segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

LIVRO EM HOMENAGEM A NATAL É PRODUZIDO PELA EDITORA DA UFRN

Foto: Vladimir Alexandre

Lançamento será no dia 12 de dezembro, às 17h, na Livraria Siciliano do shopping Midway Mall.

Por César Augusto, com dados da Agecom.A

Dorian Gray Caldas, membro da Academia Norte-riograndense de Letras.Carta aberta para a muito amada cidade de Natal. Esse é o tema do livro em homenagem a Natal, produzido pela Editora Universitária da UFRN e pelo artista Dorian Gray na comemoração dos 411 anos da cidade.

O lançamento será no dia 12 de dezembro, às 17h, na Livraria Siciliano do shopping Midway Mall. Na ocasião, o livro estará sendo vendido pelo valor de R$ 20 reais. A publicação contém reproduções de obras do artista e um poema de sua autoria, em um design diferenciado com folhas duplas.

O livro foi lançado inicialmente no Festival Literário da Pipa (Flipipa), em novembro passado, como parte de um projeto junto à ONG Educapipa. Os 100 exemplares produzidos para a ocasião possuíam capa única, produzidas por crianças moradoras de Pipa. A nova edição traz uma pintura de Dorian Gray impressa na capa.

O autor, Dorian Gray Caldas, nasceu em Natal no ano de 1930. Ele também é desenhista, escultor, gravador, ceramista, tapeceiro e escritor. Atualmente, é membro da Academia Norte-riograndense de Letras.

Do Portal Nominuto

domingo, 5 de dezembro de 2010

CARNATAL CHEGANDO AO FINAL



CARNAVAIS DAS ANTIGAS DO AÇU

Postado por Fernando Caldas

ANTIGA BANDA DE MÚSICA DO CREA - AÇU

Banda de Música do CREA - Centro Regional de Escoteiros do Açu. Década de sessenta, salvo engano.

ORQUESTRA DE FREVO DOS ANTIGOS CARNAVAIS DO AÇU

Esquerda para direita: (?), Seu Cristóvão, (?), (?).

Postado por Fernando Caldas

ESCRITOR POTIGUAR: O PRESENTE DE NATAL

Públio José – jornalista
publiojose@gmail.com

Saber das dificuldades de se praticar cultura por aqui – não é novidade; saber que governos preferem extrair da cultura seu lado festeiro – é púbico e notório; saber da penúria orçamentária vivida pelos órgãos estatais, que têm na cultura sua razão de existir – é coisa do arco da velha; saber do pouco lastro cultural que possuem nossos políticos – é notícia antiga; saber que, agindo para com a cultura com desprezo cavalar, os políticos são, por consequência, responsáveis pelo surgimento de levas sucessivas de gerações incultas, de pouquíssimo contato com elementos culturais, e hábitos de leitura semelhantes aos de nações de quinto mundo – tal fato até os postes reconhecem. Nomear as agruras que têm vitimado por aqui a cultura em geral, e a literatura em particular, tem sido inócuo, repetitivo e antiprodutivo. Pois todo mundo sabe, de cor e salteado, o enumerado no texto deste parágrafo – e muito mais.

Entretanto, chegando por aqui um marciano, e tomando conhecimento dos relatórios dos dirigentes públicos, vai ter inveja. E se encantará com o desempenho dos tais para com a cultura. Gastos estonteantes. Eventos numerosos... A glória! Por quê? Ora, por que! Eles descobriram que cultura rende voto. Como? Promovendo e patrocinando eventos de caviloso e distorcido conteúdo cultural. Geralmente, festas em datas comemorativas, realizadas em praça pública, com dinheiro estatal, e notórias pela vantagem de reunir grande número de pessoas. Para tanto, basta contratar uma banda de forró – de preferência a mais brega, de visual mais chamativo e de letras que há muito ultrapassaram o terreno do duplo sentido. Essas atraem. São grupos musicais que agradam pelo descarado apelo aos maus hábitos, à quebra de valores, à incitação ao alcoolismo, à vagabundagem e à sensualidade irresponsável.

