domingo, 15 de novembro de 2015

3 PONTOS QUE VOCÊ PRECISA ENTENDER ANTES DE CURSAR HISTÓRIA

Fonte - http://www.historiailustrada.com.br/2015/11/3-pontos-entender-cursar-historia.html
Fonte – http://www.historiailustrada.com.br/2015/11/3-pontos-entender-cursar-historia.html
O que é estudar História? O que é fazer História? Será que é tudo aquilo que encontramos nos estereótipos dos comentários dos tios no almoço de domingo ou aquelas piadinhas que vemos com frequência em várias páginas do Facebook?
Se você ainda é jovem e pensa em ser historiador; se você já não é tão jovem assim, mas tem a vontade de seguir carreira acadêmica na área de História; se você está em dúvida sobre qual caminho escolher na vida e uma das opções é o curso de História, continue lendo, porque esse artigo foi feito especialmente para você.
O que iremos fazer aqui é o seguinte: desmistificar o curso, ampliar a sua visão acerca das atividades do historiador e te dar algumas bases para que você já inicie o próximo semestre sabendo o que vai encontrar pela frente. E desde já aconselhamos: não se assuste, é grande o número de pessoas que se surpreendem logo nas primeiras disciplinas cursadas na faculdade.
Para ir se acostumando com a desconstrução que o curso oferece, abra seu bloco de notas e guarde algumas informações, vá atrás depois. Se você quer mesmo ser um historiador, deve manter acesa essa chama da curiosidade aí dentro. Lembre-se: a História não está morta, fixa, inalterável, há sempre mais a ser descoberto.
Fonte - imagensnarrativas.wordpress.com
Fonte – imagensnarrativas.wordpress.com
História como ciência: o que você sabe a respeito?
A História sempre esteve presente em tudo. Se partirmos para a definição encontrada no guia de praticamente todo historiador (estamos falando de Apologia da História, a obra inacabada de Marc Bloch), a História estuda o ser humano, mas não somente isso, estuda as ações do ser humano no tempo. Então, partindo desta definição basilar, há muito para se debruçar sobre e, consequentemente, a ciência acaba trabalhando com outras, como a Sociologia, Psicologia, a lista pode ser extensa.
Mas, essa interdisciplinariedade nem sempre esteve no ato de fazer história. Para isso, vamos voltar ao século XIX, quando finalmente a História foi reconhecida como ciência.
Leopold von Ranke, um dos primeiros historiadores positivistas. (Cópia de óleo por Adolf Jebens, original por Julius Schrader, 1875. Märkisches Museum, Berlim) - Fonte - http://www.historiailustrada.com.br/2015/11/3-pontos-entender-cursar-historia.html
Leopold von Ranke, um dos primeiros historiadores positivistas. (Cópia de óleo por Adolf Jebens, original por Julius Schrader, 1875. Märkisches Museum, Berlim) – Fonte –http://www.historiailustrada.com.br/2015/11/3-pontos-entender-cursar-historia.html
Ela surgiu após a influência positivista do filósofo Augusto Comte, que viria a influenciar uma série de intelectuais até mesmo no século XX. E é através dos nomes de Leopold Von Ranke e Fustel de Coulanges, prussiano e francês, respectivamente, que vemos a História tomar seus rumos de uma forma mais sistematizada.
E qual era a visão de “fazer história” que a metodologia positivista possuía?
– Uma história contada de forma linear, progressivamente.
– Apresentar fatos históricos de forma verdadeira.
– Neutralidade e objetividade, narrar o passado com imparcialidade.
– Resgatar o passado em sua totalidade através de documentos oficiais e atestados como legítimos.
– Uma História marcada por grandes acontecimentos, fatos históricos e rupturas que explicitam o progresso histórico.
As características do positivismo, como você poderá ver ao longo do curso, se mostram claramente ineficientes e incompletas quando aplicadas para a análise dos acontecimentos.
Fonte - uranohistoria.blogspot.com
Fonte – uranohistoria.blogspot.com
Primeiramente que a linearidade atrapalha a compreensão da trama complexa de fatores, múltiplos em suas naturezas, que devem ser organizados e dialogados entre si. E, como já dizia Lucien Febvre, “a história é filha do seu tempo”. Não há imparcialidade na análise historiográfica, de forma que apresentar fatos históricos como unicamente verdadeiros, inalteráveis, torna-se uma pretensão grandiosa, já que às vezes existem detalhes que passam despercebidos, que ninguém descobriu ainda, com o poder de mudar a compreensão que temos sobre algo.
Existem múltiplas formas de se olhar para um fato e, em muitas vezes, algumas formas se complementam. O ponto é que de tempos em tempos vemos a história sendo revisada, vestígios do passado que se faziam ocultos são descobertos e casos tidos como “fechados” se mostram diferentes.
