segunda-feira, 28 de abril de 2014

Artista encanta povoado de Feira de Santana decorando casas com paisagens

Fotografias em tamanho real instaladas por artista em fachadas de casas no povoado de Morrinhos mudam a paisagem e a autoestima da população. Confusão virou rotina entre moradoresThais 

Borges (thais.borges@redebahia.com.br)

http://www.correio24horas.com.br/

Ao sair de casa pela manhã, a lavradora Maria Luísa Lopes, 84 anos, deu uma olhada na fachada de casa. Há um mês, a visão era familiar: paredes brancas e janelas verdes. No fim da tarde, quando voltou, o susto. No lugar da casa estava uma estrada de terra, rodeada por grama e por uma cerca de arame farpado. 

Estava na rua errada? Não. Todos os vizinhos pareciam estar no mesmo lugar - a Rua das Flores, no povoado de Morrinhos, a cerca de 40 quilômetros  de Feira de Santana. Avistou o telhado e viu que o imóvel não tinha desaparecido. Mas... Cadê a porta? 
Dona Doralice, 88 anos, tomou um susto: ‘Pensei que a minha casa tinha sumido’, conta como foi ver o lugar onde mora após o trabalho da artista visual Maristela Ribeiro
(Foto: Amana Dultra)
É verdade que a estrada, a grama e a cerca são comuns em Morrinhos.  Só que, nesse caso, não passava da fachada da casa onde mora desde que nasceu, com uma pitada de ilusão de ótica.
Quem olha rápido – e até quem olha atentamente – pode não perceber que ali existe uma fotografia adesiva, impressa em tamanho real e colada no que antes era a parede branca. A intervenção faz parte de um trabalho da artista visual Maristela Ribeiro, professora do Instituto Federal da Bahia (Ifba). Há um ano, ela  começou um projeto que pretendia mostrar a realidade de Morrinhos aos seus próprios moradores e ao mundo. 
Não, dona Maria Luísa não está numa estrada de chão. Está na frente de sua casa em Morrinhos, Feira. Mais especificamente, na frente da porta - que até ela tem dificuldade de ver
(Foto: Amana Dultra)
Após oferecer oficinas de arte e fotografia à população, Maristela partiu para a última fase do projeto, que começou em dezembro e se estendeu até março. “Não encontrei nenhuma imagem da comunidade, que existe desde 1940. Imaginei trazer a paisagem regional e usar as casas como telhado”, afirma Maristela, que usa o projeto na pesquisa no doutorado em Artes na Universidade Federal da Bahia (Ufba).
Metáfora
Apesar de chamar atenção dos quase 400 moradores e também dos forasteiros, a casa de dona Luísa não é a única: as paisagens de Morrinhos foram transportadas  para outras nove das cerca de 90 residências do local.
“Meu objetivo era que as casas desaparecessem.  Para mim, era uma metáfora sobre o esquecimento do local, sobre como essas pessoas são deixadas de lado e se tornam invisíveis”. Lá, a maioria dos moradores vive em casas de taipa, sem saneamento básico. A principal fonte de renda, além da agricultura familiar, é o Bolsa Família, segundo a pesquisadora.
Morrinhos: cerca de 90 casas, 400 moradores e muito esquecimento
(Foto: Amana Dultra)
José Boaventura, o seu Nonô, é só sorriso após a mudança nas casas: ‘Todo mundo amou’
(Foto: Amana Dultra)
Pois, o objetivo foi alcançado. A casa de Luísa, assim como as outras, sumiu. “Eu demorei para achar a porta, na primeira vez”, lembra. Por sorte, viu o poste que fica quase ao lado da casa. “Agora, olho o poste! A porta fica perto dele”. Até os vizinhos estranhavam. “Perguntavam: cadê a casa de Luísa? Agora, todo mundo está encantado”, orgulha-se.
Confusão
A reação de dona Doralice Lopes, de 88 anos, foi parecida. Seis dias atrás, ela não fazia ideia de que sua casa tinha se transformado em uma cerca que separa a estrada de terra de um rebanho de cabras.
Nos últimos quatro meses, o filho, o lavrador José Boaventura, 68, esteve sozinho na casa de três quartos – ela descansava na casa de outra filha, em Salvador, depois de uma cirurgia “nas vistas”. Quando chegou, não reconheceu a residência onde sempre morou.
“Perguntei: cadê minha casa, gente? Achei que tinha sumido! Quando saí, minha casa era branca. Voltei e estava verde!”, comenta, deslumbrada. Ela nunca tinha visto uma foto em tamanho real. Agora, sentada em um banco de madeira sem recosto, dona Doralice também vê a Rua das Rosas, embora a tal rua não fique ali. O que ela vê, na verdade, é  a fachada de outra casa que reproduz a via do povoado.
Artista Maristela Ribeiro (calça), em frente à casa de dona Doralice (laranja): metáfora(Foto: Amana Dultra)
“Eu nasci, me criei e perdi os dentes em Morrinhos, mas nunca tinha visto uma coisa tão bonita!”.  Acostumado a ouvir promessas de políticos que não se concretizam, o filho dela, seu Nonô, achou que o mesmo fosse acontecer com a nova casa. “A gente pensava que não ia sair nada. Quando ela (Maristela) chegou e jogou o papel, foi que a gente viu. Todo mundo amou”.
Atração
Das dez casas, seis ficam na praça central da comunidade - que também concentra a maior parte da vida do povoado. Quase de frente para a igreja, a cachorra Pintada corre em direção às garças que sobrevoam os mandacarus. Contudo, só a cadela está realmente ali. Garças e mandacarus estão representados na casa da lavradora Joana Lopes, 52.
“O povo vem filmar, gravar, tirar foto. Eu fico até preocupada, do jeito que as coisas estão hoje, né?”, dizia, enquanto um grupo de crianças parava em frente à casa para admirar a paisagem. “Ver a casa assim é bom demais. Pena que a gente ainda não tem condições para reformar dentro, né?”, lamentou, mostrando a parede lateral do imóvel, construída com adubo de barro.  
Hoje, Maristela é reconhecida por onde passa, em Morrinhos. Não é política, nem popstar. Mas, lá, é quase uma celebridade. “No início, eles tinham desconfiança, mas são muito hospitaleiros. Perceberam que seria uma troca, porque eles têm uma estética própria”. E se depender dos moradores, essa estética vai ficar exposta por muito tempo, como garantiu dona Doralice: “Não deixo tirar. Só o tempo pode levar embora”, avisa.
População reclama que abastecimento  de água foi interrompido há 15 dias
Castigados pela seca, os moradores de Morrinhos têm se virado sem água há 15 dias. Para completar, a maioria das casas também não tem saneamento básico. “A gente vai buscar água num tanque duas, três vezes por dia”, conta o lavrador André Batista, 76 anos.
Sem água há 15 dias, moradores de Morrinhos são obrigados a carregar baldes e galões(Foto: Amana Dultra)
O tanque fica a cerca de dois quilômetros do povoado, no terreno que faz parte de uma fazenda da região. Todos os dias, eles caminham até lá com carros de mão e baldes na cabeça. “O tanque é fundo, quase do tamanho do poste, quando está cheio. Mas quem alimenta é a chuva e não está chegando nem nas pernas”, diz, apesar de não saber dizer há quanto tempo não chove.
A água que resta se mistura com a lama do fundo do poço. “Como se não bastasse, a gente disputa com animais que bebem a água. É cavalo, cachorro, porco...”, afirma o lavrador Ivonaldo Barbosa, 30.
Procurada pelo CORREIO, a assessoria da prefeitura de Feira de Santana não deu um posicionamento oficial até o fechamento desta edição, às 20h. Já a assessoria da Embasa, responsável pelo fornecimento de água, não confirmou a informação, devido à paralisação administrativa de 24 horas do órgão, ontem.
Povoado tem cerca de 400 moradores em 90 casas
Localizado no distrito de Jaguara, em Feira de Santana, o povoado de Morrinhos tem quase 400 habitantes, que vivem em cerca de 90 casas. Para chegar até lá, é preciso seguir pela BR-116 e pela Estrada do Feijão.
Apesar de os primeiros moradores terem chegado em 1890, o número de casas só aumentou em 1975, segundo o lavrador André Batista, 76 anos, popularmente chamado de “memória viva” da comunidade. “Só tinha seis casas. Depois, as famílias começaram a chegar e abrir as ruas”