Com eles a festa vai bombar! Sucesso garantido! E, para todos os efeitos, de “profundo cunho cultural”. Tudo pago pelos Ministérios da Cultura, do Turismo, como se fossem de natureza folclórica, turística, cultural. Para o governante só vantagem: faz política sem botar um tostão do bolso; se exibe para um grande público presente; posa para uma comunidade inculta como um grande promotor da alegria e do entretenimento aos mais humildes; além de registrar, nas prestações de contas aos órgãos de praxe, tais eventos como “voltados ao desenvolvimento cultural da comunidade”. Essa é uma postura tão enraizada, principalmente no interior, que seus dirigentes não conseguem mais enxergar o que é cultura – e o que não é. Certa vez, sugeri a um prefeito criar em seu município um coral. Ele ficou olhando pra mim “abestado” (como diria Tiririca), “como se fosse um boi olhando prum prédio”.

O quê fazer diante de tal quadro? Propor o quê? Seria extraordinário se fosse possível arrancar do coração estatal essa postura torta, enviesada. Porém, como – se bem aceita pelo povo? Pensando em contribuir de alguma forma, propusemos uma campanha, aproveitando o período natalino, que induza as pessoas a presentear com livros, já que presentear é da tradição natalina. Contatos feitos com entidades públicas, privadas, imprensa – e a receptividade tem sido muito boa. A campanha, em sua essência, pretende valorizar o livro para efeito de presente. Lembrando: livro de escritor potiguar. É pouco? É muito? Pela repercussão que a campanha vem obtendo, comprova-se que avançamos. Instituições e pessoas comuns já externam a ela seu comprometimento. Comentários se generalizam. Algo novo surge. E tudo tão simples. É só ir à livraria e adquirir um livro. De escritor local! Dará certo? Giremos a roda.

Postado por Fernando Caldas

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

UMA GLOSA DE LAÉLIO FERREIRA

M O T E :


Cangagay no Rio Grande
vai ser sucesso em Natal

G L O S A :

Cu de boi grosso se expande,
nos blogues, becos, jornais...
Faniquitos, uis e ais
- Cangagay no Rio Grande!
Debates, mesas, estande:
muito fresco – um festival!
De muita coceira anal
essa estética do cangaço
de Lampião tem um traço
- vai ser sucesso em Natal!

Laélio Ferreira

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

terça-feira, 30 de novembro de 2010

O LIVRO DE LEONARDO SODRÉ

Vendas na Banca Prática , Tirol . Preço: R$25,00

FRASE

"De políticos quero distância de léguas".

(A referenciada frase dizia o cidadão (poeta potiguar do Açu) João Lins Caldas (1888-1967) ainda em 1930. Será que ele tinha razão?)

Postado por Fernando Caldas 

POESIA

TALVES

Por Socorro Guilherme, poetisa açuense

Talves eu não tenha a sabedoria de uma coruja,
ou os olhos de uma águia para ver de muito longe.
Talves eu não tenha o canto lindo de um sabiá.
Talvés eu não tenha a leveza do bater de asas de um beija-flor...
mas consigo plantar flores para que eles venham até elas.
Talves eu não tenha a doçura do mel que as abelhas produzem...
mas posso ter a delicadeza de tratar bem as pessoas mesmo nas horas dificies.
Talves eu não consiga levantar as asas e seguir sem você em frente em longos vôos.
Talves eu não consiga ser como o pardal que se ele for aprisionado em uma gaiola ele morre...
mas posso tentar ser justa e digna para me manter sempre livre.
Talves por não ter sabedoria de corija, ou olhos de águia,
é que minhas asas as vezes ficam feridas e sangram...
mas mesmo assim, graças a natureza que é bela e sabia, eu e você conseguimos nos recuperar.


(Do Blog de Juscelino França)

Postado por Fernando Caldas

FESTA RELIGIOSA DO RN PODE TORNAR-SE PATRIMÔNIO CULTURAL DO BRASIL

O governador Iberê Ferreira de Souza encaminhou nesta segunda-feira um pedido ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional para que a tradicional Festa de Sant'Ana de Caicó seja reconhecida como Patrimônio Cultural do Brasil. O pedido encaminhado pelo governo do estado será analisado pelo Conselho do Iphan em uma reunião prevista para a primeira quinzena do mês de dezembro.

No Seridó, Sant'Ana é reverenciada desde 26 de julho de 1748, data em que a Igreja e o povo da região começaram a celebrar os louvores de sua padroeira, apresentando-lhe suas preces.

