer sem limites a sua sexualidade.
Leia uma reflexão sobre o poema Vou-me embora pra Pasárgada.
5. Teresa
A primeira vez que vi Teresa
Achei que ela tinha pernas estúpidas
Achei também que a cara parecia uma perna
Quando vi Teresa de novo
Achei que os olhos eram muito mais velhos que o resto do corpo
(Os olhos nasceram e ficaram dez anos esperando que o resto do corpo nascesse)
Da terceira vez não vi mais nada
Os céus se misturaram com a terra
E o espírito de Deus voltou a se mover sobre a face das águas.
Finalmente um poema de amor! Manuel Bandeira ao compor Teresa demonstrou, em versos, como se dá o encontro amoroso.
Desmistificando a noção de amor à primeira vista, o eu-lírico transparece no poema exatamente o que sentiu a primeira vez que encontrou Teresa.
Da segunda vez que se viram também o sujeito poético parece não ter ficado nada encantado pelos atributos físicos daquela que viria a transformar-se na sua amada.
É na última estrofe que testemunhamos o encantamento do eu-lírico, que já não consegue mais descrever a parceira e sim o turbilhão de afetos provocado pela presença dela.
Finalmente um poema de amor! Manuel Bandeira ao compor Teresa demonstrou, em versos, como se dá o encontro amoroso.A primeira vez que vi Teresa
Achei que ela tinha pernas estúpidas
Achei também que a cara parecia uma perna
Quando vi Teresa de novo
Achei que os olhos eram muito mais velhos que o resto do corpo
(Os olhos nasceram e ficaram dez anos esperando que o resto do corpo nascesse)
Da terceira vez não vi mais nada
Os céus se misturaram com a terra
E o espírito de Deus voltou a se mover sobre a face das águas.
Desmistificando a noção de amor à primeira vista, o eu-lírico transparece no poema exatamente o que sentiu a primeira vez que encontrou Teresa.
Da segunda vez que se viram também o sujeito poético parece não ter ficado nada encantado pelos atributos físicos daquela que viria a transformar-se na sua amada.
É na última estrofe que testemunhamos o encantamento do eu-lírico, que já não consegue mais descrever a parceira e sim o turbilhão de afetos provocado pela presença dela.
6. O impossível carinho
Escuta, eu não quero contar-te o meu desejo
Quero apenas contar-te a minha ternura
Ah se em troca de tanta felicidade que me dás
Eu te pudesse repor
-Eu soubesse repor -
No coração despedaçado
As mais puras alegrias de tua infância!
Um poema de amor que recorre aos sentimentos vividos durante a infância, esse é o mote que move O impossível carinho. O eu-lírico não deixa transparecer nenhum aspecto físico ou psicológico da amada, o que sabemos são apenas descrições do sentimento que o arrebata.
Já pela primeira palavra vemos que o sujeito se dirige a alguém, a dona do seu afeto. É com ela que ele deseja partilhar o seu mais íntimo desejo que resulta do sentimento de gratidão. A moça faz com que ele se sinta tão bem que o que brota nele é a vontade de retribuir tudo de bom que recebe.
As alegrias da infância são o oásis sonhado, o lugar de plenitude que o sujeito poético pretende oferecer à amada como forma de agradecimento.
Escuta, eu não quero contar-te o meu desejo
Quero apenas contar-te a minha ternura
Ah se em troca de tanta felicidade que me dás
Eu te pudesse repor
-Eu soubesse repor -
No coração despedaçado
As mais puras alegrias de tua infância!
Um poema de amor que recorre aos sentimentos vividos durante a infância, esse é o mote que move O impossível carinho. O eu-lírico não deixa transparecer nenhum aspecto físico ou psicológico da amada, o que sabemos são apenas descrições do sentimento que o arrebata.
Já pela primeira palavra vemos que o sujeito se dirige a alguém, a dona do seu afeto. É com ela que ele deseja partilhar o seu mais íntimo desejo que resulta do sentimento de gratidão. A moça faz com que ele se sinta tão bem que o que brota nele é a vontade de retribuir tudo de bom que recebe.
