Fica, então, a pergunta: como agir para defender o seu candidato sem perder uma vaga de trabalho ou ainda colocar seu emprego em risco? Que prejuízos esse ou aquele posicionamento que você faz pode trazer para sua vida profissional?
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Para Andrea Deis, 45, coach de desenvolvimento de carreira, formada em gestão empresarial pela FGV (Fundação Getulio Vargas), as redes sociais são a vitrine de uma pessoa. “Antes de postar qualquer coisa, você deve fazer o seguinte questionamento: o que as pessoas precisam saber de mim? As redes sociais, no fundo, mostram um pouco quem você é”, afirmou.
Segundo ela, no mundo corporativo, as empresas olham as redes sociais dos profissionais que concorrem a uma vaga na companhia para entender como eles pensam e agem. “As empresas usam o LinkedIn para fazer uma análise profissional do candidato à vaga e depois vão para as redes sociais para olhar o seu comportamento. Redes sociais são determinantes hoje no processo de seleção”, declarou.
Marcia Vazquez, 60, gestora de capital humano na Thomas Case & Associados, consultoria que atua na gestão de carreiras e RH, disse que, desde o processo de recrutamento e seleção, as empresas buscam conhecer nas redes sociais os candidatos à vaga.
“Tudo é vasculhado pela empresa, desde suas redes sociais até comentários postados, por exemplo, em matérias de sites. As empresas vão juntando esse tipo de exposição para entender o perfil comportamental daquele funcionário ou profissional candidato à vaga”, afirmou.
Segundo o advogado André Damiani, 43, sócio fundador do escritório Damiani Sociedade de Advogados, o programa de compliance das empresas (códigos de ética e conduta) já prevê em suas políticas internas proibições de publicações ou divulgações de conteúdo nas redes sociais que possam representar ofensa a outras pessoas ou que possam impactar negativamente a imagem da companhia.
São vedadas pelas empresas, disse Damiani, manifestações que depreciem colaboradores ou alimentem preconceito em relação a sexo, raça, opção sexual e religião, por exemplo. “As penalidades para aqueles que descumprirem as normas internas ou externas da empresa vão da advertência até a demissão por justa causa, a depender do caso”, declarou.
Confira dicas de como se portar nas redes sociais nestas eleições, de acordo com as consultoras:
1) Discuta ideias, e não pessoas
Se você quiser, de fato, usar as redes sociais para fazer debate político, sobre este ou aquele candidato, discuta ideais, segundo Andrea. “Promova debates de ideias, que são, de fato, o que interessa para o país. Quem fala de pessoas está fazendo fofoca e pode até estar, mesmo sem saber, difundindo informações falsas sobre elas. No debate, valorize o propósito, que é um país melhor”, afirmou.
2) Não ofenda as pessoas
Mesmo num debate político, quando os ânimos podem estar exaltados, nunca ataque as pessoas com ofensas. “Nunca agrida as pessoas que estão discutindo com você. Foque sempre no debate das ideias”, declarou Andrea.
Para Marcia, a pessoa precisa ter sabedoria “para saber falar”. “Temos o direito de pensar e falar, mas é preciso tomar cuidado sempre, para não ofender, não magoar nem discriminar alguém”, declarou.
3) Respeite para ser respeitado
Você é daqueles que gosta de expor suas opiniões, mas não quer ouvir a dos outros? “Está errado”, disse Andréa. “As pessoas inteligentes devem saber falar e ouvir. O respeito está acima de tudo. Se você quer ser ouvido, tem de saber ouvir. Exponha seus pontos de vista, mas também deixe o outro expor os dele”, declarou.
Para Marcia, as empresas precisam de profissionais com perfis conciliadores. “São aquelas pessoas que sabem ouvir, interpretar e conciliar as partes numa atitude construtiva. O importante é trazer conteúdo para o debate e fazer pensar, pois é na união das diversas contribuições que a gente aprende.”
4) Jamais faça comentários racistas ou preconceituosos
Andrea disse que comentários racistas ou preconceituosos são passíveis de crime. “Por isso, pense antes de escrever qualquer comentário que possa discriminar ou ofender alguém. Não julgue as pessoas nas redes sociais. É preciso sempre medir as palavras”, afirmou.
Marcia, da Thomas Case & Associados, disse que, mesmo conhecendo os valores da empresa na qual trabalham, funcionários "sem limites" estão passíveis de advertências e até de demissão, em casos em que proferem ofensas ou discriminam alguém nas redes sociais. “São atitudes que não condizem com os valores daquela empresa. Como as empresas estão sempre de olho, tudo isso está sendo avaliado”, disse.
5) Não seja extremista
Segundo Andrea, pessoas que têm nas redes sociais opiniões extremistas, como desejar a morte de alguém, e atitudes agressivas, como xingar candidatos e seus simpatizantes ou incitar atos violentos, não são bem vistas pelas empresas.
“As empresas entendem que os candidatos à vaga que têm esse perfil nas redes sociais são individualistas e escutam pouco. Por isso, o seu custo para a empresa é alto, pois, até que esse tipo de funcionário se adapte e comece a dar retorno financeiro, leva tempo”, afirmou.
6) Cuidado até em grupos privados
Marcia disse que, mesmo em grupos privados nas redes sociais, é preciso ter cuidado. “Estamos num momento em que precisamos ficar atentos a tudo que falamos, escrevemos, curtimos ou compartilhamos. Mesmo em grupos fechados nas redes sociais, as pessoas podem disseminar suas ideias para fora do grupo, interpretando de maneira diferente o que você falou”, afirmou.
Imagem da empresa x liberdade de expressão
As empresas, no geral, respeitam o direito constitucional de manifestação do indivíduo, mas também incentivam seus funcionários a se pautarem pela moderação dos discursos individuais, segundo Márcia.
Para ela, os funcionários são parte da marca da empresa. “O código de conduta das empresas normalmente fala em cuidar desta marca. Isso significa, portanto, cuidar de nossas comunicações e comportamentos. Tudo pode ser dito desde que de maneira assertiva e focada, respeitosa conosco e com os demais. Nós somos a marca da empresa em que trabalhamos.”
Márcia disse que a empresa pode monitorar o colaborador nas redes sociais e “fazê-lo entender que ele é parte fundamental para a imagem e reputação da companhia”.
Segundo o advogado Damiani, a liberdade de informação e de manifestação do pensamento “não é sinônimo de impunidade” no que se refere a eventuais ofensas contra a honra, a imagem e a dignidade da pessoa.