(Do Diário de Natal)

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

UMA GLOSA DE XAVIER



Levando um litro de mel
Dessa abelha italiana,
Com muita santa bacana
Tomei cachaça no céu.
Aprontei, fiz escarcel,
Dancei com defuntos nus,
Quebrando a famosa cruz,
Os anjos bateram palmas.
Sonhei mais cantando as almas
Lá no hotel de Jesus.


Luiz Xavier

Postado por Fernando Caldas

UM MONUMENTO RÚSTICO NA TERRA DOS CARNAUBAIS

Os casarões são sinônimo de passado, tradição, herança e um verdadeiro legado cultural dos povoados nas terras dos Carnaubais. Mesmo com aspectos rústicos, tais edificações revelam parte de nossa história e os modos de vida rural de nosso varzeano com raízes locais em épocas marcadas pela pujança econômica de intensa produção agropecuária.

( ..)

Do Blog de Tony Martins, Carnaubais-RN

ASSU- ASSINADO CONTRATO COM EMPRESA QUE IRÁ ADMINISTRAR A ZPE DO SERTÃO

Com a presença da governadora eleita do Rio Grande do Norte, a senadora Rosalba Ciarlini (DEM), o contrato para administração da ZPE do Sertão foi assinado na manhã deste sábado, 27, pelo prefeito Ivan Júnior e os sócios da empresa ZPE do Sertão Administradora LTDA.

“Estamos vivendo um momento histórico para região. Nós estudamos muito e decidimos por Assu. Nosso trabalho é procurar dotar toda infraestrutura. Já estamos em contato com as universidades, empresários e com a classe política que nunca mediram esforços para consolidação da ZPE do Sertão”, disse Brian E Tipler, um dos sócios da empresa administradora da ZPE.

Ainda de acordo com Brian Tipler, responsável por implantar, gerir e atrair investidores para a ZPE do Sertão, se todo trâmite ocorrer dentro da normalidade, Assu colocará em funcionamento sua ZPE do Sertão, ainda no próximo ano.

Projeto

A senadora Rosalba Ciarlini, autora do Projeto de Lei que criou a ZPE do Sertão no Senado Federal, participou da assinatura do contrato, inclusive assinando como uma das testemunhas. Para Rosalba, a ZPE do Sertão é a certeza de um futuro prospero para o desenvolvimento regional do RN. “Hoje é a certeza de um passo para o futuro. Eu sempre fiz questão de acompanhar todo processo, como a desapropriação da área de mil hectares onde funcionará a ZPE, a sanção presidencial e agora a assinatura da empresa administradora. Vamos levar desenvolvimento e geração de emprego para o interior e assim diminuir as desigualdades”, disse Rosalba.

O prefeito de Assu, Ivan Júnior (PP), vem trabalhando arduamente para consolidar a ZPE do Sertão. “Somos determinados e vamos conseguir viabilizar esse projeto. Conseguimos sensibilizar toda bancada federal. A primeira a acreditar foi a senadora Rosalba Ciarlini. Ela me ajudou, sensibilizando os parlamentares. Agora o senador José Agripino colocou uma emenda de R$ 60 milhões que vamos conseguir liberar, porque para a região será sinônimo de redenção econômica”, afirmou Ivan.

O senador Garibaldi Filho (PMDB), o deputado federal Fábio Faria (PMN) e o deputado estadual eleito George Soares (PR), também estiveram presentes a solenidade de assinatura do contrato com a empresa que administrará a ZPE do Sertão.

Prazos

O presidente da empresa administradora da ZPE, Victor Samuel Cavalcante da Ponte, possui três meses para apresentar o projeto alfandegário. Depois de aprovado, o próximo passo será buscar as licenças relacionadas ao meio ambiente, depois de aprovadas, vem à captação de investidores. “Vamos trabalhar para que daqui a um ano a primeira estrutura da ZPE esteja pronta”, disse Victor Samuel.

Com informações da assessoria de imprensa da senadora Rosalba Ciarlini

AGÊNCIA ECO DE NOTÍCIAS
Leonardo Sodré João Maria Medeiros
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Postado po Fernando Caldas

A RESIDÊNCIA NA TERRA DE MARIA EUGÊNIA MONTENEGRO

Fotografia: Ilustração do blog.

