quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

MARIA AUXILIADORA, UMA PRESENÇA


Por Paulo Montenegro. (Artigo publicado há dez anos atrás, em o Jornal de Hoje, de Natal).
"Na véspera da tentativa de Lampião entrar em Mossoró, na distante cidade de Assu, nascia Maria Auxiliadora Caldas Macedo.Vindo ao mundo de uma gravidez inesperada, já tinha seu destino traçado: O de não ter conhecido seu pai e conviver com o sofrimento da mãe (aleijada) durante toda sua vida. Filha do português João Macedo, que se arremediou em Assu vendendo alfinin e de Tereza Caldas dos Caldas de Sacramento hoje Ipanguaçu, esta, não presenciou a saída do marido acompanhado da mulher do juiz da cidade para nunca mais voltar, deixando para trás uma filha na barriga, várias propriedades (Farol, Mutamba, Cumbe, Recreio), ruas de casa no Assu, uma pequena fortuna, vivendo no Recife até 1936.

Moreno, meu filho tem o nome de nossa raça, nossa latinidade, Mas Maria Tereza minha filha carrega o seu nome, o de sua mãe e o de Maria Angelita de Carvalho (Hinha), que veio de Tapera hoje Triunfo para cuidar das duas, a partir de 1927.

Católica, mas não apostólica, nem romana, sempre achava que a benção fosse uma formalidade, porque o respeito para ela sempre foi uma questão de atitude. Não sei se ela é uma mulher do seu tempo, só sei que ela é simplesmente Maria. Calma por natureza e com os princípios fundamentais da vida nunca a vi cometer nenhum dos pecados convencionais ou capitais. Mulher sem preconceito, honesta, com um amor pela vida tão profundo de fazer inveja a morte. Posso citar, em vários episódios, dezenas de exemplos de sua postura (ética), seja no âmbito familiar, político ou no cotidiano. Em todas as suas interferências lá estava Maria Auxiliadora com sua opinião carregada de dignidade.

Em 1946, casa-se com seu primo filho do Major Montenegro, que veio doutor de Lavras para casar com Maria Auxiliadora e ser político na região do Vale do Assu, Edgard Montenegro. Agora, como coadjuvante, vivendo um outro momento, entre a inteligência dos Caldas e a importância dos Montenegros, continuou pontuando sua vida perseguindo a Paz e a Justiça, binômio que conjugou em toda sua trajetória.

A arte e a natureza, foram suas duas grandes paixões. Uma vez em 1989 fomos ao centro de convenção assistir a um teatro de dança contemporânea. Na volta para casa ela me disse: "A arte é quem vai salvar o mundo". Aí me chegou a comprovação de que na política, faltam muitos ingredientes para que o jogo do poder seja o caminho das transformações sociais.

Hoje, sua cidadania é representada por sua filha Rejane Maria, que nasceu também em Assu em 1956 pelas mãos hábeis do doutor Sales, quando ainda não tinha maternidade.

Há oito anos dirigida pelas mãos dos outros (Delmira, Graça, Telúzia, Maria Selma, Dona Edite, família) ainda assim comanda sua casa. E a cada dia mais debilitada, andando menos, falando menos, nunca vi reclamar de nada, como também nunca vi ninguém se dirigir a ela com sentimento de pena. Quando André, neto de Dona Janoca, vinha a sua casa todas as manhãs ela encontrava motivos para viver, E quando Arlete, filha de Aldenora, vem todas as tardes em sua casa passando para a padaria seu olhar brilha e emociona quem passa pela Floriano. Toda codificação da linguagem ela perdeu, mas sua consciência lhe deixa em pé. Em pé de igualdade para com a vida.

As borboletas e os canários amarelos do farol seus companheiros de toda infância, não são mais uma prova de sua presença. Mas o flambyant vermelho plantado por Pau de Lenha, o eco da pancada do Machado de Pedro de Melo e os oitizeiros da Floriano Peixoto são testemunhas que por aqui vive uma mulher forte e corajosa.

