"O mergulho do avião no Rio do Sal levou para o silêncio da morte planos e intenções"
Às 4h15 da manhã do dia 12 de julho de 1951 decolava do aeroporto de Parnamirim o avião Douglas, de prefixo PL - 3 PPLG da LAP - Linhas Aéreas Paulistas com destino ao Rio de Janeiro. A bordo daquela aeronave, o governador potiguar Dix-Sept Rosado que regressava aquela capital carioca com o objetivo de tratar de assuntos políticos e, principalmente, conseguir recursos para "reconstruir o Estado dos efeitos desastrosos da calamidade climática".
Em sua companhia alguns seus auxiliares e amigos como Mário Negócio, Felipe Pegado Cortez, Jacob Wolfson, José Gonçalves de Medeiros, Fernando Tavares [Vem-Vem] e sua esposa Maria Celste Tavares (meus avós maternos), além de Marina Nina de Oliveira e seu filho pequeno, bem como Pedro dos Santos, Agenor Coelho, além dos tripulantes comandante aviador Áureo Miranda, co-piloto José de Souza Neto, o radioperador Eurico Pereira Bendelho e o comissário Sérvulo Duarte Gonçalves, dentre outros.
Aquele avião teria que fazer escala no Recife, Aracajeió. Naquela aeronave viajava também o assuense Majó Manuel de Melo Montenegro que teria desembarcado na capital pernambucana. Do Recife, o avião proseguiu viagem. A próxima escala seria a cidade de Aracaju, antes, porém, de entrar em reta final sobrevoou o rio do Sal daquela capital sergipana para pouso quando segundo informações dos moradores do povoado Sobrado, o avião começou a inclinar as asas, para ouvirem em seguida, o barulho ensurdecedor provocado pela queda da aeronave. O desastre ocorreu precisamente às 8h40 no riacho Calumbi, afluente do rio do Sal. Poucos minutos depois os jornais recebiam notícias da grande trajédia que enlutou o Rio Grande do Norte e Sergipe, conforme informações do Sergipe-Jornal, edição do dia 12 de julho de 1951.
Outra matéria sobre aquele acidente vamos encontrar naquele mesmo jornal datado de 13 de julho daquele mesmo ano. O pesquisador Valderley Ferreira de Matos, de Aracaju, diz que aquele periódico informa que "muitas horas após a trajédia a agência da LAP em Aracaju não sabia informar quais passageiros e tripulantes viajavam e fazia crítica à falta de manutenção da aeronave, dizendo que "avião que cai é avião sem manutenção e com carga acima do limite". Foi, segundo se comentava na época, o excesso de carga a causa daquele episódio que vitimou 28 passageiros e quatro tripulantes.
Aquele pesquisador ainda depõe que naquele acidente "morreram seis membros da família Diniz e três da Sampaio Melo, famílias tradicionais da capital pernambucana, além do sergipano Raimundo Leite Torres, filho de Anízio Fontes Torres, fazendeiro de Estância, interior Sergipano.
Há informações que aquela "aeronave estava sobrecarregada e no limite máximo de passageiros, tudo leva a crê que o comandante fez uma manobra brusca para entrar em reta final do pouso, perdendo, contudo, o controle do avião. Não houve incêndio, como a princípio se pensou. Os corpos das vítimas foram transportados do local do acidente para o Hospital Cirurgia, para serem embalsamados e enviados para os estados de origem."
Os corpos do fazendeiro e comerciante em Açu chamado Fernando Tavares e sua esposa dona Celeste foram identificados pelo médico Samuel, casado com uma assunse que naquela época clinicava em Aracaju. Foi o vigésimo desastre aviatório ocorrido no Brasil.
A propósito daquele acidente, o cancioneiro popular escreveu:
[...]
No dia 12 de julho
Se viu no firmamento
Que o sol resplandecia
Os seus raios pardacento
Como quem dava sinal
Deste acontecimento.
O nosso governador
Jerônimo Dix-Sept-Rosado
Formando uma viagem
A qual tinha projetado
Para o Rio de Janeiro
A benefício do Estado
Em sua companhia
Os seus auxiliares
A interesse do mesmo
Ocupando seus lugares
E junto dr. Jacob,
Sr. Fernando Tavares.
Dona Celeste Tavares
E d. Maria Nina
E seu filhinho querido
Nesta hora matutina
Sandoval, Pedro dos Santos
Que tiveram curta sina
Sr. Agenor Coelho,
Seguia neste transporte;
Foram 12 companheiros
Do Rio Grande do Norte.
Sem pensar que neste dia
Fosse pouco a sua sorte
As 4 horas e 15
Todos eles embarcaram
Num avião da LAP
Conforme se combinaram
Sem menor perda de tempo
No aparelho voaram.
Todos bem regozijados
Regressando da cidade
Pra fazerem a viagem
Com Paz e felicidade
Não julgavam nem por sonho
Na triste fatalidade.
O rifão tem um ditado
Que o provérbio nos diz
Que jamais se sabe a hora
De alguém está feliz
Quando a gente não esperava
Chegar o momento infeliz
Todos eles satisfeitos
Em uma só harmonia
Exceto Vem-Vem
Que viajar não queria
Como quem advinhava
Seu coração lhe dizia.
Muita gente de Açu
As vezes lhe perguntava
Para o Rio de Janeiro
Quando ele viajava
Ele dizia que esta
Viagem muito receava
Porém Dix-Sept chamo-o
Como seu maior amigo
Para conhecer o Rio
Em companhia consigo
Não julgando que eles fossem
Vítima deste perigo.
E provou que era amigo
Até o último transporte
Muito embora neste dia
Tivesse mesquinha sorte
Porém provando que era
Amigo de vida e morte.
fernando.caldas@bol.com.br