PIMENTEL – O VENCEDOR
Ivan Pinheiro
Quando nos referimos aos verdejantes carnaubais, de imediato, vem, à nossas mentes, algumas imagens que recordam os tempos áureos da cera de carnaúba. Também lembramos pessoas que se entregaram de corpo e alma para que esta atividade pudesse, por décadas, ser a principal economia da região. Francisco Pimentel Filho é um deles.
Pimentel, como é conhecido, é um homem de vivência regulada e comum. Na sua simplicidade, coberto pelo manto da honestidade, apoiado pela heroica e saudosa companheira Dona Eunice Fonseca Pimentel, conseguiu formar seus 11 filhos. Façanha quase impossível para uma família descendente de agricultores, oriunda da sofrida zona rural de Assu – atualmente Carnaubais.
“Nasci em Lagoa das Bestas, atualmente, comunidade de Bela Vista – Carnaubais, no dia 12 de fevereiro de 1921”. Esta foi a primeira resposta de Pimentel a nossa “entrevista”, quebrando o “gelo” da aconchegante área de sua residência, onde o encontrei sentado, lendo uma revista.
Contou com saudosismo que no ano de 1927, o jovem Lauro Rodrigues de Góes, estudante de medicina na Bahia, adoeceu e abandonou os estudos, vindo morar em Carnaubais bem próximo da residência do humilde casal Francisco Pimentel Sobrinho e Luiza dos Santos Pimentel, o qual tinha uma prole numerosa. Um deles era Pimentelcom 7 anos de idade. Lauro de Góes tinha uma biblioteca formidável, composta por mais de mil livros. Dona Luiza, pediu para que ele ensinasse seu filho a ler e escrever. Pedido atendido. Depois de oito anos de estudos, o adolescente, Pimentel, transformou-se num verdadeiro doutor das letras, principalmente em português, geografia e matemática.
Daí pra frente sua vida transformou-se em sinônimo de trabalho. Aos 14 anos foi tomar conta do armazém de uma de suas tias em Alto do Rodrigues. Na época, foi considerado um dos maiores dançarinos da região. Afirma que atravessava o rio cheio, em “cavalete”, com a roupa na cabeça para ir às festas dançar e namorar.
Ao completar a maioridade prestou serviço militar no II Batalhão de Carros de Combate – BCC, em Natal, em plena segunda guerra mundial. Foram dois anos de muita tensão. Pimentel era responsável pela bateria antiaérea. Dava guarda ao litoral, principalmente na praia de Ponta Negra. Depois, na patente de Cabo, trabalhou na tesouraria sob o comando do 1º Tenente Abel Cabral tornando-se grandes amigos. Não chegou a ir para a Itália. Ao sair, recebeu diploma de honra ao mérito.
Retornando a sua terra, pelo seu dinamismo, foi convidado para trabalhar na empresa de Minervino Wanderley. Após o falecimento do patrão (Minervino), em 1950, pela sua dedicação e caráter exemplar foi convidado para ser sócio da empresa “Carvalho & Cia”.
Para aperfeiçoar seus conhecimentos, cursou contabilidade pela Escola Técnica do Comércio do Colégio Nossa Senhora das Vitórias – Assu, tendo a 15 de dezembro de 1956, recebido o diploma de contador.
Durante décadas, a empresa “Carvalho & Cia” atuou como financiadora de pequenos agricultores para o corte do carnaubal, comprando as produções e transformando-as em “cera gorda” para depois exportá-las para a América do Norte, através do porto de Fortaleza. As viagens de Assu a capital Alencarina, no inverno, demoravam dois dias. Pimentel lembra: “-... trazíamos, no carro de Zé de Ana dinheiro em sacos. Nunca faltou um centavo, nem nunca fomos assaltados. Bons tempos...”.
Acendeu um cigarro. Observei seus olhos brilhando enquanto recordava o passado. Dei-me por satisfeito... A idade não permite muito esforço, principalmente quando toca o emocional. Apertei-lhe a mão. Agradeci e saí.
Após o falecimento de Dona Eunice, sua esposa, os filhos conseguiram convencê-lo a morar em Natal... Melhor assistência médica, maior proximidade da maioria dos filhos e netos... Não foi fácil deixar a Terra dos Carnaubais– berço de toda sua prole.
Pimentel, pela naturalidade e desprendimento com que se empenhou em prol do desenvolvimento econômico da região do Assu, pela sua inteligência, caráter ilibado, pelo exemplo de dignidade e respeito, enquanto esposo, pai, amigo e, acima de tudo, cidadão, merece o título de VENCEDOR.