quarta-feira, 16 de janeiro de 2019

O passar do tempo na Manoel Montenegro

Por Pedro Otávio Oliveira
Em uma época onde as mídias sociais ainda nem tinha os seus primeiros suspiros e a internet não passava de um termo nunca ouvido e estranho, a comunicação era por meio das cartas,

telegramas ou pela Companhia TELERN que tinha seus postos na cidade, com Lolete Lacerda, Neide Oliveira, Dalva Cabral, Raimunda, Ilná e Eurli como funcionárias. Sem a interferência de qualquer aparato como esse, a amizade imperava, o calor humano da convivência era o que unia os amigos e vizinhos. A vida modorrenta da pequena cidade interiorana não tinha muito atrativo, senão as festas e matinês no Clube Municipal ou AABB e filmes no Cine Teatro Pedro Amorim, como Jesuíno Brilhante, Dio Come Ti Amo, Candelabro Italiano.

A efervescência política, cultural e os acontecimentos sociais tinham maior destaque no centro da cidade que resumia-se nas poucas artérias, no quadro da Igreja, na Praça do Rosário e na rua mais habitada: a Manoel Montenegro. Em um tempo que não havia placas para indicar o nome delas, a referência lograva a denominação de cada uma: Rua das Flores, das Hortas, dos Paus, da Palha, Beco do Padre, do Cemitério, de Nila, da Pharmacia, de Abdias. Mas depois deram nomes de figuras importantes para as antigas ruas sem identificação: Rua Siqueira Campos, Deodoro da Fonseca, Floriano Peixoto.

Os viventes e testemunhas daquele inesquecível tempo podem provar os nomes anteriores a Manoel Montenegro, que foi uma homenagem àquele inesquecível político que, por 13 anos, foi prefeito municipal e residente da mesma rua. Celso da Silveira, que nasceu no “castelo” de seus pais, afirma em prosa e verso, no seu primeiro livro: “26 Poemas do Menino Grande” que “só porque não me consultaram, as ruas perderam os seus nomes bonitos e o prestígio, e a cidade a sua tradição!”. Ao relembrar a paisagem humana daquela rua, ou seja, os seus moradores, deparo-me com uma cena com ressábios de luxúria, podendo ainda ter conhecido muitas daquelas figuras amigas.

Ao começar pela esquina com a Avenida Senador João Câmara, do lado do poente, tinha a loja Charmant, de Aurinha, que, à época, era um empreendimento para vender artigos de decoração, cama, mesa e banho.

O alfaiate que fez o terno do casamento de meu avô morava ali também, Pedro Rodolfo França, com sua esposa D. Helena e sua família.

Um funcionário da antiga “Mesa de Renda”, em Macau, Santos Lima e sua esposa D. Raimundinha moravam na casa vizinha; que também morou Belídson Dias e Emília Soares, Geraldo Morais e D. Maria Lessa e família.

O proprietário da casa vizinha era o Sr. José Teotônio de Melo, da qual foram inquilinos Fernando Souza (filho de Chico Celestino e Maria Quirino) e José de Deus e Nildinha Mendes.

Nessa casa havia morado um sargento da polícia chamado José Jacob Pereira. Após seu falecimento continuaram morando sua esposa Clotilde (Tudinha) e sua filha Iolanda (Ió).

O Coronel Pedro Jacob era pai do sargento e morava na casa vizinha com sua esposa Chiquinha. Havia na fachada daquela casa uma inscrição desconhecida por todos: “VSF”. O comerciante Pedro Kefffas Oliveira (Pedro da Farmácia), sua esposa Mundinha e a prole de nove filhos também residiram na mesma casa.

Adroaldo Macêdo, D. Claudina e suas filhas residiram por um curto tempo na casa que depois fora vendida ao casal Sr. Piloto e D. Chiquinha.

A professora Aurora Vieira (Lalá), sua mãe Zefinha e seu primo Louro, com a presença diária de uma figura folclórica chamada “João Perdido”. Também morou ali D. Maria Galego.

A casa era de D. Calú Freire que vendeu a Francisquinho e Zulmira, os pais da cabelereira Lilita Dias, que na mesma casa estabeleceu seu salão de beleza para receber as lindas mulheres assuenses, inclusive, a conterrânea radicada no Rio de Janeiro, Núbia Lafayette.