Ainda espero vê-la sorrir. Talvez na possibilidade de voltar a sua terra e pisar o chão do farol, onde tudo começou. Um sorriso, igual aquele de Telê Santana, quando do gol de Rair, se tornando campeão do mundo na década de 90. E cumprindo um ditado que sempre defendeu, concluo esse simples artigo, nem alegre nem triste, que escrevo com seus óculos (hoje meu), molhando o rascunho desse texto com lágrimas de orgulho."

O violinista solitário


“Um homem sentou-se numa estação de metrô de Washington DC e começou a tocar violino, era uma fria manhã de Janeiro; Ele tocou seis peças de Bach durante aproximadamente 45 minutos. Durante esse tempo, já que era hora de ponta, calcula-se que cerca de 1,100 pessoas atravessaram a estação, a sua maioria, a caminho do trabalho.

Três minutos passaram quando um homem de meia idade notou que o músico estava a tocar, abrandou o passo e parou por alguns segundos, mas continuou depois o seu percurso para não chegar atrasado.

Um minuto depois, o violinista recebeu o seu primeiro dólar, uma senhora atirou o dinheiro sem sequer parar e continuou o seu caminho.

Alguns minutos depois, alguém se encostou à parede para o ouvir, mas olhando para o relógio retomou a marcha. Estava claramente atrasado para o trabalho.

Quem prestou maior atenção foi um menino de 3 anos. A mãe trazia-o pela mão, apressada, mas a criança parou para olhar para o violinista. Finalmente, a mãe puxou-o com mais força e o miúdo continuou a andar, virando a cabeça várias vezes para ver o violinista. Esta ação foi repetida por várias outras crianças. Todos os pais, sem exceção, obrigaram as crianças a prosseguir.

Nos 45 minutos em que o músico tocou, somente 6 pessoas pararam por algum tempo. Cerca de 20 deram-lhe dinheiro mas continuaram no seu passo normal. Ele recoletou cerca de 32 dls. Quando ele parou de tocar e o silencio tomou conta do lugar, ninguém se deu conta. Ninguém aplaudiu, nem houve qualquer tipo de reconhecimento.

Ninguém sabia que este violinista era Joshua Bell, um dos mais talentosos músicos do mundo. Ele tocou algumas das peças mais elaboradas alguma vez escritas num violino de 3,5 milhões de dólares.

Dois dias antes de tocar no metro, Joshua Bell esgotou um teatro em Boston, onde cada lugar custou em média 100 dls.

Esta é uma história real, Joshua Bell tocou incógnito na estação de metrô num evento organizado pelo Washington Post que fazia parte de uma experiência social sobre percepção, gostos e prioridades.

O outline era: num lugar comum, numa hora inapropriada: Somos capazes de perceber a beleza? Paramos para a apreciar? Reconhecemos o talento num contexto inesperado?

Uma das possíveis conclusões que se podem sacar desta experiência podem ser: Se não temos um momento para parar e escutar a um dos melhores músicos do mundo tocar algumas das músicas mais bem escritas de sempre, quantas outras coisas estaremos perdendo?”
O violinista solitário

“Um homem sentou-se numa estação de metrô de Washington DC e começou a tocar violino, era uma fria manhã de Janeiro; Ele tocou seis peças de Bach durante aproximadamente 45 minutos. Durante esse tempo, já que era hora de ponta, calcula-se que cerca de 1,100 pessoas atravessaram a estação, a sua maioria, a caminho do trabalho.

Três minutos passaram quando um homem de meia idade notou que o músico estava a tocar, abrandou o passo e parou por alguns segundos, mas continuou depois o seu percurso para não chegar atrasado.

Um minuto depois, o violinista recebeu o seu primeiro dólar, uma senhora atirou o dinheiro sem sequer parar e continuou o seu caminho.

Alguns minutos depois, alguém se encostou à parede para o ouvir, mas olhando para o relógio retomou a marcha. Estava claramente atrasado para o trabalho.

Quem prestou maior atenção foi um menino de 3 anos. A mãe trazia-o pela mão, apressada, mas a criança parou para olhar para o violinista. Finalmente, a mãe puxou-o com mais força e o miúdo continuou a andar, virando a cabeça várias vezes para ver o violinista. Esta ação foi repetida por várias outras crianças. Todos os pais, sem exceção, obrigaram as crianças a prosseguir.

