sexta-feira, 29 de agosto de 2014

AS BELAS CAVERNAS DE FELIPE GUERRA E A PASSAGEM DE LAMPIÃO E SEU BANDO


Publicado em 29/08/2014


Entrada da Caverna da Carrapateira, no Lajedo do Rosário, Distrito de Passagem Funda, Felipe Guerra-RN, local de abrigo de pessoas da região quando da passagem de Lampião para atacar Mossoró em 1927 - Foto - Solon R. A. Netto
Entrada da Caverna da Carrapateira, no Lajedo do Rosário, Distrito de Passagem Funda, Felipe Guerra-RN, local de abrigo de pessoas da região quando da passagem de Lampião para atacar Mossoró em 1927 – Foto – Solon R. A. Netto
Autor-Rostand Medeiros 
Poucos conhecem ou já ouviram falar da pequena e pacata cidade de Felipe Guerra, localizada na região do Brejo do Apodi, a 330 quilômetros da capital potiguar. Um lugar muito agradável, de pessoas trabalhadoras, tranquilas e extremamente acolhedoras, mas o que torna Felipe Guerra mais interessante é sua concentração de cavidades naturais, a maior do Rio Grande do Norte. Já foram descobertas mais de 80 cavernas no município, ali foi descoberta uma das maiores cavernas do Nordeste do Brasil, a Caverna do Trapiá, com 2.250 metros de extensão. A maioria das cavernas de Felipe Guerra está localizada no Lajedo do Rosário e os acessos a elas são bem complexos, passando pelas fendas e pelas afiadas rochas calcárias do lajedo.
Em uma das cavernas de Felipe Guerra com equipamento adequado para entrar nestes ambientes - Foto - Solon R. A. Netto
O autor deste texto em uma das cavernas de Felipe Guerra, com os equipamentos adequados para entrar nestes ambientes – Foto – Solon R. A. Netto
Tive o privilégio de participar de varias atividades ligadas ao conhecimento do patrimônio das cavernas potiguares, mas adentrar nas cavernas é um desafio à parte. Em algumas é preciso descer por árvores que brotam de dentro da caverna, se esgueirar por entre pedras e rastejar por alguns bons e dolorosos metros para chegar até as galerias ou salões, que são as partes mais amplas das cavernas e onde são normalmente encontrados os espeleotemas.
Além das cavernas, Felipe Guerra ainda possui uma das maiores cachoeiras do Rio Grande do Norte, a cachoeira do Roncador e lugares de águas cristalinas para banho, como o Olho D’água, localizado em propriedade privada.
Na região rural de Felipe Guerra trabalhei algum tempo em um projeto que envolvia o IBAMA-CECAV/RN e a SEPARN (Sociedade para Pesquisa e Desenvolvimento Ambiental do Rio Grande do Norte) e vi muita coisa bonita.
O bando de Lampião
O bando de Lampião
Mas uma das situações que me impressionava era como os habitantes locais mantêm a lembrança viva das agruras sofridas com a passagem do bando do cangaceiro Lampião, em seu ataque a cidade de Mossoró.
Em uma destas cavidades que alguns habitantes conseguiram um abrigo prático para os terríveis eventos que ocorriam próximos a suas casa e deixou na lembrança das pessoas do lugar um respeito muito grande por estes ambientes. 
Um Lugar Tranqüilo que Perdeu a Paz 
Nas margens do Rio Apodi, na então pequena Pedra de Abelha, a vida seguia tranquila naqueles primeiros dias do mês de maio de 1927. A pequena vila era então um simples aglomerado humano, com pouco menos de 1.200 habitantes, sobrevivendo da cera de carnaúba, da pequena agricultura e da pecuária. Na época dos invernos mais fortes, a pequena vila sofria as enchentes provocadas pelo Rio Apodi, como foi o caso das cheias de 1912, 1917 e a grande cheia de 1924.
Casas antigas de Felipe Guerra
Casas antigas de Felipe Guerra. Foto – Rostand Medeiros
Por esta época, Pedra de Abelha era um ponto de passagem de viajantes, tropas de burros, vendedores, vaqueiros e outros andarilhos que seguiam a estrada entre a pulsante e rica cidade de Mossoró e a progressista Apodi. Havia uma pequena feira que crescia a cada ano, sempre em ordem e em paz, pronunciando uma tendência de progresso para o pequeno lugar. Outra lembrança de boas perspectivas foi à passagem de alguns homens, de língua enrolada, que se diziam engenheiros, faziam medições e coletavam pedras no lajedo do Rosário, na Passagem Funda, um lugarejo a 8 km de Pedra de Abelha. Logo se espalhou a notícia que o lugar seria transformada em uma grande barragem, que haveria muitos empregos, que seria maior que a barragem de Pau dos Ferros e que a vida em Pedra de Abelha iria mudar para melhor. Mais a barragem não veio e a vida seguia tranquila.
No começo de maio chegam as primeiras das mais terríveis notícias que a região oeste do estado do Rio Grande do Norte iria conhecer. No dia 10, pela madrugada, o cangaceiro paraibano Massilon Leite e mais vinte bandidos atacaram Apodi, depois seguiram para Gavião (atual Umarizal) e na sequência, pilharam a pequena vila de Itaú. As notícias comentavam que apenas um cangaceiro fora preso próximo à cidade de Martins. Para a ordeira população de Pedra de Abelha, ficou o pensamento de que, se os cangaceiros haviam atacado Itaú, uma vila praticamente do mesmo tamanho do seu lugar, por que não atacariam o pequeno povoado a beira do Rio Apodi? Passou então a existir no seio da população uma forte intranquilidade.
