terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

ENTREVISTA COM FÁBIO DE OJUARA (*)

(Ilustração no anexo)

(Diário de Natal, 14 de Março de 1996)

VVV - Ojuara, chifre pesa em cabeça de corno?

Ojuara - No princípio, sim. É claro que antes de casar, as experiências anteriores sempre são um bom aprendizado. Até que você escolhe a mulher ideal, a mais pura, a mais honesta, a que promete fidelidade para sempre, e aí você cai na conversa, certo de que será feliz num casamento duradouro. Quando os amigos começam a rir por trás de você, sem que você saiba bem porque, é aí que começam as desconfianças, e você passa a sentir-se incomodado. Aquela estória do melhor amigo, quase sempre é batata, é ele o primeiro a usufruir de sua mulher. Ele chega para uma cervejinha e você não está, ficou trabalhando até mais tarde, e aí a coisa acontece. Conversa vai, conversa vem, e a mulher termina por confessar a insatisfação sexual do casamento. "No melhor da festa, ele goza e dorme, e eu fico o resto da noite a ver navios, esperando pela noite seguinte que vai ser do mesmo jeito", começa ela provocante, oferecendo uma bebida mais quente, uísque, conhaque, até que o car a não mais agüenta tanta provocação e termina por trair o amigo, certo de que ele jamais saberá do ocorrido. Ele freqüenta mais algumas vezes a sua casa, fica meio acanhado de sua companhia, até que a amizade vai azinhavrando e ele passa a encontrar-se com ela em motéis de segunda categoria. Depois de um certo tempo, a insatisfação dela continua, agora com ele, já sem o pique inicial da traição, parceiro já conhecido, tudo explorado e novidade nenhuma a experimentar. Aí a cama do marido ganha tesão novamente e ela passa a demonstrar maior carinho com o lar. Mas vem a recaída e ela procura outro alguém, agora já fora do ciclo de amizade, alguém do trabalho ou mesmo um desconhecido que lhe passa uma cantada na rua, oferece-lhe um sorvete, e pronto, a desgraça mais uma vez acontece. De parceiro em parceiro, a notícia vai se espalhando. O seu irmão chega e diz que ouviu a conversa numa mesa de bar, você não acredita, pergunta ao seu melhor amigo se el e sabe de algo e ele nunca sabe, até que as conversas são tantas que você começa a desconfiar mesmo de que aquelas estórias têm fundamento. É aí que o chifre pesa. Você fica capiongo, entristecido, louco para saber onde você errou, já não mais se achando o mais vigoroso varão.

VVV - E aí, o que você faz?

Ojuara - A primeira coisa são as insinuações. Morto de vergonha, você passa a inquirir a mulher disso e daquilo. Onde você andou, por que demorou tanto, onde está gastando tanto dinheiro. A mulher sempre tem resposta convincente, e, na cama, tira qualquer dúvida do pobre do corno. Presenteia-o com uma noite das mais maravilhosas, insinua coisas que ele jamais ousou e o relacionamento sexual vai ficando cada vez mais gostoso, a mulher a demonstrar uma tesão insuspeita em você, inebriado pelos seus suspiros e arquejos, cada vez mais langorosos. Mas as chacotas continuam e você volta a ficar murcho, andando pelos bares, decaindo, decaindo, até amanhecer na sarjeta, depois de uma noite a ouvir Reginaldo Rossi.

VVV - E o cara não toma nenhuma providência, Ojuara?

Ojuara - Ele pensa logo em contratar detetive, mas morre de vergonha. Aí passa a procurar raparigas nas ruas e vinga-se da mulher corneando-a também. Isso até que ajuda um pouco e ele até retoma uma felicidade aparente. Mas a notícia já está no mundo e as insinuações tornam-se cada vez mais freqüentes, os amigos cantando "lá vem ele, com a cabeça enfeitada"... e você passa a nem mais dar-se a respeito. E cai na dor de cotovelo de novo, volta a sarjeta enquanto a mulher está a vadiar nos motéis da cidade. É um inferno esse período. Aí você toma uma decisão. Parte para uma conversa franca com a mulher, diz que vai deixá-la, que não suporta mais ser chamado de corno pelos amigos, pelos inimigos, até pelas mulheres. Mas ela volta a premiá-lo na cama, mostra novos segredos e é aí que você passa a desconfiar mesmo dela. Onde diabos ela aprendeu isso que eu nunca fiz com ela? E aí você passa a experimentá-la, cada noite mais excitado, a mulher a inventar posições e práticas inusitadas, deixando o marido morto na cama, sem agüentar mais nenhuma.

VVV - Ele passa a gostar da situação?

Ojuara - Em parte, sim. Ele desconfia, mas ainda não tem certeza de que é corno, e essa dúvida atormenta-o. Aí ele toma a decisão de seguir a mulher. Diz que vai trabalhar até mais tarde e fica na esquina esperando. Ela toma um ônibus, ele toma um táxi e segue, dizendo para o motorista que é da polícia civil e está espreitando perigoso trombadinha, suspeito de um crime de morte. Ele perde a mulher de vista e adia a descoberta, até que um belo dia ele flagra a mulher entrando num motel com um conhecido seu, de farra. Aí você fica desesperado, tem vontade de matar, de morrer, mas não tem coragem de surpreender a mulher na cama com o outro, conhecido seu, a notícia a se espalhar de vez entre todos. Você fica atordoado, passa uns dias sem querer voltar em casa, até que a mulher o procura com conversas de "o que foi que aconteceu?", "por que você não vai mais dormir em casa, filhinho?" E você, já desprovido de qualquer orgulho ou auto-estima, há dias sem ver mulher, parte disposto a tirar o atraso, e dá todas, certo de que está enganando a companheira com seu silêncio. No dia seguinte, tem vontade de lhe dar umas porradas, dizer que sabe de tudo, mas vai para o trabalho caladinho, doido para que chegue a noite, para pegar a mulher de novo, certo de que ela o traiu, mas sem demonstrar qualquer desconfiança, tornando ainda mais prazerosa aquela noite, a mulher cansada, sem mais nada querer, e você em cima, a exigir os prazeres que ela vem proporcionando fora de casa, você agora a inventar coisas que ela nem sequer jamais insinuou. Aí você fica nesse jogo de gato e rato por algum tempo, até que diz conhecer toda a estória da traição, citando nomes, lugares, toda a safadeza que ela vem fazendo esse tempo todo.

VVV - E aí?

Ojuara - Aí ela queda-se derrotada. Termina por confessar tudo e pede perdão, diz ser uma coisa compulsiva, que precisa de ajuda para não mais cair em tentação, chora, diz que lhe ama, e você vai para o trabalho como um rei, arranja umas putas, passa novas noites na rua, certo de que a mulher está em casa, arrependida, sem nada fazer. E está mesmo. Agora é você quem está por cima, a mulher acabrunhada, com medo de cair de novo em tentação, e você a corneá-la todas as noites, tomando fôlego, refazendo-se das dores sofridas durante tanto tempo.

