sexta-feira, 13 de janeiro de 2023

VERÍSSIMO DE MELO APRESENTAVA NATAL AOS TURISTAS – E QUEM AQUI VIVIA ERA FELIZ E NÃO SABIA!

10/01/2023

48 anos depois da publicação desse interessante texto, foram tão intensas e drásticas as alterações e mudanças que aconteceram na capital potiguar, que só resta daquela cidade o que existe nos registros e nas memórias daqueles que a conheceram.

Apresento-vos Natal, capital do Estado do Rio Grande do Norte, Brasil. É a ponta mais avançada da América do Sul para dentro do Atlântico, situação geográfica que lhe proporcionou, durante a última Grande Guerra, a denominação histórica de “Trampolim da Vitória”. Porque daqui partiram as tropas e “Fortalezas Voadoras” para a invasão da África e, posteriormente, da Europa. Sua importância estratégica, pela maior aproximação com a costa da África, é reconhecida universalmente. Daí ser sede, ainda hoje, de duas poderosas bases aérea e naval brasileiras.

Veríssimo de Melo – Fonte – https://papocultura.com.br/tag/verissimo-de-melo/

No entanto, no passado, Natal já foi chamada, por um dos nossos poetas, Ferreira Itajubá, de “um vale ameno entre coqueiros“. Pela sua amenidade de clima e estar situada entre o Rio Potengi e o Atlântico, com as praias orladas de coqueiros.

Neste 1975, com seus trezentos e tantos mil habitantes, fundada por colonizadores portugueses, no Século XVI, (1599), Natal é cidade velha que se moderniza rapidamente. Suas ruas e avenidas largas, lindas praias, a incrível luminosidade tropical, a brisa constante e doce que sopram do mar, a temperatura oscilando entre 27 e 30 graus centígrados, tudo isso faz desse recanto um dos pontos mais saudáveis e atraentes do Nordeste brasileiro.

O FORTE DOS REIS

Ainda hoje não existe acordo entre os nossos historiadores a respeito do legítimo fundador da cidade do Natal. Para uns, teria sido o colonizador Manoel Mascarenhas Homem, Capitão-Mor de Pernambuco, que veio do Recife (1597) fundar um forte na confluência do Rio Potengi com o Atlântico, a fim de proteger a terra e combater os corsários franceses, que traficavam com o pau-Brasil. Outros entendem que o fundador teria sido Jerônimo de Albuquerque, o primeiro comandante do Forte dos Reis, enquanto outros estudiosos ainda se fixam no nome de João Rodrigues Colaço, lugar-tenente de Jerônimo de Albuquerque, pelo fato de, no ano de 1599, Jerônimo se achar na Europa.

Há quem sustente, bisantinamente, que Mascarenhas Homem, fundando o forte, não fundou a primeira povoação. Esta surgiria depois. Argumentamos: Se o forte, o primeiro núcleo de população, era e é a porta da cidade do Natal e foi por ele fundado, por que ir procurar um segundo fundador para a primitiva aldeia? Por isso, nos arrimamos entre aqueles que sustentam a tese de Mascarenhas Homem. E a mais racional e mais de acordo com a documentação histórica.

Interior da Fortaleza dos Reis Magos.

Na verdade, Mascarenhas Homem fundou um fortim de madeira, provisório. A atual Fortaleza dos Reis Magos foi iniciada a 6 de janeiro de 1598, daí o seu nome, no dia de Reis, sendo concluída já no Séc. XVII. (1614). É sólida e bela construção militar, ainda bem conservada, considerada, no gênero, um dos mais importantes monumentos arquitetônicos do País. Visitá-la é algo indispensável a todos que vêm à cidade, sendo tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional De lá descortina-se panorama de indizível beleza local, ao longo das praias e do casario da cidade.

O NATALENSE

O natalense, dizem os visitantes, é dos mais hospitaleiros entre todos os nordestinos. Povo extrovertido. bom, aberto a tudo e a todos, recebe sempre bem e paga para fazer favor a um turista.