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Não era para menos que os habitantes da singela Pedra de Abelha ficassem ainda mais apavorados quando, em 10 de junho de 1927, chega a notícia de que, incentivado por Massilon Leite, Lampião cruzou a fronteira da Paraíba e entra no estado Potiguar. Seguindo a cavalo, com cerca de 60 cangaceiros (número que gera muita polêmica até hoje), em direção a Mossoró.
Avançando para o norte, promoveram um verdadeiro bacanal de destruição, rapinagem e terror. Roubaram, tocaram fogo em diversas fazendas, assassinaram os que reagiam, entraram em confronto com a polícia e fizeram alguns prisioneiros, do qual só libertariam mediante resgate.
Com a chegada das notícias cada vez mais assustadoras, a população de Pedra de Abelha tratou de procurar refúgio aonde houvesse condições. Muitos seguiram para a fronteira do Ceará, outros foram para propriedades de parentes mais distantes e outros que conheciam melhor a região, buscaram o abrigo das cavernas. É bem verdade que a população do sertão possui um medo respeitoso em relação às cavernas, mais naquele momento, este medo foi deixado de lado e a escuridão da caverna passou a ser um abrigo mais acolhedor do que a incerteza da luz do dia e a presença de cangaceiros na região. 
O Abrigo 
A caverna da Carrapateira fica localizada no Lajedo do Rosário, próximo ao atual Distrito de Passagem Funda e a pouco mais de mil metros da margem esquerda do Rio Apodi. Entre as várias cavernas deste lajedo, essa é a que apresenta a maior facilidade de penetração. Sua entrada tem formato oval, com quatro metros de altura e possui desenvolvimento horizontal, No seu início encontram-se alguns blocos caídos e deslocados, também presentes localmente no interior da caverna. 
Foto - Solon R. A. Netto
O autor deste texto na Caverna da Carrapateira. Foto – Solon R. A. Netto
Chama a atenção à forma bem como a natureza moldou o túnel principal, sendo muito largo e alto para os padrões das cavernas das proximidades. Sua sinuosidade apresenta contornos de fluxo d’água, marcados nas paredes bastante lisas, lavradas, de rocha calcária limpa e de cor amarelada, com níveis de sedimentação a mostra. Os espeleotemas encontrados são escorrimentos de calcita, cortinas, algumas estalactites e estalagmites. Na parte posterior do corredor principal, aparecem outros tipos de espeleotema muito comum nas cavidades da região; o couve-flor.
Foto - Solon R. A. Netto
Foto – Solon R. A. Netto
Conforme adentramos a caverna da Carrapateira, o chão vai apresentando uma menor continuidade, mostrando reentrâncias, blocos rolados, até desembocar em uma bifurcação, de onde a caverna segue para salões mais apertados, seguindo por condutos menores. Neste setor, tem-se uma clarabóia de poucos metros de altura, aproximadamente três metros. Por ela pode-se sair do interior com facilidade.
Pelas dimensões do seu interior, pela proximidade com o rio e como na região encontram-se diversas provas da passagem de grupos de caçadores e de coletores, entre 5.000 e 2.000 anos atrás, essa caverna é a que melhor poderia sugerir a possibilidade de algum indicio arqueológico. Contudo, não foram vistos pinturas ou evidências nesse sentido e sua litologia é o calcário.
Foto - Solon R. A. Netto
Foto – Solon R. A. Netto
Não foram encontrados vestígios da ocupação dos habitantes de Pedra de Abelha na caverna. Como a passagem de Lampião e seu bando no Rio Grande do Norte duraram apenas quatro dias, acredita-se que a ocupação da caverna tenha sido por curto espaço de tempo. Mesmo tendo sido apenas por quatro dias, a região oeste do Rio Grande do Norte nunca esqueceu este episódio. 
O Avanço dos Cangaceiros 
Neste meio tempo, o bando de Lampião seguia em direção a pequena Pedra de Abelha, passou ao lado da povoação de Gavião (atual Umarizal) e seguiu depredando as propriedades “Campos”, “Arção”, “Xique-Xique” e “Apanha Peixe” e nesta última propriedade, para a sorte dos refugiados escondidos na caverna da Carrapateira e da maioria da população de Pedra de Abelha, o bando foi dividido. As sete da noite, seguiu o cangaceiro Massilon Leite, para assaltar pela segunda vez, a cidade de Apodi, enquanto Lampião seguia para Mossoró. Em Apodi houve resistência da população, obrigando Massilon a fugir. Devido a esta divisão, Lampião seguiu em frente por outra estrada, passando paralelo ao povoado. A população respirou aliviada e Lampião seguiu o seu caminho.
A fazenda da foto chama-se Mato Verde, também atacada por cangaceiros sob o comando de Lampião e próxima a Felipe Guerra. Foto - Solon R. A. Netto
A fazenda da foto chama-se Mato Verde, também atacada por cangaceiros sob o comando de Lampião e próxima a Felipe Guerra. Foto – Solon R. A. Netto 
Caminho que faria seu bando cruzar com o progressista comerciante e fazendeiro Antonio Gurgel do Amaral, proprietário de uma moderna fazenda em Pedra de Abelha, às margens do Rio Apodi, no atual Distrito do Brejo. Nesta propriedade foram empregadas muitas pessoas, o local possui uma estrutura muito moderna para a época, inclusive com eletricidade e mecanização. Antonio Gurgel havia acabado de chegar de uma viagem da Europa, aonde buscava trazer matrizes de novas raças bovinas para desenvolverem-se na região.
Sentado a esquerda vemos o coronel Gurgel
Sentado a esquerda vemos o coronel Gurgel