Vizinho, morava a família do casal Tico-Tico e Vicência.

Por coincidência, ao lado, tinha outra Vicência, mas seu marido era Sr. João.

Dentre essas personalidades inigualáveis, tinha o rábula Dr. Lou – João Marcolino de Vasconcelos e Engrácia.
O casal que fornecia leite para a vizinhança, Sr. Lair e D. Palmira, também moravam lá com a filha Maria Helena e irmã Noêmia.

João Vicente e D. Buguinha, os pais de Francisquinha que depois residiu na mesma casa com sua família.
A costureira e bordadeira Maria das Vitórias Wanderley.

Sr. Eduardo Wanderley e D. Milu, sua esposa. O então prefeito Walter de Sá Leitão, com sua esposa D. Dilina e os filhos.

Residiu ali também o agropecuarista Zequinha Pinheiro e sua esposa D. Lília. Após a mudança deles para o Rio de Janeiro, a casa foi reformada e passaram a morar lá Lauro Leite, D. Elita e filhas. Maria Olímpia Oliveira (Maroquinha) passou uma temporada de 1968 na mesma casa. O ex- gerente do Banco do Brasil Antônio Pereira e D. Maria Neide, bem como o ex-prefeito Walter de Sá Leitão também residiram lá com suas famílias. Por fim, o dentista José Mariano da Fonseca, sua esposa Socorro Leite e filhos.

Manoel Chicó era o proprietário. Sr. Vicente Avelino e D. Nila Oliveira foram os primeiros moradores da casa, após a saída do proprietário. Depois chegou a família de Heitor Cabral e, por fim, os irmãos Beltrão, Maria Helena e Verônica.

O médico e ex-prefeito Ezequiel Epaminondas da Fonseca Filho também residiu ali e proporcionou indeléveis momentos políticos.

O principal trampolim político era a imponente residência do médico e líder político, primeiro prefeito constitucional, Dr. Pedro Soares de Araújo Amorim e sua esposa Maria Beatriz Montenegro Amorim; esta era tia de Edgard Borges Montenegro, que com sua esposa D. Maria Auxiliadora e filhos foram os sucessores.

Na esquina com o “beco” de Dr. Amorim, estava a casa onde funcionou no ano de 1884 o Teatro São José, dando continuidade à rua. Naquela casa residiu o Coronel Antônio Germano da Silveira e, posteriormente, o seu genro Sandoval Martins de Paiva e sua filha Maria Edite Germano com os filhos.

O Sr. José Cabral, homem alto, muito magro e esguio morava logo após.

Vizinho a ele, residia o Sr. Geraldo Dantas, funcionário do Banco do Brasil e figura de destaque nos carnavais como Rei Momo “vitalício”, com sua esposa D. Judilita Tavares e filhos.

Fernando Tavares, fazendeiro, agropecuarista do tempo do “império do algodão e cera de carnaúba” bem sucedido residia naquela casa com sua esposa D. Celeste e seus doze filhos. Vem-Vem também recebeu ali importantes figuras, inclusive, seu compadre e amigo Dix-Sept Rosado, com quem, no brutal acidente, faleceram juntos.

Naquela casa, que também era de Sr. Vem-Vem, moraram os filhos solteiros dele e, por último, seu genro Edmilson Caldas e sua filha Gelza com os filhos.

O atual patrono da rua, Manoel Pessoa Montenegro, morava com sua esposa D. Maria (Marieta) Lacerda e seus filhos. Em Nova Parnamirm, existe uma referenciada avenida da qual D. Maria Lacerda é patrona. Posteriormente, João Batista Lacerda Montenegro (filho do casal), sua esposa Lourdinha e filhos moraram na mesma casa.

O Juiz de Direito Dr. Pedro Viana morava vizinho. Depois, José Montenegro e a família residiu lá.
Por um curto tempo, a família do comerciante Chico Celestino e D. Maria Quirino morava vizinho. Após a saída deles, chegou Araci Bezerra.

Também morava nessa rua uma pessoa de apelido Bioto, que era motorista de Antônio Niquinha.

Ewerton Bezerra, sua esposa D. Izalmir e filhos moraram vizinho. Após eles, chegou a família de Agenor Cacho Galliza e Aparecida (Cidinha) Torres Galliza, do Cartório.

José Camilo e D. Benigna Machado também moraram com sua família.


