sábado, 29 de abril de 2017

RELÍQUIA - SEGUNDA EDIÇÃO DE FULÔ DO MATO

Dê um clique na imagem.

Página 20 (amarelada pelo tempo) do livro intitulado "Fulô do Mato", segunda edição, de Renato Caldas, considerado um dos maiores poetas matutos que o Brasil já teve. Renato, se compara ao poeta maranhense Catulo da Paixão Cearense. Foi ele, Renato Caldas, "que deu nome ao Rio Grande do Norte nas letras nacionais", publicando o livro já citado acima.

A segunda edição de Fulô do Mato, Renato publicou (publicação independente, ainda tipográfica) com a ajuda do deputado Aluízio Alves, Carlos Lacerda (que foi governador da Guanabara, atual cidade do Rio de Janeiro), industrial e agropecuarista potiguar Aristófanes Fernandes, Dinarte Mariz (que foi governandor do Rio Grande do Norte e senador da república) e Sérvulo Pereira. Aquela edição o bardo assuense dedica aos seus amigos Manoel Soares Filho (seu cunhado, assuense (que foi superintendente da Caixa Econômica Federal, em Natal, no tempo em que Café Filho governava o Brasil), Carlos Homem de Siqueira, Júlio Alves de Araújo, Joaquim Ramalho Filho, Cláudio Rômulo de Siqueira. Sem esquecer a inteligência dos seus amigos, o poeta ainda dedica aquela edição ao Gal. Everardo de Barros Vasconcelos, além de Jaime dos G. Wanderley, Otoniel Meneses (considerado o príncipe dos poetas natalenses, autor da famosa canção conhecida popularmente como "Praieira dos Meus Amores"), Josué Tabira da Silva, Caio Cid, Sílvio de Souza, Jorge Fernandes, João Soares Filho, Luiz Tavares, José Vilar Lemos, Paulo Teixeira, Assis Gois, Hélio Oliveira, Francisco Joaquim sobrinho, João Cirineu de Vasconcelos, Carmelo Pignataro, Walter Leitão, Bartolomeu Fagundes, Francisco Ximenes, Mário Gurgel, Veríssimo de Melo, Waldemar Almeida, Celso Silveira, Lauro Leite e Cel. Abel Veríssimo de Azambuja. Aquele bardo popular  naquela edição lembra a memória dos seus amigos Deolindo Lima, Macrino Medeiros (seu companheiro inseparável nas suas andanças, de farras intermináveis pelo interior do nordeste), Germano Sena, Aurélio Flávio, João Celso Filho, Milton Fagundes, Mário Amorim, Damasceno Bezerra, Catulo Cearense, Silvino Lopes e Benilde Dantas.

Aquele livro tem palavras de Câmara Cascudo, Catulo Cearense, Sílvio de Sousa, Ruy Duarte, Josué Silva, Damasceno Bezerra e Morse Lyra, todos contemporâneos do poeta assuense que elevou o nome da sua terra natal, além fronteiras, bem como conseguiu a consagração nacionalmente.

Fernando Caldas

BAR DE XIMENES

O Bar Ximenes era instalado entre a praça Pedro Velho e do Rosário, na cidade de Assu, esquina com a prefeitura, antiga Cadeia Pública, onde funcionou durante décadas, a Farmácia São Pedro. Era um recinto aristocrático e popular. Oferecia jogo de bilhar e cartas (baralho). Lá se reuniam figuras da terra assuense, para tomar "umas e outras" e uma boa prosa. Era seus frequentadores assíduos Walter Leitão, Major Montenegro, Nelson e Edgard Montenegro, Fernando Tavares (Vem-Vem), Francisco Amorim, Solon Wanderley, Zequinha Pinheiro, Tio Alfredo (que está nesta fotografia), além de Ricardo Albano, Lauro Leite, Epifânio Barbosa, Expedito Silveira, Edmilson e Luizinho Caldas, Renato Caldas, Zé Ramalho, dentre outros. O popular "Bonzinho" Marreiro (doente mental) também frequentava aquele ambiente, para fazer mandados. Certa vez, Bonzinho fora solicitado por Walter Leitão para que ele, Bonzinho, fosse até a praça Getúlio Vargas, para ver se ele, Walter, se encontrava por lá. Bonzinho de repente soltou essa: "Seu Walter. Me dê o cabresto porque se o senhor estiver por lá, eu trago!" - Para risos dos circunstantes. 
Outra estória que aconteceu naquele bar, se deu com Lauro Leite que ao ouvir alguém dizer "Deus é muito bom". E Lauro saiu-se com essa se auto diagnosticando: "Deus é bom nada meu amigo! Tira a tesão da gente, mas não tira a lembrança!"
Em tempo: Lauro Leite era mossoroense, trabalhava em Assu com o abastardo comerciante e proprietário rural Zequinha Pinheiro e, quando jovem ajudou a combater o bando de Lampião no ataque a Mossoró.