Assim que soube do avanço dos cangaceiros, seguira para a sua fazenda para organizar sua defesa. No meio do caminho, na localidade chamada Santana, foi preso por membros do bando. Era o dia 12 de junho e somente no dia 25, Gurgel seria libertado no Ceará, juntamente com outra refém. Por ser Gurgel um homem inteligente, de boa conversa, índole calma e que sempre procurou a tranquilidade junto aos bandidos, ele nada sofreu. Durante sua convivência forçada, escreveu um diário que é tido como um dos mais completos documentos sobre a vida e o dia a dia destes cangaceiros. No fim de sua provação Lampião lhe deu duas moedas de ouro para serem presenteadas a sua neta e, como pagamento de uma promessa feita pela sua liberdade, sua mulher construiu uma capela na Fazenda Santana, que continua de pé até hoje, bem como a sede de sua fazenda, na atual Felipe Guerra. 
Mossoró, 13 de junho de 1927, a Derrota de Lampião 
Na Segunda-feira, 13 de junho de 1927, dia de São Francisco, ás 16:30 da tarde, com o céu nublado, os cangaceiros atacaram a maior cidade do interior do Rio Grande do Norte. O seu Prefeito, Rodolfo Fernandes, praticamente sem ajuda do governo do estado, conseguiu reunir desde advogados, dentistas, comerciantes, padres e pessoas comuns, entrincheirando-os em vários locais.
1- Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião
Os cangaceiros foram derrotados depois de uma hora de combate, não mataram ninguém e perderam um cangaceiro na hora e outro, o temível Jararaca, foi ferido e capturado logo depois. Acabou assassinado pela polícia local no dia 20 de junho e o mais interessante foi que seu túmulo tornou-se um local de peregrinação religiosa popular.
Lampião sofreu a sua mais terrível derrota, comentou que “Cidade com mais de quatro torres de igreja não é para cangaceiro”. Sem conhecer o seu tamanho e a sua capacidade de defesa, acabou enganado pela promessa de Massilon de pouca resistência e muito dinheiro.
O seu ataque a Mossoró causou repercussão em todo país, sendo noticiado em muitos jornais, foi um verdadeiro choque, que impulsionou ainda mais a sua fama. Mesmo já sendo bem conhecido e frequentador de jornais cariocas, foi a partir deste episódio que o seu nome ficou muito conhecido no sul do país.
Após a derrota em Mossoró, o bando em Limoeiro do Norte-CE
Após a derrota em Mossoró, o bando em Limoeiro do Norte-CE
Após fugir do Rio Grande do Norte, para onde nunca mais voltou, o bando seguiu para o Ceará, aonde pensavam que estariam protegidos e foram implacavelmente perseguidos. O mesmo ocorreu na Paraíba e em Pernambuco. Em 1928 cruzou o Rio São Francisco e conseguiu uma sobrevida de mais dez anos, praticando atrocidades na Bahia, Alagoas e Sergipe, aonde foi morto, com a sua companheira Maria Bonita, na Grota de Angico.
Aqui vemos o caminho ainda original da passagem dos cangaceiros, no sentido de quem segue para a cidade de Governador Dix Sept Rosado
Aqui vemos o caminho ainda original da passagem dos cangaceiros, no sentido de quem segue para a cidade de Governador Dix Sept Rosado
Para a população de Pedra de Abelha, sempre que as notícias sobre Lampião surgiam, voltava as lembranças dos medos e aflições de junho de 1927. Com a sua morte (1938) e o desbaratamento do cangaço (1941), passa a existir um alívio intenso nesta população. Com o passar dos anos, ocorre o desaparecimento das vítimas sobreviventes dos atos cruéis dos cangaceiros e muitos dos descendentes destas vítimas deixam a região, emigrando para grandes centros. Falar sobre os fatos da época do cangaço deixa de ser um tabu. A partir dos anos 60, o mito deste cangaceiro o torna um dos personagens históricos mais famosos da cultura popular brasileira, aonde muitos lugares do País Lampião é encarado como símbolo de nacionalidade e o cangaço como um expoente de luta da cultura e do povo nordestino.
Para conhecer as cavernas de Felipe Guerra, muitas vezes devido a localização, só acampando para facilitar. Foto - Solon R. A. Netto
Para conhecer as cavernas de Felipe Guerra, muitas vezes devido a localização, só acampando para facilitar. Foto – Solon R. A. Netto
Apesar de possuir potencial turístico, em Felipe Guerra (assim como em todo RN), a exploração das cavernas só é feita de âmbito científico e, assim, não existe estrutura alguma para a prática do chamado espeleoturismo. Quem quiser conhecer essas maravilhas, só participando de algum grupo de espeleologia ou então se aventurando naquelas cavernas de mais fácil acesso. 
Como chegar a Felipe Guerra: A partir de Natal, pegar a BR-304 até Mossoró, seguida da BR-405 e RN-032. Contato: (84) 3329-2211 (Prefeitura de Felipe Guerra)
Bibliografia:
FERNANDES, Raul, A MARCHA DE LAMPIÃO, ASSALTO A MOSSORÓ. 3 ed. Natal, Editora Universitária, 1985.
NONATO, Raimundo, LAMPIÃO EM MOSSORÓ. 5 ed. Mossoró, Coleção Mossoroense, Fundação Vingt-Un-Rosado, 1998.
QUEIROZ, Maria Isaura Pereira, HISTÓRIA DO CANGAÇO, 4 ed. São Paulo, Global Editora, 1991.
CHANDLER, Billy Jaynes, LAMPIÃO, O REI DOS CANGACEIROS, Rio de Janeiro, Editora Paz e Terra, 1980.
FACÓ Rui, CANGACEIROS E FANÁTICOS, GÊNESE E LUTAS, 7 Ed. Rio de Janeiro, Editora Civilização Brasileira, 1983.
PERNAMBUCANO DE MELLO, Frederico, QUEM FOI LAMPIÃO, Recife, Editora Stahli, 1993.
DELLA CAVA, Ralph, MILAGRE EM JUAZEIRO, Rio de Janeiro, Editora Paz e Terra, 1976.