Nas suas origens, naturalmente, é português, índio e negro. Talvez o tipo físico predominante seja a mistura de lusos e índios ou descendentes. A percentagem de negros é mínima na população. Explica-se: Natal não foi porto de desembarque de escravos africanos. A população de cor no Estado, descende de negros que vieram de Pernambuco, nos primeiros séculos, para os engenhos de açúcar. Pequena, portanto, desde que pequeno era o número dos nossos engenhos.

Acesso a Ponta Negra na década de 1970.

Há, no Seridó, região de pecuária, minérios e algodão de fibra longa, a predominância de um tipo físico que se destaca dos demais: São indivíduos altos, brancos, louros, olhos azuis, de compleição robusta. Ingenuamente, diz o povo que são descendentes de holandeses, ou flamengos…

Nada disso. Sabemos, historicamente, que são descendentes de portugueses do norte de Portugal, o tipo ali característico em relação aos lusos do sul, mediterrâneos. Em Natal, não há presença ponderável de indivíduos de outras etnias, como se observa no Sul do Brasil. Portugueses natos, atualmente, talvez se conte uma dúzia. Norte-americanos, em trânsito, sempre existe. Alemães, italianos, japoneses, espanhóis, só um ou outro perdido no meio do natalense. Os sírio-libaneses, descendentes em sua maioria, constituem o maior número de indivíduos originários de outras etnias e residentes no Estado.

ARQUITETURA E ATRAÇÕES

A cidade do Natal nasceu, como é da tradição portuguesa, em torno da capela (hoje, matriz), o cruzeiro, a praça e os edifícios públicos e residências particulares em torno. Assim surgiram igualmente as cidades mais prósperas do interior do Rio Grande do Norte.

Ao lado da matriz de Nossa Senhora da Apresentação, padroeira da cidade, lá está o Palácio do Governo, imponente prédio colonial, de 1868. A Prefeitura, já descaracterizada, o velho edifício onde tem sede a Guarnição Militar de Natal, a Igreja de Santo António, mais linda fachada barroca da cidade, a Igreja de Nossa Senhora do Rosário, mais modesta, e o único sobradinho colonial, à Rua da Conceição, onde a Fundação José Augusto instalou um museu histórico e artístico, digno de visitação, constituem o melhor que ainda nos resta do passado da cidade.

Palácio Filipe Camarão, sede do poder executivo municipal de Natal.

Administradores anteriores praticamente arrasaram com a velha arquitetura colonial, – herança portuguesa na nossa cultura. Em sua maioria, os edifícios públicos modernos deixam muito a desejar do ponto de vista arquitetônico. O conforto interno, as elegantes instalações contrastam com a pobreza de suas fachadas simplórias. Saliente-se que esse não é apenas um mau natalense. É brasileiro. A pretexto de uma chamada arquitetura moderna, destruíram quase tudo que havia de mais característico na velha arquitetura colonial. Raras capitais como Recife, Salvador, São Luiz e cidades do interior mineiro e maranhense ainda conservam um bom patrimônio, graças, sobretudo, à vigilância enérgica do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, que não permite reformas modernizantes.

Se há algo que o turista, vindo a Natal, não pode deixar de ver é a velha Fortaleza dos Reis Magos. Aconselharíamos, também, uma visita à Vila Flor, próximo a Canguaretama, para apreciar a beleza da Casa da Câmara e Cadeia do Séc. XVIII, agora restaurada pelo IPHAN. Também seria imprescindível uma visita ao nosso estádio de futebol, em dia de grande jogo. O Campus da Universidade, fundado em 1972, é outro recanto que precisa ser visto Ali está a semente da grande universidade do futuro. O Museu “Câmara Cascudo” oferece ao visitante uma visão de conjunto dos aspectos mais importantes da antropologia, geologia e paleontologia norte-rio-grandenses.

Campus Universitário da UFRN em Natal no ano de 1972.