Fernando Caldas

terça-feira, 25 de abril de 2017

Augusto Frederico Schmidt
 O Grande Momento
 
A varanda era batida pelos ventos do mar 
As árvores tinham flores que desciam para a  morte, com a lentidão das lágrimas. 
Veleiros seguiam para crepúsculos com as  asas cansadas e brancas se despedindo, 
O tempo fugia com uma doçura jamais de  novo experimentada 
Mas o grande momento era quando os meus olhos conseguiam entrar pela noite fresca dos seus olhos... 

Era uma vez em Assu

(Washington Araújo)

Havia um céu que nos protegia. Havia uma louca da cidade que longe de nos causar medo, todas as pessoas a adoravam e se chamava Doninha. Havia festas todas as semanas no clube Municipal e se chamavam tertúlias. Tinha em Zé do Bar os melhores cachorros quentes da cidade. E tinha o Bar Boleta e o Bach Chopin. Tinha gente nas calçadas e nem eram necessárias câmaras de vigilância. Todos fins de tarde dava gosto ver o casal Gena e Nelson Montenegro caminhando até nossa casa, trinta ou cinquenta metros apenas, ele assoviando alguma valsa como 'Branca' ou 'Lábios que beijei' e ela conversando com seu cãozinho de nome Dayán porque tinha um sinal negro em um olho e lhe lembrava o general israelense Moshe Dayán que usava uma venda no olho direito. Tinha alfinins em junho. A tevê era novidade e quando saía só som sem imagem era para Edzés que a cidade inteira acorria. Tinha os famosos táxis da cidade, o mais tradicional era o de Arnaud Abreu, pessoa boníssima e muito querida por todos e tinha os táxis que faziam a linha diária Assu/Natal/Assu - os de François e de Camburão. Tinha festa de debutantes e churrascos fartos para quem passava no vestibular em Natal. Tinha Zelinha Tavares puxando as mais belas cirandas que um humano poderia apreciar naqueles tempos. Tinha os grudes, raivas e suspiros quentinhos vendidos durante a tarde por dona Martinha. Tinha Chisquito com seu paletó de linho branco que até o século passado lá no campo 'inda era flor. Tinha Barão esporeando seu cavalo. Tinha os animados banhos nos tanques do Baldum e no pequeno açude da fazenda Novo Mundo. Tinha reuniões do Lions Clube e da Maçonaria. Tinha em junho o jornalzinho de fofocas - 'A Mutuca' circulando. Tinha Solonzinho vendendo suas Flor-do-Vale ainda quentinhas é muito disputadas. As brigas de marido e mulher corriam a cidade inteira. Uma destas dava conta de um jovem casal em que a mulher por não achar lugar melhor para esconder o revolver do marido colocou-o na geladeira, no congelador, entre caçambas de gelo. E lá ficou duas semanas! Outra de mulher que foi 'pastorar' o marido entrar no motel com a amante. Tinha recepção festiva no CNSV para Gena Montenegro quando, em 1972, foi eleita para a Academia de Letras do RN. Tinha visita de Frei Damião na cidade e a cidade vivia suas romarias de fiéis. Tinha uma chuvinha qualquer e já se dizia que era inverno na cidade. E dos bons. Tinha a Adega do seu Lacerda com aqueles inesquecíveis banhos embaixo dos imensos pilares da ponte. Tinha o 'Majó' Montenegro, imperador absoluto do Reino da Picada. Tinha famosos banhos de tanque no Farol. Tinha boias feitas de câmeras de pneus de caminhão com gente em cima se divertindo nas geladas águas do açude do Memdubim. Tinha um belo casal de namorados: Zezinho Abreu e Aninha de Dr. Nelson Inácio dos Santos. Tinha a voz acolhedora e tão afinada de Laura Alves. Tinha gente que por ostentar ter dinheiro