Dizem que o tempo cura tudo.
É mentira!
Quem nunca ouviu aquela velha frase:
-"O tempo é senhor das razões."
O tempo não cura nada,
o tempo alivia a dor, consola-nos a alma.
É apenas uma espécie de anestesia
que faz adormecer as nossas emoções
e os nossos os sentidos.
Há quem pense que tempo é capaz de curar perdas,
feridas, sofrimentos, tragédias, amores, dores,
desamores, saudades, decepções, tristezas,
traições, injustiças, palavras ditas no momento errado
ou de forma errada,
mentiras, desilusões, rancores, atitudes grosseiras,
um gesto mal interpretado, mágoas e raiva.
Mas na verdade ele é apenas um analgésico.
Faz com que deixemos os sentimentos
num lugar do coração
que não incomode tanto.
Tudo faz parte da história da vida
com momentos bons e menos bons.
Afinal de contas,
o tempo jamais poderá apagar as lembranças da nossa vida.
Apenas faz com que vejamos o que aconteceu no passado
de uma maneira diferente,
e ainda assim muitas vezes com uma enorme vontade
de voltar a repetir tudo outra vez !

Cristina Costa

quinta-feira, 28 de agosto de 2014

LEMBRANDO ZÉ DA LUZ (*) - POETA PARAIBANO



(in “OTHONIEL MENEZES – Obra Reunida” – Editora UNA, Natal-RN, 2011)


“Me alembro qui um sordado
quaje perde farda e gorro
só pruquê Né Alejado
tinha um dado aviciado,
com três cabra e três cachorro.

Os butiquim, qui são feito,
uns maió, outros miúdo,
é um retrato perfeito
daquelas casa sem jeito
dos jagunço de Canudo!”


(Zé-da-Luz,51 “Um Natal na minha terra”,em O Cruzeiro, 18.12.1948)

Severino de Andrade Silva (Zé da Luz). Nasceu em Itabaiana em 29 de março de 1904 e faleceu no Rio de Janeiro em 12 de fevereiro de 1965. Poeta popular, ficou famoso, nacionalmente, com o poema “As flô de Puxinanã”.

quarta-feira, 27 de agosto de 2014

ASSU NO CENÁRIO POLÍTICO NACIONAL

Por Fernando Caldas

Me ufano em dizer que o município do Assu/RN é uma terra de muita importância. Muitos dos seus filhos ilustres participaram de grandes decisões políticas da nação brasileira desde os tempos da monarquia como, por exemplo, com Francisco de Brito Guerra - Padre Guerra (1877-1845) nascido no povoado de Campo Grande, Vila do Assu. Padre Guerra foi "o primeiro e único potiguar a exercer tão alto cargo na câmara alta (1837-1845)", o que representa hoje o cargo de senador da república, durante todo o período monárquico, além de João Carlos Wanderley que exerceu no Rio de Janeiro o cargo de deputado geral (hoje federal) ainda no tempo do Brasil império, em 1852. Por sinal. Padre Guerra e João Carlos foram também deputados províncias do Rio Grande do Norte. João, além de deputado geral e provincial chegou a ser presidente da província do Rio Grande. Guerra foi também deputado geral e, quando "criadas as Assembleias Provinciais pela Lei de 12 de agosto de 1834, veio o Pe. Guerra da Corte, onde exercia o mandato de deputado geral para instalar e pôr em funcionamento nossa Assembléia Legislativa, da qual também foi seu primeiro presidente". Por fim, Manoel Montenegro Neto também de família assuense veio a assumir a Câmara dos deputados do Brasil por um pequeno período, no início da década de noventa. Fica o registro.

