domingo, 23 de fevereiro de 2014

A BELA CASA DA FAZENDA BOM DESTINO E A BIOGRAFIA DE CHICÓ PINHEIRO, EXEMPLO DE TRABALHO E LUTA NO SERTÃO POTIGUAR

Publicado em 22/02/2014

Fazenda Bom Destino
Fazenda Bom Destino
Autor – Rostand Medeiros, baseado em textos dos capítulos do livro: “Nobrezas de Vida Agreste” escrito por Haroldo Pinheiro Borges e  Cláudia Bezerra Pacheco.
Sob muitos aspectos o nosso trabalho desenvolvido desde dezembro de 2010 no nosso blog TOK DE HISTÓRIA, tem chamado a atenção de muitas pessoas aqui no Rio Grande do Norte. Estas por sua vez gentilmente têm me passado informações sobre interessantes locais, pessoas e fatos da história potiguar. O que faço questão de colocar nesse nosso espaço sem nenhum problema.
Recebi recentemente do amigo Haroldo Pinheiro Borges algumas interessantes fotos de uma antiga fazenda produtora de algodão do interior potiguar e muito bem preservada. Trata-se da casa grande da fazenda Bom Destino, na zona rural do município de Lagoa de Velhos, a cerca de 90 quilômetros da capital potiguar.
Francisco Pinheiro Borges
Francisco Pinheiro Borges
Filho de Francisco Pinheiro Borges, Haroldo comentou que esta propriedade foi adquirida por seu pai ainda na década de 1920. Em nosso contato ele me passou um rico e interessante relato sobre a vida do mesmo, que muito bem exemplifica a trajetória de um homem que nasceu no início do século XX, no castigado interior do Nordeste e, vivendo e trabalhando da terra, venceu em tempos difíceis.
NAS TERRAS ONDE NASCEU FABIÃO DAS QUEIMADAS
A casa grande da fazenda Bom Destino está localizada em terras que anteriormente faziam parte de uma antiga fazenda denominada Queimadas. Esta propriedade pertenceu em tempos remotos ao coronel José Ferreira da Rocha e no ano de 1850 ali nasceu um escravo que foi batizado como Fabião Hermenegildo Ferreira da Rocha. Este ficou conhecido como Fabião das Queimadas, um dos mais importantes poetas populares do Rio Grande do Norte e que conquistou sua alforria tocando o instrumento que lhe imortalizou, a rabeca.
Francisco Pinheiro Borges, conhecido por Chicó de Ieiê, veio ao mundo no dia 05 de setembro de 1900, na fazenda Pirambu, município de São José de Mipibu. Era filho de João Batista Pinheiro Borges, conhecido como Ieiê, e de Dona Joana Ferreira de Lima. Seus avós paternos eram José Pinheiro Borges e Rosa Maria da Conceição e os maternos, Pedro Ferreira de Lima e Maria Izabel de Paiva, donos da Fazenda Japecanga, localizada no município de São José de Mipibu. Chicó de Ieiê teve quatro irmãos do primeiro casamento de seu pai: Lídio, Anália (Sinhá), Clotilde (Dona) e Joana.
Infelizmente, no dia 05 de setembro de 1905, o garoto e seus irmãos ficaram órfãos da mãe Joana Ferreira de Lima.
Chicó de Ieiê foi uma criança irrequieta, inteligente e saudável. Teve a sua criação um pouco diferente dos outros irmãos, pois começou a vida no trabalho. Com apenas dez anos veio para companhia do pai, que morava com a segunda esposa na antiga povoação de São Paulo do Juremal, então município de São Gonçalo do Amarante. Aí chegando assumiu a responsabilidade da casa, cozinhando e cuidando dos afazeres domésticos e ainda com a incumbência de tratar dos cavalos que seu Ieiê comprava para adestrá-los como bons marchadores (o que valorizava muito os animais) e vendê-los caros para a elite daquela época.
DE QUEIMADA A BOM DESTINO
Tempos depois, em 1914, seu pai adquiriu uma área que fazia parte das terras da antiga fazenda Queimadas. Esta gleba tinha uma ligação com Guarará, atual município de Lagoa de Velhos, na época pertencente ao município de Santa Cruz. Foi adquirida ao Sr. Miguel Rocha e sua mulher Izabel Ferreira da Rocha, herdeiros do coronel José Ferreira da Rocha. Chicó de Ieiê trabalhou duro na agricultura limpando a terra com a enxada, para ajudar seu pai a pagar as duas primeiras partes do sítio.
Casa de João Batista Pinheiro Borges, conhecido como Ieiê na antiga fazenda Queimadas
Casa de João Batista Pinheiro Borges, conhecido como Ieiê na antiga fazenda Queimadas
Dotado de forte dose de coragem para vencer desafios, Chicó de Ieiê adquiriu ainda muito jovem uma tropa de jumentos para transportar rapadura, que erram compradas a crédito e fabricadas nos engenhos de seus familiares em Japecanga. Ele também vendia esterco de gado para ser utilizado na adubação de canaviais.
Logo depois trocou essa tropa de jumentos por uma de burros mulos, animais maiores, mais rápidos e próprios para transportar suas cargas, que nesse estágio tomavam grandes proporções e novo rumo: o grande mercado de Natal. Para chegar a capital potiguar nesta época só através do porto do Rio Jundiaí, na cidade de Macaíba, embarcando sua mercadoria em pequenos barcos. Contava que para economizar dinheiro, ele mesmo transportava os pesados fardos no embarque e desembarque.
Era por Macaíba, aqui em uma foto antiga do acervo do amigo Anderson Tavares de Lyra, que Chicó Pinheiro transportava suas mercadorias de barco para Natal
Era por Macaíba, aqui em uma foto antiga do acervo do amigo Anderson Tavares de Lyra, que Chicó Pinheiro transportava suas mercadorias de barco para Natal
Chicó era um rapaz simpático, elegante e envolvente. Buscou aprimorar-se na arte de falar e se comunicar, sempre preservando a todo custo a lisura e o cumprimento de sua palavra. Comprar e vender tornou-se parte do seu dia a dia. Isso o fez cada dia mais conhecido e respeitado em sua região pelo desenvolvimento e importância de seu trabalho. Dizia que para ser rico se fazia necessário apenas trabalhar, economizar e gastar sempre menos do que ganhava.
A gratidão fazia parte de sua vida. Fechava o dia com “Chave de Ouro” agradecendo a Deus por mais um dia de trabalho e os resultados alcançados.
O tempo foi passando e aos 24 anos, com dinheiro adquirido do fruto do seu trabalho, Chicó de Ieiê comprou a sua primeira propriedade. Esta igualmente ficava na área da antiga fazenda Queimadas, vizinho às terras de seu pai e pertencentes aos herdeiros do coronel José Ferreira da Rocha. Consta que em quase sua totalidade o local ainda era coberto de mata virgem. Ao lugar Chicó de Ieiê denominou de Bom Destino.
Caminhão abarrotado de fardos de algodão. A plantação desta malvácea foi um grande impulsionador da economia nordestina
Caminhão abarrotado de fardos de algodão. A plantação desta malvácea foi um grande impulsionador da economia nordestina – Foto ilustrativa
Não havia trabalho que lhe afligisse. Foi ambulante das feiras livres das pequenas cidades que surgiam as margens do Rio Potengi. Logo expandiu seus negócios de compra e venda de cereais, gado, couro de boi e de miunças (pele de ovinos e caprinos), um mercado novo e promissor onde ganhou muito dinheiro. Chicó não se descuidou de plantar o algodão, o verdadeiro “Ouro Branco” que movia a economia do Rio Grande do Norte e de grande parte do Nordeste daquele época e se tornou um grande produtor desta malvácea.
