Rostand Medeiros – Historiador, escritor e membro do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte – IHGRN
Publicado originalmente no livro Sobrevoo – Episódios da Segunda Guerra Mundial no Rio Grande do Norte, de Rostand Medeiros, Natal-RN:Editora Caravelas, 2019, págs. 283 a 305.
Seu nome era Francisco Inácio, estava na meia idade, era conhecido na região de São Paulo do Potengi como um homem sério e trabalhador[1]. Seu Chico Inácio, como todos o chamavam, possuía uma pequena propriedade rural no agreste do Rio Grande do Norte conhecida como Fazendinha, que teria meros 50 hectares. Essa diminuta gleba ficava próximo a um arruado chamado Lagoa dos Paus e fazia fronteira com a grande e poderosa fazenda Lagoa Nova, um latifúndio com cerca de 11 mil hectares pertencente ao ex-governador potiguar Juvenal Lamartine de Faria, com quem aquele homem simples mantinha uma boa relação.
No dia 10 de maio de 1944, uma quarta-feira, aquele pequeno produtor rural percorria sua gleba realizando as tarefas comuns aos potiguares que viviam da terra e do gado. Cavalgava sua pequena alimária envergando a tradicional roupa de couro, buscando os animais soltos no pasto. Realizava sua tarefa com muito contentamento e alegria, pois naqueles dias a região estava sendo contemplada com muita chuva, verdadeira bênção de Deus. Uma grande fartura depois de dois anos de uma seca braba que queimou a terra e deixou tudo que era bicho e gente passando fome[2].
Por volta das duas da tarde o tempo se encontrava nublado, friozinho. Certamente o vaqueiro pensou que à noite novas chuvas molhariam a terra e relâmpagos cortariam o firmamento. Foi quando ele escutou o som de motores e viu uma aeronave. Mas, diferente de outros raríssimos aparelhos que ele havia presenciado cruzando os céus por ali, Seu Chico Inácio percebeu que a máquina voadora parecia estar com problemas, pois soltava fumaça e o ronco dos seus motores era estranho. Logo viu aquele negócio despencando para o chão e descobriu que não era apenas chuva que caía dos céus.
A máquina bateu com força no solo, em um ponto já nas terras do Dr. Juvenal, não muito longe de onde ele se encontrava. Para seu espanto, uma grande bola de fogo surgiu, seguida de uma fumaça bem preta que marcou o local do impacto e se elevou a grande altura. Prontamente o vaqueiro esporeou seu animal e seguiu para o lugar do desastre.
O que Seu Chico Inácio viu certamente foi muito marcante em sua existência, pois os que o conheceram em vida guardaram na memória a narrativa bem detalhada que ele fez do triste espetáculo.
A máquina aérea tinha aberto um amplo buraco no chão. Tudo ao redor estava queimado, completamente calcinado. Pedaços de metal retorcido se espalhavam por toda a parte, junto com papéis e roupas que saíam de bolsas de viagem abertas pelo impacto. Mas o pior foi ver que aqui e ali apareciam pedaços de corpos humanos mutilados e queimados e sentir o forte cheiro de carne queimada. De uma árvore pendia um corpo sem a cabeça, de outra só a parte superior do tronco era visível, noutro canto uma parte de uma perna. Uma verdadeira tristeza.
Não sabemos, mas é provável que Seu Chico Inácio tenha se perguntado interiormente de onde vinha aquela máquina e quem eram aqueles pobres filhos de Deus que encontraram o fim de sua existência de maneira tão terrível e violenta.
Do Alasca para Belém
Para respondermos a essa pergunta, temos de lembrar que quase três anos antes, após o ataque japonês às ilhas havaianas em 7 de dezembro de 1941, os nipônicos passaram a realizar ataques coordenadamente em vários pontos no território asiático e no extenso Oceano Pacífico. Logo são dominados a Malásia, Hong Kong, Birmânia (atual Mianmar), Filipinas, Singapura e outros locais. Entre dezembro de 1941 e junho de 1942 várias foram as vitórias japonesas e eles mantiveram a iniciativa do confronto até a grande batalha aeronaval de Midway. Ocorrida entre os dias 4 e 7 de junho, esse combate resultou em uma grande derrota para o Japão, com quatro porta-aviões dessa nação afundados pela Marinha dos Estados Unidos. Mas um ponto pouco conhecido e ligado a essa batalha foi o envio de uma força naval japonesa para as Ilhas Aleutas, no Alasca, em 3 de junho. Essas ilhas frias e sem árvores se erguem do Oceano Pacífico como pontos rochosos em um mundo de cinza, sendo cumes de uma cordilheira vulcânica submersa, formando um extenso e estratégico arquipélago em forma de arco, verdadeira extensão do gelado território do Alasca que adentra o Pacífico. O objetivo nipônico ao invadir esse gélido local era tentar atrair as forças militares americanas que se concentravam na região da Ilha Midway e dividir a Frota dos Estados Unidos do Pacífico. Os nipônicos atacaram as Aleutas bombardeando a base de Dutch Harbor e capturando as Ilhas de Attu e Kiska. Entretanto, essa ação diversionista japonesa não surtiu o efeito desejado.