PARELHAS DE ANTIGAMENTE


Fotografia antiga de Parelhas/RN. Foto de José Ariston Neto.

Assu se destaca como a cidade-sede do melhor São João do RN no ano da Copa


O evento feito para comemorar o padroeiro do município São João Batista e as festas juninas compreenderá entre os dias 13 e 24 de junho, festival de sanfonas, comidas típicas, artesanato, quadrilhas juninas e grandes shows musicais que neste ano serão comandados – segundo informação da secretaria municipal de Juventude, Esportes, eventos e Turismo, dirigida por Dailson Machado , por Aviões do Forró, Dorgival Dantas, Amazan, Forró da Pegação, Giullian Monte e Deixe de Brincadeira, Forró dos 3, Giannini Alencar, Zé Sanfoneiro, André Luvi, Forró Resenha, Pode Balançar, Kristal, Lucas Santos, Guilherme Dantas, Farra de Palyboy, Pegada de Luxo e muito forró e arrasta-pé.

A cidade neste período se reveste completamente de alegria e muita devoção. As principais ruas e avenidas, repartições públicas e empreendimentos comerciais são decorados transformando o Assu em um imenso e colorido arrraial. Em 2014, ano da Copa, a decoração será especial tendo como temática “Assu, Cidade-Sede do melhor São João”.

A estrutura em que se apresentam as atrações nacional, regional e local será montada na Praça São João Batista, no espaço do anfiteatro Arcelino Costa Leitão – emoldurado pelo quadro da matriz e o Assu Antigo, com seus casarões seculares e a Arena do Forró – estrutura do tipo circo – espaço que servirá para transmissão dos jogos da Copa e atividades culturais que compreende o projeto do São do João do Assu 2014.

O evento é de forte potencial econômico, aquecendo a economia da cidade em vários setores: comércio, hotelaria, gastronomia e trabalhadores informais, que tem uma renda extra no período.