era logo chamado doutor. Tinha o humor sagaz, permanente, inteligente e oportuno do grande prefeito Golinha. Tinha professores excelentes como dona Auri, Lurdinha de Mané Calixto, Josélia, Rubian, Deú e Nanã Pimentel, doutor Noé, Severino Bôinho, Baco, dona Helena Antonow Centeno - gaúcha e também a mais linda professora que um dia pôs os pés na calorenta mas hospitaleira cidade. Tinha concurso para se escolher a mais bela voz do Vale no Instituto Padre Ibiapina. Tinha o Colégio Estadual e o Ginásio Pedro Amorim. Tinha vaquejada e suculentas comidas de milho verde nas barraquinhas. Passava 'Eu transo, Ela transa' com Sandra Brea no Cine Theatro Pedro Amorim. Tinha nos velhos recreios do CNSV os Novos Baianos cantando 'Preta, pretinha'. Tinha passeatas dos verdes bacuraus e dos vermelhos fechadores, com Olavo e Edgard Montenegro disputando décadas a fio e benquerença do povo de Assu. Tinha as moças que fugiam de casa, sinal que os pais não aprovavam seu namoro, passavam a noite fora com o namorado, e geralmente se dizia que se mandavam pras bandas do rio Assu e fato é que, no dia seguinte, logo corria a notícia, sempre com as tintas de escândalo, dando conta 'que a fugitiva iria se casar de imediato'. Tinha Padre Canindé, possesso, vociferando sermões com promessas do fogo do inferno pra toda gente mais chegada a uma fofoca, ou a unas cem mil maledicências. Tinha Cecéu Amorim fazendo quase tudo com um braço só que mais parecia que tinha era uns quatro braços, tipo aquelas divindades hindus que vim a conhecer em Nova Delhi, na Índia, muitos anos depois. Tinha jogo de voleibol no CNSV nas velhas tardes de sábado e domingo de uma cidade em que a juventude nada tinha pra fazer à tarde. Tinha a rádio de Cabassis (Herval Tavares) que possuía apenas um alto falante estridente operado pelo 'mago véio' Hermes e que quebrava o belo silêncio da velha cidade e azucrinava a conversa de todo mundo. Tinha as velhas famílias que quando morria o pai ou a mãe vestiam-se preto em luto fechado por todo um ano mesmo naquele clima infernal. Tinha um rábula chamado Lou que se fosse francês seria chamado filósofo e se vivesse no século XIX seria amigo de Nietzsche. Tinha enterros dramáticos como o de Baco com a cidade aturdida cantando 'A Viagem', cumprindo assim um dos últimos pedidos do jovem que atentou contra a própria vida e que era querido por todos. Tinha um grupo de escoteiros comandado por Padre Canindé e por Bibito. Tinha quatro farmácias principais na cidade - a de Horacinho Cunha, a de João Branco, a de Pedro e a Continental, de Zé Diógenes. Tinha o posto de gasolina de um velhinho magricela chamado Ricarte Legítimo. Tinha um cantor de vozeirão que nada sabia de inglês, mas só gostava mesmo era de cantar em inglês - "Baby desce daí se não tu morre". Seu nome? Mané Raposa. Tinha o Café Semar vendido ali na avenida João Pessoa. Tinha blocos de carnaval levados a sério: Selenistas, Foliões, Futuristas, Abutres, Ki-chêcho. Tinha o lendário Chico Branco (mas qual cidade não tinha o seu Chico Branco?). Tinha desfiles de 7 de setembro muito concorridos com cada colégio e escola rivalizando na qualidade do uniforme, no ritmo da marcha, na música executada pela banda. Tinha as lojas Varieté, Pérola, Corália calçados, Betty's boutique, Loja de Oscarzinho. Tinha um colégio que formava todas as novas gerações de assuenses afluentes: o sempre bom CNSV, a quem devo tudo