quarta-feira, 4 de dezembro de 2019

RENATO CALDAS, O POETA DE ‘FULÔ DO MATO’


Por Ivan Pinheiro, poeta do Assu/RN
 
Vou falar de um conterrâneo
Que nos bancos de escola
Jamais esquentou o crâneo.
Foi um menino pachola,
Um rapaz namorador,
Poeta véi cantador
Fez da viola uma estola.
 
— “Eu era desempenado,
No braço do violão.
Fazia um tarrabufado
Da prima para o bordão.
E naquele remelexo
A nega caia o queixo,
E eu entrava de cão”.
 
Falo de Renato Caldas
Um matuto sertanejo,
Que mal trocou suas fraldas
Começou a ser andejo,
Fez a primeira poesia
Inspirado em fantasia
Pelo seu maior desejo:
 
— “Nenhuma mulher é troço...
Brancas ou pretas são belas!
Lamento porque não posso
Ser dono de todas elas”...
Com quatorze anos apenas,
Em Assu — a velha “Atenas
Defendeu todas donzelas.               

Mil novecentos e dois,
Oito de outubro nasceu,
Quatorze anos depois
O verso lhe floresceu
E a partir daquele dia
Numa linda melodia
Renato Caldas cresceu.

Do seu chão fez a canção:
— “Só norte-rio-grandense
Meu patrão, sou assuense
De alma, vida e coração
Pois, nessa terra bonita,
Eu tive a sorte bendita
De vê a luz, meu patrão”...

E haja inspirações:
“Meu Assu das vaquejadas!
Das noites enluaradas...
— Que gratas recordações! —
Cantigas feitas dos sonhos
Dos seresteiros risonhos,
Conquistando corações...”.
 
Fulô do Mato surgiu
Carimbando sua lavra,
Logo a fama lhe exigiu
Buscar o dom da palavra,
No martelo e no rojão,
Foi um cantor do sertão
Que todo tema rimava.
 
— “Cunheço o Brasí, todinho:
Agreste, mata e sertão.
Arrastei pelos caminho
Muita alegria e afrição!
Eu tive a filicidade
De quage in toda cidade
Causá admiração...".
 
Apesar destas andanças
Em busca do ganha-pão,
Não perdeu as alianças.
Depois de doze serão
Casou com a amada Fausta
Que estava quase exausta,
Devido aquele tempão.
 
Veja o qui pôde sintí
Quando arribou do Assu:
— “... Mais o sertão não é Brasí.
O Brasí, é lá pru sú.
Isso aqui é um purgatóro...
Quem mata a fome, é o sodóro
E a sede é o mandacaru...”.
 
— “Seu môço, eu venho de longe,
Do árto do meu sertão,
Trago fome, trago sêde
E tudo qui é precizão.
Mas, nada disso me mata,
Nada disso me matrata
Qui nem a rescordação...”

Teve muitas profissões:
Pracista, linotipista,
Embolador de canções,
Oficial e motorista...
Mas, na viola e na poesia,
Instrumentos da boemia,
Foi que surgiu o artista:

— “A lua vinha cantando,
Suas canção pratiada!
Parô tão disfigurada...
Ficô oiando pru Má
E o Má sortando um gemido,
Limpô os óio no vistido
Prateado de luá”.
 
Fez ao irmão de coração:
— “Adão foi feito de barro...
Mas, você, Newton Navarro,
Foi Feito da inspiração,
Do Céu, dos ninhos, das flores,
De todos os esplendores
Do luar do meu sertão”.

A mulherada foi o tema
De parte da criação.
Foi liberdade e algema,
Prazer e judiação,
Foi seu encanto, seu feitiço,
Foi fulô, foi reboliço...
Derreteu seu coração.
 
Sobre elas disse inté:
“Sinhá Dona, o tempo passa,
Mais, porém, essa disgraça,
Qui a gente tem, pruque qué...
Êsse amô, êsse arrespeito,
Qui o cristão guarda nos peito,
Essa paixão pru muié...”.

Geíza Caldas, a filha,
Pelo casal muito amada,
Foi a maior maravilha
Por todos foi bem mimada.
Ela até hoje se alembra
E vez por outra relembra
Contando pra garotada.
 
Em plena felicidade
Quando uma lágrima caiu
Seu coração explodiu:
— “Casou Geíza, é verdade
Vai construir o seu lar.
Danado é essa saudade
Qu’Ela vai deixar ficar”.