Gradativamente ele foi deixando de ser Chicó de Ieiê e passou a ser conhecido como Chicó Pinheiro.
MUDANÇAS POSITIVAS
No final da década de 1920, para dar velocidade e presteza no atendimento aos seus clientes Chicó comprou um caminhão. Tinha como motorista José Germano, seguido depois de Otávio, que se tornou um grande amigo de sua família. Esse caminhão foi o primeiro a chegar à região, tendo sido recebido com muita alegria e admiração por familiares e amigos.
Contava ele que aprendeu a ler e contar sozinho, enquanto pastoreava os cavalos nas várzeas úmidas do velho Rio Potengi. Leu a cartilha do ABC, que ensinava as primeiras letras e a tabuada com as quatro operações matemáticas básicas. Sempre que contava essa história, repetia desde a primeira letra até a última operação. Terminando com a célebre frase, em letras garrafais que se encontra na última capa da sua preservada cartilha: A PREGUIÇA É A CHAVE DA POBREZA.
Apesar da pouca instrução teve suas atenções voltadas para a cultura. Gostava da boa leitura e tinha na sua coleção a Bíblia como seu livro predileto. Recebia pelo correio a revista Almanaque do Pensamento que tratava de assuntos relativos à astrologia, agricultura, pecuária, tábuas lunares e planetárias. Gostava de romances como O Conde de Monte Cristo, O Corcunda de Notre-Dame, As Profecias de Nostradamus e muitos outros.
Muito observador, Chicó Pinheiro passou a ler livros de boas maneiras e sobre etiqueta. Sabia da importância existente na sua sociedade no tocante a apresentação pessoal e como tratar as pessoas. A figura grosseira do matuto ia ficando para trás e ele foi se transformando em um homem elegante, cordial e bem-educado. Estava sempre visando boas mudanças para si mesmo.
Primeira casa da fazenda Bom Jardim
Primeira casa da fazenda Bom Jardim
Com inteligência e a bonança proporcionada pelo algodão, começa a assumir o traquejo e a postura dos empresários daquela época. Manda confeccionar seus ternos de caxemira e linho branco nos melhores alfaiates de Natal. Passa a usar gravatas finas e chapéus de ultima moda. Abandona o velho cigarro de fumo brejeiro, daqueles enrolados em papeizinhos, pelo fino charuto cubano, além de comprar fumo e cachimbos das melhores marcas.
Bom Destino (3)
Logo em seguida, em 1930, edificou uma casa grande, moderna para a época, com uma cumeeira de 6.50 metros para oferecer uma boa ventilação. A vivenda ficou situada no topo de uma pequena colina, voltada para o nascente e distante apenas de uns 350 metros casa do seu pai.
ELA VEIO DE ACARI
Alimentava um sonho recorrente de só casar com moça rica e prendada, transformando este sonho em um dos seus objetivos definidos.
Neste período Chicó Pinheiro já gozava de grande prestigio entre os políticos e homens de negócios do Rio Grande do Norte. Entre eles Dinarte Mariz, João Francisco da Mota, Florêncio Luciano, Rainel Pereira, coronel João Medeiros, José Evaristo de Araújo, José Braz de Albuquerque, Juvenal Lamartine de Faria, José Varela, Stoessel de Brito e tantos outros com os quais se encontrava nos escritórios das grandes empresas compradoras e exportadoras de algodão em Natal.
Como ele, muitos moravam no interior do estado, em suas fazendas ou cidades e como eram poucas as opções de hospedaria na capital, normalmente estes homens se albergavam nos mesmos hotéis ou pensões. Nestes ambientes as refeições eram muitas vezes compartilhadas por um grande grupo, onde sempre havia um bom momento para se fazer novas amizades, falar de negócios, preços e sobre o comportamento do mercado. Foi assim que no escritório da empresa Wharton Pedrosa, Chicó Pinheiro conheceu a mulher encantada de seus sonhos, Josepha Bezerra Araújo.
Josepha Bezerra Araújo
Josepha Bezerra Araújo
A jovem Josepha, ou Zefinha, como era conhecida, vendo aquele homem bem vestido, já de cabelos grisalhos, alvo, simpático, sorridente e conversador, mesmo a distância, sem ouvir suas conversas, imaginou estar diante de um “lord” inglês e correspondeu aos seus olhares.
Chicó Pinheiro tomou informações sobre a jovem Josepha e disse para si mesmo: “Lamberei uma rapadura e casarei com esta jovem”.
A Jovem estava acompanhada da mãe Cipriana Bezerra de Araújo, viúva do agropecuarista e industrial acariense Joaquim das Virgens Pereira. Dona Cipriana percebeu os olhares e já buscou junto ao Sr. Fernando Pedrosa, diretor geral da firma Wharton Pedrosa, informações sobre Chicó Pinheiro. Ouviu do respeitado negociante que ele era um homem direito, correto, bom pagador, comprador de algodão, seu cliente fiel e confiável.
Bom Destino (6)
Aí Chicó Pinheiro, o matuto simpático, não deu mais trégua, Frequentou um mês inteiro a tradicional igreja de São Pedro, no bairro do Alecrim, onde Zefinha, em companhia da mãe, assistia à missa todos os dias. Logo em seguida passa a frequentar a casa da futura sogra, trazendo em algumas visitas suas irmãs como demonstração de suas boas intenções.  Foi assim que Chicó conquistou a moça rica e sabida dos seus sonhos.
O “VAPOR”
No dia 16 de setembro de 1933, Chicó Pinheiro casou com Zefinha em Natal, na Rua Meira e Sá, na residência da sua sogra. O casamento católico foi celebrado pelo Padre Agostinho e o Monsenhor João da Mata Paiva ajudou. Depois da cerimônia houve comes e bebes para todos os convidados. À noite a Srta. Lourdes do Nascimento abrilhantou a festa tocando um piano que pertencia a noiva e ainda hoje está de posse da família.
Talvez tenha sido a conquista da sua esposa um dos maiores acontecimentos da vida de Chicó Pinheiro. Gostava muito de contar essa façanha, sempre em tom de brincadeira, dizendo-se um pouco decepcionado com o tamanho da fortuna da moça, pois imaginava ser muitas vezes superior a que ele havia construído em tão pouco espaço de tempo. Mas se envaidecia muito ao apresentá-la a sociedade e aos amigos, que às vezes perguntavam, se era sua filha. Ela tinha apenas 21 anos, jovem, muito bonita, elegante e letrada. Logo Zefinha assumiu a grande responsabilidade pela administração da casa e de toda a contabilidade de seu esposo.
Haroldo Pinheiro Borges e o "Vapor" que havia pertencido ao coronel Joaquim das Virgens e veio da Inglaterra para Acari em 1906
Haroldo Pinheiro Borges e o “Vapor” que havia pertencido ao coronel Joaquim das Virgens e veio da Inglaterra para Acari em 1906