Vizinho a eles, estava a família de Edinor Machado e D. Letícia Bezerra.

Naquela casa residiu uma figura inesquecível do Assu religioso: o sacristão Antônio Félix e sua esposa D. Maria Madalena. Continuou lá a família de sua filha D. Maria Heloísa e o esposo Sr. Chico de Ernesto. Houve um acontecimento inusitado que foi o casamento de dois pedintes: "Castanha Chôcha e Cachorrinha de Borracha", e a casa de Sr. Antônio Félix serviu para a arrumação da noiva.

Além de Chico Celestino e D. Maria Quirino que também morou na casa vizinha, teve Mazinho (funcionário do Banco do Brasil) e sua esposa Salete Soares.

Essa casa era desabitada, de propriedade dos Soares de Macêdo, mas Maria Clara Oliveira (Maria Carteiro), mãe de Pedro da Farmácia, também morou lá.

Denotando luxo e riqueza, fazendo jus a sua denominação, o “Castelo” abrigou várias famílias, dentre elas: a de Enéias Caldas e D. Neófita, pais de Renato Caldas, lugar onde ele nasceu; a de João Celso Filho e D. Maria Leocádia de Medeiros Furtado da Silveira, época de muita fartura e alegria naquele sobrado, também nasceram lá os filhos do casal; e a de Abel Fonseca e D. Iracema Borges. Dolores da Silveira, filha de João Celso Filho, conta em seu livro que no porão havia muitos malões de frutas que eram colhidas no Camelo, fazenda de sua família.
Vizinho a eles morava Sr. Pedro Adelino e família.

Seguido de Francisco (Chico) Morais e Dulce Sá Leitão.

Na descida para o Macapá, era a casa de Augusto Sá Leitão (de Lula) e D. Maria Laura. Tinha o “beco” dividindo e, logo na esquina, a casa do imortal João Lins Caldas, onde ele desfrutava de sua solidão.

Do lado do nascente, na esquina com a Senador João Câmara, era a Limeira. Depois, a Farmácia Continental de José Diógenes.

Descendo a Manoel Montenegro, chegava à Igreja Católica Apostólica Brasileira, que tinha como bispo Dom Alexandre Martins de Carvalho, conhecido como Xandu, residente na Praça do Rosário.
O Supermercado de David Know e Aline Madruga, grandes entusiastas da safra do melão.

O casal Cristóvão Tavares (Totó) e D. Sebastiana (Sebasta) moravam com sua família. Vale ainda ressaltar a figura de seu filho João Crisóstomo, dramaturgo, professor, técnico em datilografia.

Na esquina do “beco da prefeitura” era a casa de Francisco Ximenes e Francisca Dias, que depois fora vendida a Lico Moreira e Dinah.

Do outro lado era instalada o posto da TELERN, que servia aos beneficiários do centro.
A garagem da prefeitura abrigava o carro Veraneio.

A casa e armarinho de Cícero França e D. Consuelo e família.
Duas irmãs Iracema e Giselda Wanderley residiram lá, bem como João Batista Mafaldo e Laurita Leite, D. Nila Oliveira.

Ainda residindo no Rio de Janeiro, Zequinha Pinheiro iniciou a construção de sua casa preparando-se para o seu regresso em 1951. Depois a casa fora alugada ao Tenente Adilson e sua esposa, a professora Zélia Chediak. O odontólogo Dr. Bevenuto Gonçalves e Gracinha estabeleceram consultório e residiram lá. Após um tempo, Salete e José Nazareno, sobrinhos dos proprietários, retornaram.

Existia a Torrefação do Sr. José Dias da Costa e D. Anita Caldas.
A casa de Sr. Galego e D. Quena.

A casa do proprietário da loja Varieté, Manoel Rodrigues Peixoto e D. Auta e família.
A casa e mercearia de Chico Batista.

O inventor do primeiro nome dessa rua foi, sem dúvida, um indivíduo com a visão fixada na posteridade. Pensou nas flores no sentido real e figurado: haviam muitas flores cultivadas por velhos moradores; as flores mais importantes e destacadas foram as formidáveis criaturas que residiram nessa distinta artéria de nossa terra. Famílias multiplicaram sua descendência, comércios obtiveram prosperidade, amizades foram laçadas e cada vez mais tornaram-se firmes. Salve a Rua das Flores, Siqueira Campos, Floriano Peixoto, Manoel Montenegro! Salve os seus moradores!