BARES E RESTAURANTES

A grande atração da cidade reside nas suas praias de águas verdes e temperatura sempre amena. Seus nomes são pitorescos: Praia do Meio, Areia Preta, Ponta Negra, Pirangi, Redinha, Genipabu, as duas últimas do lado norte do Rio Potengi. Praias do Meio e Areia Preta, banhando a cidade, tem ainda denominação setoriais: É Praia do Forte, ao lado do velho monumento; Poço do Dentão, defronte ao hotel da cidade, o “Hotel Internacional dos Reis Magos”; e “Miami Beach”, a praia preferida pelos norte-americanos durante a guerra. 

Praia de Pirangí em 1972.

Aí estão situados alguns dos bares e restaurantes mais movimentados de Natal, principalmente à noite. São eles, atualmente, o “Panelão”, O “Brazeiro” e o “Saravá”, – os locais onde a moçada se reúne para bebericar e curtir a boa vida. Entre os restaurantes típicos, os visitantes não podem deixar de frequentar a “Carne Assada do Lira” e a “Peixada da Comadre”, ambos no bairro das Rocas. Ali também há um restaurante gostoso, “A Rampa”, dos oficiais da Aeronáutica, mas aberto ao público. Ainda na beira do rio, há um barzinho, o “Brisa del Mare”, onde Glorinha Oliveira, a maior cantora da cidade, sempre está cantando.

Na Cidade Alta, o turista não pode deixar de conhecer o “Granada Bar”, do espanhol Nemésio, onde se pode comer a melhor lagosta ao vinagrete da cidade. Outros restaurantes e bares de boa frequência são o “Kasarão”, o “Xique-Xique” e o “Casa Grande”, o mais novo. 

A melhoria das estradas interestaduais na década de 1970 ajudou a incrementar o turismo regional no rio Grande do Norte.

Mas, quem tiver disposição e gosto, é só tocar o carro em direção à praia de Ponta Negra e conhecer as boates da cidade, ao longo da estrada. O ponto mais tranquilo, para uma temporada de férias, é a “Casa de Hóspedes”, em Ponta Negra, um sítio à beira do mar, diante das dunas.

E quem gosta de recanto primitivo, onde a civilização ainda não chegou, é enfrentar as estradas que levam à praia de Genipabu, de morros carecas, jangadas e coqueiros sobre as dunas.

COSTUMES E TRADIÇÕES

O folclore natalense é essencialmente português, ao lado de contribuições negras e indígenas.

Quem se der ao trabalho de pesquisar as origens das manifestações folclóricas nordestinas, como já o fizemos, em vários aspectos, constatará que setenta por cento das nossas tradições e costumes são de raízes lusas. Provérbios, adivinhas, cantigas de roda, superstições, contos populares, romances, cantigas de viola, autos e bailados, quase tudo é português em suas origens, embora com as adaptações e acréscimos da população nativa brasileira.

Sociedade de Danças Antigas e Semidesaparecidas Araruna, mais conhecida como Araruna, é um tradicional grupo de dança folclórica de Natal.

Durante a última guerra, sofremos influências dos norte-americanos, que aqui transitaram aos milhares. Influências na indumentária e expressões populares. Com o advento da televisão, claro, estamos sofrendo influências de todo o mundo. Muito mais do que tudo aquilo que, durante várias décadas, recebíamos por intermédio do cinema, rádio, jornais e revistas. Apenas um exemplo: Os jovens natalenses de hoje, moças e rapazes, não diferem, em coisa nenhuma, dos jovens do Rio e São Paulo. E a chamada geração “pra-frente”, de indumentária comum a homens e mulheres (unisex), – os rapazes de barba e cabelo longos, calças apertadas, sem bolsos, camisas de mil cores e sapatos enormes, cintos gigantescos. A linguagem dos jovens é algo inusitado para os mais velhos: “Estou grilado (apaixonado): E um pão (irresistível!): estou na fossa (triste): bacana (coisa boa, serve pra tudo), etc.

ATIVIDADES CULTURAIS

Antes da Universidade, as instituições de cultura de Natal se resumiam ao Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte e à Academia Norte-rio-grandense de Letras, esta última fundada por Luís da Câmara Cascudo. Os jovens valores da época, não encontrando oportunidades para permanecer no Estado, estudavam noutras terras e logo depois de formados arribavam.