Karl Marx, criador do Materialismo Histórico Dialético. - Fonte - http://www.historiailustrada.com.br/2015/11/3-pontos-entender-cursar-historia.html
Karl Marx, criador do Materialismo Histórico Dialético. – Fonte –http://www.historiailustrada.com.br/2015/11/3-pontos-entender-cursar-historia.html
É ainda no século XIX que vemos ascensão de outra corrente historiográfica que viria formar um grande número de pesquisadores adeptos, muitos deles você poderá encontrar enquanto estiver cursando na faculdade.
Estamos falando do marxismo como metodologia para o fazer história, o Materialismo Histórico, que se origina da filosofia de Marx, o Materialismo Dialético.
Resumidamente, tal metodologia analisa os processos históricos através do prisma da relação do ser humano com os meios de produção. Ela é uma metodologia materialista, pois despreza o metafísico, partindo do princípio de que o ser humano e a sua consciência são determinados pela matéria.
Esta abordagem, logicamente, vai pender para os campos da economia e do social, onde encontraremos grandes historiadores como Eric J. Hobsbawm e E. P. Thompson.
Fonte - imagensnarrativas.wordpress.com
Fonte – imagensnarrativas.wordpress.com
O materialismo histórico é fruto do seu tempo, de uma Europa em ebulição após a Revolução Industrial e a consequente disseminação do liberalismo através da classe burguesa, da consolidação política dos operários que alienavam sua força de trabalho e enfrentavam duramente os períodos instáveis da economia. É coerente que a História, a partir deste tempo, também seja feita com um olhar voltado para o que estava em discussão na época: os meios de produção.
Mas então, é só isso? A maioria dos graduandos entram no curso sem conhecer um dos movimentos intelectuais mais importantes do século XX: a Escola dos Annales. Trata-se de uma escola que revolucionou a historiografia de forma única e trouxe uma amplitude muito maior para os estudos analíticos das ações do ser humano no tempo.
Marc Bloch em sua última fotografia, 1944. - Fonte - http://www.historiailustrada.com.br/2015/11/3-pontos-entender-cursar-historia.html
Marc Bloch em sua última fotografia, 1944. – Fonte – http://www.historiailustrada.com.br/2015/11/3-pontos-entender-cursar-historia.html
Ela se iniciou na década de 1920 através de Marc Bloch e Lucien Febvre, já citados aqui neste texto, uma mostra da importância que os dois tiveram para a historiografia. Eles formaram a primeira geração do movimento, indo de encontro ao positivismo e toda a sua herança, procurando ampliar os estudos para a chamada “história total”. Enquanto o positivismo focava somente em grandes acontecimentos, em figuras marcantes e pontos de ruptura, a História de Bloch e Febvre vem para a abranger campos inexplorados, aliando-se à interdisciplinariedade a fim de compreender com mais clareza os fatos no tempo.
A segunda geração da escola é liderada por Fernand Braudel, que dá continuidade à revolução feita pelos seus antecessores, chegando então à terceira geração de Jacques Le Goff, grande medievalista que provavelmente você encontrará bastante durante o curso.
Fonte - mestresdahistoria.blogspot.com
Fonte – mestresdahistoria.blogspot.com
Todas essas gerações possuem as suas peculiaridades, mas todas dialogam entre si, nunca ficando restritas a um modo fixo de entender os acontecimentos, mas sempre procurando problematizar, aplicar novos métodos e, consequentemente, compreender melhor o que faz parte do nosso mundo.
O que alguém formado em História faz?
Você sabe responder essa pergunta? Normalmente a resposta remete às salas de aula lotadas de alunos do ensino fundamental e médio que na maioria dos casos não estão nem aí para nada. Ou para as salas das universidades onde o ensino é um pouco mais específico. Ou seja, a imagem do historiador é sempre vinculada à profissão de professor.
E isso não é acontece à toa.
As disciplinas ofertadas no curso de Licenciatura em História, que é o mais popular e, falando de mercado, o mais vantajoso, passam pelo mais puro estudo historiográfico para a análise de um PPP (Projeto Político Pedagógico), por exemplo.
Fonte - arquivohistorico.blogspot.com
Fonte – arquivohistorico.blogspot.com
Basicamente, a escolha pelo Bacharelado te permite ser o historiador que uma pessoa formada em Licenciatura também é. Porém, o mercado é bem mais restrito, já que não existe oficialmente a profissão de historiador no Brasil. A profissão está esperando a sua regulamentação no Legislativo através da PL 4699/12. O seu status no momento é: “aguardando apreciação pelo Senado Federal”. Ok. Enquanto isso não acontecesse, fazer Licenciatura vai continuar sendo a melhor opção para quem quer ser historiador e ter uma vida confortável financeiramente.