Depois de seu casamento Chicó Pinheiro construiu ao lado direito de sua casa na fazenda Bom Destino um grande armazém com silos e paióis próprios para armazenar cereais, além de grandes espaços para guardar algodão em rama e pluma. Em setembro de 1934 instalou sua agroindústria, um locomóvel de marca “Ransomes, Sims & Jefferies”, de fabricação Inglesa herdado de seu sogro Joaquim das Virgens. Este tradicional maquinário agrícola, denominado tradicionalmente pelos sertanejos como “Vapor”, era  atrelado a um besouro, uma máquina de cinquenta serras, utilizadas para descaroçar algodão e a um dínamo para gerar energia elétrica. Todo o maquinário foi importado por volta de 1906, vindo no porão de um navio da cidade de Manchester, Inglaterra. Com esta máquina, da produção de sua fazenda e da compra feita aos seus clientes, chegou a beneficiar em torno de mil toneladas de algodão por ano.
Bom Destino (11)
Em 2004, o autor destas linhas teve a grata oportunidade de ver uma destas máquinas operando “a todo vapor”, em uma propriedade localizada próxima a cidade paraibana de Sousa. Foi incrível observar o seu funcionamento. Não posso deixar de comentar que  o sogro de Chicó Pinheiro, Joaquim das Virgens Pereira, era amigo do meu bisavô, o também agropecuarista Joaquim Paulino de Medeiros, conhecido como Quincó da Ramada e dono da fazenda Rajada, onde também existia uma destas máquinas a vapor. Outro fato que uniu na história do Seridó estes dois antigos produtores rurais de Acari, esta no fato deles terem recebido, em ocasiões distintas, o famoso cangaceiro Antônio Silvino.
O açude da Bom Destino sangrando
O açude da Bom Destino sangrando
Mas voltando a fazenda Bom Destino, gentilmente recebi de Haroldo outra foto de um interessante maquinário existente em sua propriedade, Trata-se de uma prensa que produzia fardos de lã, com uma media de 70 quilos e uma produção diária de aproximadamente 30 fardos.
PREOCUPAÇÃO COM A EDUCAÇÃO
Os anos vão passando. Chicó Pinheiro teve grande parte de sua vida voltada para o trabalho. Sabia administrar suas economias aplicando seu capital no momento oportuno. Dizia que o dinheiro tinha que está em movimento, havendo sempre o momento de comprar e de vender. Era só observar a tendência do mercado. Por isso tornou-se um bom empreendedor na área rural, pois, estava sempre ligado aos melhoramentos das suas propriedades, através de novas aquisições de terras, realizando quando necessário desmatamentos, aquisições de máquinas agrícolas, construções de cercas, açudes etc.
O antigo Grupo Escolar
O antigo Grupo Escolar
Mas não deixou de ajudar aqueles que lhe ajudaram.
Construiu na fazenda Bom Destino o “Grupo Escolar Francisco Pinheiro Borges”, com salas de aula e um apartamento anexo para servir de residência para uma professora. O Grupo Escolar foi inaugurado no dia 24 de setembro de 1965, em meio a uma grande festa. Entre os convidados estiveram presentes Monsenhor Walfredo Gurgel, que estava em plena campanha como candidato ao governo do Estado e o então governador Aluízio Alves, por quem Chicó Pinheiro tinha grande estima e admiração. Repetia sempre uma célebre frase às crianças e estudantes “O estudo é a única riqueza do mundo que não é roubada, acompanha o homem até o túmulo”.
Educou seus filhos nos melhores colégios de Natal e Recife. Ajudou na construção do Colégio São José na cidade de São Paulo do Potengi, que tinha na sua administração a Irmã Dominicia, da Ordem da Divina Providência.
Bom Destino (1)
No censo de 1960, foi cadastrada a casa grande com os armazéns e mais cinquenta e uma casas destinada aos moradores da fazenda Bom Destino, todas de tijolo e telha. A propriedade abrigava trezentas e vinte e oito pessoas,
UMA VIDA DIGNA
Certo dia, se sentindo muito cansado foi a Natal e depois de uma consulta ao seu médico e amigo Dr. Hellen Costa, foi por ele aconselhado para vir morar em Natal, pois seu coração estava muito crescido e não suportava mais os aborrecimentos próprios de um administrador na sua idade. Ele prontamente lhe respondeu “que seria uma grande dádiva de Deus se lá morresse subitamente, sem dar trabalho aos seus familiares”.
Ao se aproximar dos 80 anos comentava com seus familiares e amigos mais próximos que se fazia necessário realizar uma grande festa, pois sabia que ela seria a última.  Assim convidou seu velho amigo, o Monsenhor Expedito de Medeiros para rezar uma missa onde ele pudesse agradecer de público a Deus pelas benções recebidas durante toda sua vida. A missa foi rezada no Grupo Escolar Francisco Pinheiro Borges, localizado na sede da Fazenda Bom Destino onde compareceu em torno de 500 convidados. Chicó Pinheiro agradeceu pessoalmente pela presença e o prazer de receber com seus familiares, em sua casa, os seus melhores amigos.
Chicó Pinheiro e Dona Zefinha ao piano
Chicó Pinheiro e Dona Zefinha ao piano
No dia 22 de abril de 1981 faleceu no hospital Dr. Luís Soares em Natal, rodeado de seus familiares e assistido por um dos seus melhores amigos, o médico Ernani Rosado.
O Casal Chicó Pinheiro e Zefinha tiveram dezenove filhos, dos quais onze sobreviveram. Aqui estão nominados do primogênito ao caçula, todos com o sobrenome Pinheiro Borges: Maria das Dores casada com Ivo Ferreira Neto, Jarbas (falecido) casado com Sonia Azevedo Pinheiro, Haroldo casado com Mônica Maria Augusta de V. P. Borges; Rafael com Joana D’arc Marques de Araújo, Edda com Raimundo Dagmar Fernandes, Ana Maria com Manoel Alves Irmão (já falecido), Cosme com Maria Sonia de Azevedo Cabral, divorciado e casado em segunda núpcia com Jailda Barreto Carneiro, Eleenete casada com Pacífico de Medeiros Neto (falecido), Franklin com Vera Lopes, Maria José com Francisco Paulo e Vilma com Edvaldo Cursino Dias.
FINAL
Tenho muita preocupação com o desaparecimento gradual das antigas casas de fazenda no nosso estado. Elas são caras e difíceis de serem preservadas e muitas estão se transformando rapidamente em ruínas. Quando estas são vendidas para outras pessoas, fora dos núcleos familiares que as criou, normalmente a história do lugar cai para segundo plano e muito deste passado é esquecido. Por isso é sempre bom conhecer um pouco da história destas antigas vivendas e de quem as edificou.
Bom Destino (1)
Concordo com Haroldo quando ele comenta que a casa grande da Fazenda Bom Destino, pela sua beleza e pujança, serve como símbolo da época do coronelismo e da implantação da agroindústria algodoeira. Mas uma casa, qualquer casa, é apenas uma casa quando nada sabemos da história de quem ali viveu.
Por isso sou muito agradecido pela gentileza de Haroldo Pinheiro Borges, pai dos meus amigos Kacá e Eduardo (o Dado) Borges, companheiros dos bons tempos do Colégio Marista e do Tirol, por trazer para nosso espaço a biografia de Chicó Pinheiro e as fotos da bela Bom Destino.
Sobre outras antigas casas do Nordeste veja aqui no Tok de História -