Por Márcio de Lima Dantas, professor de Literatura Portuguesa do Departamento de Letras da UFRN

Vai ficar na eternidade,
Com seus livros, com seus quadros,
Intacto, suspenso no ar!


Manuel Bandeira


Diante da fachada, de um azul intenso, a memoração com sua vertigem soberana, solenemente aciona aquela sensação de quando nos defrontamos com um objeto estético ou agente impregnado com a pátina da História. A larga calçada clama a deferência, lançando-nos nos recônditos de um imaginário que diz para retirarmos as sandálias. É uma antiga casa. Sua simetria rigorosamente bilateral é composta de três grandes janelas, ladeadas por duas portas, todas rasgadas em arcos abaulados, sendo que um terço do comprimento é ocupado por uma semi-rosácea de vidro transparente, dividida em cinco segmentos. Lembra um pouco, pelos frisos, pelos contornos em alto-relevo, brancos, e pela predominância dos ângulos retos, as construções neoclássicas. Encimando o conjunto descrito, há uma estreita platibanda de despojado lavor, preenchida por azulejos com motivos geométricos. Todas as portas e janelas são divididas em duas abertas partes, denotando uma ausência de temeridade, convidando a brisa tépida, vinda dos carnaubais, a refrescar os dias ensolarados e quentes do Vale do Assu.

Situada entre a praça Getúlio Vargas e o antigo Beco do Padre, a casa fica no rez-de-chaussez., ou seja, existe apenas o pavimento térreo. Voltada para o sol nascente, limita-se a um comprido retângulo um pouco acima do nível da rua. Um batente dá acesso ao assoalho da sala. Não há sótão, tampouco porão, indiciando o pouco caso com o inconsciente ou uma busca de elevação espiritual. Há apenas o plano terrestre, no qual os cômodos representam as partes do corpo com suas demandas simbólicas. Residência ideal para os que se sentem intrinsecamente ligados à vida e ao que ela proporciona de beleza estética e prazer físico.

É aqui onde reside a escritora norte-rio-grandense Maria Eugênia Maceira Montenegro, nascida em 1915, e que no passado e cabalístico sete de outubro, fez oitenta e oito anos de existência. Advinda das Minas Gerais, casada com um Engenheiro Agrônomo que estudou em Lavras, veio morar numa fazenda do antigo arraial de N. Sra. dos Prazeres do Assu. A casa ostenta uma simplicidade que muito se assemelha às antigas residências senhoriais, quedada defronte à Igreja Matriz, um pouco mais à esquerda de quem fica de costas para a casa. Distância suficiente para ouvir o hinário e as rezas da igreja em louvor a São João Batista.

A porta principal não é trancada à chave, como se aguardasse permanentemente uma visita, que trouxesse alvíssaras ou simplesmente o agradável de uma presença, campeando sobre a solidão, espantando-a para as ermas estradas deixadas no passado. Ao ser anunciado por uma moça muito gentil, a velha senhora se faz demorar um pouco, suficiente para o advento no corpo de uma dignidade herdada das antigas famílias mineiras. Adentra na sala, qual rainha destronada e no exílio, derramando sorrisos e palavras de boas vindas. O corpo alquebrado pela velhice torna-se em festa. Parece vir de longe, arrastando consigo, num hieratismo franco e discreto, o cortejo de emblemas da sua estirpe. Os poucos momentos de uma agradável visita alicerçarão um ou dois dias de prazerosa lembrança, esgarçando-se com o passar dos dias. Os idosos, aqueles não amargos, sustentam-se nos exíguos fios das reminiscências geradas por algum fortuito evento sucedido num dia, como se fossem esmolas, - farelos de vida -, doados parcimoniosamente pela Fortuna.

Tudo resguarda uma história. A pátina de Cronos, qual esmalte transparente, recobre todos os pertences da antiga casa. Parece não haver arcanos de espécie alguma. Qualquer presença pode ser dita e explicada de onde veio. A transparência é tamanha que a luz esplende seus reflexos no assoalho recoberto por mosaicos, cuidadosamente limpo, denotando lugar no qual não transita muita gente, onde a solitude repousa, com a mesma paciência da dona.