VVV - E aí a mulher se regenera e o casal é feliz para sempre?

Ojuara - Que nada. Mulher que trai, trai. É só uma questão de tempo. Mais dia, menos dia, ela volta ao paraíso, só que agora você sabe que ela o está corneando mesmo e passa a nem ligar. Ela lhe corneia de um lado, você corneia ela de outro, fica tudo um a um e a vida melhora para ambos.

VVV - Quer dizer que o corno passa a gostar da situação?

Ojuara - Tanto que a melhor noite para ele é quando ele sabe que a mulher o traiu. Aí ele pega, e sente-se no direito de todos os prazeres. Mata a mulher de cansaço, dá três, dá quatro, na frente, atrás, emborca, faz o que quer, e a mulher ali, pronta pra tudo, sem nada dizer. A melhor noite do corno é quando ele tem certeza de que naquela tarde, a mulher o traiu.

VVV - Ojuara, como a cidade do Ceará Mirim recebeu a idéia de criação da Associação dos Cornos que vocês fundaram por lá?

Ojuara - Não muito bem. Eles pensaram que era provocação, já que a cidade tinha fama, mas logo perceberam que os cornos estavam se assumindo, associando-se, e hoje já não causa mas nenhuma polêmica. Depois daquele programa do "Você Decide" que tratou do assunto e eu fui entrevistado ao vivo para todo o Brasil, o pessoal da cidade viu que havia outras associações no país e me deixou mais de mão. A paz voltou a reinar na cidade.

VVV - Se você voltasse a se casar, teria medo de chifre?

Ojuara - Com certeza, não. Até ia incentivar a mulher, para que nossas noites se tornassem mais gostosas.

VVV - Quer dizer que você não mais se importa em ser corneado?

Ojuara - De jeito algum.

VVV - Você é adepto da troca de casais?

Ojuara - Como assim?

VVV - Tem casais que só se satisfazem quando trocam os parceiros. O marido fica com a mulher do amigo, e este com a sua mulher. Vão para um motel e lá se divertem como gostam. Ojuara - Não. Aí eu não topo. É diferente. Isso é pouca vergonha. Sou daqueles que admitem o chifre, mas daí a levar a mulher para outro cara transar e eu transar com a dele, isso não. Ela que vá a luta, procure com quem também se realizar, que eu faço o mesmo. Eu sou corno do tipo tradicional, não sou chegado a essas modernidades sexuais de hoje, não.

VVV - Você é favorável a sexo grupal?

R - De jeito nenhum. Não confunda. O fato de ser corno não quer dizer que eu seja permissivo. Eu dou liberdade a mulher. Se ela quiser, que use. O bom é quando você não tem certeza de que houve a traição. Só desconfia. O ciúme é que não deve existir. Ele acaba qualquer casamento.

(*) Fábio de Ojuara é artista plástico e filósofo do Ceará-Mirim-RN. Presidente perpétuo da Associação dos Cornos Potiguares, autor do manual Sabendo Usar… Chifre Não É Problema edição esgotada. Sua máxima mais apreciada é TODA MERDA AGORA É ARTE!
ENTREVISTA COM FÁBIO DE OJUARA (*)


(Ilustração no anexo)


(Diário de Natal, 14 de Março de 1996)

VVV - Ojuara, chifre pesa em cabeça de corno?

Ojuara - No princípio, sim. É claro que antes de casar, as experiências anteriores sempre são um bom aprendizado. Até que você escolhe a mulher ideal, a mais pura, a mais honesta, a que promete fidelidade para sempre, e aí você cai na conversa, certo de que será feliz num casamento duradouro. Quando os amigos começam a rir por trás de você, sem que você saiba bem porque, é aí que começam as desconfianças, e você passa a sentir-se incomodado. Aquela estória do melhor amigo, quase sempre é batata, é ele o primeiro a usufruir de sua mulher. Ele chega para uma cervejinha e você não está, ficou trabalhando até mais tarde, e aí a coisa acontece. Conversa vai, conversa vem, e a mulher termina por confessar a insatisfação sexual do casamento. "No melhor da festa, ele goza e dorme, e eu fico o resto da noite a ver navios, esperando pela noite seguinte que vai ser do mesmo jeito", começa ela provocante, oferecendo uma bebida mais quente, uísque, conhaque, até que o car a não mais agüenta tanta provocação e termina por trair o amigo, certo de que ele jamais saberá do ocorrido. Ele freqüenta mais algumas vezes a sua casa, fica meio acanhado de sua companhia, até que a amizade vai azinhavrando e ele passa a encontrar-se com ela em motéis de segunda categoria. Depois de um certo tempo, a insatisfação dela continua, agora com ele, já sem o pique inicial da traição, parceiro já conhecido, tudo explorado e novidade nenhuma a experimentar. Aí a cama do marido ganha tesão novamente e ela passa a demonstrar maior carinho com o lar. Mas vem a recaída e ela procura outro alguém, agora já fora do ciclo de amizade, alguém do trabalho ou mesmo um desconhecido que lhe passa uma cantada na rua, oferece-lhe um sorvete, e pronto, a desgraça mais uma vez acontece. De parceiro em parceiro, a notícia vai se espalhando. O seu irmão chega e diz que ouviu a conversa numa mesa de bar, você não acredita, pergunta ao seu melhor amigo se el e sabe de algo e ele nunca sabe, até que as conversas são tantas que você começa a desconfiar mesmo de que aquelas estórias têm fundamento. É aí que o chifre pesa. Você fica capiongo, entristecido, louco para saber onde você errou, já não mais se achando o mais vigoroso varão.

VVV - E aí, o que você faz?

Ojuara - A primeira coisa são as insinuações. Morto de vergonha, você passa a inquirir a mulher disso e daquilo. Onde você andou, por que demorou tanto, onde está gastando tanto dinheiro. A mulher sempre tem resposta convincente, e, na cama, tira qualquer dúvida do pobre do corno. Presenteia-o com uma noite das mais maravilhosas, insinua coisas que ele jamais ousou e o relacionamento sexual vai ficando cada vez mais gostoso, a mulher a demonstrar uma tesão insuspeita em você, inebriado pelos seus suspiros e arquejos, cada vez mais langorosos. Mas as chacotas continuam e você volta a ficar murcho, andando pelos bares, decaindo, decaindo, até amanhecer na sarjeta, depois de uma noite a ouvir Reginaldo Rossi.

VVV - E o cara não toma nenhuma providência, Ojuara?

