José Arnóbio de Abreu (1948-2000) era um amigo leal, admirável, influente,
de bem e do bem, estatura mediana, voz rouca, andar curto e ligeiro. Lembro-me
dele (eu era ainda menino) adolescente, já metido a gente grande, discursando
nas praças publicas do Assu, sua terra natal querida, nas eleições de 1962
quando disputava a prefeitura da terra assuense Walter de Sá Leitão e Maria Olímpia
Neves de Oliveira/Maroquinhas.
No Assu viveu a sua infância, adolescência. A sua juventude entre Assu,
Natal, Manaus (onde formou-se em medicina), Rio de Janeiro onde fez amizades com renomados médicos do Brasil
como Lídio Toledo que foi médico da Seleção Brasileira.
Ele, Arnóbio, conviveu na intimidade com grandes figuras da política
potiguar e conheceu muitas outras do Brasil, participando das Diretas Já, ao
lado de Geraldo Melo, Henrique Eduardo, Ulisses Guimarães, Tancredo Neves.
O seu nome singelo e sonoro estampa em letras vivas nas páginas da história do Rio Grande do Norte, estado que ele representou na qualidade de deputado
estadual constituinte de 1989 chegando a ser o seu presidente e promulgar a sua
Carta Magna. Antes, porém, teria sido candidato a prefeito do Assu nas eleições
de 1982 pelo PMDB, perdendo para Ronaldo Soares do PDS. Naquele parlamento
potiguar foi líder do governo Garibaldi Alves.
Arnóbio foi também diretor do Hospital Walfredo Gurgel, empresário sócio
fundador do Instituto de Traumatologia do Rio Grande do Norte – ITORN,
presidente do Instituto de Previdência dos Servidores do Estado – IPE.
Para defini-lo melhor, era “um festeiro permanente, tempo integral, sem
perda da seriedade”, assim depõe Agnelo Alves.
Já , sobre Arnóbio,Valério Mesquita escreveu: "Qual pássaro estrangulado no canto
desapareceu Arnóbio do nosso convívio, ainda jovem e ávido de vôos
inspirativos. Menino alegre do Açu revelado líder estudantil, logo atendeu ao
impulso político, disputando a Prefeitura de sua terra, para chegar a
parlamentar estaduano.
De presidente da Constituinte Estadual no primeiro mandato, embora não
logrando êxito nas eleições seguintes, a angústia e o sofrimento não abateram o
ânimo desse anjo irrequieto, mas terno, esgrimidor de pelejas que não se fez de
exilado da política, na gaiola de si próprio. Perseverou na lide tanto política
quanto profissional.
Arnóbio teve uma carreira política meteórica. Viveu o transitório e
transitoriamente viveu, mas deixou marcas de eternidades na efetividade dos
seus gestos. Soube, melhor como ninguém, de forma forte e intensa, nos descompassos
da política, ser o capataz dos silêncios e das longas esperas.
Todos sentimos a falta que ele hoje nos faz, quando penetrou na longa e
interminável noite que não lhe reservará mais auroras nem mais lhe oferecerá o
sol de novas manhãs da visão milagrosa do Vale do Açu.
Conforta-nos o dizer do poeta "que ao seu encontro virão um dia
despedaçadas estrelas e astros da noite dos boêmios sem ostentação e com ela a
saudade como uma certeza do nosso sofrimento".
Afinal, José Arnóbio de Abreu empresta o seu nome (decreto do governador em
exercício Fernando Freire), a Adutora Médio Oeste, um reconhecimento pelos seus
serviços prestados a terra potiguar, além do Ginásio Esportivo do Assu com
muita justiça. O seu nome honra e dignifica a terra assuense. Com ele, Arnóbio, tive o prazer da boa convivência.
Fernando Caldas