As alegrias da infância são o oásis sonhado, o lugar de plenitude que o sujeito poético pretende oferecer à amada como forma de agradecimento.
7. Poética
Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente
protocolo e manifestações de apreço ao Sr. Diretor.
Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no dicionário o
cunho vernáculo de um vocábulo.
Abaixo os puristas
Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais
Todas as construções sobretudo as sintaxes de excepção
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis
Estou farto do lirismo namorador
Político
Raquítico
Sifilítico
De todo lirismo que capitula ao que quer que seja fora
de si mesmo
De resto não é lirismo
Será contabilidade tabela de co-senos secretário
do amante exemplar com cem modelos de cartas
e as diferentes maneiras de agradar às mulheres, etc.
Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbados
O lirismo difícil e pungente dos bêbedos
O lirismo dos clowns de Shakespeare
– Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.
Nos versos de Poética, Manuel Bandeira se debruça sobre o próprio processo de escrita do poema. Aqui o eu-lírico enfatiza aquilo que aprecia e o que tem repulsa no âmbito da lírica.
Tido como um dos mais importantes poemas do Modernismo brasileiro, Poética é um retrato não só da poética de Manuel Bandeira como também de toda uma geração de escritores que não se identificava com o que vinha sendo produzido até então.
Escrito quase como uma espécie de manifesto, por um lado Bandeira nega uma composição rígida, severa, que cumpre normas rigorosas (como faziam os parnasianos) enquanto por outro lado celebra os versos livres, a linguagem informal e a tão contemporânea sensação de liberdade experimentada pelos poetas.
Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente
protocolo e manifestações de apreço ao Sr. Diretor.
Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no dicionário o
cunho vernáculo de um vocábulo.
Abaixo os puristasTodas as palavras sobretudo os barbarismos universais
Todas as construções sobretudo as sintaxes de excepção
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveisEstou farto do lirismo namorador
Político
Raquítico
Sifilítico
De todo lirismo que capitula ao que quer que seja fora
de si mesmo
De resto não é lirismo
Será contabilidade tabela de co-senos secretário
do amante exemplar com cem modelos de cartas
e as diferentes maneiras de agradar às mulheres, etc.Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbados
O lirismo difícil e pungente dos bêbedos
O lirismo dos clowns de Shakespeare– Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.
Nos versos de Poética, Manuel Bandeira se debruça sobre o próprio processo de escrita do poema. Aqui o eu-lírico enfatiza aquilo que aprecia e o que tem repulsa no âmbito da lírica.
Tido como um dos mais importantes poemas do Modernismo brasileiro, Poética é um retrato não só da poética de Manuel Bandeira como também de toda uma geração de escritores que não se identificava com o que vinha sendo produzido até então.
Escrito quase como uma espécie de manifesto, por um lado Bandeira nega uma composição rígida, severa, que cumpre normas rigorosas (como faziam os parnasianos) enquanto por outro lado celebra os versos livres, a linguagem informal e a tão contemporânea sensação de liberdade experimentada pelos poetas.
8. Arte de amar
Se queres sentir a felicidade de amar, esquece a tua alma.
A alma é que estraga o amor.
Só em Deus ela pode encontrar satisfação.
Não noutra alma.
Só em Deus – ou fora do mundo.
As almas são incomunicáveis.
Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo.
Porque os corpos se entendem, mas as almas não.
Esse poema de amor de Bandeira é marcado por uma tristeza e por uma alegria: observamos ao longo dos versos a impossibilidade dos amantes se comunicarem, por outro lado celebramos o fato dos corpos se entenderem apesar das limitações da comunicação.
O sujeito lírico aqui parte do pressuposto que há uma divisão básica entre a alma e o corpo. A alma, segundo o eu-lírico, só é capaz de encontrar sossego em Deus ou no sobrenatural e não em algum ser humano.
