quinta-feira, 12 de janeiro de 2023
terça-feira, 10 de janeiro de 2023
domingo, 8 de janeiro de 2023
sábado, 7 de janeiro de 2023
SORTE MESQUINHA
Waldemar Campielo Maresco e João Teixeira Filho foram prefeitos do município de Carnaubais, então Vila de Santa Luzia que até 1963 pertencia ao município do Assu. Pois bem, o ex-vereador daquele município, o ativista político e blogueiro Aluízio Lacerda depõe que na década de 70, o poeta violeiro, cordelista chamado Alípio Tavares desencantado com a falta de atenção dos poderes constituídos à época em Carnaubais, estava realizando uma cantoria de pé de parede, vendo a fraqueza dos políticos que não compareciam com sua contribuição ao prato exposto na sala, versejou em tom de desabafo:
Depois que passou a cidade
Entrou numa sorte mesquinha
É saindo Valdemar
Entrando Teixeirinha
E a cantoria fora encerrada com risos dos circunstantes.
sexta-feira, 6 de janeiro de 2023
quinta-feira, 5 de janeiro de 2023
LEMBRANDO EPIFÂNEO BARBOSA
Era eu menino de calças curtas quando tive o privilégio de ter conhecido Epifânio Barbosa. Tipo baixo, garboso, esperto (no bom sentido), morenão, jeitão sertanejo. Fazendeiro, negociante de gado. Epifâneo era amigo leal de meu avô materno Fernando Tavares (Vemvem) que foi também fazendeiro na região do Assu. Lembro-me de dele, Epifânio, frequentando assiduamente as reuniões sociais na calçada do rico e antigo casarão do casal Maria Eugênia e Nelson Montenegro. Ele era proprietário da famosa Fazenda Cruzeiro, localizada, se não me engano, no distrito do Riacho.
Epifânio tinha um mundo de amigos e era admirado por todos daquela região
sertaneja. Homem de poucas letras, porém sabido nos negócios de compra e venda
de gado, sábio na maneira de viver e ver a vida, espirituoso como ninguém. O
governador Dix-sept Rosado de quem ele era amigo íntimo, que o conheceu através
de Vemvem que tinha amizade estreita com Dix-Sept que fora governador do Rio Grande
do Norte, em 1951,deliciava-se com suas tiradas de espíritos, suas estórias pitorescas,
os seus repentes. Nas festas políticas Epifâneo não perdia a oportunidade para
discursar. A sua fala com aquele seu linguajar matuto, estapafúrdio, que tinha
um sentido filosófico e lhe fazia gracioso, encantava e agradava a leigos e
eruditos.
Epifânio não tinha inibição, era desenrolado. Grosseirão (no bom sentido).
Certa vez, a deputada federal Ivete Vargas, visitava a cidade de Mossoró (RN).
Epifâneo era admirador do então presidente Vargas, resolveu ir até aquela
cidade do oeste potiguar conhecer aquela parlamentar do PTB. Ao chegar no
aeroporto daquela terra do oeste potiguar, uma multidão incalculável se
encontrava presente naquele local, prestigiando a filha do presidente Vargas. Pois bem, Epifânio usando da habilidade que lhe era peculiar, "como um relâmpago
inesperado", meteu-se no meio daquele povão e chegou próximo a Ivete,
batendo forte com uma das mãos no "bumbum" daquela parlamentar que
assustou-se, virou-se e ficou olho no olho com Epifânio que apresentou-se a si
mesmo de forma graciosa, dizendo assim: "Muita prazer, deputada. Epifânio
Barbosa do Assu. Nunca bati na bunda de uma mulher, pra ela não olhar para
trás!"
Epifânio imortalizou-se na "pena fulgurante e adestrada", da
escritora assuense de Lavras (MG), Maria Eugênia, no romance intitulado "Lourenço,
O Sertanejo", cujo conto é o seu protagonista. Aquela mulher de letras,
começa a narrativa do seu belo e original romance dizendo que "na aridez
das caatingas, Lourenço viu-se jogado no mundo. De estatura mediana, saudável,
inteligente, rosto largo e moreno, era figura popular no Vale do Açu, a rica
região onde as carnaubeiras, com seus leques entreabertos, emolduravam de verde
os longínquos horizontes, ao abano constante dos ventos.
Herdara dos ancestrais a tenacidade na luta pela vida. Corpo raiado, espírito
forte, aceitava com a alegria ou sem amargor, tudo o que a vida lhe oferecia em
suas variadas contingências.
Ali nascera e se fizera homem. Integrado à terra, como os verdes juazeiros, que
heroicamente resistem a todos os ventos. Lourenço, ali possuía raízes como as
agigantadas árvores que não poderiam ser transplantadas. Não se aclimataria
jamais em qualquer lugar."
Fica este artigo que tem, sobretudo o sentido de resgatar, relembrar,
apresentar aos mais jovens, Epifânio Barbosa, o que ele representou para o
folclore regional, a pecuária dos sertões do Assu.
Por fim, nas palavras do poeta
cordelista (desconheço o autor), homenageio e reverencio a memória de
Epifânio Barbosa, que diz assim:
Muito gado na fazenda,
Vacas, bezerros, garrotes.
Diversos reprodutores,
Novilhas e novilhotes,
Muitas cabras e cabritos,
Pulando pelos serrotes.
(Fernando Caldas)
segunda-feira, 2 de janeiro de 2023
Eis de mim, uma poesia desconhecida.
Eis de mim, um erotismo que não se conhece.
É estranho carregar um sorriso,
uma vida inteira no rosto
e ninguém suspeitar dos traumas,
das quedas, dos medos, dos choros.