E para a festa ficar do jeito que todo mundo gosta, a prefeitura do Assu disponibilizará a população e visitantes acesso a todos os shows e apresentações culturais do São João do Assu com segurança e comodidade.

Por Alderi Dantas, 28/04/2014 às 08:56

http://www.alderidantas.com.br/

ASSU ANTIGO

Foto
Assu, importante município do Rio Grande do Norte. Há 100 anos atrás já tonha ares de cidade grande.
Recife antigo

Ponte Duarte Coelho. Primeiramente no local, em 1868, foi construída uma ponte de ferro para que passasse o trem da Maxabomba, mas foi desativada em 1914. Posteriormente, em 1943 é que a ponte atual foi erguida ligando o bairro de Santo Antônio ao bairro da Boa Vista. (FUNDAJ)

domingo, 27 de abril de 2014


Já não sombreia o batente
E a porta velha da frente
O cupim já lhe devora
No sertão que a gente mora
Mora o coração da gente
(Hélio Crisanto)

Copa em Natal: Hotéis em alta; aluguéis em marca lentíssima


Copa em Natal: Hotéis em alta; aluguéis em marcha lentíssima

 
Vinícius Menna - Repórter


(Tribuna do Norte)



O cenário para a Copa do Mundo que era visto como negativo pela hotelaria de Natal, com a devolução de 60% a 80% dos apartamentos reservados pela agência Match, da Fifa, já começa a dar sinais de mudança, ao menos para as grandes redes. Em estudo realizado entre a segunda e a terceira semana de abril, o Fórum de Operadores Hoteleiros no Brasil (FOHB) identificou que entre as redes de Natal há registro de 81% de vendas concretizadas, colocando a capital potiguar na segunda colocação entre as sedes que mais venderam diárias. O índice só é inferior ao do Rio de Janeiro, onde chega a 87%.



De acordo com o levantamento do FOHB, 5 mil diárias foram vendidas em Natal. Conforme o estudo, a capital potiguar ainda dispõe de 15% dos leitos e outros 4% permaneceram bloqueados pela Match. As redes presentes em Natal somam 777 leitos em seis hoteis, segundo o Fórum.
Magnus NascimentoArena das Dunas: estádio da Copa em Natal deve atrair torcedores e potenciais consumidores em junhoArena das Dunas: estádio da Copa em Natal deve atrair torcedores e potenciais consumidores em junho



Entre as grandes redes em Natal, o jogo que mais atraiu hóspedes foi Gana e Estados Unidos, com ocupação de 85% dos leitos. O segundo jogo mais atrativo foi México e Camarões, com 84%, seguido por Japão e Grécia, com 79% das vendas efetivadas. O último colocado foi Itália e Uruguai, que somou 74% dos apartamentos vendidos. Em todos os casos, a conta incluiu o dia do jogo e a véspera.

A capital potiguar só ficou atrás do Rio de Janeiro no estudo apresentado pelo FOHB, somando 87% das vendas concretizadas entre os hoteis associados. O pior resultado foi de São Paulo, que apareceu na pesquisa com 24% dos leitos já vendidos.

A reportagem buscou junto ao FOHB um representante para comentar os números, mas não havia ninguém disponível. Conforme noticiado pelo UOL, a diretora executiva do Fórum, Flávia Matos, atribuiu a situação de São Paulo à alta capacidade hoteleira da cidade que, segundo ela, “pode acomodar muito mais do que uma Copa do Mundo”. Ela considerou o fato da capital paulista ter ocupação motivada pelo turismo de negócios.

Natal


Para não ficarem no prejuízo, hoteleiros que tiveram leitos devolvidos pela Match tiveram que buscar estratégias para atrair hóspedes. Uma delas foi baixar os preços. Embora não informe os valores das negociações, o diretor-presidente do Marsol Hotel, Felipe Lundgren, explica que a redução dos preços foi necessária.

No caso do Marsol, das 3 mil diárias reservadas de 12 de junho a 13 de julho, a Fifa só ficou com 28. Dos 144 apartamentos que dispõe, 100 foram reservados. “Só ficaram com 28 diárias, o que dá uma média menor do que 1 apartamento por dia”, explica.
Emanuel AmaralMaioria dos leitos que a Fifa reservou foram devolvidos, mas empresas têm conseguido virar o jogoMaioria dos leitos que a Fifa reservou foram devolvidos, mas empresas têm conseguido virar o jogo

Optando por baixar preços, ele diz que tem conseguido reverter a situação e hoje já garantiu cerca de 80% da ocupação nos dias de jogos. Por outro lado, no mês, a taxa de ocupação deverá ficar entre 50% a 60%.