A Universidade teve o mérito de oferecer campo de trabalho para fixar a maior parte da mocidade norte-rio-grandense, hoje integrando, como professores e noutras funções técnicas, faculdades, institutos, escolas, clínicas e demais serviços.

“Miami Beach”a praia preferida dos americanos em Natal, durante a Segunda Guerra.

A Escola de Música da UFRN prepara uma nova geração de músicos e professores e há crescente interesse dos jovens pela organização de conjuntos musicais, especialmente os da chamada “música-jovem”, na base de guitarras e ritmo, jovens compositores e instrumentistas estão aparecendo nos programas da TV-Universitária e espetáculos teatrais.

Em Natal, no aspecto musical, há curiosidade que poucos observam: Quase todos os jovens tocam ou acompanham o violão, alguns excelentemente. Casa sem violão, na cidade, não é frequentada por jovens: Daí a nossa surpresa, na Filadélfia, nos Estados Unidos, ao pedir um violão para matar saudades, e quase numa rua inteira de belo está bairro residencial, constatar que ninguém ali possuía uma só guitarra…

Aspecto também digno de relevo foi o aparecimento recente, em Natal, de uma floração de artistas plásticos. Os pioneiros foram Newton Navarro (pintor e desenhista) e Dorian Gray Caldas, (pintor e tapecerista). Com o surgimento de laponi Araújo (pintor ingênuo) e descoberta de Maria do Santíssimo (pintora primitiva) e Manxa (entalhador), dezenas de jovens artistas foram repontando, alguns de méritos incontestáveis.

Praia de Ponta Negra e as dunas onde atualmente se encontram os melhores hotéis de Natalna área da Via Costeira.

Um trabalho de talha recente, de Manxa, na agência do Banco do Brasil em Natal, tomando toda uma grande parede, talvez de vinte metros, está sendo apreciado como obra monumental, tanto pelas proporções quanto pela expressão vigorosa e motivação de fontes populares.

No campo propriamente da arte popular, dois nomes ainda sobressaem na cidade: O de Xico Santeiro, escultor em madeira, já falecido, que espalhou Cristos e cangaceiros por centenas de residências e repartições públicas; e o de Luzia Dantas, eximia escultora. Esta última, residindo em Currais Novos, já influenciou a irmã, Ana Dantas, que também tem produzido peças de larga procura, pela singeleza de traços e sabor popular características das duas jovens artistas.

Ladeira do Sol.

CASCUDO

O papa e a meca da cultura norte-rio-grandense é São Luís da Câmara Cascudo e sua velha casa residencial.

Cascudo, aos 76 anos, já escreveu mais de cento e vinte livros e estudos, destacando-se como etnólogo, historiador, ensaísta, orador e conferencista. Professor universitário, hoje aposentado, tem horário certo para receber visitantes de todo o País, que o procuram para consultas, ou simplesmente conhecê-lo em pessoa.

Já teve mil convites para candidatar-se à Academia Brasileira de Letras, mas resiste heroicamente, alegando deficiência de audição e o incómodo das viagens ao Rio de Janeiro. E Cascudo é um caso raro no Brasil de escritor que se fixou na Província, realizando obra admirável sob todos os aspectos, razão por que recebeu de Afrânio Peixoto, faz tempo, o epíteto de “provinciano incurável”!

Luís da Câmara Cascudo

Sua residência, à Av. Junqueira Aires, destaca-se pela enorme biblioteca, acumulada em mais de 50 anos de atividades, além de obras de arte que foi adquirindo e recebendo dos principais artistas brasileiros e alguns estrangeiros.

Pessoalmente, Cascudo é um encanto e um demônio. Encanto pela simpatia envolvente com que sabe receber e conversar sobre todos os assuntos. Demônio de verve, graça, anedotas de toda natureza. Por isso, visitar Natal e não ver Cascudo, diz-se, é ir à Roma e não ver o Papa.

TURISMO

Nos últimos anos, o Governo do Estado e a Prefeitura de Natal criaram órgãos para desenvolvimento do turismo na cidade Já estão sendo restauradas velhas construções estando em andamento o aproveitamento de logradouros e recantos pitorescos.