o que aprendi na vida. Tinha o afetado e ótimo fotógrafo Teté, espécie de Denner Pamplona, divertido jurado do Programa Flavio Cavalcanti com o seu "é um luxo!". Tinha venda de senhas para bailes com Alerta 5, depois Sui Generis, Impacto 6, Os Vips. Tinha a cidade toda fissurada nas gravações do filme 'Jesuíno Brilhante, o cangaceiro romântico', dirigido pelo assuense William Cowbett, filme onde Solonzinho era juíz, Pedro Cícero de Oliveira, dono de mercearia e os casal principal era os famosos Vanja Orico e Leonardo Villar, além de Rodolfo Arena, de 'O Ébrio'. Tinha Joricene da Receita, Adonias da Coletoria, Edmilson da Cooperativa, Geraldo Dantas do BB, Amarílio do INSS. Tinha os mistos que faziam a linha Assu/Carnaubais/ Assu de Zé de Anna e do Zezinho do Misto. Tinha a matriarca que determinava quem fazia parte da sociedade assuense e quem não. Tinha a miss mais bonita do nordeste brasileiro: Zuíla Ramalho. Tinha os médicos da cidade: Fernando Rosendo, Nelson Inácio dos Santos, Benvenuto Gonçalves, Noé Rogério da Costa, Gileno Cachina Bezerra, Roberto Rufino de Magalhães, Alexis Pessoa, Doutor Sales, Pedro Dantas. Tinha milhões de lacerdinhas entrando nos olhos de todo mundo que passeava na praça Getúlio Vargas. Tinha o salão de beleza de Lilita e Verinha. Tinha em cada casa mais remediada um tapete de couro de vaca estendido no chão da sala de visita. Tinha o homem mais rico da cidade, o boa pinta e eterno solteirão Tião Diógenes. Tinha Purueca pedindo a bênção a dona Gena Montenegro e ela respondendo toda feliz "Deus te abençoe meu lindo!". Tinha a velha tipografia de Cabralzinho. Tinha a praça da Carnaubinha. Tinha o riso farto e camarada do bom Zézinho André. Tinha o americano bonachão David Knoll incendiado pela ideia de produzir frutas para exportação em todo o vale do Assu. Tinha Roque perambulando pela cidade e com dus bolsas de palha, uma para receber donativos e outra, furada para colocar os 'perdoe" que recebia. Tinha a fábrica de mármores da Simwal. Tinha o cartório de Agenor. Tinha quadra de futebol de salão defronte à matriz de São João Batista antes que o prefeito construísse ali o tal famoso 'buraco do Prefeito'. Tinha grandes canecas de chope de bailes do Lions Clube em cima da geladeira. Tinha gente engraçada como Papachina. Tinha a Leão dos Tecidos de Neide Almeida. Tinha as beatas e carolas dona Ofélia e Donatila para defender a cidade inteira dos pecados de todos os tipos. Tinha Renato Caldas inspirando a juventude em sua boêmia madrugada afora. Tinha Xanduzinho todo paramentado de bispo em sua mini-catedral toda estilosa encravada ali no início da rua Manoel Montenegro. Tinha carnavais inesquecíveis com lança-perfumes, rainhas do carnaval e Edmilson como eterno rei Momo. Tinha toda a comoção de uma cidade em prantos, inconsolada, com a partida precoce do muito benquisto Oswaldinho Amorim, o pioneiro e grande pensador do potencial agrícola do Vale do Assu. Mas o melhor de tudo era que todos os que amávamos estavam ainda vivos, muito vivos. Eles já se pareciam eternos porque pressentiam que eram, na verdade, simplesmente eternos, sabiam que o tempo passaria por eles sem lhes diminuir o brilho e beleza de suas vidas. Sou de minha infância como se é de uma cidade. E nessa cidade-infância quando se saía desta vida se entrava no tempo que não tinha início nem fim - no vasto tempo do encantamento.
Sim, era uma vez em Assu.