Somente onze meses depois, em 11 de maio de 1943, as forças militares americanas iniciaram uma operação para recapturar Attu. Entre as forças de apoio a esta invasão estava um esquadrão aéreo da Marinha americana, batizado como VP-45. Este havia sido criado meses antes e contava como força de combate seis hidroaviões Consolidated PBY-5 Catalina.
Após a total reconquista de Attu, o VP-45 recebeu diretamente da fábrica da Consolidated mais seis PBY-5 e continuou atuando na região realizando principalmente patrulhas marítimas.
Em 10 de julho de 1943, quatro Catalinas desse esquadrão decolaram de Attu e seguiram em direção ao Japão, onde o grupo realizou um bombardeio noturno à Ilha de Paramushiru, a segunda maior ilha do arquipélago das Ilhas Curilas, ao norte do território metropolitano japonês e hoje ocupado pelos russos.
Para alguns pesquisadores americanos, essa ação colocaria o VP-45 como o primeiro esquadrão da Marinha dos Estados Unidos a atacar diretamente o território das ilhas japonesas. Mas existem controvérsias sobre essa missão, pois as bombas foram lançadas à noite através do uso do radar, com tempo nublado e resultados desconhecidos.
Logo após o Ano Novo de 1944, mais precisamente no dia 3 de janeiro, o esquadrão recebeu o capitão Calder Atkinson como seu novo comandante. Este era um jovem de 29 anos, nascido na cidade de Wilmington, no estado da Carolina do Norte, que estudou na New Hanover High School e se formou em Engenharia Mecânica em 1936 na Universidade da Carolina do Norte (UNC), em Chapel Hill. O comandante Atkinson então recebeu ordens de partir da gélida Ilha Attu com seus hidroaviões e suas tripulações em direção aos Estados Unidos a partir de março de 1944. Receberam doze novos hidroaviões Catalina do modelo PBY-5A e passaram algum tempo treinando e patrulhando as águas da Flórida. Em 29 de abril de 1944, novas ordens informavam a transferência do VP-45 para a caliente Belém, no estado do Pará, Brasil.
Por essa época, a ação dos submarinos nazistas na costa brasileira e no Atlântico Sul era já bem reduzida. Iam longe os chamados “Dias Felizes”, quando as tripulações dos submersíveis alemães haviam implantado o terror, a morte e a destruição nas rotas de navios cargueiros Aliados com ações bélicas verdadeiramente tenazes e audaciosas. Mas a guerra ainda continuava e os militares americanos tinham uma missão a cumprir. Para melhor cobrir sua área de patrulha antissubmarino, o comandante Atkinson deslocou Catalinas do VP-45 para destacamentos avançados no Amapá e em São Luiz, Maranhão.
No Brasil, o comandante Atkinson está sob o controle operacional da Fleet Air Wing 16(FAW-16), unidade que comandava as operações aéreas da Four Fleet, a chamada 4ª Frota da Marinha dos Estados Unidos operando no Atlântico Sul. Em nosso país essas organizações militares americanas tinham sede em Recife, estavam sob o comando do almirante Jonas Howard Ingram e trabalhavam em conjunto com a Marinha do Brasil para a proteção das nossas costas e do tráfego comercial marítimo.