 

terça-feira, 26 de agosto de 2014




IBIAPINA E CASA DE CARIDADE

Por Fernando Caldas

A Casa de Caridade foi fundada pelo padre José Antônio de Maria Ibiapina , no ano de 1876. Ibiapina era formado pela Faculdade de Direito do Pernambuco, deputado geral pelo Ceará, “decepcionado abandonou a vida civil para seguir o catolicismo. Aos 47 anos iniciou uma obra missionária visitando várias regiões do nordeste”.

Gilberto Freire de Melo depõe que padre Ibiapina "era a maior figura na igreja católica no Brasil.”

A casa de Caridade foi uma das primeiras instituições de caráter filantrópico, de Assu. Aquela Casa, para Câmara Cascudo fazia inveja a Natal porque não tinha uma igual. Era instalada onde hoje funciona o Instituto que leva o seu nome.

Conta-se que aquele missionário foi chamado para pregar no Assu onde fez grande colheita com proveitos maravilhoso, Achando o lugar próprio e conveniente, instituiu uma casa de caridade, que deixou em boa posição e bem dirigida.”

Sinhazinha Wanderley, poetisa e educadora depõe a Walter Wanderley (transcrito no livro sob o título Família Wanderley, 1965) o seguinte: "no local do instituto existiu uma casa já muito antiga e que foi mandada edificar pelo padre Ibiapina. Contava-se deste padre que estivera a morrer num naufrágio e ao passar por Macau fizera votos de fundar uma casa de Caridade no primeiro ligar a que chegasse. E foi o Assu justamente esse lugar. Dita Casa de Caridade tinha como superiora Irmã Tereza e as irmãs Leonarda, Dionízia, Felipa, etc. A Casa recebia mocinhas pobres, órfãs, que ali ficavam até a idade do casamento. Ao atingirem a essa idade, o Procurador da Casa escolhia um rapaz honesto, bom cristão e trabalhador. Eram os dois levados à sala nas presenças do Procurador e da superiora e, se os dois se agradavam, o casamento era feito às expensas da Casa... A Casa recebia doentes, cadáveres, que amortalhavam, deixando-os à noite na Capela, velados por duas recolhidas que o faziam com muito medo. A Casa dava ensinamentos de flores, labirintos e bordados..."

Gilberto Freire de Melo depõe que padre Ibiapina "era a maior figura na igreja católica no Brasil.”

Ibiapina morreu no dia 19 de fevereiro de 1884 na cidade de Araras, Paraíba, onde está enterrado).

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

CAFÉ FILHO EM ASSU

"A verdade sobre o Forte dos Reis Magos"



"Livro de Veríssimo de Melo confirma que Forte não foi obra de padre
Texto de Luiz Gonzaga Cortez.


A presidente da Fundação José Augusto, a assistente social e ex-professora da ESAM, Isaura Amélia Rosado, em entrevista concedida à jornalista Hayssa Pacheco, do Diário de Natal, anunciou hoje a instalação de uma “exposição histórica sobre a Fortaleza dos Reis Magos, quer vai contar a história do Forte”. Muito boa a iniciativa, mas será melhor, ainda, se a FJA procurar enfocar os autores e documentos que divergem da versão oficial sobre a autoria do projeto de sua construção, atribuído ao padre Gaspar de Sam Peres (ou Gaspar de Samperes?), um sacerdote jesuíta responsável por uma tosca, grosseira e inútil obra na boca da barra do rio Potengi. O que o referido padre fez mesmo foi obrar, pois o que “projetou” não agüentava nem um tiro de espingarda de soca. A Fortaleza dos Reis Magos foi desenhada e construída pelo Francisco de Frias da Mesquita, engenheiro-mor do Brasil, que acompanhou e fiscalizou, pessoalmente, todas as etapas dos serviços. Eu não sou o primeiro a escrever sobre Frias, não. Hoje, 16 de dezembro de 2006, tenho em mãos um exemplar do “Calendário Cultural e Histórico do Rio Grande do Norte”, de Veríssimo de Melo, editado pelo Conselho Estadual de Cultura-RN (Natal, 1976), que, na página 29, registra o seguinte: “6.1.1598 – Inicio da construção da atual Fortaleza dos Reis Magos, obra do engenheiro-mor Francisco Frias de Mesquita, sendo concluída entre 1614 e 1619”. Eis aí um “gancho” para os jornalistas e pesquisadores sobre as fontes que Veríssimo de Melo utilizou para escrever o seu calendário cultural e histórico.

Mas os folcloristas e historiadores do Rio Grande do Norte continuam escrevendo que foi o padre Gaspar quem construiu o forte.

Até hoje não encontrei os motivos para se omitir fontes bibliográficas brasileiras e portuguesas sobre o Forte dos Reis Magos, em Natal, considerado um dos principais pontos turísticos da capital.

Aqui, nos últimos anos, foram publicados vários livros e estudos sobre esse monumento histórico, inclusive “atlas” , mas continuam repetindo as velhas lorotas, de que a atual fortaleza foi projetada pelo padre Gaspar de Samperes.