Por Pedro Otávio Oliveira

(Neto de Pedro da Farmácia, residente da Manoel Montenegro)
Roberto Meira
PANORÂMICA - Serie
Rua Pref. Manoel Montenegro, — em Assu.
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Ministério da Economia promete aplicar reajustes a 253 mil servidores em janeiro


Ao que tudo indica, uma boa parcela dos servidores federais terá direito ao reajuste previsto sobre o salário de janeiro de 2019. O Ministério da Economia antecipou durante a semana que, apesar de a folha de janeiro não estar fechada, o governo vai cumprir a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que suspendeu a medida provisória (MP) que adiava a aplicação da parcela prevista para janeiro de 2019.

Ao todo, 21 carreiras e cargos terão seus vencimentos elevados com percentuais que variam entre 4,5% e 6,31%. No total, 253 mil servidores ativos e inativos serão beneficiados.


Segundo o ministério, somente uma reviravolta no andamento do processo que tramita no STF fará com que o governo federal congele a aplicação do que está previsto nas leis que regularam os reajustes. A MP 849, de agosto do ano passado, determinava o adiamento da parcela remuneratória por um ano. A medida assinada pelo então presidente Michel Temer previa o pagamento somente em janeiro de 2020.

O adiamento foi defendido pela equipe econômica de Temer como uma forma de aliviar o déficit fiscal do governo. A previsão era de economia de R$ 4,7 bilhões diante do congelamento da folha.

A MP ainda prevê o adiamento de reposições salariais para servidores vinculados ao Magistério federal. Esse aumento, porém, está previsto para ser aplicado — caso a MP siga suspensa — somente em agosto de 2019.

terça-feira, 15 de janeiro de 2019

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Acari-RN, Cidade Mais Limpa do Brasil! Como é grande nosso amor por você!

Foto: Ivelito Cabral
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FOTO HISTÓRICA DA SEMANA – BOB KENNEDY EM UM CANAVIAL DE CARPINA, PERNAMBUCO, EM NOVEMBRO DE 1965.


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Robert Francis Kennedy, apelidado de Bobby, ou Bob, e também RFK, foi procurador-geral dos Estados Unidos de 1961 até 1964 tendo sido um dos primeiros a combater a Máfia, e Senador por Nova Iorque a partir de 1965. Ele foi um dos dois irmãos mais novos do presidente dos Estados Unidos, John F. Kennedy, e também um dos seus mais confiáveis conselheiros, Robert Kennedy acompanhou ativamente com o presidente a crise dos mísseis cubanos e fez uma importante contribuição no movimento pelos direitos civis dos afro-americanos. Era católico como o irmão.
Segundo Vandek de Souza, do Diário de Pernambuco, em novembro de 1965 Bob Kennedy esteve no Nordeste do Brasil. Foi à Zona da Mata pernambucana, na cidade de Carpina, onde da janela da Cooperativa Mista de Trabalhadores Rurais fez um discurso defendendo “a urgente organização dos trabalhadores em sindicatos e associações” para “tornar possível a reforma agrária”. Caminhou pelos canaviais ao lado do padre Crespo. Conversou com camponeses, perguntando se eles recebiam o salário mínimo, e até repreendeu o proprietário José Jaime Coutinho, por interferir na conversa: “O diálogo é comigo”. Depois veio ao Recife, onde discursou no Centro da cidade e na SUDENE, nesta ordem. “O progresso de toda a América Latina repousa, em larga escala, no progresso do Brasil. E o futuro do Brasil, por seu turno, depende do Nordeste, que é um país dentro de um país”, afirmou na SUDENE.
Esteve em Natal, onde foi recebido pelo Governador Aluízio Alves. Circulou junto com sua esposa Ethel e Aluízio em um jipe pelas ruas da cidade, enquanto era acompanhado e ovacionado de maneira intensa pelos natalenses. Aqui inaugurou na Cidade Alta a praça que até hoje leva o nome do seu irmão, bem como o Instituto Presidente Kennedy. Na inauguração desse último local havia um palanque bem fraquinho e que não ajudaria a propagar seu discurso. Sem muitas delongas subiu junto com a esposa e Aluízio em um dos telhados do Instituto e de lá falou a vontade.
Três anos depois Robert Kennedy anunciou a sua campanha para ser nomeado candidato à presidência pelo Partido Democrata. Kennedy vence as primárias do estado da Califórnia e o sonho de ser Presidente dos Estados Unidos se tornava possível. Mas no dia 5 de junho de 1968, o senador e pai de 10 filhos (sua mulher Ethel estava grávida do 11º), foi gravemente ferido por dois disparos na cabeça em um hotel em Los Angeles, onde comemorava os resultados das eleições da prévia dos Democratas. O assassino era um palestino imigrante de nome Sirhan Bishara Sirhan. Bob Kennedy morreu no hospital na manhã do dia seguinte, 6 de Junho, estando sua esposa Ethel ao seu lado. Tinha apenas 42 anos.
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terça-feira, 8 de janeiro de 2019