Praça Kennedy, no centro de Natal, antiga Praça das Cocadas.

A infraestrutura já foi iniciada com a construção do Hotel Internacional dos Reis Magos, na Praia do Meio, Hotel Samburá, no centro da cidade. Há outros hotéis de categoria em construção e em projeto, como o que o grupo “Quatro Rodas” está construindo em Ponta Negra.

O artesanato (palha e madeira) e a arte popular norte-rio-grandense já podem ser adquiridos em casas especializadas, a preços módicos. Os apreciadores das danças populares podem deliciar-se com uma visita à Sociedade Araruna de Danças Antigas, nas Rocas, ou como o Conjunto “Asa Branca”, para conhecer o bambelô e o nosso coco de roda, sobrevivência negra na nossa cultura.

A simplicidade das antigas barracas da Praia de ponta Negra.

As casas de culto de umbanda, em vários pontos, também atraem os curiosos por conhecerem as peculiaridades da religião afro-brasileira. A maior festa popular da cidade ainda é a dos Reis Magos, a 6 de janeiro, em frente à capela do mesmo nome, nas Rocas. Os apreciadores do folclore poderão admirar o nosso Fandango (Nau Catarineta), os Congos, Pastoris, Lapinhas, Cheganças e outros folguedos que se exibem em palanque armado pela Prefeitura, em praça pública. Também podem bebericar e comer doces e comidas típicas nas barracas cobertas de palha, em torno da praça. São dois dias de festas consecutivos.

No Parque “Aristófanes Fernandes”, em Parnamirim, vez por outra, o visitante pode apreciar um dos espetáculos de competição esportiva mais violentos: A Vaquejada, consiste na derrubada do gado pela cauda. Grandes vaqueiros de todo o Nordeste ali sempre se encontram e os norte-rio-grandenses são os campeões absolutos desse esporte tradicional.

Foguete do tipo Sonda sendo lançado da Barreira do Inferno.

Na Barreira do Inferno, um pouco além de Ponta Negra, está localizado o campo de lançamento de foguetes da Aeronáutica, a primeira estação espacial brasileira. Além disso, foram desenvolvidos importantes projetos de exploração do espaço, inclusive com a cooperação de cientistas europeus e norte-americanos. A direção da Estação de Barreira do Inferno permite visitas às suas instalações, uma vez por semana.

*Veríssimo de Melo (9 de julho de 1921 — 18 de agosto de 1996) foi advogado, juiz, professor de Etnografia do Brasil da Faculdade de Filosofia de Natal e de Antropologia Cultural da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, além de jornalista.

De: https://tokdehistoria.com.br/. de Rostande Medeiros.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2023

Administrador
 3 d 
Desfile de moda na antiga "Formosa Syria". Fundada em 1927, iniciativa do jovem libanês Magid Hassan. Funcionou inicialmente na Rua Doutor Barata, Ribeira, onde teve uma filial. Posteriormente a loja foi para a Avenida Rio Branco, inaugurando, em 1937, as "novas e belíssimas instalações da Formosa Syria, que impressionavam pelas enormes dimensões do salão de vendas e pela implantação de uma charmosa alavanca de vendas, tendo sido a primeira loja de Natal a ter vitrines". Fonte: Memória do Comércio do Rio Grande do Norte. Natal, 2007.



 


 

João Gothardo Dantas Emerenciano 7 h · Rua Chile com Avenida Tavares de Lira. À direita o Hotel Internacional na década de 20.