Onze dias após a chegada ao nosso país, às sete da manhã do dia 10 de maio, vamos encontrar o comandante Calder Atkinson sentado na cabine de comando de um PBY-5A, preparando-se para decolar do Campo de Val de Cans com destino a Recife. Atkinson e sua equipe deveriam se apresentar ao comandante da FAW-16, Rossmore D. Lyon, e obter material necessário para o bom funcionamento do seu esquadrão. Era apenas um voo administrativo, no qual além do comandante Atkinson estavam a bordo outros nove militares, entre estes dois oficiais fuzileiros navais. Aparentemente seu copiloto era o tenente John Weaver Shoyer, de Wynnewood, Filadélfia, que havia sido executivo de uma companhia de seguros e se alistou em junho de 1942.
'Mais cedo ou mais tarde, o que você plantou vai florescer.'
Brizola governou dois estados, comandou a resistência ao Golpe de 1964 e quase foi presidente do Brasil
VALENTINA NUNES PUBLICADO EM 21/07/2019
De família muito pobre, o gaúcho Itagiba de Moura Brizola só mais tarde virou Leonel, ao adotar o nome de um líder maragato da revolução gaúcha de 1923. Filho de José de Oliveira e Onívida de Moura, Brizola nasceu em 22 de janeiro de 1922, no pequeno povoado de Cruzinha, no município de Carazinho, cidade do Rio Grande do Sul que na época pertencia a Passo Fundo. Dali saiu para se tornar técnico rural, em 1939, e se formar em engenharia, em 1949, mas não sem antes trabalhar como engraxate e, depois, como ascensorista.
Um dos principais opositores da ditadura de 1964, e um dos líderes da esquerda brasileira, com intensa atuação na política até sua morte em 21 de junho de 2004, Brizola, segundo o Diário Oficial da União, entrou em 29 de dezembro de 2015 para o Livro dos Heróis da Pátria, que fica em exposição permanente no Panteão da Pátria, em Brasília, e homenageia pessoas que tiveram papel importante na história do Brasil.
Sua trajetória política começou entre 1945 e 1949, enquanto estudava engenharia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul e já fazia parte do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB). Em 1947, foi eleito deputado estadual; tendo sido reeleito em 1950, cumpriu o mandato por um ano até ser nomeado secretário estadual de Obras.
Brizola retorna do exílio, em Foz do Iguaçu / Créddito: Reprodução
Na época, Brizola já namorava com Neusa Goulart, irmã do também deputado estadual petebista João Goulart, o Jango, mais tarde eleito vice-presidente da República na chapa de Jânio Quadros. De seu casamento com ela nasceram três filhos.
Em 1954, foi eleito novamente pelo PTB, dessa vez deputado federal, chegando à prefeitura de Porto Alegre no ano seguinte. Eleito governador do Rio Grande do Sul com imenso apoio popular, em 1958, adotou medidas impactantes. Entre elas a implantação da reforma agrária e a estatização de empresas multinacionais. Em maio de 1959, o governo gaúcho encampou a Companhia de Energia Elétrica Rio-Grandense, filial da norte-americana American & Foreign Power Company.
A trajetória nacional de Brizola como líder de esquerda começou a se consolidar a partir da renúncia do presidente Quadros, em agosto de 1961. Diante do veto dos ministros militares à posse do vice, João Jango Goulart, o caudilho gaúcho ocupou as rádios Guaíba e Farroupilha, em Porto Alegre, para formar o que chamou de Cadeia da Legalidade. O objetivo de Brizola era aglutinar as forças populares.
Governador do RJ, Brizola trocou arma de brinquedo por livros para as crianças e fez uma fogueira para comemorar / Crédito: Reprodução
Em 1962, Brizola conseguiu a façanha de se reeleger deputado federal, ainda pelo PTB, mas dessa vez pelo antigo estado de Guanabara, atual Rio de Janeiro. Recebeu 269 mil votos, a maior votação então registrada. Assumiu no ano seguinte a cadeira na Câmara, de onde exigia de Jango, o cunhado presidente, a implantação das Reformas de Base agrária, bancária e tributária.
Cassado pelo golpe militar de 1964, Brizola foi para o exílio no Uruguai. Em 1977, acusado de violar as normas do exílio, foi expulso e acabou indo morar em Lisboa, até 1979. Anistiado e de volta ao Brasil, perdeu a sigla PTB para o grupo político de Ivete Vargas, sobrinha-neta de Getúlio, e, em 1980, criou o Partido Democrático Trabalhista (PDT). Em 1982 foi eleito governador do estado do Rio de Janeiro, sendo reeleito em 1990.