O diretor do Hotel Majestic Natal, Abdon Gosson, garante que terá 100% dos 130 apartamentos ocupados de 11 a 26 de junho. “A procura do nosso hotel é exceção. Vamos receber presidentes de companhias aéreas, diretores de empresas, altos executivos, pessoas que querem ficar em um hotel com o nosso perfil”, explica.


sábado, 26 de abril de 2014

ARQUEOLOGIA NA BAHIA

Publicado em 26/04/2014

Lagoa da Velha: pinturas rupestres agora examinadas - Foto - SECULTBA
Lagoa da Velha: pinturas rupestres agora examinadas – Foto – SECULTBA
Edição 215 – Janeiro de 2014 – FONTE –http://revistapesquisa.fapesp.br/2014/01/13/arqueologia-na-bahia/
Por meio de escavação iniciada em novembro de 2012 no sítio arqueológico Lagoa da Velha, no município de Morro do Chapéu, na Bahia, arqueólogos e antropólogos esperam entender melhor como viviam os habitantes daquela região há milhares de anos. As escavações integram um programa de pesquisa e manejo de sítios de arte rupestre da Chapada Diamantina, realizado pelo Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural em parceria com o Departamento de Antropologia da Universidade Federal da Bahia. Originária de bacia sedimentar, com 1,6 bilhão de anos, a Chapada Diamantina é uma das mais ricas regiões do Brasil em cavernas, pinturas rupestres e fósseis animais e vegetais. Na primeira etapa do projeto, os pesquisadores mapearam 67 sítios de pinturas rupestres, onde encontraram objetos lascados que podem dar novas pistas sobre os hábitos dos povos antigos daquela região. A segunda etapa, lançada em julho do ano passado, prevê, além das escavações, a identificação e o estudo das pinturas e gravuras rupestres encontradas. O sítio de Lagoa da Velha faz parte da mesma formação geológica que abriga a serra das Paridas, em Lençóis, onde os pesquisadores já haviam encontrado pinturas rupestres de animais, vegetais, formas geométricas e humanas, feitas com pigmentos vermelhos e amarelos.
Afinal, o que é sonho?
Será querer o impossível?
Sonho é querer?
Que loucura!
Acho que sonho, pode ser
um grito da alma.
Preciso definir o que é sonho!
Sonhar é lançar-se no espaço,
Sonho é mergulhar no infinito.
Sonhar é a vontade de ver de novo.
Não! Isso é definição de saudade!
Sonho, será o mesmo que devaneio?
Se é, para que tanto rodeio!
No meu sonho sou poeta.
Já sei, sonho é ter amizade sincera,
É ter um grande amor nos braços,
É esquecer todos os fracassos.
É dar e receber beijos de ternura,
É fazer do amor uma doce loucura,
É nutrir sentimento bem definido,
É sentir um amor não dividido.
É sentir paixão ardendo no peito!
É isso mesmo!
É assim,
Que eu sonho...
Cristina Costa