Certa vez indo à Natal
No bar pegou uma colher
E, por um lapso mental,
Não devolveu à mulher.
Ao retornar da viagem
Trouxe na sua bagagem,
Com um bilhete o talher:

— “Estou voltando Chiquinha
Trazendo a sua colher
De coisas que não é minha
Eu só aceito mulher”.
Recitou no bar lotado,
Ficou logo liberado
Para um acaso qualquer.

Não foi um homem de escola,
No entanto a inteligência
Que teve em sua cachola,
Era amiga da decência,
Amava a honestidade,
Detestava falsidade
E tocava na cadência.

E sobre o tema convém:
— “Seu dotô, pode me crê:
Se tenho aprendido a lê,
Eu era dotô tombém.
Pruquê hoje na cidade,
Nós só temo validade
Pêla peda qui o ané tem...”.

— “Um violão de verdade,
Uma grade de Pitu
Para matar a saudade
Das moreninhas do Assu”.
Assim levou sua vida
Procurando uma guarida
Pra ganhar algum tutu.

Toda farra que chegava
Tava a festa iniciada,
A viola apresentava
E, após uma lapada,
Causos, poesias, repente...
Mexia com toda gente
Com sua rima cantada.

Sempre comprou lá na feira
Seus principais mantimentos,
Mas uma feirante arteira
Desafiou seus talentos:
Poeta, lhe tenho estima,
Me ajude e faça uma rima
Pra vender meus alimentos.

Renato olhou pra esteira
Contemplando sua batata

E, num tom de brincadeira,
Fitando aquela mulata,
Tão bonita e adolescente,
De maneira pertinente
Usou a verve gaiata:

— “Batata rainha prata
É dessa que o povo gosta,
Um quilo dessa batata
Dá bem dez quilos de bosta”.
A cabocla não gostou,
Ele dela se afastou,
Mas “atendeu” a proposta.

Trabalhou na construção
Da estrada Assu/Mossoró,
Fez pra si um barracão,
Vendeu comida e goró,
Mas devido o tal fiado
No balcão pôs um recado
Para evitar um toró:

— “Para não haver transtorno
Aqui no meu barracão,
Só vendo fiado a corno,
Filho da puta e ladrão”...
Leitor, pode acreditar,
O apelo fez aumentar
A lista de espertalhão.

— “Renato Caldas já foi
Um boêmio seresteiro!!!
Hoje é carro de boi
Na sombra do juazeiro”...
Morreu quase sem visão,
Com artrite, hipertensão,
Famoso..., mas sem dinheiro.

Termino esse meu tributo
Com muita satisfação,
Nobre leitor impoluto
Sou grato pela atenção.
Deixo aqui meu forte abraço
Me perdoe pelo embaraço
Mas fiz com o coração.

                                    
Maio/2019.

 

 


 

 

 

 

terça-feira, 3 de dezembro de 2019

Jânio Edno para Natal Antiga

A atual Avenida Rio Branco era conhecida no século XIX, como a Rua Nova. A referida avenida corta todo bairro da Cidade Alta, no trecho compreendido entre o Baldo e a Ribeira.

O topônimo Rua Nova apareceu pela primeira vez, em 12 de novembro de 1822, em um registro de concessão de terras, pelo Senado da Câmara do Natal, ao comerciante Johan Christian Voigt. O beneficiário requereu terreno "para duas casas, na Rua da Palha ... no fundo destas, na rua Nova; outras duas para o armazém.

Ao longo da década de vinte do século XIX, apareceram outros dez registros de concessões de terras naquele antigo logradouro público. Em 28 de outubro de 1826, Antônio José de Souza Caldas requeria terras "na Rua Nova, junto ao curral do açougue', o que indicava a existência de um local de comercialização de carnes.

O último registro existente de concessão de terras na antiga Rua Nova data de 8 de março de 1828, cujo beneficiário foi Antônio José de Matos.

Até 1845, a antiga Rua Nova servia de limite leste da Cidade, com suas casas ocupando apenas o lado voltado para o nascente. A partir dali existia um espesso matagal. Naquela rua existiu a Praça do Peixe, local onde posteriormente foi construído o Mercado Público da Cidade Alta. No século XIX, erguia-se naquele local, hoje ocupado pela agência Centro do Banco Brasil, a forca destinada à aplicação da pena de morte.

O decreto municipal, de 13 de fevereiro de 1888, substituiu o antigo topônimo para Visconde do Rio Branco, homenageando o eminente estadista José Maria da Silva Paranhos, Visconde do Rio Branco.
José da Silva Paranhos nasceu na cidade de Salvador BA, em 1819. Ingressou na Academia Real de Marinha do Rio de Janeiro, em 1835. Após concluir o curso, foi nomeado Guarda-Marinha, aos 22 anos.