sábado, 22 de fevereiro de 2014

SIMBOLO

O teu cabelo loiro
ondulado,
parece feito de oiro
derramado,
nas entranhas das terras do Brasil!
O teu olhar esverdeado,
dá a impressão, a ideia sutil,
sublime e verdadeira
da floresta sem fim,
da terra brasileira!
A tua boca, fruta de xique-xique rachada
e umedecida pelo orvalho da manhã,
é um pedaço de céu de madrugada!...

Enfim,
teu corpo, onde a beleza dorme,
evoca o meu Brasil, esse colosso enorme!
Serei o teu soldado.
Como herói, batalharei em teu louvor,
bandeira nacional do meu amor.

Caldas
Fotografia de Giselle Bundchen

BRASIL, O PAÍS DA COPA

Publicado em 22/02/2014

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2014
Ano de eleições, de refletir sobre os últimos quatro anos e pensar se vale a pena mudar ou deixar as coisas como estão. Mas, para a imensa maioria da população, a pauta que realmente interessa é outra. 2014 é ano de Copa do Mundo, de celebrar a festa do futebol e o retorno do maior evento do planeta ao país que mais idolatra o esporte bretão.
A despeito de uma sensação geral de torpor com a proximidade da Copa, há no ar um incômodo sentimento de que as coisas vão sair pior do que se imaginava. E não é só da ameaça de um novo levante das ruas que estou falando.
Que a maior parte do dinheiro gasto no evento da Fifa seria público, ninguém em sã consciência duvidava. Que a infraestrutura do país não estaria à altura do evento, tampouco alguém punha em questão. Que o legado do evento seria conversa mole pra boi dormir, era algo não só possível como até certo ponto esperado. O que ninguém imaginava é que o futebol brasileiro chegasse às vésperas da Copa do Mundo tão depauperado.
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Desde o fim do Campeonato Brasileiro do ano passado até agora, o que se tem assistido é uma caminhada firme e segura em direção ao precipício. Apenas para rememorar, aconteceram em sequência os seguintes fatos:
1 – Na última rodada do Brasileirão, um jogo decisivo passou mais de uma hora interrompido por conta de uma briga entre torcidas organizadas. Quatro torcedores foram levados à UTI (felizmente, todos escaparam) e quase três dezenas foram presos. O resultado do jogo, contudo, foi mantido;
2 – Depois de uma trapalhada até hoje não suficientemente explicada, a Portuguesa escalou um jogador suspenso pelo STJD. Com isso, abriu a brecha para que o Fluminense, o time da eterna virada de mesa, conseguisse lhe tirar 4 pontos e fazer com que a Lusa caísse para a Segundona no seu lugar;
3 – Como posteriormente se verificou, todos os procedimentos do STJD violavam de modo frontal o que dispõe o Estatuto do Torcedor, pois suas decisões não eram publicadas no Diário da Justiça Federal. Sabe-se lá por que, o STJD resolveu entender que o Código Brasileiro de Justiça Desportiva – uma norma administrativa de uma entidade privada – se sobrepunha ao Estatuto do Torcedor – uma lei federal;
4 – Desde então, uma guerra de liminares põe em xeque a realização do Campeonato Brasileiro. Ora a Justiça anula a decisão do STJD e manda rebaixar o Fluminense no lugar da Portuguesa, ora a Justiça decide manter o rebaixamento da Lusa e a virada de mesa. Enquanto isso, não se sabe se o Brasileirão de 2014: a) manterá o padrão dos últimos anos, com 20 times, em turno e returno; b) anulará o rebaixamento de todo mundo, fazendo com que se faça um campeonato com 24 times; c) vai efetivamente ocorrer, ocasionando uma versão 2014 da Copa João Havelange (2000);
Será que estas cenas vão se repetir??
Será que estas cenas vão se repetir durante a Copa 2014??
5 – Iniciado o Campeonato Paulista, a torcida organizada do Corinthians resolveu voltar às raízes e ressuscitar o lema “Se não joga por amor, joga por terror”. Diante do baixo rendimento do time em campo, invadiu o CT, sitiou os jogadores e agrediu funcionários do clube. Tudo isso sob a batuta de um presidente que indaga solenemente “Quem nunca deu um murro em ninguém?”;
Há quem possa pensar que esse é um problema restrito ao panorama nacional. Ou, por outro ângulo, a seleção estaria a salvo da desgraça generalizada. No limite, danem-se os Estaduais e o Brasileirão. Enquanto a seleção jogar bem e ganhar, estará tudo bem.
É um pensamento estreito. Além do óbvio impacto da débâcle futebolística na seleção brasileira, é de se pensar com que cara receberemos o maior evento esportivo da Fifa com os campeonatos estaduais e nacionais paralisados por conta de uma greve de jogadores. E não uma greve qualquer, mas uma motivada pela falta de estrutura e de segurança para o desenvolvimento de suas atividades.
Fora isso, não custa lembrar que, enquanto o futebol brasileiro passava por esse processo de implosão, a maior estrela do escrete canarinho foi personagem principal de uma história mal contada sobre sua venda para o Barcelona. Não se sabe se houve algum tipo de crime na transferência de Neymar, mas é certo que o atacante jogou a final do Mundial de Clubes já negociado ao adversário e que, por algum motivo, o escândalo foi forte o bastante para derrubar o presidente do Barça, Sandro Rossell.
Dá para acreditar nessa galera?
Dá para acreditar nessa galera?
A verdade é que, aproximando-nos da Copa do Mundo, o Brasil deixou de ser somente o “País do Futebol”. Arrisca-se a tornar-se também o “Túmulo da Bola”.
Grandes emoções nos aguardam nos próximos meses.

FRUTILÂNDIA - UMA EMPRESA A SER INSTALADA E GERENCIADA POR DOIS POETAS...


Acredite quem quiser: dois poetas deixam  o etéreo mundo daas musas, aterrissam os pés na materialidade da terra e planejaram, idealizaram um empreendimento empresarial de grande porte, que haveria de revolucionar a  vida social e econômica do vale do rio Assu. Frutilândia serria o seu nome e o seu objetivo era o mais grandioso:

Redenção econômica de toda a região gerando riqueza, justiça social, vilas operárias, escolas,, grande, inovando a produção de frutas, legumes, hortaliças, tudo em grande escala, gigantescas proporções. Os pobres sairiam da miséria, teriam moradia, grandes vilas operárias, escolas, assistência médica, futuro.  Largariam o secular corte da carnaúba, trabalho sazonal e mal- remunerado.