ARQUITETURA DO SERTÃO

Publicado em 26/04/2014

Casa da fazenda Sabugi, no Rio Grande do Norte - Foto - Nathália Diniz
Casa da fazenda Sabugi, no Rio Grande do Norte – Foto – Nathália Diniz
Estudo revela a arquitetura rural do século XIX no interior do Nordeste
Juliana Sayuri | Edição 216 – Fevereiro de 2014
O sertão é do tamanho do mundo, dizia Guimarães Rosa. Dizia como ainda dizem os que se enveredam pelos tortuosos caminhos dos rincões nordestinos em busca de histórias, respostas, saberes. Não raro, porém, muitos retornam dessas terras ainda mais intrigados com novas questões. A pesquisadora Nathália Maria Montenegro Diniz mergulhou diversas vezes nesse território. Ali nasceram a dissertação de mestrado Velhas fazendas da Ribeira do Seridó (defendida em 2008) e a tese de doutorado Um sertão entre tantos outros: fazendas de gado nas Ribeiras do Norte (em 2013), ambas realizadas sob orientação de Beatriz Piccolotto Siqueira Bueno, professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP). Nessas empreitadas, ela encontrou não apenas respostas a seus estudos sobre a arquitetura rural do século XIX sertão adentro, mas também questionamentos novos que deram fôlego para um novo projeto de pesquisa, vencedor da 10ª edição do Prêmio Odebrecht de Pesquisa Histórica – Clarival do Prado Valladares, divulgado em dezembro. O projeto O conhecimento científico do mundo português do século XVIII, de Magnus Roberto de Mello Pereira e Ana Lúcia Rocha Barbalho da Cruz, também foi premiado. Os vencedores foram escolhidos entre 213 trabalhos inscritos pela originalidade dos temas. O prêmio inclui a produção e publicação de um livro, sem valor predeterminado.
É difícil desvencilhar a história pessoal de Nathália Diniz de seu itinerário intelectual. De uma família de 11 filhos originária de Caicó, na região do Seridó, interior do Rio Grande do Norte, ela foi a primeira a nascer na capital potiguar. Em 1975, a família mudou-se para Natal – professores de matemática por ofício, os pais pretendiam oferecer melhores condições educacionais para os filhos. Nas férias e feriados todos retornavam à pequena cidade, onde ficavam em uma das casas das fazendas que pertenceu ao tataravô da pesquisadora. “Logo cedo pude notar as visões diferentes construídas sobre o sertão nordestino. As casas que eu via não eram as mesmas retratadas nas novelas de época, da aristocracia rural. Era outro sertão”, lembra.
Graduada em arquitetura e urbanismo pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Nathália quis explorar os outros sertões esquecidos no século XIX, mais especialmente no Seridó, uma microrregião do semiárido que ocupa 25% do território do estado. Lá o povoamento se iniciou no século XVII com as fazendas de gado e o cultivo de algodão. Ainda estudante, deu o primeiro passo nessa direção quando participou de um projeto de extensão que investigou os núcleos de ocupação original do Seridó a partir de registros fotográficos e fichas catalográficas feitas por estudantes e pesquisadores. Descobriram, assim, que essas casas, posteriores ao período colonial, mantinham características herdadas da arquitetura colonial ao lado de elementos ecléticos modernos.
Uma vez bacharel, Nathália viajou a São Paulo para participar de um encontro de arquitetos e deparou com o processo seletivo para mestrado na FAU. Decidiu, então, despedir-se do Nordeste para estudar na capital paulista. “Foi preciso partir para poder redescobrir os sertões”, diz ela. Para seu projeto de dissertação, a jovem arquiteta tinha um trunfo: a originalidade da pesquisa sobre as casas de Seridó. “Quase ninguém conhece aquele patrimônio. Quis apresentar essa realidade nas minhas pesquisas.”
Acervo arquitetônico
Nathália investigou o acervo arquitetônico rural do Seridó, de formas simples e austeras, sem o apelo estético de outros exemplares do litoral nordestino. Essas construções, entre casas de famílias, casas de farinha e engenhos, representam um tipo de economia do século XIX alicerçado no pastoreio e no cultivo de algodão. Embora fundamental para a identidade da região, segundo o estudo, esse acervo composto por 52 edificações conta com poucas iniciativas concretas para tornar viável sua preservação.
Casa da fazenda Almas de Cima, também no Rio Grande do Norte: preservação ainda precária - Fonte - Nathália Diniz
Casa da fazenda Almas de Cima, também no Rio Grande do Norte: preservação ainda precária – Fonte – Nathália Diniz
No início do século XVII, com o povoamento do interior do Rio Grande do Norte, sesmeiros pernambucanos fincaram raízes no Seridó. Foi no século XVIII que surgiram as casas na região feitas de taipa, com madeiramento amarrado com couro cru, chão de barro batido e térreas, com telhado de beira e bica. Lentamente, as casas de taipa passaram a alvenaria, com tijolos apenas na fachada. Por fim, no século XIX, o Seridó ficou marcado pela construção de grandes casas de fazenda, habitadas pelo proprietário, familiares, agregados e escravos.