Nos 45 minutos em que o músico tocou, somente 6 pessoas pararam por algum tempo. Cerca de 20 deram-lhe dinheiro mas continuaram no seu passo normal. Ele recoletou cerca de 32 dls. Quando ele parou de tocar e o silencio tomou conta do lugar, ninguém se deu conta. Ninguém aplaudiu, nem houve qualquer tipo de reconhecimento.

Ninguém sabia que este violinista era Joshua Bell, um dos mais talentosos músicos do mundo. Ele tocou algumas das peças mais elaboradas alguma vez escritas num violino de 3,5 milhões de dólares.

Dois dias antes de tocar no metro, Joshua Bell esgotou um teatro em Boston, onde cada lugar custou em média 100 dls.

Esta é uma história real, Joshua Bell tocou incógnito na estação de metro num evento organizado pelo Washington Post que fazia parte de uma experiência social sobre percepção, gostos e prioridades.

O outline era: num lugar comum, numa hora inapropriada: Somo capazes de perceber a beleza? Paramos para a apreciar? Reconhecemos o talento num contexto inesperado?

Uma das possíveis conclusões que se podem sacar desta experiência podem ser: Se não temos um momento para parar e escutar a um dos melhores músicos do mundo tocar algumas das músicas mais bem escritas de sempre, quantas outras coisas estaremos perdendo?”