Cadeiras na calçada na tarde morna, sol dourando o crepúsculo sertanejo. Othoniel e amigo João Lins Caldas sonhavam alto.

Terra boa havia em grandes extensões, água de um grande rio perene até nas maiores secas, mão de obra abundante sendo mal paga em exploradores ou vivendo de míseros trabalhos manuais.

Moderníssimas máquinas, escavadeiras imensas, dragas-descomunais - desde  Roterdã - abririam largo e profundo canal, em linha reta, de Assu a Macau. Ali, mar a dentro, plantar-se-iam modernos, imponentes, equipados  cais, frigoríficos, grandes armazéns. Luzentes guindastes, esteiras  rolantes, secariam a fonte das bocarrAS DOS porões das grandes embarcações da própria Companhia, espalhando por Oropa, França e Bahia  cajus, mangas, pinhas, araticuns, mangabas, romãs, laranjas-cravo, abacaxis, maracujás, - os dúlcidos e tropicais produtos de gigante complexo agroindustrial da biliardária sociedade CALDAS & MENEZES...

Caldas e Menezes! Continuariam poetas, mas apenas por vocação ou para passar o tempo. Seriam sócios gerentes de uma grande firma. Adeus difinitivo aos problemas econômicos e aos mirrados salários.

Na tarde seguinte o sol se punha com a regularidade de sempre e os amigos - futuros sócios - cadeiras na calçada, repensavam e antecipavam o seu sonho.

o tempo passou e Othoniel teve de retornar a Natal. A empresa se tornou lembrança. Um poema nasce em uma folha de papel. Isto era até fácil para aqueles sonhadores. Uma empresa exigia muitas coisas, coisas que eles nunca imaginavam.

Uns dez anos mais tarde, Othoniel, sempre poeta e ex-quase empresário vitorioso, recomendou ao filho adolescente Laélio uma  visita a João Lins Caldas em Assu, que também continuava poeta e ex-quase  bem-sucedido homem de negócios.

Casa do poeta, pequena e moderna. Fazer como sempre se fazia: bater palmas e dizer ô de casa!

Apareceu o amigo do meu pai, o sócio do sonho tão sonhado, tão detalhado, idealizado na conversa dos dois. Disse-lhe quem era, fez uma festa daquelas, passando, suavemente, a mão na minha cachola, sonhadora. Era magro, baixo, gestos nervosos, rápidos. Dando o nó na gravata convidou-me a entrar, risonho, gentil, hospitaleiro.

O poeta assuense recebeu o rapaz com carinho e emoção. Lembrou o amigo Othoniel e ops momentos vividos ali em sua terra: Nada, também, acerca da razão social "CALDAS & MENEZES".

O poeta JOÃO LINS CALDAS, sublime sonhador, senhor de vaticínios para o seu vale - o sócio do meu pai - trancou a porta capenga da casinha. Apertou-me a mão, com calor, despedindo-se. Pediu desculpas pela pressa - ia caçar! Argumentou, cavalheiro, que aquela era a hora dos preás e das rolinhas, das nambus escondidas no panasco dourado. E lá se foi, engavetado, predador solene, feliz da vida - o sonhador...

Frutilândia havia sido um momento bom, breve como todos eles. Se não viveu na realidade teve sua formaa no mundo do sonhos, onde nada é exigido para criar e onde só o esquecimento destrói.

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FERREIRA DE MELO, Laélio. "A Frutilândia dos poetas". O Mossoroense. 26 de maio de 2006. São dessa crônica do pesquisador Laélio Ferreira de Melo (filho de Othoniel) os trechos nincluídos neste capítulo.


Do livro Principe Plebeu - Uma Biografia do Poeta Othoniel Menezes, de Cláudio Galvão, FAPERN, 2009.

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Divulgadas as regras para declaração do Imposto de Renda 2014

Receita Federal

A partir de 6 de março é possível utilizar a declaração previamente preenchida e enviar por meio da internet ou do aplicativo da Receita
 
publicado: 21/02/2014 11:02 última modificação: 21/02/2014 12:54


As novas regras para elaboração da declaração de Imposto de Renda Pessoa Física 2014 (ano-calendário de 2013) foram publicadas pela Secretaria da Receita Federal do Brasil, no Diário Oficial da União desta sexta-feira (21).  De acordo com a publicação, estão obrigados declarar os contribuintes - pessoa física - que tiveram rendimentos superiores a R$ 25.661,70 ;receberam rendimentos tributáveis superiores a R$ 40 mil ou, se em qualquer mês do período analisado, houve recebimento de ganho de capital resultante da alienação de bens.

Para os contribuintes que exercem atividade rural, as regras são diferentes. Em relação aos rendimentos, estes devem ser superiores a R$ 128.308,50. Caso o produtor pretenda compensar prejuízos sofridos em anos anteriores ou no ano de 2013, ele também precisa fazer a declaração. Outro fator que obriga a realização da declaração é o recebimento, até 31 de dezembro de 2013, da posse de propriedade.

Também estão obrigados a declarar seus rendimentos, os contribuintes que optaram pela isenção do imposto sobre a renda referente ao ganho de capital obtido com a venda de imóveis residenciais e cujo produto dessa venda seja destinado à aquisição de imóveis residenciais localizados no país, no prazo de 180 dias contados a partir da celebração do contrato de venda.

Isentos

De acordo com a publicação, estão dispensados de efetuar a declaração anual os contribuintes que vivam em situação de sociedade conjugal, ou união estável, e que o cônjuge já tenha efetuado a declaração dos bens comuns. Essa regra se aplica a valores até R$ 300 mil.

Declaração previamente preenchida

Em 2014, está disponível a declaração de ajuste anual previamente preenchida. Podem utilizar essa modalidade de arquivo, os contribuintes que tenham apresentado a Declaração de Ajuste Anual de 2013 (ano-calendário de 2012).

De acordo com o texto, o acesso às informações anteriores só será feito mediante certificação digital ou por representante com procuração eletrônica. O arquivo pode ser obtido no Centro Virtual de Atendimento ao Contribuinte (e-CAC), na página da Receita Federal na internet. Para os usuários que emitem suas declarações por tablets ou smartphones, essa regra não se aplica.

Período para Declaração

O prazo de entrega da Declaração de Ajuste Anual do Imposto de Renda da Pessoa Física (IRPF) do exercício de 2014 começa no próximo dia 6 de março e vai até 30 de abril, informou a Secretaria da Receita Federal nesta sexta-feira (21), no Diário Oficial da União. 
Nos últimos anos, a entrega começava no dia 1º de março. O contribuinte que não enviar o documento no prazo estará sujeito a multa mínima de R$ 165,74. A entrega poderá ser feita pela internet, com o programa de transmissão da Receita Federal (Receitanet), ou por meio de dispositivos móveis tablets e smartphones (m-IRPF). 

