O GLOBO Arnaldo Jabor 27/10/2015
O boi
Faltam-me palavras para dar conta do que está acontecendo no Brasil.
Eu nunca vi o país assim. Já vi crises violentas como a morte de
Getúlio ou o golpe militar, mas esta tem uma característica diferente;
é pastosa, uma areia movediça que engole tudo.
O que é uma crise? Digamos que um projeto político ou empresarial
quisesse chegar a determinado objetivo. Corria um risco. Se não desse
certo, teríamos uma crise. Era a época dos riscos. Hoje vivemos na
incerteza, porque não sabemos como agir.
Hoje, a crise é sonâmbula ? como chegar e onde chegar? O grave é que
esses impasses estão eliminando os instrumentos institucionais da
democracia.
O Congresso brasileiro é chefiado por dois sujeitos investigados com
provas e recibos por crimes na Lava-Jato, e também o Renan quando
fugiu para não ser cassado pela evidência de suas jogadas. E hoje
preside o Senado. Conta isso para um alemão, um inglês, e eles não
acreditarão.O Brasil está se esvaindo em sangue por causa de um cabo
de guerra entre Dilma e Cunha, em amor e ódio, em busca de proteção
mútua: "Você me salva do impeachment e eu tento evitar sua
cassação". O Brasil está paralisado porque o Cunha está mandando no
país, porque detém o poder de chantagear todo mundo, mesmo denunciado
até pela Suíça (que chic!). Como pode o Legislativo estar nas mãos
desses caras? Parece não haver um só lugar onde não haja roubo. Na
saúde, na merenda escolar, na educação.O Brasil está encurralado entre
uma flébil tentativa de ajustar as contas públicas e o ajuste sendo
usado como moeda de troca. O Congresso está bloqueando nossa
recuperação. O Brasil está sendo chantageado. "Se o Brasil não me
atender, eu destruo o Brasil."
Antigamente o segredo era a alma dos negócios espúrios. Hoje os mais
sujos interesses são expostos à luz fria de um bordel. Está tudo em
nossa cara.
Sempre houve roubalheira, considerada apenas um "pecado" e era uma
roubalheira setorial, descentralizada, e não esta coisa sólida,
extensa, onipresente. Tudo o que já apareceu nessa extraordinária
ressurreição do Judiciário, por conta dos competentes juízes e
procuradores, será um troco, uma mixaria quando chegarem ao fundos de
pensão, ao BNDES e a outras empresas públicas.
A política está impedindo a política. Mentem e negam o tempo todo e
não desmoralizam a verdade apenas; estão desmoralizando a mentira. São
patranhas tão explícitas, tão cínicas que desmoralizam a mentira. O
óbvio está escondido debaixo da mesa. O óbvio está no escuro, o óbvio
está na privada. Quanto à verdade, é fácil descobri-la: ela é o
contrário, o avesso de tudo que políticos investigados afirmam.
Ninguém acredita mais no que o Lula fala (só pobres analfabetos e
intelectuais imbecis), ninguém acredita mais no que a Dilma gagueja
sob o som dos panelaços, nem no Renan, no Cunha, mas o show continua.
Há um complô de enganação da sociedade. Por quê? Porque a sociedade
para eles é um bando de idiotas que precisam ser tutelados pelo Estado
de esquerda ou enrolados pelos oligarcas privados. Esse foi nosso pior
destino: a união entre a chamada esquerda e a velha direita.
Dilma não sai nem morta, ela disse. Cunha não sai nem morto. E os dois
em confronto encurralam o país numa briga de foice. São demitidos 3
mil por dia e o total geral de desempregados já está em 1 milhão e 200
mil de pobres vítimas desse prélio de arrogância e narcisismo. Teremos
um déficit fiscal de R$ 70 bilhões. E tudo bem? No Congresso ninguém
liga. Dane-se o país, quero o meu...
Faltam-me palavras. Que nome dar por exemplo a esse melaço de gente
que odeia reformas e o novo? Que medula, que linfa ancestral os
energiza, que visgo é esse que gruda em tudo? É uma pasta feita de
egoísmo, preguiça, herança colonial, estupidez e voracidade pura. Que
nome dar? A gosma do Mesmo?
O dicionário não basta para descrever uma figura como o Cunha, cuja
aparência não engana. Ele é o que parece, nunca vi um desenho tão
perfeito de uma personalidade. O povo vê horrorizado sua carantonha e
seu bico voraz e percebe que está diante do mal. O povão não entende
muito, mas tem sensibilidade. Cunha é a cara do pesadelo brasileiro. E
tantos outros, escondidos por sorrisos, cabelinhos de acaju ou de asas
da graúna.