No doutorado, a arquiteta expandiu horizontes, territoriais e teóricos. Por um lado, debruçou-se sobre a arquitetura rural vinculada às fazendas de gado nos sertões do Norte (atuais estados da Bahia, Paraíba, Pernambuco, Ceará, Piauí e Rio Grande do Norte). Ela mapeou um acervo de 116 casas-sede a partir de levantamentos arquitetônicos do Piauí, Ceará e Bahia. A fim de melhor compreender o patrimônio material e imaterial nas habitações rurais dessa região, entrou nos campos da história social e da história econômica.
Do inventário de 116 casas-sede alicerçadas em pedra bruta, erigidas em diferentes ribeiras (Ribeira do Seridó, do Piauí, da Paraíba, dos Inhamuns e do São Francisco e Alto Sertão Baiano), a pesquisadora notou a heterogeneidade das construções arquitetônicas nas rotas do gado no Nordeste, que mantinham um mercado interno agitado, embora desconhecido, no calcanhar da economia do litoral exportador. Eram ainda construções pensadas para a realidade sertaneja, com sótãos e outras estruturas propícias para arejar os ambientes castigados pela alta temperatura e pelo tempo seco.
A casa da fazenda Santa Casa - Foto - Nathália Diniz
A casa da fazenda Santa Casa – Foto – Nathália Diniz
Contornando ribeiras e atravessando sertões, Nathália Diniz construiu suas investigações a partir de vestígios de tijolo, pedra e barro. Muitas casas de taipa, mencionadas nos arquivos, não resistiram ao tempo e desapareceram. Restaram fazendas formadas por casas-sede e currais. Entre as características da maioria das construções estavam à disposição dos ambientes: os serviços nos fundos do terreno, com tachos de cobre, pilões, gamelas; e a intimidade da vida doméstica no miolo das edificações, com mobiliário trivial, como mesas rústicas e redes, assentos de couro e de sola, baús e arcas de madeira. Em muitas fazendas, em paralelo a criação de gado, cultivaram-se cana-de-açúcar e mandioca, de onde viriam a rapadura e a farinha, que, ao lado da carne de sol, tornaram-se a base da alimentação sertaneja. “A arquitetura rural não segue modelos”, diz Nathália. “Os primeiros proprietários dessas casas eram filhos dos antigos senhores de engenho do litoral. Se a arquitetura rural tivesse um modelo, eles teriam construído casas similares às de seus pais no litoral, o que não ocorreu. A arquitetura dos sertões mostra a formação de uma sociedade a partir da interiorização dos sertões do Norte, de uma economia marcada pelo gado.”
Depois do doutoramento em São Paulo, a pesquisadora retornou a Natal, onde é professora de história da arte e de arquitetura no Centro Universitário Facex. Seu projeto atual é aprofundar a análise arquitetônica das casas-sede, explorando uma lacuna na historiografia brasileira sobre as relações sociais e suas consequências materiais nos sertões, ainda hoje um universo inóspito e incógnito, marcado por longas distâncias e imensos vazios. Esses territórios ficaram esquecidos, apesar de presentes na literatura e nos relatos memorialistas. Daí brotaram generalizações sobre o Nordeste e sua arquitetura rural, ainda compreendida a partir dos padrões dominantes da Zona da Mata pernambucana e do Recôncavo Baiano – o que, nas palavras da pesquisadora, não condiz com a realidade.
Exemplos da arquitetura sertaneja na Paraíba: sede da fazenda Sobrado - Foto - Nathália Diniz
Exemplos da arquitetura sertaneja na Paraíba: sede da fazenda Sobrado – Foto – Nathália Diniz
Originalidade do tema
O novo trabalho será bancado com o prêmio ganho em dezembro e desenvolvido com o apoio de Beatriz Bueno, da FAU-USP. “O projeto de Nathália foi escolhido pela originalidade do tema e pela oportunidade que nos proporciona de compreender o processo de ocupação do sertão brasileiro e suas dimensões econômica, histórica e social”, diz o coordenador do Comitê Cultural da Odebrecht, Márcio Polidoro. Na economia, ela destacará o ferro que marcava o gado e que permitia identificar a fazenda à qual pertencia – até agora, a pesquisadora já coleciona 653 desenhos de ferro diferentes. “Num sertão disperso, sem fronteiras claramente visíveis, pontuado por tribos indígenas inimigas, o gado carregou a representação do território e da própria propriedade dos que vinham de outros lugares”, define. Na sociedade, ao cruzar os inventários post-mortem encontrados nos arquivos e nas casas, pretende compreender e revelar a vida cotidiana do sertanejo que se desenrolava a morosos passos no século XIX. Fará novas viagens para refazer fotografias e rever anotações. Mais uma vez, um retorno às suas raízes e às terras, tão diferentes das que via nas novelas na sua infância. “Ainda procuro o que buscava desde o início: quero mostrar o que eram esses outros sertões. Nós conhecemos a riqueza da arquitetura litorânea, a arquitetura do açúcar e do café. Falta a arquitetura sertaneja”, conclui.
Projeto-Paisagem cultural sertaneja: as fazendas de gado do sertão nordestino (nº 2009/09508); Modalidade Bolsa de Doutorado; Pesquisadora responsável Beatriz Piccolotto Siqueira Bueno; Bolsista Nathália Maria Montenegro Diniz; Investimento R$ 130.587,92 (FAPESP).