Por João Lins Caldas, poeta potiguar 

Como eu quisera viver a vida.
E a desiludida,
Desiludida,
Vai de descida...

Chega-se um dia, flor acabada;
Viveu-se a vida.


O CEGO DE CAICÓ QUE DESCOBRIU A SCHEELITA E O URÂNIO NO RIO GRANDE DO NORTE

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Joel Celso Dantas
Material baseado em sua maior parte no texto de Murilo Melo Filho, com fotos de Carlos Kerr e publicado na Revista Manchete, da Editora Bloch, edição de 18 de maio de 1957, disponível na Biblioteca Nacional (http://memoria.bn.br).
Eis uma daquelas histórias dignas de um roteiro de filmes inspiradores (daqueles que o começo se inicia com “baseado em fatos reais”).Trata-se da história de Joel Celso Dantas, que foi o descobridor da scheelita e do urânio no Nordeste. A história da sua vida é um comovente exemplo do quanto pode a obstinação de um nordestino, por descobrir e provar a ocorrência das incalculáveis riquezas e jazidas de minérios escondidos no subsolo de sua terra. Alguém já bem o disse que devemos ler biografias de grandes homens. É uma interessante síntese biográfica de uma grande homem desconhecido. Nordestino, potiguar, caicoense!.
A Revista Manchete contou a história de Joel Dantas em 1957 quando ele estava no Rio de Janeiro, na Casa de Saúde Santa Maria, nas Laranjeiras, tentando recuperar sua visão. Acompanhemos.
Ele nasceu em Caicó, aos 7 anos ficou cego por causa de uma queratite (opacificação da córnea).Foi ao Recife se tratar, mas voltou desiludido: ficara uma pequena réstia de visão embaçada, para a qual de nada adiantaria o uso de óculos.
Fez questão, porém, de continuar frequentando a escola, mesmo como ouvinte, apenas. Pedia aos colegas e amigos que lessem livros para ele. ”comecei a gostar de livros de ciência”, contou a revista. E passou a interessar-se pela Física. Pensou na sua própria cegueira e dedicou-se ao estudo das lentes. 10 anos depois, conseguiu fazer uma combinação de lentes que lhe restituiu um pouquinho de visão. ”senti um contentamento enorme, quando vi uma letra novamente”.
Revista Manchete, Editora Bloch, edição de 18 de maio de 1957.
Habituou-se, desde então, a uma leitura penosa. Das várias lentes combinadas, chegou a perfeição de um aparelho chamado “conta-fios”, através do qual lia letra por letra, mas lia. Assim, penosamente, já havia conseguido devorar centenas de livros. Soletrava. Se era interrompido no meio da palavra, tinha de recomeçá-la para pegar-lhe novamente o sentido. Tinha uma ortografia própria, pois a cegueira o atingiu numa idade em que ele não tinha aprendido a escrever.
Sua mãe gostava de colecionar pedras bonitas em casa. Quando saía, levado por ela, para fazer passeios pelo sertão, apanhava seixos nas estradas e trazia-os para apalpá-los e estudá-los. Casou-se aos 19 anos e em 1935 leu o primeiro volume de mineralogia.
Como descobriu a primeira scheelita
Passou a analisar aquelas pedras, no fundo do seu quintal, ajudado pela mulher. Ganhava, então, 200 mil réis por mês, dos quais ainda tirava uma parte para construir forjas rústicas. Nas análises, encontrava ouro, ferro, titânio. “Eu não sabia que a Natureza não poderia ter sido tão madrasta com o Nordeste, ao dar-lhe apenas seca, falta de chuvas, misérias, privações. Aquelas pedras tão abundantes devia ter algum valor”, disse Joel.