Sim, porque essa fama de que historiador ganha mal ou “passa fome” é nada mais do que boato. Existe sim, ainda, a falta da valorização do professor, sendo necessário realizar mestrados e doutorados para finalmente chegar a um conforto financeiro, porém, o caminho para isso não é tão doloroso como se pensa.
Aliás, você já parou para pesquisar na lista de atividades remuneradas que alguém formado em História pode desempenhar, além de professores e pesquisadores de universidades?
Fonte - elmissioneiro.blogspot.com
Fonte – elmissioneiro.blogspot.com
– Gestão documental em arquivos públicos e privados.
– Pesquisadores em empresas voltadas para a “história empresarial”.
– Técnicos em órgãos de preservação de patrimônios.
– Atividades dentro do campo arqueológico.
– Consultores em produções de filmes, peças, livros de ficção, novelas, seriados, jornais e quase tudo o que você assiste na televisão.
– ONGs que procuram resgatar a memória de algum ícone ou acontecimento específico.
– Trabalhar em campanhas eleitorais.
Fonte - paracatumemoria.wordpress.com
Fonte – paracatumemoria.wordpress.com
Como você pode ver, o mercado é bem amplo. Você pode trabalhar como consultor para uma empresa a fim de resgatar a sua história, ganhando muito bem, aliás, enquanto desenvolve a sua pesquisa principal numa universidade, satisfazendo seu bolso e sua mente.
Sem falar que os professores de História não ficam restritos apenas ao seu curso de origem. Eles estão espalhados em outros como os de Jornalismo, Arquitetura e Urbanismo, Museologia, por exemplo.
Os estereótipos são realmente verdadeiros?
Fonte - www.jacarei.sp.gov.br
Fonte – http://www.jacarei.sp.gov.br
O que mais se escuta quando o assunto é o curso de História na faculdade? Os estereótipos são quase sempre os mesmos, apenas variando um pouquinho. Vamos até fazer uma listinha aqui para facilitar:
– Camisa vermelha do Che Guevara.
– Marxista/socialista/comunista.
– Ateu.
– Homens usam barba e deixam o cabelo crescer.
– Todos andam de sandálias.
– Uso de drogas ilícitas.
– Paz e amor livre.
Então, possivelmente você vai encontrar esse tipo de pessoa em alguns cursos da universidade, mas não, essa ideia de que todo aluno de História é sempre de esquerda, ateu e adora usufruir de drogas ilícitas naturais, logicamente, é nada mais do que… um estereótipo.
Você vai encontrar pessoas de todos os tipos no seu curso, desde o religioso mais fervoroso ao niilista.
Só para você ter uma ideia da pluralidade de personalidades que temos entre os historiadores, Marc Bloch batalhou ativamente na Segunda Guerra Mundial (sendo essa a causa de sua morte). E se por um lado se fala tanto em historiadores declaradamente de esquerda, esquece-se que existem outros declaradamente de direita, conservadores, como o britânico Paul Johnson.
Universidades são os lugares onde você, com toda a certeza do mundo, terá que lidar com um grande número de pessoas que pensam diferente de você, se vestem diferente, falam diferente e agem de forma diferente.
Partindo de uma visão generalizadora, não há somente um estereótipo, existem vários e talvez você se confunda entre eles quando acabar percebendo que, na verdade, ficar restringindo a compreensão da personalidade de alguém à uma bolha é algo ineficiente. Algo que um historiador não deve fazer.
Boa sorte para quem fez o Enem este ano. E se você escolher História como curso, temos a certeza de que nunca mais será o mesmo.
Equipe de produção do artigo:
Beatriz de Miranda Brusantin
Doutora em História Social pela Universidade Estadual de Campinas
Coordenação de Produção e Pesquisa Histórica
Bruno Henrique Brito Lopes
Graduando em História pela Universidade Católica de Pernambuco
Coordenação de Redação e Edição
Raphael Esteves de Almeida Jacinto
Graduando em História pela Universidade Católica de Pernambuco
Produção de texto
Vamberto Gonçalves da Silva
Graduando em História pela Universidade Católica de Pernambuco
Pesquisa Histórica
Dannyel Oliveira Souza
Graduanda em História pela Universidade Católica de Pernambuco
Pesquisa Histórica
Rafael Ragner Valentim Phaelante da Câmara Lima
Graduando em História pela Universidade Católica de Pernambuco
Pesquisa Histórica
Felipe Nunes de Almeida Pereira
Graduando em História pela Universidade Católica de Pernambuco
Pesquisa Histórica
FONTE – http://www.historiailustrada.com.br/2015/11/3-pontos-entender-cursar-historia.html