Mas se acham que foi o Padre Samperes que construiu a fortaleza dos Reis Magos é porque não querem buscar fontes fidedignas e sérias que existem há muitos anos. Vou citar duas fontes, uma escrita e outra da Internet .A primeira é o Volume 9, de 1945, páginas 9 a 84, da Revista do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, edição do antigo Ministério da Educação e Saúde, que publica ensaio sobre “Francisco de Frias da Mesquita, engenheiro-mor do Brasil”, de autoria de D. Clemente Maria da Silva-Nigra. O. S. B. Se o leitor acessar o sítio www.funceb.org.br vai encontrar mais informações a respeito ou ir direto a www.funceb.org.br/revista9/06_Frias-da-Mesquita.pdf. Lá, vocês vão saber que o padre Gaspar de Samperes fez o 1º projeto da Fortaleza dos Reis Magos, mas a atual edificação foi desenhada e executada diretamente por Frias da Mesquita. Na página 23 do ensaio de D. Clemente, quando se refere à fortaleza de Cabedelo, Paraíba, outro projeto de Frias, o autor escreveu o seguinte: “Semelhante à Reis Magos, a fortaleza fora construída com material precário; fabricada de huas (duas) taipas fraquíssimas em area solta, sem modo ou regra algua de fortificação pelo q não podia resistir a qualquer encontro de inimigos”. Em resumo, era uma construção feita de duas paredes de taipa, nas dunas (areia solta), que não tinha nada de fortificação militar. Compare a descrição de “duas taipas” para a magestosa fortificação de hoje, com corpo da guarda, prisões civis, calabouço militar, almoxarifado, depósitos, quartéis, cisternas, subidas para as baterias, prisões subterrâneas, casa do comandante, cozinha, estado-maior, capela e farol. O padre Samperes deixou uma tapera que não agüentaria um tiro de espingarda de soca. Frias da Mesquita deixou uma construção feita com cal, pedra e azeite mais forte, que substituiu o casebre de pau,barro e palha. 
 
O PhD em arquitetura Augusto C. da Silva Telles, graduado em 1948, pela Universidade Federal do Rio de Janeiro é o autor do texto do texto sobre os fortes das costas brasileiras projetados, desenhados, justificados (manuscritamente) e executados pelo engenheiro Francisco de Frias da Mesquita. Dr. Telles assegura que o governador D. Diogo de Menezes contratou o arquiteto português para construir o forte Natal, pois “o primeiro projeto foi projetado pelo padre jesuíta Gaspar Samperes, segundo Frei Vicente do Salvador, mas anos depois deteriorou-se”, antes de 1614, e que a edificação de Frias “ainda se conserva no local, próximo da cidade de Natal”. Augusto Telles, na extensa bibliografia, cita Gaspar Barléus, Vitterbo Souza, Silva Nigra, Diogo de Campos Moreno, Francisco Adolfo Varnhagen, Frei Vicente do Salvador e Pedro Calmom, entre outros. Frias da Mesquita construiu os fortes da Laje (Recife), do Mar (Salvador), São Diogo (Salvador), São Mateus (Cabo Frio-RJ), São Felipe, São Francisco e São José(São Luís do Maranhão), Santa Catarina (Cabedelo-PB), além de igrejas e mosteiros noBrasil.

Não acredito que o arquiteto Augusto C. da Silva Telles esteja equivocado.Creio que os folcloristas potiguares estão incorretos sobre a autoria do projeto e que a FJA poderia se aprofundar nas pesquisas pertinentes, examinando as anotações de Francisco de Frias da Mesquita, publicadas no volume 9 da revista do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, de 1945. Eu tenho um exemplar da revista, apesar de parcialmente danificado, mas são boas as reproduções das anotações de Frias sobre a Fortaleza dos Reis Magos. Você duvida? Ou você quer continuar com a mania estalinista de adulterar e distorcer os fatos históricos?

*Jornalista e pesquisador
Fonte: Google. Artigo escrito em 2006.
Artigo publicado em jornais de Natal e no blog candelariaeasuarealidade.blogspot.com"

FONTE: E-mail do autor

FULÔ DO MATO

Renato Caldas autor do afamado livro Fulô do Mato, foi quem deu nome ao Rio Grande do Norte nas letras nacionais, depõe Celso da Silveira. Renato era poeta matuto considerado um dos melhores do Brasil, nascido na cidade do Assu/RN. É o seu livro de estréia, data de 1939 que veio a circular em 1940. Imagem disponibilizada na linha do tempo/Facebook de Franklin Firmino.

Fernando Caldas



Rebuliço é um dos poemas mais celebres do poeta assuense.


SOBRE O ASSU II

De Freguesia a Vila Nova da Princesa

Por Fernando Caldas

O Assu se tornou Freguesia de São João Batista, da Ribeira do Assu. Depõe Walter Wanderley no livro de sua autoria intitulado Família Wanderley, 1966, que "no século XVII criavam-se no Rio Grande dez Freguesias. A  do Assu, em data ignorada. Nem o próprio Câmara Cascudo o sabe. O que se conece é que, em 1726, era vigário ali o padre Manuel de Mesquita e Silva.".
.
O povo começou a exploração da pecuária, sendo pioneiro Domingos Jorge Velho, cultivava a lavoura e instalavam as Oficinas de Carne de Charque que, por sinal, foi ali, na Ribeira do Assu, produzido as primeiras charqueadas no Brasil. Foi um dos pioneiros na exploração da pecuária na Ribeira do Assu, Manuel Filgueiras, nomeado capitão da Ribeira do Assu, chegando na região com um pequeno rebanho, tornando um fator comercial de muita importância.

Aquela freguesia “possuía em 1775, 90 fazendas de gado, 3 capelas, 571 fogos e 2.864 pessoas de desobriga”.