Diante dessa lamentável condição, o poema sugere que os corpos - ao contrário das almas - são capazes de se entenderem. O título Arte de amar, versa justamente sobre a oposição corpo e alma e sobre o lugar dos afetos nessa equação.
Esse poema de amor de Bandeira é marcado por uma tristeza e por uma alegria: observamos ao longo dos versos a impossibilidade dos amantes se comunicarem, por outro lado celebramos o fato dos corpos se entenderem apesar das limitações da comunicação.Se queres sentir a felicidade de amar, esquece a tua alma.
A alma é que estraga o amor.
Só em Deus ela pode encontrar satisfação.
Não noutra alma.
Só em Deus – ou fora do mundo.
As almas são incomunicáveis.
Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo.
Porque os corpos se entendem, mas as almas não.
O sujeito lírico aqui parte do pressuposto que há uma divisão básica entre a alma e o corpo. A alma, segundo o eu-lírico, só é capaz de encontrar sossego em Deus ou no sobrenatural e não em algum ser humano.
Diante dessa lamentável condição, o poema sugere que os corpos - ao contrário das almas - são capazes de se entenderem. O título Arte de amar, versa justamente sobre a oposição corpo e alma e sobre o lugar dos afetos nessa equação.
9. Desencanto
Eu faço versos como quem chora
De desalento… de desencanto…
Fecha o meu livro, se por agora
Não tens motivo nenhum de pranto.
Meu verso é sangue. Volúpia ardente…
Tristeza esparsa… remorso vão…
Dói-me nas veias. Amargo e quente,
Cai, gota a gota, do coração.
E nestes versos de angústia rouca,
Assim dos lábios a vida corre,
Deixando um acre sabor na boca.
— Eu faço versos como quem morre.
Desencanto é considerado um metapoema, ou seja, um poema que procura descrever o próprio processo de criação literária.
Nos versos acima é como se o leitor fosse convidado a visitar o escritório do poeta e entender as engrenagens que movem a escrita.
A literatura, nesse caso, é tida como uma espécie de válvula de escape, o lugar onde o sujeito encontra alento para o seu profundo sofrimento. Através da leitura do poema somos capazes de enxergar a dor e o desemparo do poeta, que labuta para transformar os seus transtornos pessoais em palavras.
Eu faço versos como quem chora
De desalento… de desencanto…
Fecha o meu livro, se por agora
Não tens motivo nenhum de pranto.Meu verso é sangue. Volúpia ardente…
Tristeza esparsa… remorso vão…
Dói-me nas veias. Amargo e quente,
Cai, gota a gota, do coração.E nestes versos de angústia rouca,
Assim dos lábios a vida corre,
Deixando um acre sabor na boca.
— Eu faço versos como quem morre.
Desencanto é considerado um metapoema, ou seja, um poema que procura descrever o próprio processo de criação literária.
Nos versos acima é como se o leitor fosse convidado a visitar o escritório do poeta e entender as engrenagens que movem a escrita.
A literatura, nesse caso, é tida como uma espécie de válvula de escape, o lugar onde o sujeito encontra alento para o seu profundo sofrimento. Através da leitura do poema somos capazes de enxergar a dor e o desemparo do poeta, que labuta para transformar os seus transtornos pessoais em palavras.
10. Consoada
Quando a Indesejada das gentes chegar
(Não sei se dura ou caroável),
talvez eu tenha medo.
Talvez sorria, ou diga:
— Alô, iniludível!
O meu dia foi bom, pode a noite descer.
(A noite com os seus sortilégios.)
Encontrará lavrado o campo, a casa limpa,
A mesa posta,
Com cada coisa em seu lugar.
O poema, todo construído a partir de uma metáfora, trata de um tema duro: a preparação para a chegada da morte. É curiosa a escolha do título, bastante simbólico: a consoada é o banquete que acontece na noite de Natal ou na véspera do Ano-Novo.
O tom da escrita é de informalidade, de intimidade e de espontaneidade: o eu-lírico transparece as possíveis reações que teria com a chegada da Indesejada. Os versos, aliás, se constroem com base em duas oposições-chave: a vida e a morte, o dia e a noite.