terça-feira, 29 de janeiro de 2013


CONTO

A COBRA
 
A comunidade de Juazeiro era para alguns de seus moradores o local ideal para se viver. Lá dinheiro não tinha muito valor, especialmente para os homens. Uma questão cultural. O macho que não gastasse tudo que ganhasse durante a semana no final da mesma, não era homem com H. Era manicaca, palerma, manobrado pela mulher. Se fosse solteiro era viado.
 O pescador Manoel era um dos que cultuava esta prática. Se o rendimento fosse um pouco maior passava até uma semana na esbórnia... Acordava de madrugada, selava e colocava os arreios no cavalo alazão - seu maior patrimônio, além de uma mulher e cinco filhos, aliás, uma “escadinha” onde o mais velho tinha oito anos – e rumava para a cidade. Parecia um doutor. Roupa branca, chapéu de massa preto, botas pretas com esporas prateadas. No braço um chicote de couro cru e sobre a sela do animal uma coxa macia confeccionada de retalhos brancos. Um revólver 38 na cintura e uma faca peixeira de 12 polegadas completavam a indumentária. 
 Quando Manoel chegava à feira livre do Assu, os feirantes ainda estavam organizando seus produtos para iniciarem a comercialização. Parava seu alazão debaixo dos pés de fícus localizados por trás da Matriz e dirigia-se para o Mercado. Na primeira bodega que abria ele já pedia uma dose de aguardente e solicitava ao proprietário guardar o coxim. Enrolado neste, ele entregava o revólver e dizia com ênfase:
- cuidado com este “coxim”, mais tarde eu pego!
 Manoel quando estava embriagado era metido a namorador, arruaceiro... Violento. Uma particularidade: sóbrio ou bêbado pagava bebida pra “gato e cachorro”.
 Certo dia, já meio embriagado, Manoel foi adentrando na Padaria Santa Cruz - de propriedade de Solon, quando ouviu, de soslaio:
- Um negro desse só quer ser doutor, só anda de branco...
 Manoel não procurou ouvir mais nada, mudando de rota, foi até o desafeto e sentou-lhe a mão no ‘pé’ do ouvido que o mocotó levantou.
- Taí... Essa é pra você respeitar um homem preto...! Galego cor de merda! - Falou Manoel com o dedo em riste. Deu meia volta e saiu sem dizer pra que veio à padaria.
 O homem levantou, passou a mão nas nádegas e tratou de sair rápido do recinto. Sabia que se revidasse morreria ali mesmo. Pensou consigo: “Também, o que eu tenho a ver com a maneira de vestir daquele negrão?”.
Naquele dia Manoel bebeu enraivado. Pensava constantemente: “Porque não acabei com a vida daquele amaldiçoado. Estou ficando mofino?”. – Depois de circular por todos os cabarés da cidade do Assu Manoel retornou para casa já quase à noitinha.
O cavalo caminhava lento, conhecia o percurso de volta para casa como nenhum outro. Somente assim seria possível conduzir seu proprietário de volta à comunidade naquele estado de embriaguez.
Ao chegar a Juazeiro, Manoel foi direto para uma bodega que também vendia cachaça. Parou o cavalo e desceu com dificuldade. Sentou num tamborete e pediu:
- Seu Romão, uma dose de cachaça bem grande. Hoje eu quero afogar minhas mágoas.
Seu Romão trouxe a dose de aguardente e colocou sobre a única mesa do alpendre. Aproveitou a oportunidade para perguntar:
- Já passou em casa? Deixou a feira dos meninos?
- Que nada seu Romão. Hoje foi um dia de cão! – Respondeu Manoel depois que tomou a cachaça, dando uma cusparada no canto da parede.
- Homem, vá para casa, você já bebeu demais, amanhã tem que trabalhar – Aconselhou o velho bodegueiro.
- Acho que vou tomar seu conselho. O senhor sabia que eu estou ficando mofino? Hoje um sujeitinho inventou de me desafiar... O senhor acredita que ele está vivo? Pois está vivo! Eu estou ficando covarde... Frouxo.
Manoel pagou a dose e saiu em direção ao cavalo. Montou no animal ajudado por Seu Romão. Ao sair o alazão levantou as duas patas e recuou assustado. Manoel caiu. Seu Romão gritou:
- É uma cobra, cuidado!
Manoel se levantou cambaleando.
- Essa é a segunda praga que me desacata hoje. Essa eu mato! – E saiu aos tombos em perseguição à cobra. Na penumbra da noite, ao tentar apanhar um pedaço de pau, pegou no corpo da cobra. A serpente se sentindo ameaçada o picou.
Naquele desespero, Manoel sem conter a raiva segurou a cobra com as duas mãos, levou-a a boca e com uma dentada partiu-a em dois pedaços... Cuspiu o pedaço que estava à sua boca dizendo:
- Você me morde diabo, mas eu lhe toro no meio!... - Ao pronunciar esta frase Manoel foi caindo lentamente.
- Quem está ai? Onde estou? Por que este escuro? Estou cego? - Pergunta Manoel.
- Sou eu Maria, sua mulher... Você foi picado por uma cobra de cipó. Escapou, mas o médico acha que você não vai mais voltar a enxergar...   
Mesmo cego Manoel nunca deixou de usar roupa branca e de andar a cavalo. Algumas coisas mudaram: diminuiu o hábito de tomar cachaça; aproximou-se mais da família e transformou-se num homem sereno... Covarde e frouxo, nunca!
O médico diagnosticou certo. Manoel morreu aos 83 anos de idade sem voltar a ver a luz do sol.

Livro: Dez Contos & Cem Causos - Ivan Pinheiro 


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"De que vale ter voz se só quando não falo é que me entendem? De que vale acordar se o que vivo é menos do que o que sonhei?"

Mia Couto

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"De que vale ter voz se só quando não falo é que me entendem? De que vale acordar se o que vivo é menos do que o que sonhei?"

Mia Couto

De: Onde pousa as borboletas

Quando amanhecer na praia de Pititinga, litoral norte do RN, pescadores saem para a labuta marinha de apanhar peixes...

Alex Gurgel
Quando amanhecer na praia de Pititinga, litoral norte do RN, pescadores saem para a labuta marinha de apanhar peixes...

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013


O amor não é desta vida, vem sempre de um outro lugar, de um outro tempo,
Morta e renascida a alma que se reconhece, como se num espelho se olhasse…

(Simples-mente)
[Emílio Miranda]

" Assista ao documentário "Ao seu tempo" sobre ansiedade e suas complicações"


A espera por um evento ou situações cotidianas consomem a energia dos mais ansiosos. A pressa, nesse caso, chega a paralisar. O ritmo acelerado é insuficiente para dar conta de tudo e perde-se o sono, o apetite. Os pensamentos são tomados por uma preocupação excessiva com algo que ainda não ocorreu – mas que tenta antecipar - ou por medo sem explicação. A sensação é de aperto no peito, nó na garganta, gelo na barriga, mãos e pés suando, sentindo o coração bater mais rápido. Se você se identificou com estes sinais, calma! É hora de desacelerar e buscar ajuda médica. Pode ser que a ansiedade comum a todos passou ao patamar crônico e tornou-se um transtorno de ansiedade generalizada, mais conhecido como TAG. A diferença, segundo especialistas, está na intensidade dos sintomas e o limite que impõe à vida do indivíduo.