A casa com seus objetos dispostos nos cômodos, submetida à cal viva do tempo, reveste-se de um caráter antípoda. Ao mesmo tempo que se funda numa necessidade da existência, pois é ela a outorgadora de uma identidade, subjetiva ou social; em contrapartida, está sempre na iminência de se extinguir, de sucumbir quando do desaparecimento do seu proprietário. Os herdeiros, mercenários, deterão apenas o que tiver valor financeiro. Quando do passar de poucos dias, os relógios farão escorrer seus ponteiros em direção às insossas efemérides e novidades da vida ordinária.

O cortejo de signos: telas, bibelôs, panos de renda, alfarrábios, indumentárias, móveis antigos, ensaia as pompas das exéquias, esboçando a dolente canção elegíaca do esquecimento atroz que cobrirá a Velha Dama, - malgrado as horas dedicadas à escritura de livros com forte conteúdo humanista, - sim, só os objetos serão gratos àquela que os animou e imprimiu sua consideração ao seu estado, indiferente, de mineral. Os tempos vindouros não prometem mais transcendência por meio da arte. A terra se encontra em transe. Não temos garantia de nada. Os objetos prantearão a menina feia, vinda de muito longe, de um lugar chamado Minas Gerais, lavrado entre montanhas recobertas de exuberante verde-lodo, chegada esposa e indo viver numa fazenda povoada de plantas e animais, de acidentes geográficos e paisagísticos, dos quais não sabia o nome nem a função, e cujo território passava metade do ano acinzentado. Nessa ambiência, as tramelas da memória foram arrebentadas pelas amoladas foices da solidão. Imagens mentais tiveram que ser confeccionadas em feixes de frases, engendrando livros nos quais os revérberos autobiográficos tonificaram obras que hoje irrigam o sistema literário do Rio Grande do Norte. Tudo me chama: a porta, a escada, os muros,/as lajes sobre mortos ainda vivos...(Cecília Meireles).

Agora a lonjura dos dias é preenchida por lembranças. Uma fadiga crônica se instalou – “estou morta de viver” – nos ossos. Nunca mais a deixará. O dízimo da velhice é alto. Labaredas consomem as derradeiras energias. Apóia-se nas paredes. Desculpa-se. Quedada sobre as cadeiras, agarra-se às autênticas amizades – ao telefone: “diga, meu querido” -. No limiar dos oitenta e nove anos de idade ainda está aberta ao cultivo de uma nova amizade. (Que alma!). Houve quem dissesse que muito ela havia se arrependido de não ter sido mais desprendida, de não ter aberto sua biblioteca a mais pessoas, de não ter amado mais. O balanço de uma vida é sempre um processo solitário e ímpar, pródigo de sentimentos dúbios ou culpas de desbotado matiz.

Da memória desprendem-se nomes, intactos, cada um com sua devida importância, com seu lugar numa história de vida: Nelson, Nieta, João Lins Caldas, Mário, Solon, Rita, Renato Caldas. Lembrar também cansa. Exercício que arrasta o inútil de abstrações que não levam a lugar nenhum. Vive-se de Vida. Nunca ouvi dizer o contrário. Recordações são cinza fria nos lábios, representações de somenos. Nonadas.

Na vasilha de ungüento restou um pouco de sal. Na despensa apenas um tanto de óleo sagrado, suficiente para untar o corpo baço, pleno de ranhuras, pontilhado de sardas e de outras manchas outorgadas pelo caminhar em agrestes rodagens. A sobrevivente antecipou o luto.

Resta o aguardo. Mulheres de pescadores, azuis, como na tela de Picasso, na praia, ansiando o nome dos desaparecidos. Os quadros, desbotados, quietos, na parede.

Alguém sabe de alguma profecia, que falasse, assim, de uma imperatriz exilada, vinda de um país distante onde as montanhas, no raiar do dia, espreguiçam-se entre a névoa e um exuberante verde? Alguém, ao dizê-la, estancaria a nascente viril de um desespero sem lágrimas: o meu. Alguém? Alguém....

Postado por Fernando Caldas

PELO DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA Se Guilherme de Almeida escreveu 'Raça', em 1925, uma obra literária “que tem como tema a gênese da na...