Nós jornalistas e comentaristas tentamos ver algum ângulo novo na
crise atual, mas já estamos nos repetindo, martelando o óbvio. Todos
os artigos parecem um só. Eu busco novas ideias, novas ironias para
esculachar essa vergonha, mas ela é maior que as palavras. Falamos,
falamos e não descobrimos o essencial: como é que essa porra vai acabar?
O Brasil estava entrando no mundo contemporâneo com uma nova visão de
economia e gestão e vieram esses caras e comeram tudo, como as
porcadas magras quando invadem o batatal. Essa crise é terrível porque
é uma caricatura. É crise do superficial, do inerte, da anestesia sem
cirurgia. A crise é um pesadelo humorístico. A crise não merece
respeito. Sei lá, a depressão de 29 foi uma tragédia real.
Esta nossa é uma anedota. Ela foi criada artificialmente por essa
gentalha que tomou o poder e resolveu ser contra "tudo isso que está
ai". Quem estava aí era o Brasil. Eram a s conquistas da democracia,
essa palavra que eles usam com boquinha de nojo, apenas como pretexto,
como estratégia para a tal "linha justa". Como dizia o Bobbio: "O que
mais une o fascismo e o comunismo é seu ódio à democracia." O que
provocou tudo isso? Foi o populismo endêmico, o patrimonialismo
secular, a ignorância histórica. E esse sarapatel pariu um sujeito
despreparado e deslumbrado consigo mesmo, cujo carisma de operário
fascinou intelectuais babacas e comunas desempregados desde 1968, que
resolveram fazer uma revolução endógena, um "gramscianismo" de
galinheiro.
O PT está arrasando o país. Essa é a verdade. Temos que dar nome aos
bois, ou melhor, ao boi. O causador disso tudo que nos acontece e que
poderá durar muito tempo foi o Lula. Sim. Esse homem que nunca viu
nada, que não sabia de nada é o grande culpado da transformação. Mas,
o MPF e a Polícia Federal estão chegando perto dele e de suas
ocultações. Ele é o boi.
O boi
Faltam-me palavras para dar conta do que está acontecendo no Brasil.
Eu nunca vi o país assim. Já vi crises violentas como a morte de
Getúlio ou o golpe militar, mas esta tem uma característica diferente;
é pastosa, uma areia movediça que engole tudo.
O que é uma crise? Digamos que um projeto político ou empresarial
quisesse chegar a determinado objetivo. Corria um risco. Se não desse
certo, teríamos uma crise. Era a época dos riscos. Hoje vivemos na
incerteza, porque não sabemos como agir.
Hoje, a crise é sonâmbula ? como chegar e onde chegar? O grave é que
esses impasses estão eliminando os instrumentos institucionais da
democracia.
O Congresso brasileiro é chefiado por dois sujeitos investigados com
provas e recibos por crimes na Lava-Jato, e também o Renan quando
fugiu para não ser cassado pela evidência de suas jogadas. E hoje
preside o Senado. Conta isso para um alemão, um inglês, e eles não
acreditarão.O Brasil está se esvaindo em sangue por causa de um cabo
de guerra entre Dilma e Cunha, em amor e ódio, em busca de proteção
mútua: "Você me salva do impeachment e eu tento evitar sua
cassação". O Brasil está paralisado porque o Cunha está mandando no
país, porque detém o poder de chantagear todo mundo, mesmo denunciado
até pela Suíça (que chic!). Como pode o Legislativo estar nas mãos
desses caras? Parece não haver um só lugar onde não haja roubo. Na
saúde, na merenda escolar, na educação.O Brasil está encurralado entre
uma flébil tentativa de ajustar as contas públicas e o ajuste sendo
usado como moeda de troca. O Congresso está bloqueando nossa
recuperação. O Brasil está sendo chantageado. "Se o Brasil não me
atender, eu destruo o Brasil."
Antigamente o segredo era a alma dos negócios espúrios. Hoje os mais
sujos interesses são expostos à luz fria de um bordel. Está tudo em
nossa cara.
Sempre houve roubalheira, considerada apenas um "pecado" e era uma
roubalheira setorial, descentralizada, e não esta coisa sólida,
extensa, onipresente. Tudo o que já apareceu nessa extraordinária
ressurreição do Judiciário, por conta dos competentes juízes e
procuradores, será um troco, uma mixaria quando chegarem ao fundos de
pensão, ao BNDES e a outras empresas públicas.