Por João Felipe da Trindade O reencontro com o capitão Manoel Varela Barca Por conta da Ilha de Manoel Gonçalves e da Genealogia dos mártires de Uruaçu, Antônio Vilela Cid e Estevão Machado de Miranda, me interessei por tudo relacionado ao capitão Manoel Varela Barca, inclusive o seu inventário. Agora, descubro que o capitão está na ascendência dos meus netos Melina, Lucca e Rafael, através da avó materna Lúcia Caldas. Através dos documentos da Igreja, descubro que meus netos são descendentes de Domingos Varela Barca e Gertrudes Lins Pimentel, cujo casamento foi no Assú, aos 9 de outubro de 1823, na Fazenda Estreito. Ele, com 20 anos, filho do capitão Manoel Varela Barca e Francisca Ferreira Souto, falecida, na época, e ela, com 22 anos, filha legítima de João Lins Pimentel e Josefa de Mendonça Lins, presentes João Maurício Pimentel e Francisco Varela Barca, ambos casado, sendo dispensados do parentesco com que estavam ligados.
Por João Felipe da Trindade Domingos Varela Barca e Gertrudes Lins Pimentel tinham uma filha como o mesmo nome da avó materna, a saber Josefa de Mendonça Lins Caldas. Ela se casou, em 29 de fevereiro de 1852, em Santana do Matos, com Joaquim José de Arruda Câmara. Segue o casamento dela, onde não são citados os pais. Posteriormente, colocarei o óbito dela, que ocorreu em Recife, onde são citados os filhos, embora, com equívocos por conta do declarante.

terça-feira, 10 de janeiro de 2023

Morreu o grande comunicador e amigo Aurivan Lacerda Assu de Luto.Descanse em Paz. By: JOTA RIBAMAR JR on janeiro 10, 2023 Morreu o comunicador Aurivan Lacerda Reprodução Morreu na tarde de hoje, 9, no município de Porto Nacional, estado de Tocantins, o comunicador Aurivan Lacerda, que por alguns anos exerceu suas atividades profissionais na rádio Princesa do Vale, hoje Princesa FM, em Assú. Aurivan estava com a saúde fragilizada após enfrentar problemas de úlcera, foi submetido a uma cirurgia e em seguida teve problema renal. O sepultamento será em Porto Nacional (TO). Além da Princesa do Vale, Aurivan atuou nas emissoras de rádio Difusora de Cajazeiras (PB); Libertadora de Mossoró (RN); Salinas de Macau (RN); Tocantins FM de Gurupi e Araguaína (TO); Porto FM e Tocantins AM de Porto Nacional (TO). Também atuou em televisão, na TV Assu/Rede Horizonte; TV Gurupi/SBT; TV Araguaía/SBT; TV Capital-Palmas/SBT; TV Porto/SBT e TV Pontal/Band. Em todas atuou como repórter, apresentador e produtor jornalístico. PrintTwitterFacebook

domingo, 8 de janeiro de 2023

A vida é o que foi sempre. Um ascendente circulo vicioso. (João Lins Caldas, poeta potiguar do Assu, um dos maiores nomes - esquecido e injustiçado - da poesia e do pensamento filosófico brasileiro).

sábado, 7 de janeiro de 2023

SORTE MESQUINHA

 

Waldemar Campielo Maresco e João Teixeira Filho foram prefeitos do município de Carnaubais, então Vila de Santa Luzia que até 1963 pertencia ao município do Assu. Pois bem, o ex-vereador daquele município, o ativista político e blogueiro Aluízio Lacerda depõe que na década de 70, o poeta violeiro, cordelista chamado Alípio Tavares desencantado com a falta de atenção dos poderes constituídos à época em Carnaubais, estava realizando uma cantoria de pé de parede, vendo a fraqueza dos políticos que não compareciam com sua contribuição ao prato exposto na sala, versejou em tom de desabafo:

Carnaubais quando era Vila
Alguma coisa ainda tinha
Depois que passou a cidade
Entrou numa sorte mesquinha
É saindo Valdemar 
Entrando Teixeirinha


E a cantoria fora encerrada com risos dos circunstantes.

 


- A mais bela das rosas?

- Todas as rosas.