3 PONTOS QUE VOCÊ PRECISA ENTENDER ANTES DE CURSAR HISTÓRIA


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Fonte - http://www.historiailustrada.com.br/2015/11/3-pontos-entender-cursar-historia.html
Fonte – http://www.historiailustrada.com.br/2015/11/3-pontos-entender-cursar-historia.html

O que é estudar História? O que é fazer História? Será que é tudo aquilo que encontramos nos estereótipos dos comentários dos tios no almoço de domingo ou aquelas piadinhas que vemos com frequência em várias páginas do Facebook?
Se você ainda é jovem e pensa em ser historiador; se você já não é tão jovem assim, mas tem a vontade de seguir carreira acadêmica na área de História; se você está em dúvida sobre qual caminho escolher na vida e uma das opções é o curso de História, continue lendo, porque esse artigo foi feito especialmente para você.
O que iremos fazer aqui é o seguinte: desmistificar o curso, ampliar a sua visão acerca das atividades do historiador e te dar algumas bases para que você já inicie o próximo semestre sabendo o que vai encontrar pela frente. E desde já aconselhamos: não se assuste, é grande o número de pessoas que se surpreendem logo nas primeiras disciplinas cursadas na faculdade.
Para ir se acostumando com a desconstrução que o curso oferece, abra seu bloco de notas e guarde algumas informações, vá atrás depois. Se você quer mesmo ser um historiador, deve manter acesa essa chama da curiosidade aí dentro. Lembre-se: a História não está morta, fixa, inalterável, há sempre mais a ser descoberto.

Fonte - imagensnarrativas.wordpress.com
Fonte – imagensnarrativas.wordpress.com

História como ciência: o que você sabe a respeito?
A História sempre esteve presente em tudo. Se partirmos para a definição encontrada no guia de praticamente todo historiador (estamos falando de Apologia da História, a obra inacabada de Marc Bloch), a História estuda o ser humano, mas não somente isso, estuda as ações do ser humano no tempo. Então, partindo desta definição basilar, há muito para se debruçar sobre e, consequentemente, a ciência acaba trabalhando com outras, como a Sociologia, Psicologia, a lista pode ser extensa.
Mas, essa interdisciplinariedade nem sempre esteve no ato de fazer história. Para isso, vamos voltar ao século XIX, quando finalmente a História foi reconhecida como ciência.

Leopold von Ranke, um dos primeiros historiadores positivistas. (Cópia de óleo por Adolf Jebens, original por Julius Schrader, 1875. Märkisches Museum, Berlim) - Fonte - http://www.historiailustrada.com.br/2015/11/3-pontos-entender-cursar-historia.html
Leopold von Ranke, um dos primeiros historiadores positivistas. (Cópia de óleo por Adolf Jebens, original por Julius Schrader, 1875. Märkisches Museum, Berlim) – Fonte –http://www.historiailustrada.com.br/2015/11/3-pontos-entender-cursar-historia.html

Ela surgiu após a influência positivista do filósofo Augusto Comte, que viria a influenciar uma série de intelectuais até mesmo no século XX. E é através dos nomes de Leopold Von Ranke e Fustel de Coulanges, prussiano e francês, respectivamente, que vemos a História tomar seus rumos de uma forma mais sistematizada.
E qual era a visão de “fazer história” que a metodologia positivista possuía?
– Uma história contada de forma linear, progressivamente.
– Apresentar fatos históricos de forma verdadeira.
– Neutralidade e objetividade, narrar o passado com imparcialidade.
– Resgatar o passado em sua totalidade através de documentos oficiais e atestados como legítimos.
– Uma História marcada por grandes acontecimentos, fatos históricos e rupturas que explicitam o progresso histórico.
As características do positivismo, como você poderá ver ao longo do curso, se mostram claramente ineficientes e incompletas quando aplicadas para a análise dos acontecimentos.