Tribuna do Norte

SOBRE PEDRO AVELINO DE ANTIGAMENTO


Título do blog.

ANTIGAMENTE

DEPOIS DAS DEZ DA NOITE

Por Marcos calaça, jornalista da UFRN

Naquela época, depois das 22 horas, a luz movida a diesel pelo velho motor da Força e Luz se apagava, por isso, maioria da população da nossa querida Pedro Avelino já estava no primeiro sono, no entanto, os boêmios nem estavam aí para as noitadas. Uns faziam da balaustrada e da praça do Country Club o ponto do bate papo, o encosto dos bêbados, o fuxico da vida alheia, as histórias de lobisomem e tudo mais que vinha na imaginação.

Se fosse em um final de semana, da sexta-feira para o sábado, aí o movimento dos que não tinham mais o que fazer virava os ponteiros do relógio lá para as duas horas da madrugada ou mais. Outros chegavam a ouvir o cantar dos galos dos quintais. Na verdade todo mundo criava galinhas e galos em quintais, para um bom ensopado à cabidela, prato muito apreciado pelos nossos patrícios.

Outro ponto era iniciar os primeiros acordes da serenata improvisada, através de grandes seresteiros que tivemos. Bons momentos, velhos tempos, belas noites sob a luz prateada do luar sertanejo.

domingo, 27 de janeiro de 2013

A MAIOR TRAGÉDIA DE NOSSAS VIDAS


Andrea Cristina e outros 3 amigos compartilharam a foto de Fabrício Carpinejar.
A MAIOR TRAGÉDIA DE NOSSAS VIDAS

Fabrício Carpinejar

Morri em Santa Maria hoje. Quem não morreu? Morri na Rua dos Andradas, 1925. Numa ladeira encrespada de fumaça. 

A fumaça nunca foi tão negra no Rio Grande do Sul. Nunca uma nuvem foi tão nefasta. 

Nem as tempestades mais mórbidas e elétricas desejam sua companhia. Seguirá sozinha, avulsa, página arrancada de um mapa. 

A fumaça corrompeu o céu para sempre. O azul é cinza, anoitecemos em 27 de janeiro de 2013. 

As chamas se acalmaram às 5h30, mas a morte nunca mais será controlada. 

Morri porque tenho uma filha adolescente que demora a voltar para casa. 

Morri porque já entrei em uma boate pensando como sairia dali em caso de incêndio. 

Morri porque prefiro ficar perto do palco para ouvir melhor a banda. 

Morri porque já confundi a porta de banheiro com a de emergência.

Morri porque jamais o fogo pede desculpas quando passa. 

Morri porque já fui de algum jeito todos que morreram.  

Morri sufocado de excesso de morte; como acordar de novo? 

O prédio não aterrissou da manhã, como um avião desgovernado na pista.  

A saída era uma só e o medo vinha de todos os lados.

Os adolescentes não vão acordar na hora do almoço. Não vão se lembrar de nada. Ou entender como se distanciaram de repente do futuro.

Mais de duzentos e cinquenta jovens sem o último beijo da mãe, do pai, dos irmãos.

Os telefones ainda tocam no peito das vítimas estendidas no Ginásio Municipal. 

As famílias ainda procuram suas crianças. As crianças universitárias estão eternamente no silencioso. 

Ninguém tem coragem de atender e avisar o que aconteceu.

As palavras perderam o sentido.











Fabrício Carpinejar

Morri em Santa Maria hoje. Quem não morreu? Morri na Rua dos Andradas, 1925. Numa ladeira encrespada de fumaça.

A fumaça nunca foi tão negra no Rio Grande do Sul. Nunca uma nuvem foi tão nefasta.