O m-IRPF está disponível por meio do aplicativo APP Pessoa Física no Google play, para o sistema operacional Android, ou App Store, para o sistema operacional IOS. A opção de entrega do via disquete não será mais permitida a partir deste ano.
Estão obrigadas a declarar as pessoas físicas que receberam rendimentos tributáveis superiores a R$ 25.661,70 em 2013. 

Restituição

Os lotes regulares de restituição vão começar a ser liberados no dia 16 de junho e o último será divulgado no dia 15 de dezembro de 2014. Os lotes residuais só começarão a ser liberados após a liberação de todos os lotes regulares e o pagamento está condicionado à realização de retificação pelos contribuintes.

Fonte:
Portal Brasil com informações do Diário Oficial da União
registrado em:

Conheça o inigualável homem que mudou a história do Rio Grande do Norte


Cortez Pereira pensou o RN de uma forma que ele nunca conseguiu ver. Dez anos depois de sua morte, projetos idealizados pelo ex-governador ainda são trabalhados no Estado

À direita de Vingt Rosado está Ney Lopes e do outro lado Cortez Pereira (com papel na mão). Foto: Blog de Lairinho Rosado
À direita de Vingt Rosado está Ney Lopes e do outro lado Cortez Pereira (com papel na mão).
Foto: Blog de Lairinho Rosado
Marcelo Hollanda
hollandajornalista@gmail.com

Mais de 40 anos depois de governar o Rio Grande do Norte (1971-1974) e há exatos 10 anos de sua morte – 21 de fevereiro -, José Cortez Pereira de Araújo ou simplesmente Cortez Pereira é, ainda hoje, uma presença tão poderosa e indelével que não há mais moderno, ousado e arrojado do que ele.
Professor, advogado, pensador, estudioso do desenvolvimentismo, Cortez Pereira foi uma dessas pedras preciosas que, em plena vigência do regime militar, como governador biônico, construiu toda a base da economia potiguar que perdura até hoje.

Da implantação do projeto Serra do Mel, uma proposta de reforma agrária baseada na exploração econômica do caju, sorgo e culturas de subsistência, passando pela disseminação do cultivo intensivo do coco com o Projeto Boqueirão, na região de Touros, Cortez Pereira criou as bases de boa parte do que conhecemos hoje como progresso, pelo menos do ponto de vista de um estado que, nos anos de 1970, ainda tinha tudo por fazer.

Entrando pelas primeiras pesquisas aplicadas ao cultivo de camarão em cativeiro, aproveitando as áreas de salinas desativadas ou introduzindo a criação do bicho da seda, com o projeto de sericicultura na região de Canguaretama, Cortez Pereira era um gestor ousado, capaz de enviar auxiliares para outros países a fim de recolher subsídios que pudessem ser úteis à realidade local.

Nem um pouco centralizador, ele reorganizou o Estado a partir da redistribuição de responsabilidades que fizeram de inexpressivas assessorias, secretarias importantes.

Foi o que aconteceu com as áreas de Planejamento e Fazenda, que ganharam roupagem nova, mobilizando competências que o governador fazia questão de ver trabalhando em sua equipe.

Um dos auxiliares mais próximos dele, que foi seu secretário de Planejamento, é o economista Marcos César Formiga Ramos, ex-prefeito de Natal entre 1983/1986 e que hoje ocupa uma das diretorias da Federação da Indústria do Rio Grande do Norte (Fiern).

Conta ele que o inquieto governador gostava de delegar missões em novos projetos, mas só com a segurança de quem entrega um filho para ser educado. E costumava perguntar toda vez que alguma coisa grande estava para nascer: “Pode ser feito? Então, bola pra frente!”.

E foi assim, de toque em toque, de ideia em ideia, de projeto em projeto, que Cortez Pereira conseguiu transferir, por exemplo, a fabricação de barrilha de Sergipe para o Rio Grande do Norte, dando uma nova dimensão à produção salineira no estado, mediante o aproveitamento industrial de inúmeros de seus subprodutos.

Não só isso. Graças à efervescência intelectual de Cortez – um homem habituado a debater suas ideias em longos jantares oferecidos em casa – nasceu iniciativas como a primeira empresa de turismo do Rio Grande do Norte (Emprotur) e as bases para a futura construção, já no governo de Lavoisier Maia, da Via Costeira, a despeito da ferrenha oposição sofrida.

Lembra Marcos Formiga que o primeiro ano de Tarcísio Maia, sucessor de Cortez, foi quase que inteiramente dedicado a concluir obras de seu antecessor. E Formiga, é claro, manteve-se firme no cargo até o fim, algo inimaginável nos dias atuais.

Sessão Magna Branca - anos 90 no Centro Esportivo e Cultural de Ceará-Mirim, tendo como palestrante o ex-governador Cortez Pereira. Foto: Divulgação
Sessão Magna Branca – anos 90 no Centro
Esportivo e Cultural de Ceará-Mirim, tendo como palestrante o ex-governador Cortez Pereira. Foto: Divulgação
“Contratou-se o grupo de uma empresa internacional para realizar um estudo da Via Costeira, tomando como base o que acontecia à época na costa sul-africana, onde o turismo sofreu um forte incremento”.
Se hoje é comum falar em mapeamento das potencialidades econômicas do Rio Grande do Norte, saiba que 40 anos atrás essa moda nasceu com Cortez Pereira ao pesquisar de Baia Formosa até Grossos um possível pólo de desenvolvimento para o turismo.

Por intermédio dele buscaram-se acordos de cooperação com outros estados mais desenvolvidos com a finalidade de incrementar projetos e programas de governo. Ninguém jamais fizera isso antes com ímpeto de Cortez, um homem apaixonado em transformar a realidade e, ao mesmo tempo, inconformado com ela.
Lembra o professor Marcos Formiga: “Quando precisávamos de um especialista para estudar, por exemplo, as águas mães do Rio Grande do Norte, lá vinha um técnico de fora por conta de um dos inúmeros convênios de cooperação celebrados pelo governo Cortez Pereira com as mais diversas instituições nacionais e internacionais”.

A mesma coisa aconteceu com a implantação de projetos envolvendo o petróleo, o gás e o sal como insumo industrial. Infelizmente, por conta da visão curta dos administradores que se seguiram, o Rio Grande do Norte continua exportando apenas o sal “in natura”, sem qualquer valor agregado, o que se repete com produtos agrícolas da cesta de exportação.

Marcos Formiga, que está entre os personagens mais autorizados a falar sobre Cortez Pereira, diz que a obsessão do ex-governador era moldar um Estado voltado ao planejamento e funcionando como uma empresa. Não conseguiu – como as décadas seguintes se encarregaram de mostrar.

A opção entre o compromisso público de Cortez e as conveniências políticas de uma elite clientelista, que se serve do poder para se eternizar enquanto grupo, contribuiu para que a memória daquele homem público do regime militar nunca fosse cultuada como devia. E depois de sofrer revezes políticos terríveis, em nome de acordos políticos espúrios, pouco restou da memória daquele que mudou a vida do estado como nenhum outro líder – homem ou mulher – viria a fazer nas décadas seguintes.