Fonte - uranohistoria.blogspot.com
Fonte – uranohistoria.blogspot.com

Primeiramente que a linearidade atrapalha a compreensão da trama complexa de fatores, múltiplos em suas naturezas, que devem ser organizados e dialogados entre si. E, como já dizia Lucien Febvre, “a história é filha do seu tempo”. Não há imparcialidade na análise historiográfica, de forma que apresentar fatos históricos como unicamente verdadeiros, inalteráveis, torna-se uma pretensão grandiosa, já que às vezes existem detalhes que passam despercebidos, que ninguém descobriu ainda, com o poder de mudar a compreensão que temos sobre algo.
Existem múltiplas formas de se olhar para um fato e, em muitas vezes, algumas formas se complementam. O ponto é que de tempos em tempos vemos a história sendo revisada, vestígios do passado que se faziam ocultos são descobertos e casos tidos como “fechados” se mostram diferentes.

Karl Marx, criador do Materialismo Histórico Dialético. - Fonte - http://www.historiailustrada.com.br/2015/11/3-pontos-entender-cursar-historia.html
Karl Marx, criador do Materialismo Histórico Dialético. – Fonte –http://www.historiailustrada.com.br/2015/11/3-pontos-entender-cursar-historia.html

É ainda no século XIX que vemos ascensão de outra corrente historiográfica que viria formar um grande número de pesquisadores adeptos, muitos deles você poderá encontrar enquanto estiver cursando na faculdade.
Estamos falando do marxismo como metodologia para o fazer história, o Materialismo Histórico, que se origina da filosofia de Marx, o Materialismo Dialético.
Resumidamente, tal metodologia analisa os processos históricos através do prisma da relação do ser humano com os meios de produção. Ela é uma metodologia materialista, pois despreza o metafísico, partindo do princípio de que o ser humano e a sua consciência são determinados pela matéria.
Esta abordagem, logicamente, vai pender para os campos da economia e do social, onde encontraremos grandes historiadores como Eric J. Hobsbawm e E. P. Thompson.

Fonte - imagensnarrativas.wordpress.com
Fonte – imagensnarrativas.wordpress.com

O materialismo histórico é fruto do seu tempo, de uma Europa em ebulição após a Revolução Industrial e a consequente disseminação do liberalismo através da classe burguesa, da consolidação política dos operários que alienavam sua força de trabalho e enfrentavam duramente os períodos instáveis da economia. É coerente que a História, a partir deste tempo, também seja feita com um olhar voltado para o que estava em discussão na época: os meios de produção.
Mas então, é só isso? A maioria dos graduandos entram no curso sem conhecer um dos movimentos intelectuais mais importantes do século XX: a Escola dos Annales. Trata-se de uma escola que revolucionou a historiografia de forma única e trouxe uma amplitude muito maior para os estudos analíticos das ações do ser humano no tempo.

Marc Bloch em sua última fotografia, 1944. - Fonte - http://www.historiailustrada.com.br/2015/11/3-pontos-entender-cursar-historia.html
Marc Bloch em sua última fotografia, 1944. – Fonte – http://www.historiailustrada.com.br/2015/11/3-pontos-entender-cursar-historia.html

Ela se iniciou na década de 1920 através de Marc Bloch e Lucien Febvre, já citados aqui neste texto, uma mostra da importância que os dois tiveram para a historiografia. Eles formaram a primeira geração do movimento, indo de encontro ao positivismo e toda a sua herança, procurando ampliar os estudos para a chamada “história total”. Enquanto o positivismo focava somente em grandes acontecimentos, em figuras marcantes e pontos de ruptura, a História de Bloch e Febvre vem para a abranger campos inexplorados, aliando-se à interdisciplinariedade a fim de compreender com mais clareza os fatos no tempo.
A segunda geração da escola é liderada por Fernand Braudel, que dá continuidade à revolução feita pelos seus antecessores, chegando então à terceira geração de Jacques Le Goff, grande medievalista que provavelmente você encontrará bastante durante o curso.