Nem as tempestades mais mórbidas e elétricas desejam sua companhia. Seguirá sozinha, avulsa, página arrancada de um mapa.

A fumaça corrompeu o céu para sempre. O azul é cinza, anoitecemos em 27 de janeiro de 2013.

As chamas se acalmaram às 5h30, mas a morte nunca mais será controlada.

Morri porque tenho uma filha adolescente que demora a voltar para casa.

Morri porque já entrei em uma boate pensando como sairia dali em caso de incêndio.

Morri porque prefiro ficar perto do palco para ouvir melhor a banda.

Morri porque já confundi a porta de banheiro com a de emergência.

Morri porque jamais o fogo pede desculpas quando passa.

Morri porque já fui de algum jeito todos que morreram.

Morri sufocado de excesso de morte; como acordar de novo?

O prédio não aterrissou da manhã, como um avião desgovernado na pista.

A saída era uma só e o medo vinha de todos os lados.

Os adolescentes não vão acordar na hora do almoço. Não vão se lembrar de nada. Ou entender como se distanciaram de repente do futuro.

Mais de duzentos e cinquenta jovens sem o último beijo da mãe, do pai, dos irmãos.

Os telefones ainda tocam no peito das vítimas estendidas no Ginásio Municipal.

As famílias ainda procuram suas crianças. As crianças universitárias estão eternamente no silencioso.

Ninguém tem coragem de atender e avisar o que aconteceu.

As palavras perderam o sentido.


Fundação Rampa comemora os 70 anos da ‘Conferência de Potengi’



Por Guilherme Poggio – www.forte.jor.br

A Fundação Rampa (Frampa), com apoio da Secretaria de Estado do Turismo – SETUR, realizou neste sábado, 26, a quinta edição do comboio histórico “Conferência do Potengi”, no sítio histórico da Rampa, em Santos Reis. O evento encena o encontro dos presidentes americano e brasileiro, Franklin Delano Roosevelt e Getúlio Vargas, ocorrido em Natal no dia 28 de janeiro de 1943. O resultado foi a criação e o envio da Força Expedicionária Brasileira para os campos de batalha na Itália.

do resgate histórico, os idealizadores pretendem arrecadar alimentos não perecíveis para serem doados a uma instituição de caridade, ainda no mesmo ia. Para isso, os organizadores estão convocando a sociedade para participar da carreata, levando os alimentos no dia da encenação.

Este ano o evento ganhou um apelo especial por completar 70 anos. Em 2012, o escritor e jornalista Roberto Muylaert lançou o livro 1943, o qual detalhou o encontro dos presidentes e suas particularidades, com auxílio da Fundação Rampa que recebeu o escritor em Natal e compartilhou alguns documentos, principalmente fotografias. O livro ganhou repercussão nacional despertando interesse da grande mídia no evento local deste ano.

Para relembrar o fato – provavelmente o mais relevante na política externa nacional do século XX – a Fundação Rampa promove o comboio partindo do sítio histórico da RAMPA, em Santos Reis, percorrendo as principais ruas e avenidas do centro de Natal e bairros adjacentes retornando para o local da partida.
O que foi a “Conferência do Potengi”?

A princípio o encontro dos dois presidentes não teria este nome, contudo, diante da Segunda Guerra Mundial, a importância estratégica do Brasil – em especial Natal – e a existência de bases americanas no País – desde dezembro de 1941 -, ambos os países decidiram dar mais importância ao que foi debatido em 1943.

Getúlio desembarcou em Natal, no dia 28 de janeiro de 1943, à 1h da madrugada e Roosevelt, no início da manhã, às 7h30, em aviões no rio Potengi, e ficaram hospedados em navios, também, atracados no rio. Roosevelt voltava de Casablanca (África), onde tinha se encontrado com o primeiro ministro britânico Wiston Churchil, enquanto o brasileiro vinha do Rio de Janeiro, orientado pelo ministro de relações exteriores, Oswaldo Aranha, a oferecer o envio de tropas para o conflito armado, como prova de maior envolvimento do País, alem de já possuir base americanas.