(Fernando Caldas)



sexta-feira, 6 de janeiro de 2023

Por: Ival Saldanha
Quando se puxa pela mente, a imagem parece surgir em preto e branco. Cenas do Recife que muitas vezes se confunde com algumas da Europa dos anos 20, com o capricho que se fazia presente nas roupas, na música e nos perfumes. Mas a arquitetura também não deixava por menos. O estilo imponente e recheado de detalhes ainda pode ser visto desde algumas ruas e suas casas. E foi neste cenário, cravado entre a avenida Guararapes e a rua do Sol, tendo como vizinho ás aguas do rio Capibaribe, que foi erguido o Edifício Sede dos Correios e Telégrafos do Recife, hoje a Agência Central dos Correios em Pernambuco. O prédio em estilo Art Déco, um estilo imponente e recheado de detalhes foi construído em 1950. Traz um relógio no topo do prédio, com 4,5 metros de diâmetro, estando a 40 metros do chão. O estilo formato denominado de Art Déco vem se perdendo entre às ruas e casas deterioradas pelo abandono e pelo tempo do meu Recife querido. São lembranças de um Recife esquecido...
*Obs: A foto abaixo, mostra a Ponte Duarte Coelho, no trecho em que se vê o edifício dos Correios e Telégrafos, no bairro Santo Antônio, da região do Centro de Recife, em 1957.



quinta-feira, 5 de janeiro de 2023

LEMBRANDO EPIFÂNEO BARBOSA

Era eu menino de calças curtas quando tive o privilégio de ter conhecido Epifânio Barbosa. Tipo baixo, garboso, esperto (no bom sentido), morenão, jeitão sertanejo. Fazendeiro, negociante de gado. Epifâneo era amigo leal de meu avô materno Fernando Tavares (Vemvem) que foi também fazendeiro na região do Assu. Lembro-me de dele, Epifânio, frequentando assiduamente as reuniões sociais na calçada do rico e antigo casarão do casal Maria Eugênia e Nelson Montenegro. Ele era proprietário da famosa Fazenda Cruzeiro, localizada, se não me engano, no distrito do Riacho.


Epifânio tinha um mundo de amigos e era admirado por todos daquela região sertaneja. Homem de poucas letras, porém sabido nos negócios de compra e venda de gado, sábio na maneira de viver e ver a vida, espirituoso como ninguém. O governador Dix-sept Rosado de quem ele era amigo íntimo, que o conheceu através de Vemvem que tinha amizade estreita com Dix-Sept que fora governador do Rio Grande do Norte, em 1951,deliciava-se com suas tiradas de espíritos, suas estórias pitorescas, os seus repentes. Nas festas políticas Epifâneo não perdia a oportunidade para discursar. A sua fala com aquele seu linguajar matuto, estapafúrdio, que tinha um sentido filosófico e lhe fazia gracioso, encantava e agradava a leigos e eruditos.


Epifânio não tinha inibição, era desenrolado. Grosseirão (no bom sentido). Certa vez, a deputada federal Ivete Vargas, visitava a cidade de Mossoró (RN). Epifâneo era admirador do então presidente Vargas, resolveu ir até aquela cidade do oeste potiguar conhecer aquela parlamentar do PTB. Ao chegar no aeroporto daquela terra do oeste potiguar, uma multidão incalculável se encontrava presente naquele local, prestigiando a filha do presidente Vargas. Pois bem, Epifânio usando da habilidade que lhe era peculiar, "como um relâmpago inesperado", meteu-se no meio daquele povão e chegou próximo a Ivete, batendo forte com uma das mãos no "bumbum" daquela parlamentar que assustou-se, virou-se e ficou olho no olho com Epifânio que apresentou-se a si mesmo de forma graciosa, dizendo assim: "Muita prazer, deputada. Epifânio Barbosa do Assu. Nunca bati na bunda de uma mulher, pra ela não olhar para trás!"


Epifânio imortalizou-se na "pena fulgurante e adestrada", da escritora assuense de Lavras (MG), Maria Eugênia, no romance intitulado "Lourenço, O Sertanejo", cujo conto é o seu protagonista. Aquela mulher de letras, começa a narrativa do seu belo e original romance dizendo que "na aridez das caatingas, Lourenço viu-se jogado no mundo. De estatura mediana, saudável, inteligente, rosto largo e moreno, era figura popular no Vale do Açu, a rica região onde as carnaubeiras, com seus leques entreabertos, emolduravam de verde os longínquos horizontes, ao abano constante dos ventos.