Escreveu o ex-governador sobre sua relação com as pessoas antes e depois de deixar o cargo: “No último ano de governo, meu aniversário foi uma multidão. No seguinte à minha saída, éramos apenas eu e minha mulher aqui em casa”. Nada mais verdadeiro.

“Cortez era um político especial e um ser humano dos mais éticos que se possa conhecer”, diz o primo em segundo grau e também economista Antônio-Alberto Cortez. “Ele conhecia com propriedade a problemática socioeconômica do RN no seu aspecto macro, por isso tanto o empolgava as questões relativas ao desenvolvimento, assunto que o fascinava”, acrescenta.

“Não era afeito a pequenez, a coisa miúda da ‘política’ paroquial, embora tivesse como político e em certos momentos, de engolir a hipocrisia tão comum neste meio. Tinha sonhos de ver um RN melhor e menos desigual. Buscava conhecer experiências distantes, de outros povos e assim construir parâmetros e levar adiante suas propostas de modo mais seguro”, continua Antônio-Alberto.

Um exemplo disso, segundo o professor da cadeira de Economia da UFRN, ficou claro quando Cortez Pereira enviou técnicos à Ásia para conhecerem o cultivo de camarões em viveiros. “A semente desta iniciativa disseminou-se, anos depois, por quase todo território nacional”, lembra.

Hoje a carcinicultura é responsável por milhares de empregos indiretos e diretos na cadeia produtiva, especialmente no Nordeste. E para atingir esse objetivo, Cortez Pereira lutou com as armas que podia.
“Executou o Projeto das Vilas Rurais nos matões desertos e inexplorados das Serras do Carmo e Mel. E, nestas, realizou o assentamento de centenas de famílias que, orientadas, foram responsáveis pelo plantio de 2 milhões e duzentos mil pés de cajus – à época uma das maiores plantações contínuas de cajueiros do mundo (provavelmente a maior)”, diz Antônio-Alberto Cortez.

Para o professor, Cortez Pereira sabia como ninguém “aproveitar a diversidade mineral ainda pouco explorada e lamentava o desperdício das águas que, em grandes volumes, escorrem para o mar e que poderiam, em grande parte, ser acumuladas; empolgava-se ao falar da intensa insolação que não deve ser considerada fator adverso ao desenvolvimento, mas sim favorável, uma vez que, graças a tanto sol, a tanta luz, o Rio Grande do Norte é o maior produtor de sal do país”.

Marcos Aurélio: “Cortez Pereira era um laboratório de ideias”

Joaquim Pinheiro
Repórter de Política

Ex-auxiliar do então governador Cortez Pereira, o jornalista Marcos Aurélio de Sá, diretor-editor deste O JORNAL DE HOJE, disse que Cortez Pereira era sozinho um “laboratório de ideias” e afirmou que ele foi o único gestor que nos últimos 40 anos apresentou um plano de governo para o Rio Grande do Norte.

Marcos Aurélio conviveu durante muito tempo com o então governador Cortez Pereira na sala de aula como aluno do curso de Direito e na condição de diretor da Imprensa Oficial e da CERN – Companhia Editora do Rio Grande do Norte. Marcos Aurélio relata que ao assumir o governo durante uma aula do curso de direito, Cortez Pereira colocou a mão no seu ombro e disse que tinha um lugar para ele (Marcos) na administração estadual, já que decidiu convocar pessoas jovens para ajudá-lo na construção de um Rio Grande do Norte desenvolvido e promissor. “Achei um desafio importante e fui testemunha de um momento da política do Rio Grande do Norte que nunca vi mais se repetir”, diz o jornalista.

Editor-Diretor d'O Jornal de Hoje, Marcos Aurélio de Sá. Foto: Divulgação
Editor-Diretor d’O Jornal de Hoje, Marcos Aurélio de Sá. Foto: Divulgação
Marcos Aurélio relata que o governo Cortez Pereira era formado por um grupo de pessoas pensando 24 horas em caminhos e alternativas para o Rio Grande do Norte encontrar meios para melhorar a vida do povo. “Cortez era uma governante que transbordava ideias e projetos para melhorar o Estado e transferia para os auxiliares essa preocupação”, disse Marcos Aurélio, informando que mesmo sendo integrante do segundo escalão do governo, Cortez Pereira lhe convocava para despachar semanalmente. “Foi através dele que o Rio Grande do Norte despertou para o turismo, para a exploração da carcinocultura, que é atualmente um dos principais produtos de exportação e riquezas para o Estado”, disse Marcos Aurélio, destacando também a cultura do caju, que é o produto de maior exportação. Segundo Marcos Aurélio, Cortez Pereira pensou na industrialização do sal e na indústria de barrilha, que não foi sequenciada pelos governos posteriores. “Seria uma grande indústria de base”, disse o ex-auxiliar, completando: “Como jornalista e como quem acompanha o dia a dia do nosso Estado, não se repetiu dos anos 60 para cá nada parecido do que foi o governo Cortez Pereira. Todos os projetos dele tinham viabilidade. Alguns não foram sequenciados.”, concluiu Marcos Aurélio.

Joanilson Rêgo: “Cortez era um homem profundamente bom com visão de estadista”

Ex-Governador Cortez Pereira. Foto: Divulgação
Ex-Governador Cortez Pereira. Foto: Divulgação
Outro auxiliar de Cortez Pereira, o advogado Joanilson de Paula Rêgo, disse que Cortez Pereira “era um homem profundamente bom com visão de estadista” e que a política menor não o fascinava porque pensava grande buscando um Rio Grande do Norte desenvolvido e povo com pleno emprego. “Cortez queria os campos produzindo racionalmente, as águas fertilizando os solos com tratamento quase científico”, ressalta, informando ainda, que a desertificação doía na alma de Cortez Pereira. No seu governo, Joanilson de Paula exerceu três secretarias: secretário de Justiça, secretário da administração e chefe do Gabinete Civil. Cortez Pereira foi eleito governador em 1971 e cassado pelo regime militar em 1971. Substituiu no governo o monsenhor Walfredo Gurgel e foi substituído pelo médico Tarcísio Maia.

O jornalista João Batista Machado, que exerceu a profissão, também no período do governo Cortez Pereira, disse que Cortez foi um dos mais criativos governadores do Rio Grande do Norte. Conseguiu a fábrica de barrilha (posteriormente interrompida), além de outros projetos de grande alcance social como camarões, bicho da seda, Vilas Rurais de Serra do Mel, Boqueirão, para produção de coco, entre outros. “Cortez Pereira via adiante, pensando nas novas gerações e fez um governo diferenciado. As Vilas Rurais, por exemplo, objetivava também, além da produção de castanha de caju, receber trabalhadores desempregados da salinas, que naquela época estavam sendo mecanizadas”, informa João Batista Machado, dizendo ainda que Cortez Pereira tinha a capacidade de visão acima do seu tempo.