Em 1843, passou ao posto de 2º Tenente, depois de cursar a Escola Militar do Rio de Janeiro por um período de dois anos. Foi professor da Escola de Marinha, catedrático de várias disciplinas na Escola Militar, diretor da Escola Politécnica do Rio de Janeiro. Promulgou reformas no ensino primário.

José Maria da Silva Paranhos foi jornalista, atuando como redator do jornal "Novo Tempo". Político e militar foi membro da Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro, secretário do Marquês do Paraná em missões diplomáticas, no Uruguai. Foi também Ministro da Marinha, do Estrangeiro e da Fazenda. Também promulgou a Reforma Judiciária, ampliou a concessão de habeas-corpus, apresentou a Lei do Ventre Livre e organizou o primeiro recenseamento do Império.

O Visconde do Rio Branco foi também Grão-Mestre da Maçonaria. Faleceu em 1880, na cidade do Rio de Janeiro.

O povoamento da Avenida Rio Branco foi efetivamente iniciado a partir de 1845, quando o presidente Casimiro José de Morais Sarmento mandou construir a Casa d'Aula e destruir o matagal que impedia a edificação de casas do lado oriental da referida rua.

Na 2ª metade do século XIX, sob influência da Missão Cultural Francesa e da Academia Imperial de Belas Artes do Rio de Janeiro, a casa urbana adquiriu um novo tipo de implantação. Passou a ser construída com um recuo em relação aos limites da rua, e afastada das casas vizinhas. Exibia jardins frontal e laterais.

A Avenida Rio Branco possuiu um belo exemplar de arquitetura daquele tempo: era o palacete de João Freire, localizado na esquina com a Rua João Pessoa, que resistiu até a bem pouco tempo, apesar de já se apresentar muito descaracterizado o belo casarão, construído com um porão alto, tinha o seu acesso valorizado por Uma escadaria. Ficava o mesmo isolado do exterior, por um vistoso gradil de ferro rendilhado.

O Curral do Açougue, a Praça do Peixe e as quitandas espalhadas pela antiga rua Nova, indicavam a vocação comercial daquele logradouro público.

Em 1860, na gestão do presidente José Bento da Cunha Figueiredo Júnior, foi iniciada a construção do Mercado Público da Cidade Alta, localizado na atual Avenida Rio Branco, no mesmo local anteriormente ocupado pela Praça do Peixe. Devido à escassez de recursos, o prédio demorou 32 anos para ser erguido. Foi concluído e inaugurado, no dia 7 de fevereiro de 1892, durante o regime republicano. O local onde funcionou o referido mercado, cor responde ao mesmo hoje ocupado pela agência Centro do Banco do Brasil.

Nas proximidades da Praça do Mercado existia uma grande gameleira, conhecida como uma das tradicionais árvores da Cidade. No dia 9 de julho de 1899, ela amanheceu serrada pelo tronco, não tendo sido possível apurar o nome do autor do ato de vandalismo.

Antes da inauguração do Mercado Público, a Câmara alugava casas nos bairros da Ribeira e da Cidade Alta, para servirem de quitandas. Na esquina das atuais Rua João Pessoa e Avenida Rio Branco existia uma quitanda muito freqüentada.

O prédio do mercado teve uma existência efêmera, pois apenas 9 anos depois de sua inauguração, ele já estava em ruínas... sofreu então uma restauração, sendo reinaugurado, em 24 de novembro de 1901.

Na gestão do prefeito Gentil Ferreira de Souza, o velho mercado foi demolido, sendo construído outro prédio, mais amplo, no mesmo local. A população de Natal, que ainda não contava com os modernos recursos da "era da máquina", no campo da conservação de alimentos, era conduzida a adquirir diariamente os gêneros alimentícios.

O Mercado Público tornou-se então um ponto de encontro, um local onde eram divulgados os acontecimentos da Cidade, em primeira mão. Ali comentavam se os assuntos mais diversos, políticos, sociais e, até mesmo, "os ridículos enredos provincianos’.

O mercado da Cidade Alta foi destruído por um incêndio, e nunca mais ali foi construído um novo mercado. Todavia, aquela área da Avenida Rio Branco nunca perdeu a sua vocação primitiva. Até hoje os vendedores ambulantes insistem em expor à venda gêneros alimentícios e artigos dos mais diversos, em suas calçadas.

A antiga Rua Nova era também cenário das apresentações teatrais de grupos amadores. Em 6 de maio de 1900, a Sociedade Dramática Segundo Wanderley encenou ali, ao ar livre, o drama "Gaspar, o Serralheiro".