Fonte - mestresdahistoria.blogspot.com
Fonte – mestresdahistoria.blogspot.com

Todas essas gerações possuem as suas peculiaridades, mas todas dialogam entre si, nunca ficando restritas a um modo fixo de entender os acontecimentos, mas sempre procurando problematizar, aplicar novos métodos e, consequentemente, compreender melhor o que faz parte do nosso mundo.
O que alguém formado em História faz?
Você sabe responder essa pergunta? Normalmente a resposta remete às salas de aula lotadas de alunos do ensino fundamental e médio que na maioria dos casos não estão nem aí para nada. Ou para as salas das universidades onde o ensino é um pouco mais específico. Ou seja, a imagem do historiador é sempre vinculada à profissão de professor.
E isso não é acontece à toa.
As disciplinas ofertadas no curso de Licenciatura em História, que é o mais popular e, falando de mercado, o mais vantajoso, passam pelo mais puro estudo historiográfico para a análise de um PPP (Projeto Político Pedagógico), por exemplo.

Fonte - arquivohistorico.blogspot.com
Fonte – arquivohistorico.blogspot.com

Basicamente, a escolha pelo Bacharelado te permite ser o historiador que uma pessoa formada em Licenciatura também é. Porém, o mercado é bem mais restrito, já que não existe oficialmente a profissão de historiador no Brasil. A profissão está esperando a sua regulamentação no Legislativo através da PL 4699/12. O seu status no momento é: “aguardando apreciação pelo Senado Federal”. Ok. Enquanto isso não acontecesse, fazer Licenciatura vai continuar sendo a melhor opção para quem quer ser historiador e ter uma vida confortável financeiramente.
Sim, porque essa fama de que historiador ganha mal ou “passa fome” é nada mais do que boato. Existe sim, ainda, a falta da valorização do professor, sendo necessário realizar mestrados e doutorados para finalmente chegar a um conforto financeiro, porém, o caminho para isso não é tão doloroso como se pensa.
Aliás, você já parou para pesquisar na lista de atividades remuneradas que alguém formado em História pode desempenhar, além de professores e pesquisadores de universidades?

Fonte - elmissioneiro.blogspot.com
Fonte – elmissioneiro.blogspot.com

– Gestão documental em arquivos públicos e privados.
– Pesquisadores em empresas voltadas para a “história empresarial”.
– Técnicos em órgãos de preservação de patrimônios.
– Atividades dentro do campo arqueológico.
– Consultores em produções de filmes, peças, livros de ficção, novelas, seriados, jornais e quase tudo o que você assiste na televisão.
– ONGs que procuram resgatar a memória de algum ícone ou acontecimento específico.
– Trabalhar em campanhas eleitorais.

Fonte - paracatumemoria.wordpress.com
Fonte – paracatumemoria.wordpress.com

Como você pode ver, o mercado é bem amplo. Você pode trabalhar como consultor para uma empresa a fim de resgatar a sua história, ganhando muito bem, aliás, enquanto desenvolve a sua pesquisa principal numa universidade, satisfazendo seu bolso e sua mente.
Sem falar que os professores de História não ficam restritos apenas ao seu curso de origem. Eles estão espalhados em outros como os de Jornalismo, Arquitetura e Urbanismo, Museologia, por exemplo.
Os estereótipos são realmente verdadeiros?