Em fins de 1775 para 1776, a freguesia segundo Nestor Lima: “Por esse tempo a freguesia tinha quarenta léguas de comprimento por vinte de largura e o seu padroeiro já era o glorioso São João Batista.”

“O movimento de carnes e couramas atraia as Oficinas três a quatro barcos, todos os anos, trazendo mercadorias”. (A República, n. 160, de 9 de abril de 1892).

João Inácio Pereira Neto depõe que “a região do Assu era extensa, abrangendo um terço do território da Capitania do então chamado Rio Grande, desde as terras de Santana para o norte, até Macau, e para o sul, às confinanças com o Seridó, para o poente, ao encontro com as terras do então chamado Ceará Grande, da Capitania do Ceará, e para o nascente, além do chamado Rio Grande do Assu, até onde o próprio índio houvera atingido.”

De freguesia elevou-se a município com a denominação de Vila Nova da Princesa, conforme Ordem Régia de 22 de julho de 1776, deu-se instalado a vila precisamente a 3 de julho de 1788. Foram, portanto, 57 anos de vila que tinha o seu próprio patrimônio: terrenos e fazendas, doados segundo Celso da Silveira em depoimento a Ferreira Nobre, no seu livro intitulado Breve Notícia Sobre a Província do Rio Grande do Norte, que “o patrimônio de São João Batista foi feito de três vezes: A primeira em 1712, por Sebastião de Souza Jorge, que deu o terreno estritamente necessário a construção da Matriz e da Paróquia; a segunda, em 12 de outubro de 1774, por dona Clara de Macêdo, que doou 75 braças menos dois palmos. A terceira, finalmente, pela mesma dona Clara de Macêdo, que doou a maior parte dos terrenos ao patrimônio no dia 6 de outubro de 1777.”

Por fim, aquele lugar teve também as denominações de Julgado de São João Batista, Povoação de São João Batista, da Ribeira do Assu e Vila Nova do Príncipe em homenagem a D. João VI, primeiro e último Rei do Brasil.






ASSU DO ONTEM:

A RUA SETE PECADOS
Nas minhas recordações de menino, aflora com intensidade a Rua Sete Pecados, cujo nome verdadeiro é Rua 16 de outubro, dia consagrado à fundação da cidade, em 1845.

Situada nas proximidades do Cemitério Público a sua configuração consistia em sete baixas casinhas de alvenaria. A sua denominação foi ideia de Enéas Caldas (Seu Nozinho), um dos incentivadores das festividades cívicas e religiosas de outrora, genitor do festejado poeta Renato Caldas.

Corria em meio a garotada que ali era um antro de assombração. Almas penadas apareciam pedindo Padre/Nosso para obterem a salvação. Diziam existir ranger de dentes e lamentações chorosas, Não era preciso a escuridão da noite nem a refulgência de um sol a pino para impedir a ida de um garoto mesmo na vizinhança das casas.

Tidas como mal-assombradas, propiciavam pavor aos meninos do meu tempo, em cujo rol me incluo, pois não havia oferecimento, por maior que fosse, capaz de me fazer entregar um bilhete ou dar um recado a uma pessoa ali residente. Atualmente está a rua modificada, com uma denominação e lá já habitam somente as almas deste mundo.

Ainda hoje (ano de 1982 - quando foi publicado o livro), em suas imediações, me vêm à lembrança os gostosos tempos das minhas inocentes superstições que, para desgosto meu, não voltarão jamais.

DO BLOG: Foto: Não afirmamos a veracidade da imagem. Ou seja, se da Rua 16 de outubro ou da Rua Augusto Severo. Cabe aqui alguns comentários para chegarmos ao consenso. 
Fonte: Assu da Minha Meninice - Francisco Amorim - 1982.

domingo, 24 de agosto de 2014



"As mulheres são como as plantas, precisam de sol.
Mas as mulheres são vivas por dentro e vivas por fora, precisam de sol no corpo e de sol no coração.
Quando as iluminamos só por dentro, as flores brotam no seu interior e sufocam o perfume.
As mulheres só são felizes, quando alguém as abraça com um sol em cada mão."
__________ João Morgado