Desenganem-se aqueles que pensam
que erótico é o corpo.
Erótica é a alma que aceita as cicatrizes.
Não há beleza nelas,mas são minhas.
O que seria eu sem elas.
(Cristina Costa)
Corpo do poeta João Lins Caldas - 1988-1967 no seu caixão, sendo velado na casa do seu primo e amigo Luiz Lucas Lins Caldas Neto (meu avô paterno), na cidade de Assu/RN, 1967. Na fotografia da esquerda: Domitília Eliete de Medeiros, João Crisóstomo Tavares (?), (?), Ivo Pinheiro, Tibobô, Fernando Caldas (criança), (?), Luiz Roberto/ Luiz da Carroça, Mário Tavares Dantas, (?), (?), Levi de Oliveira Gomes, dentre outros admiradores do grande poeta Caldas.
Vamos conferir o seu poema fúnebre intitulado Marcha Fúnebre:
Os cem mil padres do meu negro enterro
Vão agora passar, círios às mãos.
Os cem mil padres, os cem mil irmãos...
Nasci... dou-me por pago do meu erro
Já que dá morte é que me vem o enterro...
Nasci... dou-me por pago do meu erro.
Noite... e dentro da minha solidão...
A solidão é um pássaro da noite...
Quem não te busca, pálido tresnoite,
Alma fria da noite, pelo chão...?
Amo a noite do amor, amo esse açoite,
Os círio rezam morte no clarão...
Vejo o olhar dos mortos pela treva,
Lá passa, vai adiante, o meu caixão...
Quem passa assim, quem com tal força leva
Meu esquife pesado, cor de treva,
Meu caixão,
Quem leva, quem leva?...
Vai meu corpo levado cor de treva...
Vejo os claros da morte pelo chão...
Tudo planeja o negro, a solidão.
Meu corpo, vai-se ver, não se vê fundo...
Entrarei pela terra, cor de terra...
Terra aqui, terra ali, terra... desterra,
A minha boca aterra...
Olhando a morte, quero ver o mundo...
Achar a solidão, quero ver fundo...
Solidão, solidão...
O som de um sino e a voz de um cão...
Meia noite... Solidão...
Agora os quero, do meu enterro,
Todos os padres, de volta irmãos...
Frontes curvadas, círios às mãos,
Hoje de volta do meu enterro...
Todos os padres, para o meu erro,
Hoje de volta são meus irmãos,
Os cem mil padres do meu negro enterro.
(Postado por Fernando Caldas)
sábado, 31 de dezembro de 2022
sexta-feira, 30 de dezembro de 2022
Diogenes da Cunha Lima
[ Escritor, advogado e presidente da ANL ]
Nenhuma região do país é tão pródiga na inventividade como o Nordeste. A arte do repente identifica a nossa região. É o exercício da poética popular, do sertão ao litoral, com versos de fazer inveja a poetas eruditos.
O repente nordestino é duelo verbal de cantadores com o acompanhamento de viola, rabeca ou pandeiro (embolada). Em todas as suas formas, participa do rico Patrimônio Imaterial do Brasil. É o diálogo do improviso e da liberdade vocabular.
Muito se discute sobre a sua origem. Como sempre, Câmara Cascudo vai mais longe. Para ele é o desafio oriundo do canto amebeu, grego, do tempo de Homero. É canto alternado, obrigando resposta às perguntas do companheiro.
Muitos poetas cantadores tornaram-se célebres. Pinto do Monteiro (sempre considerado o mestre da cantoria), um dia, recebeu Lourival Batista, crescente em versos quentes. Glosaram os dias da semana com o humor produzido por trocadilho. Pinto: “No lugar que Pinto canta/não vejo quem o confunda. / Que o rio da poesia/o meu pensamento inunda. /Terça, quarta, quinta e sexta, /sábado, domingo e segunda”. Lourival respondeu: ”Sábado, domingo e segunda, /quarta e quinta. / Na sexta não me faltando/a tela, pincel e tinta/pinto pintando o que eu pinto. /Eu pinto o que o Pinto pinta”.
Ninguém sabe dizer melhor das coisas da região do que o poeta mossoroense Antônio Francisco. É sempre expressiva a sua linguagem para fazer pensar. Brevíssimo exemplo: Falando sobre a fome, ele começa: “Engoli três vezes nada...”.
Fabião das Queimadas, escravo que tangia bem o verso e a rabeca, foi provocado para falar sobre a paga dos seus vinténs arrecadados. Que seria um poeta? Ele explicou: “Canta longe um passarinho/do outro lado do rio, /uns cantam porque têm fome, /outros cantam por ter frio. /Uns cantam de papo cheio, /outros de papo vazio”.
Não era cantador, mas poeta popular, popularíssimo. Aliás, Renato Caldas foi um lírico, improvisador, bem-humorado. Pediram-lhe que fizesse saudação ao escritor e pintor Newton Navarro. Versejou: “Adão foi feito de barro/mas você Newton Navarro foi feito de inspiração. / Dos passarinhos, das cores/da noite feita de amores/do luar do meu sertão”. Certa vez, o poeta tomou café em uma residência na cidade de Angicos e ao guardar suas coisas, distraidamente, incluiu uma colherinha. Já na sua cidade, em Assu, verificou o equívoco e voltou. Desculpou-se dizendo: “Eis aqui, dona Chiquinha, /devolvo sua colher. / De coisa que não é minha/eu só aceito mulher”.
Na função de conselheiro do Iphan, esforçar-me-ei para que o Repente Nordestino seja reconhecido como Patrimônio Imaterial Brasileiro.
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