Herdara dos ancestrais a tenacidade na luta pela vida. Corpo raiado, espírito forte, aceitava com a alegria ou sem amargor, tudo o que a vida lhe oferecia em suas variadas contingências.


Ali nascera e se fizera homem. Integrado à terra, como os verdes juazeiros, que heroicamente resistem a todos os ventos. Lourenço, ali possuía raízes como as agigantadas árvores que não poderiam ser transplantadas. Não se aclimataria jamais em qualquer lugar."


Fica este artigo que tem, sobretudo o sentido de resgatar, relembrar, apresentar aos mais jovens, Epifânio Barbosa, o que ele representou para o folclore regional, a pecuária dos sertões do Assu.

Por fim, nas palavras do poeta cordelista (desconheço o autor), homenageio e reverencio a memória de Epifânio Barbosa, que diz assim:

Muito gado na fazenda,

Vacas, bezerros, garrotes.
Diversos reprodutores,
Novilhas e novilhotes,
Muitas cabras e cabritos,
Pulando pelos serrotes.

(Fernando Caldas)

Zalgalo, 90 anos de idade. É o único da seleção brasileira de 1958 que etá vivo.













segunda-feira, 2 de janeiro de 2023

Eis de mim, uma poesia desconhecida.
Eis de mim, um erotismo que não se conhece.
É estranho carregar um sorriso,
uma vida inteira no rosto
e ninguém suspeitar dos traumas,
das quedas, dos medos, dos choros.
Desenganem-se aqueles que pensam
que erótico é o corpo.
Erótica é a alma que aceita as cicatrizes.
Não há beleza nelas,mas são minhas.
O que seria eu sem elas.

(Cristina Costa)



Corpo do poeta João Lins Caldas - 1988-1967 no seu caixão, sendo velado na casa do seu primo e amigo Luiz Lucas Lins Caldas Neto (meu avô paterno), na cidade de Assu/RN, 1967. Na fotografia da esquerda: Domitília Eliete de Medeiros, João Crisóstomo Tavares (?), (?), Ivo Pinheiro, Tibobô, Fernando Caldas (criança), (?), Luiz Roberto/ Luiz da Carroça, Mário Tavares Dantas, (?), (?), Levi de Oliveira Gomes, dentre outros admiradores do grande poeta Caldas. 

Vamos conferir o seu poema fúnebre intitulado Marcha Fúnebre:

Os cem mil padres do meu negro enterro
Vão agora passar, círios às mãos.
Os cem mil padres, os cem mil irmãos...
Nasci... dou-me por pago do meu erro
Já que dá morte é que me vem o enterro...
Nasci... dou-me por pago do meu erro.

Noite... e dentro da minha solidão...
A solidão é um pássaro da noite...
Quem não te busca, pálido tresnoite,
Alma fria da noite, pelo chão...?
Amo a noite do amor, amo esse açoite,
Os círio rezam morte no clarão...

Vejo o olhar dos mortos pela treva,
Lá passa, vai adiante, o meu caixão...
Quem passa assim, quem com tal força leva
Meu esquife pesado, cor de treva,
Meu caixão,
Quem leva, quem leva?...
Vai meu corpo levado cor de treva...

Vejo os claros da morte pelo chão...
Tudo planeja o negro, a solidão.
Meu corpo, vai-se ver, não se vê fundo...
Entrarei pela terra, cor de terra...
Terra aqui, terra ali, terra... desterra,
A minha boca aterra...

Olhando a morte, quero ver o mundo...
Achar a solidão, quero ver fundo...
Solidão, solidão...
O som de um sino e a voz de um cão...
Meia noite... Solidão...

Agora os quero, do meu enterro,
Todos os padres, de volta irmãos...
Frontes curvadas, círios às mãos,
Hoje de volta do meu enterro...

Todos os padres, para o meu erro,
Hoje de volta são meus irmãos,
Os cem mil padres do meu negro enterro.

(Postado por Fernando Caldas)



 Do face de  Fernando Caldas Somente no amor o homem está de joelhos; porque o amor é a única escravidão que não desonra. Vargas Vila, poeta...