Existe ainda naquela avenida um significativo prédio, de inspiração neoclássica, construído nos primeiros anos do século XX. O referido prédio já serviu de quartel, depois funcionando o Liceu Industrial durante mais de 50 anos, de 1914 à 1967. Já com a denominação de Escola Industrial, o estabelecimento escolar passou a ocupar um novo prédio, na Avenida Salgado Filho.

O prédio do antigo Liceu Industrial foi posteriormente incorporado ao patrimônio da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Atualmente algumas dependências do velho prédio da Avenida Rio Branco.

Em 22 de julho de 1906, ocorreu a inauguração de um novo prédio na avenida Rio Branco. No local da antiga Casa d'Aula, surgia o Natal Clube, a mais importante sociedade recreativa da época.

Tratava-se de um lindo chalezinho, de concepção romântica, cuja cobertura era feita em duas águas, arrematada por vistoso lambrequim de madeira. No seu lugar foi posteriormente construído o Banco Nacional, prédio hoje ocupado por uma loja de confecções. A primeira árvore de natal da Cidade foi instalada no Natal Clube em 1909. Ali também ocorreu o primeiro baile à fantasia, em 1911.

O prolongamento da Avenida Rio Branco, no trecho entre a Rua Apodi e o Baldo, foi iniciativa do Presidente da Intendência, Romualdo Galvão, cuja inauguração ocorreu em 20 de março de 1916.

Aos 9 de fevereiro de 1935, o prefeito Miguel Bilro cumprindo um plano antigo, prolongou a Avenida Rio Branco até a Ribeira, através dos terrenos da Vila Barreto propriedade do industrial Juvino Barreto. Surgia assim a segunda via de acesso entre a Cidade Alta e a Ribeira facilitando o tráfego entre aqueles dois importantes bairros de Natal.

Texto de Jeanne Nesi
 

 

Celi Thomas
 
"Quando a maré está baixa, essa beleza acontece aqui em Barra Grande-Maragogi. É conhecido como caminho de Moisés. É muito lindo". Do Facebook.

sábado, 30 de novembro de 2019

Do artista plástico assuense Wagner Di Oliveira

No meu ateliê na terra da poesia, em entrevista para o simpático pessoal da TVU.RN, um papo sobre arte, cultura e o meu trabalho. Quando a entrevista sair eu aviso por aqui. Grande abraço á todos, obrigado pela positividade.

CENAS ESQUECIDAS É O NOVO LIVRO DE MARIA DO PERPÉTUO WANDERLEY DE CASTRO

2013. Autora de diversos livros como, por exemplo, "Meu Velho Assu", "Terceirização -Uma Expressão do Direito Flexível do Trabalho na Sociedade Contemporânea", 2014, "Daqui eu Vejo o Catavento" (crônicas sobre o Assu e sua gente importante e inteligente), com prefácio de Francisco Fausto que foi Ministro do TST. Hoje, 30/11, Perpétuo Wanderley lança outro livro intitulado "Cenas Esquecidas" (memórias do Cine Teatro Pedro Amorim). Se não ocorrer imprevisto, farei presença no Salão Vip daquela casa cinematográfica e de eventos, ás 19 horas, que me lembra com saudades, a minha alegre infância e começo da juventude. Fica o registro.

Maria do Perpétuo Wanderley de Castro (fotografia abaixo) ou simplesmente Perpétua é minha amiga e conterrânea, além de colega na Academia Assuense de Letras. Foi minha quase vizinha na cidade de Assu, até os anos sessenta, se não me falha a memória, além de ser minha parente distante. (Câmara Cascudo depõe que Wanderley e Lins Caldas pertence a mesma gens). Perpétuo é magistrada, desembargadora do TRT 21/RN e já fez parte da lista tríplice para vaga de Ministro da Corte, em 2013. Autora de diversos livros como, por exemplo, "Meu Velho Assu", "Terceirização - Uma Expressão do Direito Flexível do Trabalho na Sociedade Contemporânea", 2014, "Daqui eu Vejo o Catavento" (crônicas sobre o Assu e sua gente importante e inteligente), com prefácio de Francisco Fausto que foi Ministro do TST. Hoje, 30/11, Perpétuo Wanderley lança outro livro intitulado "Cenas Esquecidas" (memórias do Cine Teatro Pedro Amorim). Se não ocorrer imprevisto, farei presença no Salão Vip daquela casa cinematográfica e de eventos, ás 19 horas, que me lembra com saudades, a minha alegre infância e começo da juventude. Fica o registro.


E a experiência?  A experiência se consegue a proporção que os dias se passam! (Fernando Caldas).