domingo, 23 de abril de 2017

O TEMPO PASSOU E ME FORMEI EM SOLIDÃO

Sou do tempo em que ainda se faziam visitas. Lembro-me de minha mãe mandando a gente caprichar no banho porque a família toda iria visitar algum conhecido. Íamos todos juntos, família grande, todo mundo a pé. Geralmente, à noite.

Ninguém avisava nada, o costume era chegar de paraquedas mesmo. E os donos da casa recebiam alegres a visita. Aos poucos, os moradores iam se apresentando, um por um.

– Olha o compadre aqui, garoto! Cumprimenta a comadre.

E o garoto apertava a mão do meu pai, da minha mãe, a minha mão e a mão dos meus irmãos. Aí chegava outro menino. Repetia-se toda a diplomacia.

– Mas vamos nos assentar, gente. Que surpresa agradável!

A conversa rolava solta na sala. Meu pai conversando com o compadre e minha mãe de papo com a comadre. Eu e meus irmãos ficávamos assentados todos num mesmo sofá, entreolhando-nos e olhando a casa do tal compadre. Retratos na parede, duas imagens de santos numa cantoneira, flores na mesinha de centro... casa singela e acolhedora. A nossa também era assim.

Também eram assim as visitas, singelas e acolhedoras. Tão acolhedoras que era também costume servir um bom café aos visitantes.

Como um anjo benfazejo, surgia alguém lá da cozinha – geralmente uma das filhas – e dizia:
– Gente, vem aqui pra dentro que o café está na mesa.

Tratava-se de uma metonímia gastronômica. O café era apenas uma parte: pães, bolo, broas, queijo fresco, manteiga, biscoitos, leite... tudo sobre a mesa.

Juntava todo mundo e as piadas pipocavam. As gargalhadas também.

Pra que televisão? Pra que rua? Pra que droga? A vida estava ali, no riso, no café, na conversa, no abraço, na esperança... Era a vida respingando eternidade nos momentos que acabam.... era a vida transbordando simplicidade, alegria e amizade...

Quando saíamos, os donos da casa ficavam à porta até que virássemos a esquina. Ainda nos acenávamos. E voltávamos para casa, caminhada muitas vezes longa, sem carro, mas com o coração aquecido pela ternura e pela acolhida.

Era assim também lá em casa. Recebíamos as visitas com o coração em festa... A mesma alegria se repetia. Quando iam embora, também ficávamos, a família toda, à porta. Olhávamos, olhávamos... até que sumissem no horizonte da noite.

O tempo passou e me formei em solidão.

Tive bons professores: televisão, vídeo, DVD, internet, e-mail, Whatsapp ... Cada um na sua e ninguém na de ninguém. Não se recebe mais em casa. Agora a gente combina encontros com os amigos fora de casa:
– Vamos marcar uma saída!... Ninguém quer entrar mais.

Assim, as casas vão se transformando em túmulos sem epitáfios, que escondem mortos anônimos e possibilidades enterradas. Cemitério urbano, onde perambulam zumbis e fantasmas mais assustados que assustadores.

Casas trancadas.. Pra que abrir? O ladrão pode entrar e roubar a lembrança do café, dos pães, do bolo, das broas, do queijo fresco, da manteiga, dos biscoitos do leite...

Que saudade do compadre e da comadre!...

(José Antônio Oliveira de Resende
Professor de Prática de Ensino de Língua Portuguesa, do Departamento de Letras, Artes e Cultura, da Universidade Federal de São João del-Rei).

O LIVRO DE "PERPÉTUA" - MARIA DO PERPETUO SOCORRO WANDERLEY DE CASTRO



II - BREVIDADE

Jorge Fernandes fixou - No meu tempo, a luz elétrica vinha com a lua. O verso combina com tantas cidades do interior do Brasil e do Rio Grande do Norte. Posso, portanto, dizê-lo ao falar do Assu.

Nasci em Assu, uma das mais antigas cidades do Estado, orgulhoso de um passado tradicional, marcado por ter tido jornal semanal em 1867, por ter sido a segunda Comarca criada pela Lei Provincial n. 13, de 11 de março de 1835 tendo como primeiro juiz Basílio Quaresma Torreão Júnior, a freguesia de São João Batista da Ribeira do Assu em 1726, a segunda cidade a libertar os escravos, em 24 de junho de 1885. Criei-me ouvindo estórias de trancoso, ainda do tempo em que se falava da moura torta e da pobre menina enterrada pela madrasta malvada e ouvindo estórias dos fatos da cidade, como a angústia do grande incêndio ocorrido em 1951 de que resultou a destruição de casa integrante do conjunto arquitetônico da velha rua Casa Grande, a estupefação co a chegada do primeiro carro, um Ford que causou assombro, assim como tempos depois o avião causara medo. Vivi o cotidiano da cidade do interior, com as crenças e temores dos mais velhos, falando ainda sobre botijas, sobre becos mal-assombrados, sobre aparições e fantasmas.