A política está impedindo a política. Mentem e negam o tempo todo e
não desmoralizam a verdade apenas; estão desmoralizando a mentira. São
patranhas tão explícitas, tão cínicas que desmoralizam a mentira. O
óbvio está escondido debaixo da mesa. O óbvio está no escuro, o óbvio
está na privada. Quanto à verdade, é fácil descobri-la: ela é o
contrário, o avesso de tudo que políticos investigados afirmam.
Ninguém acredita mais no que o Lula fala (só pobres analfabetos e
intelectuais imbecis), ninguém acredita mais no que a Dilma gagueja
sob o som dos panelaços, nem no Renan, no Cunha, mas o show continua.
Há um complô de enganação da sociedade. Por quê? Porque a sociedade
para eles é um bando de idiotas que precisam ser tutelados pelo Estado
de esquerda ou enrolados pelos oligarcas privados. Esse foi nosso pior
destino: a união entre a chamada esquerda e a velha direita.
Dilma não sai nem morta, ela disse. Cunha não sai nem morto. E os dois
em confronto encurralam o país numa briga de foice. São demitidos 3
mil por dia e o total geral de desempregados já está em 1 milhão e 200
mil de pobres vítimas desse prélio de arrogância e narcisismo. Teremos
um déficit fiscal de R$ 70 bilhões. E tudo bem? No Congresso ninguém
liga. Dane-se o país, quero o meu...
Faltam-me palavras. Que nome dar por exemplo a esse melaço de gente
que odeia reformas e o novo? Que medula, que linfa ancestral os
energiza, que visgo é esse que gruda em tudo? É uma pasta feita de
egoísmo, preguiça, herança colonial, estupidez e voracidade pura. Que
nome dar? A gosma do Mesmo?
O dicionário não basta para descrever uma figura como o Cunha, cuja
aparência não engana. Ele é o que parece, nunca vi um desenho tão
perfeito de uma personalidade. O povo vê horrorizado sua carantonha e
seu bico voraz e percebe que está diante do mal. O povão não entende
muito, mas tem sensibilidade. Cunha é a cara do pesadelo brasileiro. E
tantos outros, escondidos por sorrisos, cabelinhos de acaju ou de asas
da graúna.
Nós jornalistas e comentaristas tentamos ver algum ângulo novo na
crise atual, mas já estamos nos repetindo, martelando o óbvio. Todos
os artigos parecem um só. Eu busco novas ideias, novas ironias para
esculachar essa vergonha, mas ela é maior que as palavras. Falamos,
falamos e não descobrimos o essencial: como é que essa porra vai acabar?
O Brasil estava entrando no mundo contemporâneo com uma nova visão de
economia e gestão e vieram esses caras e comeram tudo, como as
porcadas magras quando invadem o batatal. Essa crise é terrível porque
é uma caricatura. É crise do superficial, do inerte, da anestesia sem
cirurgia. A crise é um pesadelo humorístico. A crise não merece
respeito. Sei lá, a depressão de 29 foi uma tragédia real.
Esta nossa é uma anedota. Ela foi criada artificialmente por essa
gentalha que tomou o poder e resolveu ser contra "tudo isso que está
ai". Quem estava aí era o Brasil. Eram a s conquistas da democracia,
essa palavra que eles usam com boquinha de nojo, apenas como pretexto,
como estratégia para a tal "linha justa". Como dizia o Bobbio: "O que
mais une o fascismo e o comunismo é seu ódio à democracia." O que
provocou tudo isso? Foi o populismo endêmico, o patrimonialismo
secular, a ignorância histórica. E esse sarapatel pariu um sujeito
despreparado e deslumbrado consigo mesmo, cujo carisma de operário
fascinou intelectuais babacas e comunas desempregados desde 1968, que
resolveram fazer uma revolução endógena, um "gramscianismo" de
galinheiro.
O PT está arrasando o país. Essa é a verdade. Temos que dar nome aos
bois, ou melhor, ao boi. O causador disso tudo que nos acontece e que
poderá durar muito tempo foi o Lula. Sim. Esse homem que nunca viu
nada, que não sabia de nada é o grande culpado da transformação. Mas,
o MPF e a Polícia Federal estão chegando perto dele e de suas
ocultações. Ele é o boi.
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