RIO - Braço direito de Oscar Niemeyer, o arquiteto Jair Valera diz que a incrível vontade de trabalhar do mestre também pode ser traduzida pelos projetos com a assinatura dele que só serão concretizados futuramente, tanto no Brasil quanto no exterior, dando um caráter ainda mais transcendental à sua obra. Valera não sabe o que será do escritório que, por tantos anos, esteve sob a liderança de um dos maiores nomes da arquitetura moderna do mundo. Mas enfatiza o compromisso da equipe formada por Niemeyer de levar à frente seus últimos traços.
— Estamos em pleno trabalho de desenvolvimento desses projetos — diz Valera, ainda sob a emoção da perda do amigo de mais de 30 anos.
Para o Museu de Arte Contemporânea de Ponta Delgada, na ilha açoriana de São Miguel, Niemeyer criou uma área de transição entre o museu e o parque local, a fim de que ela seja utilizada como um grande jardim para mostras de esculturas a céu aberto. O jardim se integra ao parque.
— Esse projeto está na parte final de desenvolvimento — informa Valera, acrescentando que a prefeitura da ilha é que contratou o escritório. — Trata-se de um centro cultural, com três salões de exposição instalados numa cúpula de dois pavimentos. Um auditório e um restaurante completam o complexo.
Da zona central do Atlântico Norte, a obra de Niemeyer navega até a Argélia e aporta em Zeralda. Valera informa que o projeto de uma biblioteca está em fase final, e sua construção começa no primeiro trimestre do ano que vem, quando será erguido um equipamento com 50 mil metros quadrados de área construída.
— Além de sua função principal, que é a de abrigar livros, a obra terá cinema, auditório e restaurante. O estilo do equipamento é árabe-latino-americano, já que o presidente da Argélia (Abdelaziz Bouteflika) quer aproximar esses dois universos.
O arquiteto também desenhou um centro cultural para a cidade de Essaouira, no Marrocos, com 20 mil metros quadrados, um teatro com todos os equipamentos para um musical, e uma escola de música.
— Ainda estamos na fase inicial desse projeto — conta Valera.
No Brasil, o ateu Niemeyer projetou um templo para a Igreja Adventista do Sétimo Dia em Belém, no Pará. Segundo Valera, a construção já começou.
— Será uma igreja para 500 pessoas — diz ele, acrescentando que Niemeyer fez o projeto de mais de 30 igrejas, entre elas a emblemática Catetral de Brasília.
A Região Norte tem outro projeto do grande arquiteto: o Memorial Encontro das Águas, em Manaus.
— Nosso objetivo é vê-lo pronto para a Copa do Mundo de 2014 — diz Valera.
No memorial, que terá mais de nove mil metros quadrados, haverá um pavilhão em forma de oca. Do restaurante, a vista será a da convergência dos rios Negro e Solimões.
Em Foz do Iguaçu, no Paraná, já começaram as obras da Universidade da Integração Latino-Americana. Com recursos do governo federal, o equipamento terá 150 mil metros quadrados, para dez mil alunos (cinco mil brasileiros e cinco mil estrangeiros).
No Rio, outro Niemeyer está surgindo na Praia de Botafogo. Trata-se de um edifício com 19 andares e dois subsolos da Fundação Getúlio Vargas, cujo nome homenageia o criador: Torre Oscar Niemeyer. Ao lado, um centro cultural em forma de concha, com três pavimentos, completa a obra do arquiteto. Já no Flamengo, está sendo construída a nova sede da UNE. Ainda não saíram do papel projetos como o da quadra da Vila Isabel e do prédio da Brahma, próximo ao Sambódromo.
A última obra citada por Valera é um edifício que dará as boas-vindas a quem for visitar a Vinícola Château La Coste, em Aix-en-Provence, no Sul da França. O prédio, conta Valera, será horizontal, com curvas e, como acesso principal da vinícola, será um lugar para encontros e degustação de vinhos