Ojuara - Ele pensa logo em contratar detetive, mas morre de vergonha. Aí passa a procurar raparigas nas ruas e vinga-se da mulher corneando-a também. Isso até que ajuda um pouco e ele até retoma uma felicidade aparente. Mas a notícia já está no mundo e as insinuações tornam-se cada vez mais freqüentes, os amigos cantando "lá vem ele, com a cabeça enfeitada"... e você passa a nem mais dar-se a respeito. E cai na dor de cotovelo de novo, volta a sarjeta enquanto a mulher está a vadiar nos motéis da cidade. É um inferno esse período. Aí você toma uma decisão. Parte para uma conversa franca com a mulher, diz que vai deixá-la, que não suporta mais ser chamado de corno pelos amigos, pelos inimigos, até pelas mulheres. Mas ela volta a premiá-lo na cama, mostra novos segredos e é aí que você passa a desconfiar mesmo dela. Onde diabos ela aprendeu isso que eu nunca fiz com ela? E aí você passa a experimentá-la, cada noite mais excitado, a mulher a inventar posições e práticas inusitadas, deixando o marido morto na cama, sem agüentar mais nenhuma.

VVV - Ele passa a gostar da situação?

Ojuara - Em parte, sim. Ele desconfia, mas ainda não tem certeza de que é corno, e essa dúvida atormenta-o. Aí ele toma a decisão de seguir a mulher. Diz que vai trabalhar até mais tarde e fica na esquina esperando. Ela toma um ônibus, ele toma um táxi e segue, dizendo para o motorista que é da polícia civil e está espreitando perigoso trombadinha, suspeito de um crime de morte. Ele perde a mulher de vista e adia a descoberta, até que um belo dia ele flagra a mulher entrando num motel com um conhecido seu, de farra. Aí você fica desesperado, tem vontade de matar, de morrer, mas não tem coragem de surpreender a mulher na cama com o outro, conhecido seu, a notícia a se espalhar de vez entre todos. Você fica atordoado, passa uns dias sem querer voltar em casa, até que a mulher o procura com conversas de "o que foi que aconteceu?", "por que você não vai mais dormir em casa, filhinho?" E você, já desprovido de qualquer orgulho ou auto-estima, há dias sem ver mulher, parte disposto a tirar o atraso, e dá todas, certo de que está enganando a companheira com seu silêncio. No dia seguinte, tem vontade de lhe dar umas porradas, dizer que sabe de tudo, mas vai para o trabalho caladinho, doido para que chegue a noite, para pegar a mulher de novo, certo de que ela o traiu, mas sem demonstrar qualquer desconfiança, tornando ainda mais prazerosa aquela noite, a mulher cansada, sem mais nada querer, e você em cima, a exigir os prazeres que ela vem proporcionando fora de casa, você agora a inventar coisas que ela nem sequer jamais insinuou. Aí você fica nesse jogo de gato e rato por algum tempo, até que diz conhecer toda a estória da traição, citando nomes, lugares, toda a safadeza que ela vem fazendo esse tempo todo.

VVV - E aí?

Ojuara - Aí ela queda-se derrotada. Termina por confessar tudo e pede perdão, diz ser uma coisa compulsiva, que precisa de ajuda para não mais cair em tentação, chora, diz que lhe ama, e você vai para o trabalho como um rei, arranja umas putas, passa novas noites na rua, certo de que a mulher está em casa, arrependida, sem nada fazer. E está mesmo. Agora é você quem está por cima, a mulher acabrunhada, com medo de cair de novo em tentação, e você a corneá-la todas as noites, tomando fôlego, refazendo-se das dores sofridas durante tanto tempo.

VVV - E aí a mulher se regenera e o casal é feliz para sempre?

Ojuara - Que nada. Mulher que trai, trai. É só uma questão de tempo. Mais dia, menos dia, ela volta ao paraíso, só que agora você sabe que ela o está corneando mesmo e passa a nem ligar. Ela lhe corneia de um lado, você corneia ela de outro, fica tudo um a um e a vida melhora para ambos.

VVV - Quer dizer que o corno passa a gostar da situação?

Ojuara - Tanto que a melhor noite para ele é quando ele sabe que a mulher o traiu. Aí ele pega, e sente-se no direito de todos os prazeres. Mata a mulher de cansaço, dá três, dá quatro, na frente, atrás, emborca, faz o que quer, e a mulher ali, pronta pra tudo, sem nada dizer. A melhor noite do corno é quando ele tem certeza de que naquela tarde, a mulher o traiu.

VVV - Ojuara, como a cidade do Ceará Mirim recebeu a idéia de criação da Associação dos Cornos que vocês fundaram por lá?

Ojuara - Não muito bem. Eles pensaram que era provocação, já que a cidade tinha fama, mas logo perceberam que os cornos estavam se assumindo, associando-se, e hoje já não causa mas nenhuma polêmica. Depois daquele programa do "Você Decide" que tratou do assunto e eu fui entrevistado ao vivo para todo o Brasil, o pessoal da cidade viu que havia outras associações no país e me deixou mais de mão. A paz voltou a reinar na cidade.

VVV - Se você voltasse a se casar, teria medo de chifre?

Ojuara - Com certeza, não. Até ia incentivar a mulher, para que nossas noites se tornassem mais gostosas.

VVV - Quer dizer que você não mais se importa em ser corneado?

Ojuara - De jeito algum.

VVV - Você é adepto da troca de casais?

Ojuara - Como assim?

VVV - Tem casais que só se satisfazem quando trocam os parceiros. O marido fica com a mulher do amigo, e este com a sua mulher. Vão para um motel e lá se divertem como gostam. Ojuara - Não. Aí eu não topo. É diferente. Isso é pouca vergonha. Sou daqueles que admitem o chifre, mas daí a levar a mulher para outro cara transar e eu transar com a dele, isso não. Ela que vá a luta, procure com quem também se realizar, que eu faço o mesmo. Eu sou corno do tipo tradicional, não sou chegado a essas modernidades sexuais de hoje, não.

VVV - Você é favorável a sexo grupal?

R - De jeito nenhum. Não confunda. O fato de ser corno não quer dizer que eu seja permissivo. Eu dou liberdade a mulher. Se ela quiser, que use. O bom é quando você não tem certeza de que houve a traição. Só desconfia. O ciúme é que não deve existir. Ele acaba qualquer casamento.

(*) Fábio de Ojuara é artista plástico e filósofo do Ceará-Mirim-RN. Presidente perpétuo da Associação dos Cornos Potiguares, autor do manual Sabendo Usar… Chifre Não É Problema  edição esgotada. Sua máxima mais apreciada é TODA MERDA AGORA É ARTE!

Deputados tomam posse com disputa pela 1ª Secretaria

Anna Ruth Dantas - repórter

A solenidade de posse hoje dos 24 deputados estaduais na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Norte será cenário de disputas por cargos da Mesa Diretora, apesar do deputado Ricardo Motta ser candidato único à Presidência. A principal disputa está concentrada na Primeira Secretaria. Embora o PMDB tenha definido o nome de Hermano Morais como o representante da legenda para o cargo, nem mesmo na bancada peemedebista o parlamentar é consenso. Hoje a disputa da função de primeiro secretário deverá ficar concentrada entre Hermano Morais e Raimundo Fernandes (PMN).