Para o jornalista João Batista Machado, o governador Cortez Pereira pensava tanto no Rio Grande do Norte que desprezou as divergências com o seu adversário Aluízio Alves e apoiou a implantação da UEB – União das Empresas Brasileiras, na Zona Norte de Natal, um complexo industrial que na época ofereceu milhares de empregos para o natalense. Lembra que o então governador Cortez Pereira construiu o atual Centro Administrativo em Lagoa Nova, que segundo Machado, deveria ter seu nome.
Aida: 49 anos de união
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Esposa do ex-governador Cortez Pereira, dona Aida Cortez conviveu com ele 49 anos. Foi presente na sua vida e ajudou o seu governo através de programas sociais. Ao ser questionada pela data de hoje quando são completados 10 anos do falecimento do ex-governador, dona Aida falou o seguinte: “Hoje é um dia sofrido para mim e toda nossa família. Cortez contribuiu muito para o desenvolvimento do Rio Grande do Norte através da criação de projetos importantes. Era um homem simples e culto. Foi injustiçado, mas superava todos os obstáculos e adversidades. Ele morreu pelo Rio Grande do Norte e pelos projetos que concebeu” , disse ela, lembrando que recentemente o ex-governador tem recebido pequenas homenagens, mas que para ela significa grandes. Lembra por fim, que sua filha, Aila Cortez, atual secretária de Tributação da Prefeitura de Natal, é um pouquinho de Cortez que está servindo ao Rio Grande do Norte. A filha de Cortez Pereira, atual secretária municipal de Tributação afirmou os seguinte sobre o pai: “Ele era um amigo e confidente. Tenho meu pai como grande exemplo e grande orgulho. Minha base veio dele e da minha mãe. É uma responsabilidade muito grande para mim, principalmente quando ocupo um cargo público. Mas como ele, estou servindo ao Rio Grande do Norte. Ele foi pai e amigo”.

CARLOS EDUARDO

O prefeito de Natal, Carlos Eduardo, também se referiu ao ex-governador Cortez Pereira: “Hoje, a memória do Rio Grande do Norte se ilumina pela passagem dos 10 anos de falecimento do Governador Cortez Pereira. Como gestor público, sei bem das dificuldades que enfrentou na busca de novas alternativas para a construção de um Estado viável, a partir da interiorização de novas fontes de desenvolvimento”.

Carlos Eduardo conclui: “Sonhador dos sonhos possíveis, visionário, tem como legados importantes projetos voltados para o homem do campo, como as vilas rurais de Serra do Mel e a cultura do caju, o passo dado rumo à frota mecanizada para o agricultor, o estímulo ao cultivo do bicho da seda e do camarão. Seu sonho maior, a fábrica de barrilha, não foi à frente por outras injunções. Mas fica na nossa história como um dos construtores dos alicerces do desenvolvimento do Rio Grande do Norte”.


Entrevista: Marcos Formiga
secretário do Planejamento nos governos Cortez Pereira e Tarcísio Maia

                      Tarcísio Maia e Cortez Pereira, em 1974.         
Foto: Divulgação
Atual diretor da Fiern, o ex-prefeito de Natal e homem de confiança do ex-governador Cortez Pereira, Marcos Formiga recebeu a reportagem d’O Jornal de Hoje para uma entrevista exclusiva, na sede da Federação das Indústrias do RN. Abaixo, Formiga relembra alguns fatos que marcaram para sempre o desenvolvimento do Estado.

JORNAL DE HOJE – Como o senhor começou a trabalhar com o governador Cortez Pereira?
MARCOS FORMIGA – Depois de concluir uma pós-graduação na Itália sobre desenvolvimento regional, eu dispunha de uma avaliação dos incentivos que o Estado dispunha para aproveitar a produção local. Em 1970, quando escolheram Cortez Pereira para governador, ele já tinha experiência dos problemas do Seridó como ex-deputado e ex-senador e também tinha uma boa base trazida do exterior. Ele pediu à companhia de desenvolvimento alguns técnicos que começassem a pensar o governo dele, entre os quais eu. Foi assim que tudo começou,

JORNAL DE HOJE – Por onde vocês exatamente começaram?
MARCOS FORMIGA – Começamos a discutir o RN em suas vantagens comparativas, seus diferenciais, as oportunidades, a organização do estado. E tudo isso foi tomando conta dos nossos debates. Na época, minha pasta era uma assessoria de planejamento, com ações pontuais, sem responsabilidade maior. Quando iniciamos o governo, tínhamos um conjunto de pessoas homogêneas, que sabiam a direção a ser tomada. Cortez visualizava o estado como uma grande empresa. Tinha insumos, o que produzir, mas nada disso valeria sem resultados sociais. Foi esse cenário que motivava Cortez Pereira.

JORNAL DE HOJE – Mas qual era o parâmetro central?
MARCOS FORMIGA – O modelo de organização derivaria das condições de planejamento, com equilíbrio financeiro. Aqueles controles que estavam dispersos, foram organizados. Nossa equipe era pequena na época e eu fazia parte da Universidade. Era o tempo do presidente Geisel e do Ministro Reis Veloso. Nossa linha era a desenvolvimentista da corrente paulista. Veloso era da linha do BNDES e tinha uma visão mais aberta. E nós precisávamos de um conhecimento mais amplo e especializado; convidamos a Cepal para iniciar um estudo conjunto que mapeou o Rio Grande do Norte inteiro. O que poderia ser estimulado, aproveitado, as cidades mais importantes que pudessem servir de centros regionais. Nosso trabalho foi projetado com resultados nos 20 anos seguintes. Tínhamos recursos naturais, mas precisávamos saber o que fazer com eles. Tínhamos minério, camarão, sal. O setor têxtil também atraiu Cortez porque nossa produção de fios acabava virando produto acabado em São Paulo. Foi um tempo de muitos acordos de cooperação buscados com outros estados mais desenvolvidos. Precisávamos de técnicos para estudar as águas mães no RN, então vinha o técnico. A primeira abordagem de um complexo petrogelquímico começou com Cortez e foi continuado com Tarcísio Maia. É o que hoje se entende por complexo petróleo-gás-sal. O mesmo aconteceu com a fruticultura com o projeto da Serra do Mel e a suinocultura no Vale do Açu com parcerias internacionais.

JORNAL DE HOJE – Como o senhor definiria a visão de Cortez Pereira da administração?
MARCOS FORMIGA – Era uma visão realista, idealista de longo prazo, de quem pensava longe. Muitas ideias eram discutidas em sua casa. Depois de ouvir seu secretário, costumava perguntar: é viável, dá pra fazer? Então toca pra frente. (M.H.)
O PSC comemora a aprovação, em primeiro turno, da PEC que propõe a fixação de um prazo de oito anos, para que a União, os Estados e o Distrito Federal disponibilizem defensores públicos em todas as unidades jurisdicionais. É uma vitória principalmente para os mais carentes, pois se amplia o acesso à justiça, fortalece as Defensorias e proporciona verdadeira inclusão social.
E na sua cidade, há defensores públicos para atender a todos?
Saiba mais: http://bit.ly/MggGjC
 

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