Fonte - www.jacarei.sp.gov.br
Fonte – http://www.jacarei.sp.gov.br

O que mais se escuta quando o assunto é o curso de História na faculdade? Os estereótipos são quase sempre os mesmos, apenas variando um pouquinho. Vamos até fazer uma listinha aqui para facilitar:
– Camisa vermelha do Che Guevara.
– Marxista/socialista/comunista.
– Ateu.
– Homens usam barba e deixam o cabelo crescer.
– Todos andam de sandálias.
– Uso de drogas ilícitas.
– Paz e amor livre.
Então, possivelmente você vai encontrar esse tipo de pessoa em alguns cursos da universidade, mas não, essa ideia de que todo aluno de História é sempre de esquerda, ateu e adora usufruir de drogas ilícitas naturais, logicamente, é nada mais do que… um estereótipo.
Você vai encontrar pessoas de todos os tipos no seu curso, desde o religioso mais fervoroso ao niilista.
Só para você ter uma ideia da pluralidade de personalidades que temos entre os historiadores, Marc Bloch batalhou ativamente na Segunda Guerra Mundial (sendo essa a causa de sua morte). E se por um lado se fala tanto em historiadores declaradamente de esquerda, esquece-se que existem outros declaradamente de direita, conservadores, como o britânico Paul Johnson.
Universidades são os lugares onde você, com toda a certeza do mundo, terá que lidar com um grande número de pessoas que pensam diferente de você, se vestem diferente, falam diferente e agem de forma diferente.
Partindo de uma visão generalizadora, não há somente um estereótipo, existem vários e talvez você se confunda entre eles quando acabar percebendo que, na verdade, ficar restringindo a compreensão da personalidade de alguém à uma bolha é algo ineficiente. Algo que um historiador não deve fazer.
Boa sorte para quem fez o Enem este ano. E se você escolher História como curso, temos a certeza de que nunca mais será o mesmo.
Equipe de produção do artigo:
Beatriz de Miranda Brusantin
Doutora em História Social pela Universidade Estadual de Campinas
Coordenação de Produção e Pesquisa Histórica
Bruno Henrique Brito Lopes
Graduando em História pela Universidade Católica de Pernambuco
Coordenação de Redação e Edição
Raphael Esteves de Almeida Jacinto
Graduando em História pela Universidade Católica de Pernambuco
Produção de texto
Vamberto Gonçalves da Silva
Graduando em História pela Universidade Católica de Pernambuco
Pesquisa Histórica
Dannyel Oliveira Souza
Graduanda em História pela Universidade Católica de Pernambuco
Pesquisa Histórica
Rafael Ragner Valentim Phaelante da Câmara Lima
Graduando em História pela Universidade Católica de Pernambuco
Pesquisa Histórica
Felipe Nunes de Almeida Pereira
Graduando em História pela Universidade Católica de Pernambuco
Pesquisa Histórica
FONTE – http://www.historiailustrada.com.br/2015/11/3-pontos-entender-cursar-historia.html
O GLOBO Arnaldo Jabor    27/10/2015 

O boi

Faltam-me palavras para dar conta do que está acontecendo no Brasil. 
Eu nunca vi o país assim. Já vi crises violentas como a morte de 
Getúlio ou o golpe militar, mas esta tem uma característica diferente; 
é pastosa, uma areia movediça que engole tudo.

O que é uma crise? Digamos que um projeto político ou empresarial 
quisesse chegar a determinado objetivo. Corria um risco. Se não desse 
certo, teríamos uma crise. Era a época dos riscos. Hoje vivemos na 
incerteza, porque não sabemos como agir.

Hoje, a crise é sonâmbula ? como chegar e onde chegar? O grave é que 
esses impasses estão eliminando os instrumentos institucionais da 
democracia.

O Congresso brasileiro é chefiado por dois sujeitos investigados com 
provas e recibos por crimes na Lava-Jato, e também o Renan quando 
fugiu para não ser cassado pela evidência de suas jogadas. E hoje 
preside o Senado. Conta isso para um alemão, um inglês, e eles não 
acreditarão.O Brasil está se esvaindo em sangue por causa de um cabo 
de guerra entre Dilma e Cunha, em amor e ódio, em busca de proteção 
mútua: "Você me salva do impeachment e eu tento evitar sua 
cassação". O Brasil está paralisado porque o Cunha está mandando no 
país, porque detém o poder de chantagear todo mundo, mesmo denunciado 
até pela Suíça (que chic!). Como pode o Legislativo estar nas mãos 
desses caras? Parece não haver um só lugar onde não haja roubo. Na 
saúde, na merenda escolar, na educação.O Brasil está encurralado entre 
uma flébil tentativa de ajustar as contas públicas e o ajuste sendo 
usado como moeda de troca. O Congresso está bloqueando nossa 
recuperação. O Brasil está sendo chantageado. "Se o Brasil não me 
atender, eu destruo o Brasil."

Antigamente o segredo era a alma dos negócios espúrios. Hoje os mais 
sujos interesses são expostos à luz fria de um bordel. Está tudo em 
nossa cara.

Sempre houve roubalheira, considerada apenas um "pecado" e era uma 
roubalheira setorial, descentralizada, e não esta coisa sólida, 
extensa, onipresente. Tudo o que já apareceu nessa extraordinária 
ressurreição do Judiciário, por conta dos competentes juízes e 
procuradores, será um troco, uma mixaria quando chegarem ao fundos de 
pensão, ao BNDES e a outras empresas públicas.