A postulação dos dois nomes mostra que nem o PMDB conseguiu manter a unidade da bancada de seis deputados em torno do nome de Hermano Morais e nem o deputado Ricardo Motta (PMN), candidato único a presidente, conseguiu o consenso na sua bancada para cumprir o acordo feito com o PMDB, já que Raimundo Fernandes se mantém como candidato.

A bancada dos novos parlamentares, integrada por Fábio Dantas (PHS), George Soares (PR), Dibson Nasser (PSDB) e Luiz Antonio Tomba (PSB), fecharam com o deputado Raimundo Fernandes. “Ele foi muito bem avaliado quando foi presidente da Assembleia. É um bom nome para primeiro secretário”, disse o deputado estadual Fábio Dantas

Já Hermano Morais foi escolhido como candidato do PMDB no processo comandado pelo presidente estadual da legenda, o deputado federal Henrique Eduardo Alves. Na noite do último domingo, com os deputados Gustavo Fernandes, Poti Júnior e Walter Alves, além de Hermano Morais, presentes a reunião, os peemedebistas fecharam o nome do candidato. O PMDB tem a maior bancada da nova legislatura da Assembleia, com seis deputados.

No entanto, surgiram divergências. Nélter Queiroz (PMDB), afirmou que ainda não definiu o voto para primeiro secretário. “Só anunciei o voto para presidente, que será de Ricardo Motta. Os outros cargos eu vou analisar”, disse o peemedebista. Ele criticou o processo de escolha do nome de Hermano Morais como candidato do PMDB a primeiro secretário. “Acho que foi mal conduzido, foi muito ruim para o partido o encaminhamento. O partido saiu dividido”, destacou.

Primeiro vice-presidente

O outro candidato a primeiro secretário, o deputado estadual Gustavo Carvalho (PSB) se retirou da disputa para Secretaria e entrou em outra. Ele é  o nome do PSB para primeiro vice-presidente.

Gustavo Carvalho conta com o apoio das deputadas Márcia Maia e Larissa Rosado, que integram a bancada do PSB. “Iremos buscar o consenso para nossa candidatura a primeiro secretário”, destacou Gustavo Carvalho.

A deputada estadual Márcia Maia frisou que o PSB irá buscar o consenso em torno do nome de Gustavo Carvalho. “Desde o primeiro momento ele (Gustavo Carvalho) mostrou interesse em participar da Mesa. Tudo foi discutido e definido que o nome era de Gustavo”, destacou a parlamentar.

Ela se mostrou surpresa com a informação de que o deputado Luiz Antonio Tomba poderá disputar a primeira vice-presidência. “Eu soube da candidatura dele (Tomba) pela imprensa. Respeito a posição. Nesse processo ele está distante, mas espero que se reaproxime. Queremos que a bancada do PSB esteja toda junta na Assembleia e fora dela”, destacou.

memória - Renovação é de um terço

Para a 60ª Legislatura, a Assembleia Legislativa estará com um terço de renovação. Na lista dos novatos estão Agnelo Alves (PDT), George Soares (PR), Dibson Nasser (PSDB), Fábio Dantas (PHS), Hermano Morais (PMDB), Gustavo Fernandes (PMDB), Luiz Antonio Lourenço Tomba e Vivaldo Costa  (PR). Esse último participou da legislatura que se encerra como suplente, mas retorna agora como titular de um mandato.

Os novatos estão divididos. Fábio Dantas, George Soares, Luiz Antonio Tomba e Dibson Nasser formam um bloco. Já Gustavo Fernandes e Hermano Morais seguem orientação do PMDB.

Assembleia terá duas sessões hoje

Na tarde de hoje a Assembleia Legislativa do Rio Grande do Norte fará duas sessões. A primeira, que começará às 16h será a posse dos 24 deputados. Essa será uma solenidade rápida. A presidente da Casa, deputada estadual Márcia Maia (PSB), comandará a solenidade que não terá discursos. Após a posse, a presidente convocará uma nova sessão para eleição da Mesa Diretora.

Com as autoridades se retirando do plenário, começará, logo após a sessão de posse, a regimental para a eleição da Mesa Diretora. A deputada estadual Márcia Maia coordenará a votação para presidente da Casa.

Escolhido o novo presidente, a atual dá posse e o eleito já começa a realizar a escolha dos demais seis integrantes da Mesa Diretora. As votações são individuais para cada cargo e secretas.

A posse e eleição não significa o início oficial das atividades legislativas deste ano. Os deputados estaduais, após a eleição da Mesa Diretora, retomam o recesso parlamentar até o dia 15 de fevereiro, quando haverá uma sessão para a leitura anual da mensagem da governadora.

Tribuna do Norte

Olá Meu Filho, Bom Dia Papai


È pena que simbolize apenas neste dia a permanência de pai e filho, representando o mesmo partido e o mesmo estado no senado federal, sendo um momento histórico para a Casa que já foi presidida por Rui Barbosa, outros exemplos semelhantes aconteceram, embora nenhum absolutamente igual.
 Logo mais estarão empossados o senador Garibaldi Alves, 87 anos para o exercicio de 4 anos no Congresso nacional, tornando-se titular da vaga deixada por Rosalba Ciarlini.
O outro Garibaldi, o filho, assume o mandato para uma reeleição de 8 anos, mas em seguida pedirá afastamento para reassumir o Ministério da Previdência Social, nomeado desde a posse de Dilma Rousseff, com o seu afastamento do senado, ocupa lugar seu primeiro suplente Paulo Davim do PV, que permanecerá na tribuna até quando seu titular permanecer ministro.

Escrito por aluiziolacerda às 09h29

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Viva a Cultura Popular e seus heróis : Da Paz




                                                                                                                                                                 