Naquele tempo, a luz elétrica chegava com o por do sol, quando o velho moto era ligado e, ordinariamente, desligado ao meio da noite, após os três sinais que anunciavam verdadeiro toque de recolher, pois a cidade se recolhia à escuridão. E as noites eram, ainda, adoçadas por sons de violões e serenatas, frequentemente permeadas pela declamação de versos e pela acolhida hospitaleira dos donos das casas escolhidas, que serviam bebidas e petiscos aos seresteiros. A cidade desfrutava de luz elétrica desde 1927 o que permitia as sessões de cinema, festas em clubes e pequenas festas em locais como a Casa da Juventude, cuja lembrança se enche do som redondo da bola de ping-pong, nas mesas ali instaladas.

Vivi o início da adolescência andando em suas ruas ainda não calçadas, no caminho diário para as aulas no Colégio Nossa Senhora das Vitórias, na diversão domingueira dos banhos de rio. Era uma vida calma, então igual à de cinquenta anos atrás, nas mesmas ruas, nos mesmos costumes, marcantemente rígidos e tradicionais. Em 1966, ouvia-se, e mal, através do rádio, as transmissões dos jogos no México,. Nesse intervalo de quatro anos, a cidade mudara profundamente, mais do que levara a se modificar durante décadas, em que o tempo passara quase imperceptivelmente. Com a televisão, o espaço e a distância diminuíram.

A geração que assistia a esta mudança passou a viver em conformidade com ela e com as possibilidade e oportunidades que gerou. Mas os dias idos, dias de infância e adolescência ficaram acumulados pela vida afora, como pequeno tesouro de bem querença.

Este é, contudo um registro incompleto. Faltam pessoas, faltam lugares, que estão entro das lembranças e são importantes na vida e na paisagem sentimental da cidade. Mais alguns dias, ou anos que são apenas somas de dias, e poderei acrescentar o que falta agora, mas, sempre, será inconclusa a obra.

Este é, contudo um registro incompleto. Faltam pessoas, faltam lugares, que estão entro das lembranças e são importantes na vida e na paisagem sentimental da cidade. Mais alguns dias, ou anos que são apenas somas de dias, e poderei acrescentar o que falta agora, mas, sempre, será inconclusa a obra.

sexta-feira, 21 de abril de 2017





João Lins Caldas era um poeta Norte-rio-grandense de extrema sensibilidade e criatividade. Desde moço teve uma vida solitária. Os seus escritos retrata a dor, a melancolia, o amor não correspondido. É de sua autoria, o soneto que transcrevo adiante, produzido no Rio de Janeiro em 2 de janeiro de 1913, publicado na importante revista carioca intitulada Fon-Fon,  numa das edições daquele periódico (1924), que diz assim:

Minha’alma anda a chorar... Anda-me ao peito
Uma agonia louca, uma tortura...
Venho da terra do feral despeito...

Mudado sobre mim o teu conceito
Acenadora, pérfida ventura,
A noite vejo, poderosa, escura,
Do meu sonho de amor, sonho desfeito...

Deixa que eu vá... e tu, que és minha vida,
Não te magoes com a dor ferida,
- Mulher, mulher – amor, sonho – de calma...

Eu sou teu sonho e teu sonhar sonhando...
Não me queiras seguir... comigo andando
Há de chegar a noite da tu’alma...



SESSÃO SOLENE. COLÉGIO NOSSA SENHORA DAS VITORIAS

 Título do blog.

 

Sessão Solene ENSV

90 Anos… Expressa-se em nove décadas uma das mais valiosas histórias da educação assuense, construída sob a égide do carisma do Amor Divino.

O Educandário Nossa Senhora das Vitórias, neste dia 20 de abril de 2017, participou de uma sessão solene na Câmara Municipal de Assú, por meio da vereadora Delkiza Cavalcante, que propôs uma homenagem à Escola em reconhecimento à valiosa contribuição que vem sendo dada desde 1927, à educação comprometida com a formação integral e cristã de crianças e jovens, construtores de uma sociedade mais humanizada e fraterna.

Na ocasião prestou – se uma homenagem às ex-diretoras e diretora atual, Irmã Maricélia Almeida de Farias, que receberam Comendas com Moção de Aplauso. Foi um momento que emocionou a todos os presentes e que demonstrou a grandeza de pais, alunos e familiares. Vejam as fotos feitas por Dedé Ramalho.



http://www.dederamalho.com.br


Compartilhe isso:

  UMA VEZ Por Virgínia Victorino (1898/ 1967) Ama-se uma vez só. Mais de um amor de nada serve e nada o justifica. Um só amor absolve, santi...