sexta-feira, 25 de abril de 2014

Temporada gratuita do espetáculo Borderline em Natal

Divulgação

O Teatro de Cultura Popular (TCP) recebe a nova temporada de Borderline, espetáculo teatral potiguar que vem colecionando apresentações de sucesso desde a estreia, em agosto do ano passado.
A temporada vai até o domingo (27) e volta na semana que vem, também de quinta a domingo. As oito apresentações são abertas ao público, gratuitas, graças ao Fundo de Incentivo a Cultura (FIC), que contemplou Borderline na edição 2013. As apresentações ocorrem sempre às 20h.
Borderline tem texto e direção de Junior D’alberto e fala do transtorno de personalidade limítrofe, além de provocar a plateia sobre reflexões do comportamento de cada um, seus sentimentos e significados da postura ética e da moral estabelecida.
Fonte: ViverNatal

quinta-feira, 24 de abril de 2014


Mossoró-RN, domingo 8 de maio de 2011
LAÉLIO FERREIRA DE MELO
Nascido em 30 de junho de 1939, o poeta Laélio Ferreira de Melo é formado em administração pública e atualmente é auditor federal aposentado. Laélio, que no perfil do blog “Mediocridade Plural” se autodenomina poeta de cantigas de maldizer, bardo de glosas fesceninas e antropófago nas horas vagas, começou a escrever em um jornal estudantil do Diretório “Celestino Pimentel”, do Atheneu Norte Riograndense, no início dos anos 1950, em Natal. O poeta, que herdou do pai o gosto pela leitura, elenca entre prosadores que o influenciaram: Cervantes, Eça de Queiroz, Érico Veríssimo, Jorge Amado e, acima de todos, Euclides da Cunha. Entre os poetas preferidos estão Olavo Bilac, Raimundo Correia, Augusto dos Anjos, Bocage, Edinor Avelino, Othoniel, a mossoroense Helen Ingersoll, Esmeraldo Siqueira, Damasceno Bezerra, Jayme Wanderley e todos os fesceninos que apareciam.
por: Nara Andrade
O Mossoroense: Othoniel Menezes foi o primeiro poeta modernista potiguar. Qual a contribuição de sua obra para o movimento aqui no Estado?
Laélio Ferreira de Melo: Othoniel, segundo Cláudio Galvão - seu excelente biógrafo -, em 1914, em Macau, fez experiências poéticas como “futurista”, embora essa sua produção não se encaixasse completamente nas características do movimento que viria depois, em 1922. Em setembro de 1925, publicado na revista “Letras Novas”, em Natal, o poema “Atavismo” antecedeu, sem dúvida, à divulgação dos trabalhos de Jorge Fernandes. Essa sua primeira experiência modernista, pós-1922, acho eu, era um exercício de diletantismo – e, até, de gozação -, naquela base do “se vocês fazem, eu também posso fazer”. O próprio Câmara Cascudo (a quem Othoniel chamava de “Cascudinho”), tuxaua e morubixaba do movimento cá na Jerimunlândia, embora poeta não fosse, queixava-se de “Titó” (apodo dele, para Othoniel), dizendo-o “arredio” à novidade. Revelava que o poeta do “Jardim Tropical” divertia-se com os poemas futuristas, “como se assistindo atrevimentos de menino arteiro”, esnobando uma aproximação com Mário de Andrade, então hóspede do portento da Junqueira Ayres, em 1928: “a prosa, sim, o verso não, Cascudinho!”
OM: Quando foi lançada a primeira edição do livro “Sertão de Espinho e de Flor” o seu pai doou setecentos, dos mil exemplares, para o Albergue Noturno de Natal. Nesta edição você também doou a receita arrecadada?
LFM: À exceção dos exemplares que separei para doação aos amigos, parentes e bibliotecas públicas - seguindo o exemplo do Poeta -, ofereci, graciosamente, para livre comercialização, 650 volumes do “Othoniel Menezes – Obra Reunida”, distribuídos entre o Albergue Noturno de Natal, Hospital Infantil Varela Santiago e Sociedade de Amparo aos Portadores de Anemia Falciforme (numa homenagem a um neto, infelizmente, portador desse mal) – todos de Natal.
OM: O que a edição do livro “Sertão de Espinho e de Flor” traz de novo em relação à última?
LFM: Esse longo poema sobre o sertão (do Seridó) é, sem dúvida, o carro-chefe da “Obra Reunida”, reunindo, nas anotações, sociologia, etnografia, folclore. A novidade é que toda a obra de Othoniel – um conjunto de poesia, prosa e jornalismo, cartas - recebeu anotações. Para melhor “explicar” meu Pai, ousei bastante - muitos vão me classificar como “prolixo”! -, ao escrever, aproximadamente, 1.500 notas. Othoniel Menezes, embora sem anel no dedo, era homem de vastíssima cultura e, no início da sua atividade literária, chegava a abusar, às vezes propositadamente, de preciosismos de linguagem. O talentoso mossoroense Tarcísio Gurgel, autor da excelente introdução à obra, afirmou ser Othoniel Menezes “um culto no espaço de iletrados”.
OM: Qual a sua real ligação com o movimento denominado Intentona Comunista, em 1935?
LFM: O Levante de 1935 – é assim como prefiro chamar a revolta – custou a Othoniel Menezes quase três anos de cadeia, nos porões da ditadura de Vargas, condenado pelo Tribunal de Segurança Nacional. Nunca foi comunista. Era, sim, um socialista-cristão, oposicionista, jornalista vigoroso, amigo e correligionário do então Deputado João Café Filho. Seu grande pecado foi o de escrever – quase de cabo a rabo – o jornal “A Liberdade”.
OM: Por que Othoniel Menezes não foi incluído no movimento de fundação e formação do primeiro quadro de sócios da Academia Norte Riograndense de Letras?
LFM: Nessa época, Othoniel – desde os anos 20 – era o maior poeta vivo do RN, o “Príncipe” – mas tinha um defeito danado: era esquerdista, socialista. A Academia foi pensada por uma elite de intelectuais de direita, quase todos integralistas de carteirinha, que marchavam, fardados, rua acima e rua abaixo, sob o pálio do Sigma, cantando hinos e bradando o “anauê”, sob o lema “Deus. Pátria e Família”... Aliás, quem explica muito bem, minuciosamente, essa novela é Cláudio Galvão, na biografia do poeta.
OM: Anos mais tarde, já no final da década de 1950, vários sócios inscreveram Othoniel Menezes para ocupar a cadeira 26 da Academia Norte-Rio-grandense de Letras. E mesmo eleito por unanimidade ele nunca chegou a tomar posse. Por quê?