Por onde ando, tenho encontrado ou ouvido falar de pessoas, personagens que insistem em manter a Cultura Popular viva. Mané Beradero, Mestre Paulo Varela, Hailton Mangabeira (meu ex-aluno), José Acaci (grande amigo de infância), Kidelmir Dantas (grande amigo e conterrâneo da bela Paraíba), ele de Nova Floresta e eu da visinha Picuí, no cenário musical temos Carlinhos Zens e um apanhado e por que não dizer um punhado de
verdadeiros heróis da resistência, onde o cordel perdeu a xilografura para a impressão colorida e a imbira de agave substituída pelas prateleiras, os pífanos e flautas na maioria das vezes foram substituídas pelos saxofones e clarinetes (que por sinal gosto demais), a poesia matuta, rimada, de causos e que muitas vezes faziam o papel do Jornal noticiário mesmo, pois levavam a informação de acontecimentos distantes, como por exemplo: "A morte de uma adolescente por um vizinho malvado". Tenho profunda admiração por Jessier Quirino. Suas poesias são retratos fiéis do cenário rural nordestino e como ele mesmo diz" cagado e cuspido". Ele é o que o matuto chama de Dotôr, estudado dos bancos de Universidade, morador de área urbana e nobre de Campina Grande, conhecedor dos palavrórios dos mais diversos dicionários. Mas, se apropriou da fala "falada" do cabôclo da roça ( o que faz com destreza e respeito). Assim, também faz Onildo Barbosa, um natubense intimamente ligado com o ar rural do sertanejo nordestino e com letras faz um retrato, digo, uma fotografia de cenáriosperfeitos da Cultura popular regional. E assim fez o  mestre maior Patativa do Assaré. E entre casas caiadas e salas de reboco, nos milharais, entre quengos e panelas de barro, nos munturos da fazendas, nos oitões das casas grandes, nas rodadas de anedotas e Trancoso, nas budegas das cidades, a qualquer hora do dia ou da noite, esses homens e tantos outros não citados vão juntando os pedaços da nossa cultura como se fozem retalhos e nós, os aprendizes de poetas vamos montando uma colcha para agasalhar nossos sentimentos, saudosismo ou coisa assim. Quero agradecer a Deus por essas pessoas existirem no nosso cotidiano de leitores apreciadores de todo a qualquer forma de manifestação cultura e cada um deles pela dedicação e pela coragem de carregarem a Bandeira do Nordeste.

O Plantador de Milho

Sou eu caboclo da roça
Criado dentro da mata
Nunca calcei um sapato
Nunca usei uma gravata
Moro perto da cidade
Mas pra falar a verdade
Só vou lá de feira em feira
Ou quando há precisão
De batizar um pagão
Ou buscar uma parteira

No dia que registrei
O meu filhinho mais novo
O juiz estava nervoso
Brigando no meio do povo
Me chamou de maltrapilho
Sujo, plantador de milho
E disse mais uma piada
Dessas que a boca não cabe:
Matuto pobre só sabe
Fazer menino e mais nada.

O juiz não tinha filhos
Que enfeitassem sua vida
Eu conhecia a história
E fui direto na "ferida":
O senhor está zangado,
Tem dez anos de casado
E a mulher não tem um filho;
A sua comida fina
Não contém a vitamina
Que há na massa do milho.

A minha família é grande
Dez filhos e a mulher.
Sua família é pequena
Mas é porque você quer.
A sua mulher lhe embroma
Quase todo dia toma
Anticoncepcional
Lhe vicia em novela
Dorme tarde e faz tabela
E esquece do "principal".

Ouvi o senhor dizer
Que está gastando por mês
Mas de dez salários mínimos
Só com perfume francês
Diz que a vida é uma bomba
Que foi não foi leva tromba
Com mercadoria falsa
Comprar perfume estrangeiro
É pra quem possui dinheiro
Nos quatro bolsos da calça

Caro doutor, lá em casa
Ninguém nem conversa em luxo
A fora uma simples roupa,
O resto é encher o bucho
Não acostumei meu povo
Exigir sapato novo
Para as festas de São João
Ao invés de um colar de ouro
Compro a rabada de um touro
Pra se comer um pirão.

Lá ninguém fala em perfume,
O que há na minha casa
É cheiro de carne assada
Pingando em cima da brasa
Minha cabocla Maria,
Gorda, disposta e sadia,
Pra toda vez que eu quiser
Botar fogo na geléia
Para isso a minha "véia"
É mulher, sendo mulher.

Como!, é galinha caipira
E não galeto de granja
Ao invés de coca-cola
Tomo suco de laranja
Com rapadura de mel.
E escute aqui, bacharel,
Conversa longa me atrasa.
Quer ver a mulher Ter filho?
Bote um plantador de milho
Pra dormir na sua casa.

Autor: Daudeth Bandeira


                                                                                                                                                             Postado por Mariadapaz.com

sábado, 29 de janeiro de 2011

O MARMELEIRO SERTANEJO E AS PASTILHAS DO DOUTOR BELLOC...


Othoniel Menezes
(in Sertão de Espinho e de Flor, em fase de impressão)

Terra e gente  madornando. (23)
O mormaço, formigando,
cai sobre o imenso geral.
Longe, em saudosa surdina,
um carro de boi rechina...(24)
Rescende, o marmeleiral.
........................................................................................................................................................................................................................................................

NOTAS AO CANTO 02

Rescende o marmeleiral:
Naquela região esse arbusto é bem o característico do sertanejo. Passando grande parte do ano despido de folhas, amarelecem, murcham e caem antes de começado o rigor do verão, às vezes, desde julho ou agosto, e com o aspecto desolado da planta morta em pé, logo à primeira chuva cobre-se de renovos avermelhados ou róseos que, se não demora a seguinte, dentro de uma semana são folhas verdes, ásperas, mas de perfume particular, que basta o atrito da passagem entre elas para despender. (Policarpo Feitosa, Antônio de Souza, transcrito em Leituras Potiguares, p. 32).

O marmeleiro do campo, Maprounea braziliensis, é uma euforbiácea, excelentemente prestada ao habitante da caatinga e do sertão. Há o branco e o preto. A casca deste fornece uma infusão, famosa no tratamento empírico das moléstias do estômago. O carvão, pulverizado, dá produto similar do Belloc (43) e é de grande eficácia na terapêutica de todas as afecções entéricas, segundo afiançou ao Autor dessas Notas o saudoso nova-cruzense, abalizado homeopata, José de Matos, velho e popular advogado provisionado, cheio de janeiros e experiências.

A carne-de-sol, mesmo que esteja mofada, readquire o aroma primitivo, quando enrolada, durante algumas horas, em folhas de marmeleiro. Foi prática proverbial de muitos marchantes que, ao  tempo do tráfego em comboios (cinco ou seis dias de marcha, do Seridó a Natal), traziam o produto às feiras do agreste.


NOTAS DE LAÉLIO FERREIRA:

NOTAS DE LAÉLIO FERREIRA:

(23) Do verbo madornar, modorrar - Cochilando, dormitando.
(24) Do verbo rechinar. Produz som estrídulo e áspero; range, chia, silva.
(43) O Jornal do Brasil, na edição de 26.05.1926, publicou o seguinte anúncio (a ortografia é a da época): Para ter bom somno/Porque este tem um somno tão socegado? (legenda do clichê)/ E porque, para dormir bem, é necessário ter uma boa digestão./ Para ter uma boa digestão, é preciso tomar Carvão de Belloc. Façam como elles. O uso do Carvão de Belloc em pó ou em pastilhas basta effectivamente para curar dentro de alguns dias dias as doenças de estomago, mesmo as mais antigas e as mais rebeldes a qualquer outro remedio. Produz uma sensação agradavel no estomago, da appetite, accelera a digestão e faz desapparecer a prisão de ventre.  Soberano contra o peso no estomago depois das refeições, as enxaquecas provenietnes de más digestões, arrotos, quaesquer affecções nervosas do estomago e do intestino. Pastilhas Belloc.  As pessoas que o preferirem, poderão tomar o Carvão de Belloc sob a forma de Pastilhas Belloc. Dose: uma ou duas pastilhas depois de cada refeição. A venda em/ todas as pharmacias e drogarias. Deposito geral: Casa Frére, 19, rua Jocob, Paris.
 




sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

TALHADA DE ABACAXI... (Depoimento inédito de Newton Navarro)

O meu encontro poético com Othoniel se deu por acaso num banco de artes, lembro como se fosse agora; eu pareço ouvir nos meus ouvidos a sonância demorada e sofrida da sua voz:
- Navarro, você me quebrou toda a poesia!
- Poeta -respondi eu -, você é o príncipe dos poetas do meu estado...
- Mas você disse numa crônica coisa que eu não disse em verso!
Sabia eu lá o que era. Eu disse:
- Poeta qual é a frase? 
- Talhada de abacaxi com gosto de saudade. Eu gostaria muito de a ter incorporado à minha poesia...!
Daí começou a minha amizade com Othoniel, e essa amizade perdura por que os poetas não morrem. Morrem os ditadores, morrem os que matam, morrem os que assassinam, morrem os que ferem, morrem os que maltratam, morrem os que acorrentam, morrem os que aguilhoam, mas um poeta que entrega o coração ao povo não morre nunca!

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

VIGAS DE FERRO E CALÇOS DE MADEIRA ESCORAM PONTE SOB O RIO PIRANHAS/AÇU

A ponte Felipe Guerra que cobre o rio Piranhas/Açu na extensão da BR 304 , divisa dos municípios de Assu e Itajá, tem sido motivo de preocupação para a população da região do Vale do Açu. Tudo está ligado ao fato das vigas longarinas, que dão sustentação ao vão 15, entre os pilares “P 15″ e “P 16″, estarem, neste momento, escoradas por chapas de ferro e calços de madeira, sobre bases de concreto. No local, parte da cobertura das duas vigas cedeu, deixando à amostra a estrutura de ferro, o que é uma constatação séria em qualquer obra de engenharia civil.
O problema foi detectado durante as recentes obras emergenciais de reforço das fundações da ponte. Segundo o Dnit, a solução provisória foi o apicoamento (limpeza na área afetada) e o grauteamento (nova injeção de concreto), para em seguida realizar o escoramento.     
O órgão garante que toda essa área será recuperada durante a obra de ampliação da ponte, que deve alterar toda a sua estrutura. Mas, esclarece que, no caso de uma enchente em que o rio volte a subir acima da média, o escoramento pode não resistir à força da correnteza, porém  assegura que o reparo realizado na base de concreto garante a segurança do vão.
Até o momento não existe uma previsão de quando o projeto de ampliação da ponte será liberado. Na primeira etapa, o governo federal gastou livre de licitação R$ 13.778.908,64.

Fonte: Blog de Alderi Dantas (Link ao lado).

Escrito por juscelinofranca

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

O amigo da onça e o convite de Walt Whitman


Capítulo final do ensaio Ferreira Itajubá o drama da vida de província (OTHONIEL MENEZES  Obra Reunida, no prelo)


Ele próprio, Ferreira Itajubá, desventurado Lucien Chardon sem David Sechard e sem D Arthez,3O4 intercalara no ofertório do seu mavioso poema tão generosamente hipócrita  a íntima evidência da verdadeira verdade, grito de naufragado do barco alvissareiro em que não quis partir, na hora mais propícia:

Trinta e quatro anos tenho, entre escolhos, vivido,
sofrendo angústias cruéis. Ah! que tempo perdido!
Fui muito néscio em crer nos pregões da ventura.
Nunca um astro fulgiu, na imensa noite escura
que a areia me invernou da estrada dolorida.
Que resta hoje a teu filho? a sombra espavorida
do cipreste esgalhado, onde o mocho agourento
pousa de ramo em ramo, ao cair do relento...
.....................................................................
E nem quero um letreiro à compaixão futura.
um sinal, uma cruz, no pó da sepultura...

Realmente nenhuma dessas postiças, curiais, inanimadas exteriorizações póstumas, mais ou menos irônicas, mais ou menos desmoralizadas pela rotina, mentira sacrílega para a comédia do egoísta e do soberbo, tardio laurel para o holocausto do herói ou do santo, poderia, jamais, corresponder à altura condoreira e ao sereno fulgor da glória do grande felibre.305

Não se tivessem malogrado, tão dolorosamente, os altos desígnios  trazidos do berço, bem coerente lhe fora, como aconteceu a Thummel, 306 célebre poeta alemão, cujas cinzas repousam dentro do tronco de um carvalho centenário, na sua cidadezinha natal de Noeblenitz se se tivesse reintegrado com a Natureza, a que tanto amou e cantou docemente, pelo harmonioso, incorruptível intermédio das raízes, da seiva e das flores de um desses veneráveis pau-darqueiros dos nossos morros, contemporâneos das suas canções inimitáveis.

Nenhum poeta do Rio Grande do Norte, em todos os tempos, mais do que ele, mereceu o símile307 do epitáfio escrito por Antípatro,308 o coríntio, em honra do divino evocador de Ílion:309

Aqui jaz Homero. Que dizes? Sabes tu, acaso, se ele
jaz aqui ou
além, na terra ou no mar? Homero está aqui e além,
está no ar que
passa. E aí tens, viajante, o motivo porque respiras
poesia no ar que
passa. Deixa-me, pois, escrever Aqui jaz Homero,
que morreu em
plena mocidade, porque morreu poeta.

Na hora suprema da bela tentativa migratória, a ele e a nós outros, há muito comprometidos, irremissivelmente, na sinistra farsa das competições ideológicas e da concorrência à feira das mesquinhas vaidades distritais, enleados na trama pragmática e delirante da conquista da caloria, mutuando310 hostilidades e mexericos de zeladoras: incompreendidos e incompreendendo, habendo vendido nuestro derecho de primogenitura por um plato de hechos,311 faltou-nos a voz galvanizadora e cordial de Walt Whitman, conclamando os pioneiros:

Sai dos negros limites, sai de entre as cortinas!
Vem! O caminho está aberto à nossa frente!
Que as folhas fiquem abertas sobre a escrivaninha,
e o livro sem abrir no seu armário!
Que os instrumentos permaneçam nas oficinas!
Que o dinheiro permaneça sem ser ganho!
Que repouse a escola! Não importam os brados dos
mestres!
Que o pregador pregue em sua cátedra!
Que arrazoe o advogado no tribunal, e o juiz exponha
a lei.
Camarada, dá-me a tua mão!
Eu te dou meu afeto, mais precioso que o dinheiro.
Eu te dou a mim mesmo, em vez de prédicas e de
leis.
Queres dar-te a mim? Queres seguir comigo?
Seguiremos juntos, um ao lado do outro,
enquanto durarem nossas vidas!
Alerta sempre! Sempre para frente!

