A pesquisa analisou a capacidade de seis compostos naturais de inibir a atividade enzimática do Sars-CoV-2 e identificou que o tanino é capaz de reduzir em até 90% essa atividade, controlando, então, sua carga viral.

Mesmo assim, ainda não é possível afirmar que tomar vinho ajuda a combater a covid-19, visto que o estudo ainda não é conclusivo. Verificado que o ácido tânico pode ter efeito sobre o vírus, a próxima fase é descobrir se alimentos ricos em tanino, como a uva, romã e caqui, podem mesmo ser usados para combater a doença. 

Ainda foram realizados experimentos com catequina, kaempferol, quercetina, proantocianidina e resveratrol, todas substâncias comprovadamente ativas na supressão de infecções por tipos de coronavírus identificados antes da pandemia. Entre os compostos, somente o tanino apresentou resposta significativa especificamente para o Sars-CoV-2.

Uma nota divulgada pela Federação Espanhola de Enologia em abril do ano passado provocou polêmica. A entidade afirmou que “o consumo moderado de vinho, responsável, pode contribuir para uma melhor higiene da cavidade bucal e da faringe, esta última uma zona que abriga os vírus”.

A federação disse ainda que não havia risco de contaminação da bebida por covid-19 porque “a sobrevivência do vírus no vinho parece impossível”. O texto gerou notícias falsas que afirmavam que o vinho tinto combatia o novo coronavírus, o que ainda não é comprovado.

O presidente da Associação Brasileira de Enologia, André Gasperin, diz que o impacto positivo do consumo moderado do vinho no combate a doenças já é um tema recorrente há mais de duas décadas.

Gasperin alerta que, “como tudo na vida”, o excesso é prejudicial. O significado de “consumo moderado” varia e, segundo o especialista, depende, por exemplo, do peso de cada pessoa. Em média, aconselha-se a ingestão de uma taça ao dia.

Ainda é cedo

A biomédica e sommelier Caroline Dani, professora convidada no Programa de Pós-Graduação em Farmacologia e Terapêutica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), destaca que o trabalho é um “insight” para uma futura pesquisa experimental ou clínica.

“É uma pesquisa in vitro, ou seja, pegaram o vírus em laboratório e colocaram em contato com esses polifenóis isolados para verificar se eles impedem a entrada do vírus na célula. No futuro, é preciso que haja um estudo em seres humanos, para verificar se esta implicação viral pode amenizar sintomas ou a infecção”, explica.

Dani ressalta que ainda existem poucos estudos relacionando diretamente o consumo de vinho ou suco de uva à infecção por coronavírus, mas que diversas pesquisas mostram o benefício dos fenóis, que conferem cor roxa à uva, para a microbiota do intestino, que regulariza o sistema imune. “Ou seja, ficamos mais fortes para combater os vírus”, afirma.

CNN