LFM: Pirraça. Nunca foi lá, nunca passou procuração para a posse. Não gostava de igrejinhas, solenidades, mediocridades, confetes e serpentinas, embora nesse tempo a Academia fosse outra, mais séria e muito comedida nas escolhas. Era arredio, sofrido, “pobre, probo e culto” – no dizer de Manoel Onofre Júnior. Ia fazer lá o quê? Agradeceu aos amigos, pediu desculpas e alguns anos depois, doente, perseguido pelo governador Aluízio Alves, juntou os poucos teréns, deu uma solene banana para os poderosos de plantão, pegou sua Maria e se autoexilou no Rio de Janeiro, onde morreu com saudades da aldeia cruel. Só para ilustrar: Se a ossada do meu velho pai estivesse hoje em Natal (era espiritualista, não ligava para coisas da matéria) – digamos lá pelo velho Cemitério do Alecrim – estaria chacoalhando divertidamente com a notícia da mais nova aquisição da Academia de Letras.
OM: O poema “Serenata do Pescador”, mas conhecido como “Praieira”, escrito em 1922, musicado por Eduardo Medeiros no mesmo ano, recebeu em 1972, da Câmara Municipal do Natal, o título de Canção Tradicional da Cidade. O que isso representou para o seu pai?
LFM: A sextilha do poeta responde à indagação: A glória a que aspiro – a única –/e que há de ser minha túnica,/mais sagrada que a de um rei,/posse intangível, se planta/na alma do povo – que canta/as canções que lhe ensinei!
OM: Na sua opinião, o seu pai não teve o reconhecimento merecido por parte do Rio Grande do Norte?
LFM: Respondo com um trecho que escrevi, na apresentação do livro: “Linda e pobre terra, a nossa "iara morena, pulando na água serena do Potengi, a cantar"... Muita água no velho rio desceu, o tempo rodou e, vamos e venhamos, Othoniel Menezes – o parnasiano, o modernista, o jornalista, o ensaísta, o prosador, o etnógrafo, folclorista, o crítico –, hoje, salvo para poucas pessoas, é apenas mais um nome de rua na Limpa dos Santos Reis. E apelido de prêmio de poesia da Prefeitura do Natal, só isso. Seus livros publicados foram poucos e, agora, são muito raros. O rio da sua canção, lá bem perto da ruazinha modesta, está poluído pela imundície dos esgotos; o prêmio temporariamente cassado pela pequenez cerebral da atual administração, entregue às baratas e borboletas viageiras.”
OM: O senhor também é sobrinho de João Menezes, primeiro aviador do Rio Grande do Norte, que morreu em 1920, aos 24 anos, no Campo dos Afonsos – Rio de Janeiro. O seu tio também não teve o devido reconhecimento?
LFM: Esse meu tio – pioneiro, herói e mártir da aviação brasileira, um militar -, nascido em Natal, na Rua das Laranjeiras, tem sido, aqui, na sua terra, cruelmente esquecido. Há anos, venho me debruçando sobre a curta história da sua vida e sobre ela escrevendo. Seus companheiros de farda, no Rio de Janeiro, em São Paulo, no Recife e até em Natal, nos tempos de Parnamirim e da Segunda Guerra, o homenagearam, em várias oportunidades. Há hangares (no Campo dos Afonsos, no Rio e no Campo de Marte, em São Paulo) e ruas com o seu nome, por todo o Brasil. Somente aqui – terra de muro baixo e encruzilhada de mediocridades, digo eu! – não lhe dão o valor que merece. Há poucos dias, representantes de uma certa Fundação em Natal, dirigida por empresários e militares da reserva, cujos objetivos reais desconheço, respondendo a indagações que lhes fiz, demonstrando absoluta desinformação, chegaram ao cúmulo de, numa “reunião de diretoria”, ofenderem a memória do meu tio, questionando, nesse tribunal de araque, os patetas juramentados, a heroicidade do aviador.
OM: Ser filho do poeta e jornalista Othoniel Menezes o influenciou a começar a escrever?
LFM: Acho que sim. Nasci e me criei numa casa cheia de livros e frequentada por intelectuais importantes – daqui e de alhures -, vendo e ouvindo gente de muita tenência e brilho: Esmeraldo Siqueira, Oswaldo Lamartine, Deífilo Gurgel, Mauro Mota, Olegário Mariano, Ascenso Ferreira, Newton Navarro, Edinor Avelino, seu filho Gilberto, João Batista Pinto, Aderbal Morelli, Lenine Pinto, Câmara Cascudo, Djalma Maranhão e Sílvio Pedroza (fazendo serenatas), Evaristo de Souza, Jayme Wanderley, Walflan de Queiroz (dava-me moedas de mil réis!), Miriam Coely, Helen Ingersoll, Celso da Silveira, Dorian Gray, seu tio Luiz Rabelo, João Meira Lima, Moacyr de Góes e tantos outros.
OM: O gosto pela poesia fescenina também é herança do seu pai?
LFM: Não. Othoniel, em casa, era avesso até “a nome feio”. Essa era a regra. Havendo necessidade de se referir a um homossexual, o “velho”, na frente dos filhos e da mulher, partia, no máximo, para o substantivo e pouco usual “pederasta passivo” – é olhe lá. A sua pouca – mas deliciosa produção fescenina - só a conheci, em parte, aos dezessete anos, no Assu, sob a guarda fiel do poeta João Fonseca, seu amigo e colega no Campo de Parnamirim, na Segunda Guerra Mundial. Em casa, ele nunca falava dessa sua faceta pornográfica. E eu, às escondidas, no Atheneu, pintava e bordava nas tais cantigas de maldizer.
OM: O senhor é conhecido por seus comentários polêmicos sobre pessoas e fatos, principalmente, na área cultural. Por que adotou esse estilo de escrever?
LFM: Para aporrinhar os analfabetos, os corrutos e os cretinos – os “analfacorruinos”, como bem dizia o meu amigo de levantamento de copo, o insubstituível juiz de Direito Caio Pereira.
OM: Qual o objetivo do blog Mediocridade Plural?
LFM: Tá lá, no frontispício: “Aqui (no Rio Grande do Norte), há muitas exceções, honrosas, decentes, mas a coisa, no geral, no picollo mondo, "tá preta" mesmo no ensino (de todos os graus), nas academias – inclusive na de Letras, aquela que o senhor nunca foi lá sequer tomar posse –, na política e no bestunto da maioria dos "intelectuais conterrâneos" – estes últimos produzindo mais do que sabiá no fundo da gaiola. (Carta a Othoniel, in “Obra Completa”)

E a experiência?  A experiência se consegue a proporção que os dias se passam! (Fernando Caldas).