Cristais de scheelita do Monte Xuebaoding, Sichuan, China – Fonte – http://www.patrickvoillot.com/pt/sheelita-208.html
E tinham.
Através delas, Joel Dantas chegou a certeza da existência de maiores possibilidades minerais: aquelas rochas matrizes, pelas suas características, deviam possuir maiores quantidades de minérios. Toda aquela região inóspita era um imenso lençol de riqueza subterrânea.
Em 15 de outubro de 1941, mesmo lutando contra a cegueira, Joel Dantas conseguiu descobrir, na fazenda Riacho de Fora, a primeira scheelita: uma pedra desconhecida, muito pesada, diferente de todas as outras. “Não vale nada”, disseram-lhe. Na Paraíba, um comerciante ofereceu  50 centavos pelo quilo. Joel indignou-se: “imagina: 50 centavos por um quilo de tungstênio, o minério que vai revolucionar o mundo”.
A primeira fase da batalha
Padre Cônego Luiz Gonzaga do Monte
Havia em Natal um padre sábio
que acreditou nele, era o Padre Monte (irmão de Dom Nivaldo Monte, 1918-2006, arcebispo de Natal entre 1967 e 1988. Mais sobre esse religioso veja – ). Apesar desse depoimento autorizado, ninguém acreditava naquela história. Joel Dantas saiu pelo interior a fazer propaganda de sua descoberta, para ver se os fazendeiros se interessavam por ela. Descobriu nada menos de uma tonelada e meia do minério, nos mais diferentes pontos da região.
O Ministério da Agricultura, no Rio de Janeiro, terminou finalmente confirmando o seu laudo: aquelas pedras eram realmente scheelita. Estava ganha a primeira batalha. Faltava o resto: a batalha pela exploração. Mas, esta seria bem mais fácil, pois, não faltariam logo os proprietários de terra que se interessariam por ganha dinheiro.
Isto se verificou, realmente, com dezenas deles, inclusive o famoso desembargador aposentado Tomás Salustino, que já estava ganhando centenas de milhões de cruzeiros com a sua mina Brejuí. A primeira pedra do desembargador foi levada a Joel Dantas, por intermédio do governador do Rio Grande do Norte a época, Dinarte de Medeiros Mariz. Ninguém acreditava nela, pois, tinha forma de areia. Mas, Joel disse que se tratava de scheelita de boa qualidade. O desembargador se convenceu e tratou de explorar sua mina, transformando-se numa das maiores fortunas do país.
Fonte: Revista Manchete, 1957.
Constatou a presença de urânio de alto teor, numa extensão de 10 quilômetros no litoral nordestino, por intermédio de um aparelho  Geiger, que o almirante Álvaro Alberto lhe mandou de presente.
Enquanto isso, o cientista continuava cego e passando privações. Já havia localizado centenas de minas de berilo, columbita, tantalita, abrigonita, granada, bismuto, estanho, florita e outros. Diariamente, chegavam-lhe as mãos, na sua casa em Natal, dezenas de pedras para análises, vindas de todos os Estados do Nordeste. Ele as analisava e classificava criteriosamente.
Em 1957, aos 38 anos, Joel Dantas já havia feito mais de 20 mil anotações de análises, demonstrando a existência de reservas incomensuráveis de minérios, em toda a região nordestina. Mas, pelo seu trabalho, muitos dos que o procuravam e que depois ficaram milionários à custa dos seus laudos, nem se lembravam de pagar 100 ou 200 cruzeiros. Por isto, Joel Dantas continuava pobre, ele que tinha dado riqueza a tanta gente! (MANCHETE, 1957, p.37-39).
“Eu vi”
Joel Dantas antes da cirurgia.
Em 1957 Joel Dantas se submeteu a um transplante de córneas. “Eu vi”, disse Joel Dantas, ao sair da sala de cirurgia. Contava 38 anos, dos quais 30 como cego. A cirurgia foi feita pelo Dr. Abreu  Fialho.
Chegou ao Rio de Janeiro depois de uma campanha feita por um jornalista (a revista não cita) e o médico Xavier Fernandes, diretor da Divisão de Organização Hospitalar do Ministério da Saúde, tendo que se submeter a um intenso tratamento pré-operatório, pois, estava pensando 45 quilos e queimado dos pés a cabeça pelas emanações radioativas das amostras de minérios que ia descobrindo e pesquisando.
“Eu vi”. Joel Dantas guardou a confissão para fazê-la em primeiro lugar a sua mulher e ao jornalista que o  ajudou (a revista manchete não cita o nome de ambos).
– Viu o quê?
– Vi um clarão imenso, logo seguido pela formação nítida de certas imagens. Vi o bisturi na mão do Dr. Fialho, antes mesmo de que ele me enxertasse a outra córnea. Foi indescritível a sensação de ver pela primeira vez ( destaque nosso pela tomada de emoção com o referido relato ao escrever o mesmo).
No entanto, a confirmação do sucesso do transplante só poderia ser confirmado uma semana depois, até lá Joel Dantas deveria ficar com vendas nos olhos a fim de assegurar a cicatrização mais rápida.(MANCHETE, 1957,p.27).
Joel Dantas foi o descobridor do petróleo em Macau em 1950 (MANCHETE, 1974, p.24). Os detalhes dessa descoberta é assunto para outra postagem.
Joel Dantas sendo operado.
Joel Celso Dantas
Joel Celso Dantas foi o cientista, potiguar, cego, que estudou Física e Química, através de um sistema de lentes combinadas que ele mesmo inventou e por meio das quais lia penosamente, letra por letra. Foi assim que devorou de zenas de tratados de mineralogia e geologia, chegando a conclusão de que no Rio Grande do Norte e o estados vizinhos do Nordeste possuíam um imenso lençol subterrâneo de minérios.
Fonte: Revista Manchete, 1957, 1974.
De: https://tokdehistoria.com.br
UMA VEZ
Por Virgínia Victorino (1898 - 1967)
Ama-se uma vez só. Mais de um amor
de nada serve e nada o justifica.
Um só amor absolve, santifica.
Quem ama uma só vez ama melhor.
Qualquer pessoa, seja lá quem for,
se uma outra pessoa se dedica,
só com essa ternura será rica
E qualquer outra julgará pior...
Há dois amores? Qual é o verdadeiro?
Se há segundo, que é feito do primeiro?
Esta contradição quem foi que fez?
Quem ama assim julga que amou;
mas pode acreditar que se enganou
ou da primeira ou da segunda vez?
________________in, Namorados, 1938
FAZENDA LAGINHA