A política está impedindo a política. Mentem e negam o tempo todo e 
não desmoralizam a verdade apenas; estão desmoralizando a mentira. São 
patranhas tão explícitas, tão cínicas que desmoralizam a mentira. O 
óbvio está escondido debaixo da mesa. O óbvio está no escuro, o óbvio 
está na privada. Quanto à verdade, é fácil descobri-la: ela é o 
contrário, o avesso de tudo que políticos investigados afirmam.

Ninguém acredita mais no que o Lula fala (só pobres analfabetos e 
intelectuais imbecis), ninguém acredita mais no que a Dilma gagueja 
sob o som dos panelaços, nem no Renan, no Cunha, mas o show continua. 
Há um complô de enganação da sociedade. Por quê? Porque a sociedade 
para eles é um bando de idiotas que precisam ser tutelados pelo Estado 
de esquerda ou enrolados pelos oligarcas privados. Esse foi nosso pior 
destino: a união entre a chamada esquerda e a velha direita.

Dilma não sai nem morta, ela disse. Cunha não sai nem morto. E os dois 
em confronto encurralam o país numa briga de foice. São demitidos 3 
mil por dia e o total geral de desempregados já está em 1 milhão e 200 
mil de pobres vítimas desse prélio de arrogância e narcisismo. Teremos 
um déficit fiscal de R$ 70 bilhões. E tudo bem? No Congresso ninguém 
liga. Dane-se o país, quero o meu...

Faltam-me palavras. Que nome dar por exemplo a esse melaço de gente 
que odeia reformas e o novo? Que medula, que linfa ancestral os 
energiza, que visgo é esse que gruda em tudo? É uma pasta feita de 
egoísmo, preguiça, herança colonial, estupidez e voracidade pura. Que 
nome dar? A gosma do Mesmo?

O dicionário não basta para descrever uma figura como o Cunha, cuja 
aparência não engana. Ele é o que parece, nunca vi um desenho tão 
perfeito de uma personalidade. O povo vê horrorizado sua carantonha e 
seu bico voraz e percebe que está diante do mal. O povão não entende 
muito, mas tem sensibilidade. Cunha é a cara do pesadelo brasileiro. E 
tantos outros, escondidos por sorrisos, cabelinhos de acaju ou de asas 
da graúna.

Nós jornalistas e comentaristas tentamos ver algum ângulo novo na 
crise atual, mas já estamos nos repetindo, martelando o óbvio. Todos 
os artigos parecem um só. Eu busco novas ideias, novas ironias para 
esculachar essa vergonha, mas ela é maior que as palavras. Falamos, 
falamos e não descobrimos o essencial: como é que essa porra vai acabar?
O Brasil estava entrando no mundo contemporâneo com uma nova visão de 
economia e gestão e vieram esses caras e comeram tudo, como as 
porcadas magras quando invadem o batatal. Essa crise é terrível porque 
é uma caricatura. É crise do superficial, do inerte, da anestesia sem 
cirurgia. A crise é um pesadelo humorístico. A crise não merece 
respeito. Sei lá, a depressão de 29 foi uma tragédia real. 

Esta nossa é uma anedota. Ela foi criada artificialmente por essa 
gentalha que tomou o poder e resolveu ser contra "tudo isso que está 
ai". Quem estava aí era o Brasil. Eram a s conquistas da democracia, 
essa palavra que eles usam com boquinha de nojo, apenas como pretexto, 
como estratégia para a tal "linha justa". Como dizia o Bobbio: "O que 
mais une o fascismo e o comunismo é seu ódio à democracia." O que 
provocou tudo isso? Foi o populismo endêmico, o patrimonialismo 
secular, a ignorância histórica. E esse sarapatel pariu um sujeito 
despreparado e deslumbrado consigo mesmo, cujo carisma de operário 
fascinou intelectuais babacas e comunas desempregados desde 1968, que 
resolveram fazer uma revolução endógena, um "gramscianismo" de 
galinheiro.

O PT está arrasando o país. Essa é a verdade. Temos que dar nome aos 
bois, ou melhor, ao boi. O causador disso tudo que nos acontece e que 
poderá durar muito tempo foi o Lula. Sim. Esse homem que nunca viu 
nada, que não sabia de nada é o grande culpado da transformação. Mas, 
o MPF e a Polícia Federal estão chegando perto dele e de suas 
ocultações. Ele é o boi.  


 
Bairro Rocas, de antigamente, Natal/RN.



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