No fim da manhã do dia 28, Vargas e Roosevelt almoçaram juntos, acompanhados das mais diversas autoridades, entre elas o brigadeiro Eduardo Gomes, almirante Ary Parreira e o comandante da esquadra norte-americana do Atlântico Sul, almirante Jonas H. Ingram, além de diplomatas americanos e do interventor Federal no Rio Grande do Norte, Rafael Fernandes. Logo em seguida, eles seguiram de barco pelo rio até as instalações da Rampa, cenário da fotografia imortalizada, com os dois sobre o “Jeep 7″ e os arcos da Rampa ao fundo, dando início a inspeção de todas as instalações militares americanas existentes na cidade, como a base de hidroaviões da Marinha dos Estados Unidos, hoje 17º Grupamento de Artilharia e Campanha (17º GAC) e Parnamirim Field, atualmente Base Aérea de Natal (BANT).

FONTE: Fundação Rampa

NOTA DO EDITOR: agradecemos o contato do Diretor de Comunicação Social da Fundação, Leonardo Dantas.

De: Canindé Soares

    O mistério do planeta

No mistério do Sem-Fim
equilibra-se um planeta.
E, no planeta, um jardim,
e, no jardim, um canteiro;
no canteiro, uma violeta,
e, sobre ela, o dia inteiro,
entre o planeta e o Sem-Fim,
a asa de uma borboleta"...

Cecília Meirelles (1901–1964) 

Imagem: Cecília no sobrado onde morou no Cosme Velho, Rio de Janeiro, fotografada em 1953, ano em que publicou “Romanceiro da Inconfidência”.

Veja também:
http://semioticas1.blogspot.com.br/2011/12/aninha-da-ponte.html
.
    O mistério do planeta

    No mistério do Sem-Fim
    equilibra-se um planeta.
    E, no planeta, um jardim,
    e, no jardim, um canteiro;
    no canteiro, uma violeta,
    e, sobre ela, o dia inteiro,
    entre o planeta e o Sem-Fim,
    a asa de uma borboleta"...

    Cecília Meirelles (1901–1964)

    Imagem: Cecília no sobrado onde morou no Cosme Velho, Rio de Janeiro, fotografada em 1953, ano em que publicou “Romanceiro da Inconfidência”.

    Veja também:
    http://semioticas1.blogspot.com.br/2011/12/aninha-da-ponte.html

    De: Semióticas
    .

    Ao menos 180 morrem em incêndio em casa noturna de Santa Maria (RS), segundo Bombeiros

    Do UOL, em Porto Alegre e São Paulo

    • Germano Roratto/Agência RBS
      Incêndio de grande proporção atinge a boate Kiss, no centro de Santa Maria (RS)
      Incêndio de grande proporção atinge a boate Kiss, no centro de Santa Maria (RS)
    O incêndio em uma boate deixou mais de 200 feridos e ao menos 180 mortos em Santa Maria (a 286 km de Porto Alegre), na região central do Rio Grande do Sul, segundo o Corpo de Bombeiros, o que o caracteriza como a pior tragédia do Estado. O fogo começou por volta das 2h deste domingo.  O número de mortes pode passar de 200, de acordo com os Bombeiros, ainda há muitos corpos dentro do local esperando para serem recolhidos e identificados.
    Em entrevista à rádio Gaúcha, o delegado Sandro Luís Meinerz, titular da 3ª Delegacia de Polícia de Santa Maria, disse que, a princípio, as pessoas não morreram queimadas, e sim asfixiadas pela fumaça por não terem conseguido sair do local.
    "Estamos retirando os corpos do local e tomando as providências necessárias para o início das investigações. Não se sabe ainda o número exato de corpos. Mas, em princípio, não há nenhum corpo em situação precária que possa prejudicar a identificação. As pessoas não conseguiram sair. A saída parece pequena para o número de pessoas que estava lá dentro, e o pânico acabou gerando essa situação", contou.
    A boate possui apenas uma saída, o que gerou tumulto na hora da fuga das chamas. Os bombeiros tiveram que abrir um buraco na parede externa para auxiliar no salvamento.