Podemos concluir, após a leitura dos poucos versos, que embora pareça conformado com o inevitável comparecimento da morte, o sujeito lírico não deseja a sua chegada.
Quando a Indesejada das gentes chegar
(Não sei se dura ou caroável),
talvez eu tenha medo.
Talvez sorria, ou diga:
— Alô, iniludível!
O meu dia foi bom, pode a noite descer.
(A noite com os seus sortilégios.)
Encontrará lavrado o campo, a casa limpa,
A mesa posta,
Com cada coisa em seu lugar.
O poema, todo construído a partir de uma metáfora, trata de um tema duro: a preparação para a chegada da morte. É curiosa a escolha do título, bastante simbólico: a consoada é o banquete que acontece na noite de Natal ou na véspera do Ano-Novo.
O tom da escrita é de informalidade, de intimidade e de espontaneidade: o eu-lírico transparece as possíveis reações que teria com a chegada da Indesejada. Os versos, aliás, se constroem com base em duas oposições-chave: a vida e a morte, o dia e a noite.
Podemos concluir, após a leitura dos poucos versos, que embora pareça conformado com o inevitável comparecimento da morte, o sujeito lírico não deseja a sua chegada.
terça-feira, 8 de outubro de 2019
SEBRAE MAPEIA PONTOS TURÍSTICOS DO RN DURANTE A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL
Por ROSTAND MEDEIROS
Projeto Natal & Parnamirim Field na Segunda Guerra será lançado nesta quarta-feira, 9 de outubro de 2019.
Por Agência Sebrae de Notícias / 8 de outubro de 2019
Que o Rio Grande do Norte teve um papel relevante, e até mesmo decisivo, para a vitória dos aliados durante a Segunda Guerra Mundial, não restam dúvidas. Que Parnamirim abrigou a primeira base aérea dos Estados Unidos fora do território norte-americano, os livros de história dão conta muito bem. Que a presença de milhares de soldados americanos no cotidiano de Natal mudou a cultura e os costumes da cidade, a população bem sabe. No entanto, nenhum desses argumentos foi relevante para o Rio Grande do Norte ter um roteiro turístico para explorar esse fato histórico.
segunda-feira, 7 de outubro de 2019
Luiz Rabelo (1921/1996) é, penso eu, um dos poetas potiguares, assim como João Lins Caldas (1888/1967), pouco lembrado. Em, “O Poti”, jornal de Natal, caderno Letras e Artes, edição de 30 de março de 1958 encontro um belo poema de autoria de Rabelo intitulado de ‘Cântico da criação’. Vejamos para o nosso deleite:
Abra-te para mim como as portas de um templo
Onde penetro e encontro o Deus do amor.
Onde penetro e encontro o Deus do amor.
Caminhas sobre labaredas de impossíveis,
Transfigurada de metamorfoses.
Transfigurada de metamorfoses.
Ah! Os teus pés surgem das trevas,
Mas o teu corpo é um mundo de libertação!
Mas o teu corpo é um mundo de libertação!
Ergo-me obscuro dos sonhos antigos do silêncio
Para proclamar-te branco e puro céu
Para proclamar-te branco e puro céu
E anjos anunciam já o lúcido milagre
Em que caminho do pó para a ressurreição
Em que caminho do pó para a ressurreição
Aureolado de mirtos e de sonhos,
Transmites ao mundo a minha ânsia da vida.
Transmites ao mundo a minha ânsia da vida.
Oh! Abres-te para mim como as portas de um templo
Onde penetro e encontro o Deus do amor! ...
Onde penetro e encontro o Deus do amor! ...
(Da Linha do Tempo/Facebook de Fernando Caldas)
domingo, 6 de outubro de 2019
Algumas páginas
Por João Lins Caldas, poeta do Assu
A dor irmã, a grande dor alucinada,
Beijou meu coração, beijou meus versos...
... Podem ferir-me todos os perversos,
Já tive tudo... não me importa nada...