Reportagem retirada do Livro 365 dias de mudaram o Brasil, da autora Valentina Nunes, Editora Planeta do Brasil, (p. 52, 53).
Tomo a liberdade de
compartilhar uma situação que aconteceu comigo com a finalidade de esclarecer
qual conduta tomar nestes casos. A situação se refere a multas de trânsito. Em
duas ocasiões recebi notificações de autuação por infração de trânsito que ocorreram
há muito tempo atrás, a mais de seis meses. Ao receber a notificação do Órgão
de Trânsito toma-se um susto, pois nem se recorda mais se realmente esteve
naquele local ou se realmente cometeu-se aquela infração de trânsito que ali se
encontra descrita.
Fica-se com a sensação de que está sendo
notificado por uma infração à qual não corresponde com a realidade, não foi
realmente cometida. E ai surge a pergunta: o que fazer? Pagar a multa e amargar
a dúvida de estar pagando por algo que talvez não tenha cometido? Ou buscar uma
saída amparada pela legislação? O que a legislação diz nesses casos? A
legislação é muito clara principalmente no nosso Código de Trânsito Brasileiro,
Lei 9.503/97, que diz no parágrafo único do artigo 281 que o auto de infração será
arquivado e seu registro julgado insubsistente se, no prazo máximo de trinta
dias, não for expedida a notificação da autuação. E ainda no artigo 6º da
Resolução 248/2007 do CONTRAN diz que na impossibilidade da notificação nos
termos do § 1º do artigo anterior, será expedida a Notificação da Autuação ao
infrator no prazo máximo de 30 (trinta) dias da data da constatação da
infração.
O que isto significa? Sendo constatada a
infração de trânsito e sendo lavrado o auto de infração, onde se descreve o tipo
da infração, o local, data e hora do cometimento da infração, caracteres da
placa de identificação do veículo, sua marca e espécie, e outros elementos
julgados necessários à sua identificação, este auto de infração deverá ser
expedido e encaminhado ao proprietário do veículo objeto da infração, caso o
condutor não tenha sido identificado no ato, dentro do prazo máximo de trinta
dias a contar da data da infração. Essa é a notificação de autuação de infração
de trânsito. Aqui há uma pequena divergência de interpretação da lei, onde
alguns entendem que esse prazo deva ser contado da data do cometimento da
infração até a data de postagem da notificação. Mas o Superior Tribunal de
Justiça já unificou entendimento de que esse prazo de trinta dias deve ser contado
da data do cometimento da infração até a data de recebimento da notificação
pelo proprietário do veículo.
Caso essa notificação chegue até o proprietário
do veículo posterior ao prazo de trinta dias da data de cometimento da infração
caberá alegação na Defesa de Autuação de que o auto de infração deverá ser
arquivado e seu registro julgado insubsistente em virtude do estado ter perdido
o prazo para notificar o possível infrator. E se mesmo assim, o Órgão de
Trânsito decidir por manter a infração e encaminhar a notificação de penalidade
de multa, caberá ainda Recurso contra tal decisão. E se ainda assim, o Órgão de
Trânsito mantiver a decisão, cabe ação judicial para anular a multa. Sempre
tendo como fundamento o mesmo argumento, de que o Estado perdeu prazo para
notificar o proprietário do veículo que cometeu a infração de trânsito. Este
prazo existe com a finalidade primordial de conferir segurança jurídica aos
supostos infratores, pois a demora é fator de insegurança para os indivíduos
que, porventura, não tenham transgredido a lei e precisem demonstrá-lo no
âmbito do processo administrativo. Quanto mais tempo se passar do dia do
cometimento da infração, mais difícil será para o suposto infrator sustentar
sua defesa. Assim, fique atento quando receber uma notificação de autuação de
infração de trânsito, observe atentamente as datas! Na dúvida, sempre procure
a(o) Advogada(o) de sua confiança!
Advogada com Especializações em Direito do
Trabalho e Processo do Trabalho e Direito Processual. e-mail: kelma.advogada@hotmail.com
Mais do que pelo meu pelo teu perdido prazer
A dor é uma coisa viva no meu coração.
Irmão.
Nós um dia nos encontraremos quando eu morrer.
... E a morte ou a vida tal como estão,
Nossos braços hão de um dia aparecer.
Não, não será um dia quando eu morrer.
Será um dia quando eu encontrar meu irmão.
__________________Em, 'O Jornal', do Rio de Janeiro, 1934.