    Incêndio em boate deixa vários mortos e feridos em Santa Maria (RS)



    Foto 9 de 11 - Um incêndio de grande proporção atingiu na madrugada deste domingo a boate Kiss, no centro de Santa Maria (RS). Segundo a polícia, ao menos 90 pessoas morreram e mais de 200 pessoas ficaram feridas. O fogo começou por volta das 2h deste domingo e teria começado com um sinalizador utilizado no show de uma banda Germano Roratto/Agência RBS
    "Terminamos o rescaldo no local e estamos fazendo a remoção dos corpos. É impossível avaliar quantos corpos ainda devem ser retirados do local", disse o comandante dos Bombeiros de Santa Maria, Moisés da Silva Fux à rádio Gaúcha.
    "Os bombeiros estão fazendo o rescaldo e procurando outras vítimas. Não podemos precisar o número exato de vítimas. A maior parte dessas pessoas morreu asfixiada. Elas entraram em pânico e acabaram pisoteando umas às outras. O principal fator [para as mortes] foi a asfixia. O isopor gera uma fumaça muito tóxica", afirmou o comandante-geral do Bombeiros do Rio Grande do Sul, coronel Guido de Melo.
    Conforme um segurança que trabalhava na boate no momento do incêndio, entre mil e 2.000 pessoas deveriam estar no local durante o incidente, a maioria era adolescente.

    Causas

    Informações preliminares dão conta de que o fogo teve início com um sinalizador utilizado no show de uma banda, faíscas teriam atingido o teto da boate Kiss, na rua dos Andradas, e incendiaram a espuma de isolamento acústico.
    A quadra do Centro Desportivo Municipal está isolada, pois o local está recebendo corpos para serem identificados pela perícia. Ao menos cinco pessoas que receberam atendimento não resistiram e morreram.
    Os bombeiros estão sendo auxiliados por militares da Base Aérea de Santa Maria, por agentes da Polícia Rodoviária Federal, da Polícia Rodoviária Estadual, pela Brigada Militar, além do auxílio de ambulâncias de urgência de hospitais e clínicas.
    Tarso Genro (PT), governador do Rio Grande do Sul, lamentou a tragédia e, via Twitter, disse que se encaminha para a cidade. 


    Folhas caídas

    Lá fora o frio enregela as folhas do Outono,
    que vão caindo, no chão molhado!
    Nessas folhas estavam as minhas recordações,
    escritas, certo dia, com o calor da paixão,
    agora, caídas em absoluto desamparo,
    no charco das palavras mortas,
    onde serão afogadas as minhas saudades
    na água que as submergirá
    no esquecimento do passado!

    Espero que um milagre de repente aconteça,
    neste cosmos de incertezas,
    e que das linhas traçadas pela minha mão,
    gravadas nas folhas secas e encharcadas,
    renasçam as minhas recordações,
    paridas das águas que o chão molhado faz leito!

    Mas sinto frio,
    embora agasalhado, tenho frio,
    fecham-se-me as pálpebras,
    estremece-me o corpo,
    soluça-me o coração sem fôlego,
    chora-me a alma!

    O frio penetra-me o âmago do meu sentir,
    tento aconchegar-me à lembrança,
    daquele amor, que ficou em mim,
    que não deixei escrito nas folhas caídas!

    É somente o que me resta!

    José Carlos Moutinho
    .
    Folhas caídas

Lá fora o frio enregela as folhas do Outono,
que vão caindo, no chão molhado!
Nessas folhas estavam as minhas recordações,
escritas, certo dia, com o calor da paixão,
agora, caídas em absoluto desamparo, 
no charco das palavras mortas,
onde serão afogadas as minhas saudades
na água que as submergirá
no esquecimento do passado!

Espero que um milagre de repente aconteça,
neste cosmos de incertezas, 
e que das linhas traçadas pela minha mão,
gravadas nas folhas secas e encharcadas,
renasçam as minhas recordações, 
paridas das águas que o chão molhado faz leito!

Mas sinto frio, 
embora agasalhado, tenho frio,
fecham-se-me as pálpebras,
estremece-me o corpo,
soluça-me o coração sem fôlego,
chora-me a alma!

O frio penetra-me o âmago do meu sentir,
tento aconchegar-me à lembrança,
daquele amor, que ficou em mim,
que não deixei escrito nas folhas caídas!

É somente o que me resta!

José Carlos Moutinho
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