E quero me esquecer, que não quero lembrar:
Um coração, si se me oferecer,
Deve saber da vida por chorar...
O coração como uma mão fechada...
... E um dia eu soube do meu coração
Uma e mais outra e outra mais pancada
... As marteladas da desilusão...
Deixai-me vós, ó sempre vós, passar...
Deixai-me, com soluços na garganta,
A minha vida sempre amargurar...
_________________Em, Phoenix, 1924, revista do Rio de Janeiro.
Por João Lins Caldas, poeta do Assu
A dor irmã, a grande dor alucinada,
Beijou meu coração, beijou meus versos...
... Podem ferir-me todos os perversos,
Já tive tudo... não me importa nada...
E quero me esquecer, que não quero lembrar:
Um coração, si se me oferecer,
Deve saber da vida por chorar...
O coração como uma mão fechada...
... E um dia eu soube do meu coração
Uma e mais outra e outra mais pancada
... As marteladas da desilusão...
Deixai-me vós, ó sempre vós, passar...
Deixai-me, com soluços na garganta,
A minha vida sempre amargurar...
_________________Em, Phoenix, 1924, revista do Rio de Janeiro.
quinta-feira, 3 de outubro de 2019
segunda-feira, 30 de setembro de 2019
Por João Lins Caldas
Eu sou aquele que acordou chorando,
E das horas amargas, imprudentes.
Vim num negro país de velhas gentes
E deixei o mais duro, já por brando.
Meu coração foi lágrima rolando
E deturpado corpo entre os mais dentes...
Vejo os dias de fogo, reluzentes,
E tudo as garras para o negro bando.
Gemendo no gemente deturpado,
A alma alastrada e para si ferida,
Toda a estrada a crescer e sempre abrolhos.
Vi-me no mundo e pelo mundo entrado
- Coração com pavor dentro da vida,
- Mocidade... com lágrimas nos olhos.
E das horas amargas, imprudentes.
Vim num negro país de velhas gentes
E deixei o mais duro, já por brando.
Meu coração foi lágrima rolando
E deturpado corpo entre os mais dentes...
Vejo os dias de fogo, reluzentes,
E tudo as garras para o negro bando.
Gemendo no gemente deturpado,
A alma alastrada e para si ferida,
Toda a estrada a crescer e sempre abrolhos.
Vi-me no mundo e pelo mundo entrado
- Coração com pavor dentro da vida,
- Mocidade... com lágrimas nos olhos.
domingo, 29 de setembro de 2019
quinta-feira, 26 de setembro de 2019
NO DIA EM QUE NASCI
No dia em que nasci como um vulcão se abria
A garganta do mal, em lágrimas coberta...
A estrada da ventura era sem flor, deserta,
O corpo do pesar por tudo se estendia.
O sol não quis brilhar... e a lua, que tremia,
Errando pelo céu, amargamente incerta,
Para mais se afastar do mundo, que gemia.
Houve negro rumor pelos ramos floridos...
A dor tinha de riso o quanto tem de males
A sombra da saudade em sombras multicores...
Foi preciso florir a terra dos gemidos...]
Floriu o desprazer brilhando em todo vales
E a terra cresceu maios para conter mais dores...
(João Lins Caldas)
SONHOS
Ter um sonho, um sonho lindo,
Noite branda de luar,
Que se sonhasse a sorrir...
Que se sonhasse a chorar...
Noite branda de luar,
Que se sonhasse a sorrir...
Que se sonhasse a chorar...
Ter um sonho, que nos fosse
A vida, a luz, o alento,
Que a sonhar beijasse doce
A nossa boca... um lamento...
A vida, a luz, o alento,
Que a sonhar beijasse doce
A nossa boca... um lamento...
Ser pra nós o guia, o norte,
Na vida o único trilho;
E depois ver vir a morte
Na vida o único trilho;
E depois ver vir a morte
Despedaçar esses laços!...
...É pior que ter um filho
Que nos morresse nos braços!
...É pior que ter um filho
Que nos morresse nos braços!
Florbela Espanca
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