É o galo no terreiro
O guiné corre no mato,
Muito pinto com galinha
O avoete no prato,
Pavão abre lindas asas
Patinho, pata e pato.
É o café bem pilado
Bem socado no pilão,
E tem ponche bem gostoso
Feito da fruta limão,
O almoço enfarofado
Macassar é o feijão.
Chapéu de palha acabado
Chinelo sola batida,
Bela vassoura de palha
Pimenta ao leite curtida,
Tem xique-xique, o sodoro
Animal lambe ferida.
Linda lembrança que tenho
É da safra do algodão,
Do banho bom no açude
E da água do cacimbão,
De quando eu era menino
Nas quebradas do sertão.
Marcos Calaça, jornalista cultural e poeta matuto.
Fazenda Laginha. Foto recente.
______________Em, O Jornal, do Rio de Janeiro, 15 de janeiro de 1922

sexta-feira, 4 de janeiro de 2019

Carrego o anseio na leveza das mãos
e o incenso na cor dos olhos.
A vida não me deixou espaço para as ilusões,
percebo o quão frágeis são as minhas maquilhagens.
Escrevo tanto quanto guardo a minha voz,
nada me foi fácil ou grácil; apenas a nudez
de quem caminha célere sem qualquer chão.
Foram tantos os quadros que pintei
nos sonhos murmurados no silêncio do meu pensamento.
Olhando o horizonte limitado pela realidade, cobro-me de incertezas
Não sei quem sou.
Sou difícil de entender,mais difícil de definir.
Tatuados na imperfeição do meu ser
pinto com palavras coloridas
os sonhos que em segredo me vestem a alma.
Descobrindo em cada um, que ainda estou viva.
Sou eu apenas, em segredo.
Em segredo me dou e em segredo me reencontro.


(Cristina Costa)

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