Esta, entretanto, é a voz de um poeta, e tão cedo não poderia ser percebida, sob o clamor do colossal mercado onde poderíamos lobrigar, num ângulo momentaneamente livre do angustioso aperto da multidão desvairada no delírio da traficância, a sombra sarcástica do velho Ibsen,312 os óculos na ponta do nariz rubicundo, a anotar no seu canhenho313 pessimista: Vejo ventres, mãos, cabeças, mas não vejo um único homem na terra.

Na terra onde é furiosamente importante a gente ilustrar, em sessão contínua, o

Rien me moblige à faire un livre,
mais la raizon moblige à vivre...314

Perdoa a essa raça de víboras, Ferreira Itajubá, que há trinta e cinco anos, estás emancipado do demônio do struggle for life,315 desta  ...necessidade de horroroso, que é talvez propriedade do carbono,316 conforme dizia com a sua dilacerante experiência de convívio com as feras humanas, Augusto dos Anjos, ainda aduzindo uma escusa biológica para a malvadez dos que te apodavam de poeta!

Foste derrotado na praça, entre os sub-homens do acerbo ironista de Espectros, por que não trocaste tuas barras de ouro pelas moedinhas de cobre que eles fazem circular, no câmbio da exaltação das mediocridades bem-aventuradas. Mais a hora dos Poetas chegará. O Dinheiro não pode salvar o mundo. E vale a pena ir passando fome. Sursum corda! 317

Caído em extrema penúria, ao cabo de sofrimentos físicos e morais incomportáveis; egresso do presídio, onde diariamente provou o chicote dos guardas, expiando por toda a humanidade, conforme confidenciou a Cécile Sorel,318 o incomparável lapidário de O Retrato de Dorian Gray foi levado, pelos últimos devotos, a um dos mais luxuosos nosocômios de Paris. Moribundo, apático, ruína lancinante do maravilhoso espírito que encarnara o Vivian de A Decadência da Mentira,319 a olhar em roda os cristais, os imaculados reposteiros de linho, o brilho e o grande ar de conforto burguês,
do leito em que jazia, ele, que fora o mais festejado, o mais invejado, o mais impertinente dos dândis da pátria de Brummel,320 gravando nas vitrinas das joalharias, com o diamante do anel, os nomes das arquiduquesas conquistadas, exclamou, dolorosamente: Morro como sempre vivi: acima das minhas possibilidades... Viveu, e morreu, infinitamente abaixo das suas possibilidades, antítese enervante, o Bernardim321 potiguar.

Tinha também amigos, como aconteceu à onça da gostosa inventiva humorística de Péricles Maranhão.322 Que o não cercaram, na hora trágica da adversidade; não o levaram a nenhum hospital onde houvesse morrido como Wilde. Amigos, daqueles, nos Quatrains Moraux que Guy de Faur, senhor de Pibrac,323 comparava a melões:324

Les amis de lheure présente
ont le naturel du melon:
il faut en essayer cinquante,
avant den rencontrer un bon.325

Ora, pois. Entre esses quarenta e nove melões do Sr. Pibrac, um havia cujo coração, todo de mel, estaria agora a secretar tintura de losna,326 serodiamente compenetrado de que, político na maior evidência, deputado federal de fulgurante expressão no país, amigo íntimo e conselheiro de Alberto Maranhão, teria podido, a um simples aceno, mudar o aspérrimo declive ao drama excruciante.

Não estamos formulando acusações gratuitas.328 Nem nos compete, por igual, espicaçar velhos remorsos hibernados. São bichos feios e bravios, a rosnar baixinho nos bolorentos subterrâneos, nas criptas sumerianas dessa deusa ignota, a que os casuístas do espiritualismo deram o vago apelido de consciência. E, por bichos serem, já nos bastam Santo Deus!  os que, vez por outra, na penumbra confessional daquela paragem de introspecções e flagícios,329 nos olham nos olhos e nos arreganham as fauces.330 Por que, então, iríamos cutucar tigres, assanhar lobisomens, cloroformizados, nas jaulas alheias?

Sem nenhum vínculo estomacal com qualquer dos partidos atualmente propostos a fazer do Brasil um formal paraíso jeffersoniano, externamos de própria conta uma verdade conhecida de todos os contemporâneos de Itajubá, e até agora por ventura  apenas congelada em homenagem ao preconceituoso imperativo de conveniências que, a propósito do assunto, aliás, já o escritor José Bezerra Gomes331 começou a destruir, submetendo a vigoroso critério histórico o estudo do caso. Conveniências, afinal, somente respeitáveis no consenso daqueles cujo honestíssimo Ideal é o de vencer na vida, embora engolindode que só travestidos de Orontes e Felintes atingirão a bem-aventurança dos diretores de bancos, dos ministros, dos empresários de pife-pafes...

Voltando aos melões: foi, aquele ardente admirador333 de Ferreira Itajubá, no Rio, quando parlamentar, uma espécie de cônsul da boa vontade, acolhedor, generoso, acessibilíssimo, amigo ideal (diz-se que a amizade é o ideal, e que os amigos são a realidade).

Quem teria definido tão bem o que Montaigne tanto exaltou? Amigo ideal, concedamos, de todos os comprovincianos334 em apuros, e aos quais distribuía todo o subsídio, mesmo aos que não rezavam pela cartilha do abaeté335 Pedro Velho. É este um dos prediletos argumentos com que se explica, vez por outra, sua notória pobreza.

Diga-se, todavia, francamente  e para não perder esta oportunidade  mal chegou a tempo para os funerais do poeta; funerais de terceira classe...

E para escrever, anos muito depois, com muita emoção, a história  do pária sublime, que viveu toda a sua pobre e atribulada vida, sem que mecenas, pelo prestimoso, altruístico, tão viável intermédio dos seus convivas, tivesse jamais notícia daquela iníqua indigência  mancha vergonhosa, escárnio sem nome, infamante exceção, em meio às benesses de que se propiciavam os mais felizes, às pingues336 propinas liberalizadas aos mais espertos: tertúlias e saraus de gala, paradas resplandecentes, jogos florais, a borbulhar à tona dessa famosa era da nossa Renascença social, artística e literária, sintetizada na esplêndida estampa centralizadora de Alberto Maranhão.

Notas de Laélio Ferreira:

304 Chardon, Sechard e D Arthez. Personagens de Balzac em Ilusões Perdidas (1843), volume fundamental da Comédia Humana, considerada a obra capital dentro da obra do grande romancista.
305 Poeta da escola provençal do século XIX.
306 Moritz August von Thummel (1738-1817). Poeta satírico, contista eadvogado alemão. Sob influência de outro poeta germânico, Christoph Martin Wieland (1733-1813), escreveu 10 volumes de uma Viagem Sentimental às Províncias da França nos anos 1785-1786”. Foi elogiado por Schiller (1759-1803), importante poeta, dramaturgo e filósofo alemão.
307 Qualidade de semelhante; comparação de coisas que tenham similitude entre si.
308 Antipatro de Sidon (Século II a.C). Poeta e escritor grego, autor de epigramas, contemporâneo de Catulo e de Crasso. Escreveu, também, o epitáfio de Anacreonte e a ele é atribuída a primeira relação das sete (número mágico, entre os gregos) maravilhas do mundo. Morreu muito velho. Foi mencionado por Cícero.
309 Ílion. Um dos nomes de Tróia. O nome da Ilíada, o poema de Homero, é derivado dessa palavra, a forma portuguesa do grego Iliás, vindo pelo latim da Ásia Menor. Divide-se a obra em 24 cantos, contendo 15.000 versos hexâmetros. Apesar de seu argumento ser extraído da famosa guerra troiana, não a narra por completo.
310 Trocar entre si (tratando-se de mais de um indivíduo ou coisa, ou de coletividades); permutar, reciprocar.
311 Vendendo nosso direito de progenitura por um prato de coisas (Ver Gênesis 25:29-34: Jacó com um prato de lentilhas comprou a primogenitura de Esaú, seu irmão.).
312 Henrik Johan Ibsen (Skien/Noruega, 20.03.1828-Kristiania/Noruega, 23.05.1906). Teatrólogo nórdico, considerado um dos criadores do teatro realista moderno.
313 Caderneta, registro de lembranças, diário.
314 Nada me obriga a escrever um livro/mas a razão me obriga a viver  Jean de la Fontaine (Chateau-Thierry/França 08.07.1621 - Paris, 13/ 04/1695). Poeta e fabulista francês.
315 Luta pela vida.
316 Versos do poema Monólogo de uma Sombra, do Eu e outras poesias.
317 Corações ao alto!, expressão latina. Ver nota ao poema Estâncias, em Jardim tropical, neste volume.
318 Céline Emilie Seurre, condessa de Ségur (Paris/França, 07.09.1873- Trouville-sur-Mer, Calvados/França, 03.09.1966). Com o nome artístico de Cécile Sorel foi atriz famosa e uma das mulheres mais bonitas da França, uma celebridade mundial. Legendária, apresentou-se no Rio e no Teatro Municipal de São Paulo, aos 65 anos de idade, com sua grande companhia de comédias.
319 A Decadência da Mentira. Ensaio de Oscar Wilde, publicado em 1891.
320 George Bryan Brummel (Londres/Inglaterra, 1778-1840). Fidalgo inglês, representava o supra-sumo, a quinta-essência da elegância masculina. Foi o máximo expoente do dandismo. Gastou tanto com roupas, adereços e penduricalhos que morreu pobre.
321 Bernardim Ribeiro (Torrão/Portugal, 1482? - 1552?). Poeta e escritor renascentista. Pertenceu à roda dos poetas palacianos, juntamente com Sá de Miranda, Gil Vicente e outros. Teria freqüentado a corte de Lisboa, colaborando no Cancioneiro Geral, de Garcia de Resende.
322 Péricles de Andrade Maranhão (Recife/PE, 14.08.1924-Rio de Janeiro/RJ, 31.12.1961). Desenhista e humorista brasileiro de grande sucesso nos anos 1940 e 1950. Em outubro de 1943, a revista O Cruzeiro começou a publicar os cartuns do Amigo da Onça, que se transformaria, durante dezessete anos, num dos personagens mais populares do país. Alcoólatra, atormentado, solitário, Péricles suicidou-se, num final de ano, abrindo a torneira do gás, num apartamento de Copacabana. Antes do ato extremo, afixou na porta um cartaz no qual se lia: Não risquem fósforos.
323 Guy du Faur (1529-1584). Senhor de Pribac, jurista, diplomata e poeta francês.
324 Quadras Moralistas.
325 Os amigos da hora presente são como os melões: para encontrar um bom, há que se experimentar cinqüenta (Pribac). Quadra semelhante é atribuída a outro poeta francês do mesmo século, Claude Mermet, nascido em 1550, com ligeira variação: Amigos são como melões; devo te dizer porque? Para encontrar um bom você precisa provar cem.
326 Absinto. Sentimento de tristeza; amargura (sentido figurado).
328 OM, pela idade, não logrou interagir com Itajubá. Era, este, 19 (ou 20) anos mais velho. No entanto, conhecia-lhe as agruras, o que lhe acontecera no Rio de Janeiro, pois foi amigo de dezenas de companheiros, de íntimos do poeta de Branca. E havia conhecido, pessoalmente, de longe, seu ídolo Manoel Virgílio Ferreira. Em textos inéditos que produziu para este ensaio  preciosidades hoje em poder do autor destas notas, que não sabe porque seu pai não os publicou , um desses revela a juvenil admiração que tinha pelo cantor da Barcarola. Em 1908 (ou 1909), aos 13 ou 14 anos de idade: [...] durante uma passeata de operários da Great Western em greve [escreveu OM], vimo-lo, ovacionado freneticamente, assomar a uma das janelas do sobrado da Estação, transfigurado, a fronte escantoada [que tem os ossos muito salientes; ossuda], formosíssima, iluminada pelos divinos eflúvios do gênio, aqui e ali engasgado pelo escachoar dos vocábulos, bradando para a praça onde o povo fervilhava [...]. OM sabia, por exemplo, que muitos anos depois da morte do vate, existia no Bairro Anchieta, logradouro da comunidade operária das Rocas, uma célula de estivadores do PCB, antigos companheiros, com o nome de Ferreira Itajubá. Na sede do núcleo comunista  enquanto esteve na legalidade o partido do senador Carlos Prestes -, o retrato do tribuno fundador da Liga Operária Norte-Rio-Grandense ali estivera, ao lado das grandes figuras representativas do credo marxista. Nessas anotações inéditas, OM revela, também, outro fato importante sobre Ferreira Itajubá no Rio de Janeiro: Henrique Castriciano lhe contara que o poeta, num encontro, confessou achar-se em preparativos e entendimentos, junto a um certo prócer em oposição ao situacionismo pedrovelhista, para vir fundar um jornal de combate, e derrubar a oligarquia.
329 Infâmias, opróbrios, ignomínias; torturas, tormentos, flagelos.
330 Gargantas, goelas.
331 Ver nota no Sertão de espinho e de flor, neste volume.
332 Alceste, Felinte e Oronte. Personagens de Molière, na peça O Misantropo. Alceste é, na obra, um homem revoltado com a sociedade hipócrita e tortuosamente simples em que se insere.
333 Eloy Castriciano de Souza. Deputado federal de 1895 a 1914. Ver Notas ao Canto 15, do Sertão de espinho e de flor.
334 Que ou os que são da mesma província que outros.
335 Homem bom e de palavra; forte, grande, bruto.
336 Polpudas, vultosas, consideráveis, fartas.

Postado por Fernando Caldas

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