De: Ponte de Sonhos

SOBRE O ASSU I

Colonização
Por Fernando Caldas
Está registrado na História do Rio Grande do Norte que por volta de 1650 habitavam a região do Assu (um dos municípios brasileiros da maior importância), os indígenas que deram a denominação daquele lugar de Taba-açu, que na linguagem Tupi-Guarani quer dizer Aldeia Grande. Aqueles nativos eram guerreiros, selvagens, ferozes, supersticiosos e viviam quase nus. Usavam apenas uma pequena saia feito de palha de carnaubeira (árvore nativa então abundante naquela região). Mantinham-se da caça, da pesca, de frutas, mel e raízes. Na caça matavam os veados e comiam apenas as suas tripas cruas. Na pesca tinham preferência pelas traíras (peixe carnívoro de água doce muito comum nos rios, açudes e lagoas). Eram notabilizados de Janduí (nome do chefe), que até a década de 1686-1696, intimidavam as armadas portuguesas, com ataques até bem próximos da Capitania do Rio Grande. Na chegada dos brancos, foram eles dominados e eliminados quase por completo numa guerra sanguinária que a história denominou de Guerra dos Bárbaros ou Guerra do Açu.
O capitão-mor da Capitania Agostinho César de Andrade sem poder cumprir a Ordem Régia, deu lugar a Bernardo Vieira de Melo capitão de ordenança do Rio Grande, que veio a Ribeira do Assu comandando “uma expedição que lutou contra os índios e estabeleceu os colonos.”.
Fundou-se então o Arraial de Santa Margarida, de 20 de julho de 1687, Arraial de Nossa Senhora dos Prazeres, fundado a 24 de abril de 1696 por Bernardo Vieira de Melo (sendo o dia 24 de abril consagrado a Nossa Senhora dos Prazeres, é natural que fosse o da fundação do Arraial. Porque costumam os portugueses assinalar os seus feitos com o nome do santo do dia). Capitães Mores.
Depõe Nestor Lima que “a colonização da Ribeira do Assu teve, porém, enormes dificuldades opostas pelos naturais da terra, numerosa tribo Tapuia, que declarou guerra de morte aos colonizadores, a quem causava toda sorte de danos em medonhas investidas”, não aceitando juntamente com a tribo Janduí, a serem subordinados e subjugados pelos portugueses e colonos, em defesa de suas terras.



"Por quantas dimensões a vida precisa passar? Por quantas estradas precisamos caminhar em busca do grande segredo da existência? A tarefa é difícil, mas não há argumento que nos impeça de seguir adiante. Não sabemos o que levou as coisas a serem como são. Não sabemos o que nos espera adiante. Mas devemos tentar ir o mais longe possível. Mesmo no meio do deserto, é importante descobrir as maravilhas enterradas na areia".

L. Eisley
 — com Ponte de Sonhos.
Foto: "Por quantas dimensões a vida precisa passar? Por quantas estradas precisamos caminhar em busca do grande segredo da existência? A tarefa é difícil, mas não há argumento que nos impeça de seguir adiante. Não sabemos o que levou as coisas a serem como são. Não sabemos o que nos espera adiante. Mas devemos tentar ir o mais longe possível. Mesmo no meio do deserto, é importante descobrir as maravilhas enterradas na areia".

L. Eisley

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Romance verde maduro

Eduardo Olympio, 19/08/2014, poeta baiano

O militar Né Quiabo,
Sorteado com um passe,
Foi ao camarada Nabo,
Pedindo que lhe ajudasse,
Pois o colega era cabo,
A sair de certo impasse.

Apesar de alguma idade,
Que o alto Quiabo ostentava,
Era solteiro, verdade!
De soldado não passava
E, em face à dificuldade,
Para a patente apelava.

Namorou, certo verão,
Elga Couve de Bruxelas,
Que, mesmo usando tacão,
Não lhe dava nas canelas.
Elga quis separação.
Né ficou sem as “costelas”.

"O passe era duplo", disse,
Dava direito ao cinema
E ao jantar que se seguisse
Pra dois também sem problema.
Contava assim que saísse
Resolvido esse dilema.

O cabo, nobre, gentil,
Fiável parceiro antigo,
Que já provara, ao Brasil,
Ser leal mesmo em perigo,
Dar-lhe-ia, vezes mil,
Conselho, socorro e abrigo.

Antes que aquele momento
Adjutório passasse,
Veio ao cabo em pensamento
A imagem de Lisa Alface:
Perfeito acompanhamento
Para fazer juz ao passe.

Lisa Alface era viúva
Do japonês Tchô Tomate,
Que morou no Alagachuva,
Antes de virar mascate,
Vendendo sapato, luva,
Miudezas e erva-mate.

Tomado de entusiasmo,
Nabo propôs ao soldado,
Para evitar-lhe o marasmo,
Um rendez-vous arranjado,
Deixando-lhe assim! de pasmo,
Com o plano apresentado.

Mas, pra Né, a bela senhora,
Circunspecta e estudada,
Não perderia uma hora
Com um quase...quase nada.
Antes, depois, mais agora,
Não se via na empreitada.

Cabo Nabo precisou
Desdobrar-se em argumentos,
Permitisse-o, implorou,
Cuidar dos entendimentos.
Quiabo, enfim, concordou
Que houvesse prosseguimentos.

Isso depois que o colega
Instilou-lhe a confiança,
Pois sentira-se em refrega
Dos nervos, soltos em dança,
Já que presumira nega
Do convite e da esperança.

E tarde, suave aragem
Pareceu incentivar
Que inocente traquinagem
Então tivesse lugar.
E o cabo enviou mensagem
WhatsApp do seu celular.

Lisa recebeu-o lá fora:
…Vir aqui, por que será?
Mas, de cuidados senhora,
Sobre a mesa pôs o chá,
Geleia, doce de amora,
Sequilhos do Ceará.

Nabo, que tinha pedido
Essa importante audiência,
Fora amigo do marido
E a tratara, com decência,
Durante o luto sofrido
E depois, mas sem querência.

O cabo à vontade estava,
Um chazinho a ingerir,
Pra viúva perguntava:
“Desistira de sair?
Companhia precisava,
A um cinema, que tal ir"?

"Mas com quem"?, lhe interrogou,
"O bom amigo é casado,
E a mulher que desposou,
Prefere estar ao seu lado,
Uma vez, me confessou,
E isso foi-me assimilado".

"Além do ilustre casal,
Cuja fina companhia
É uma graça divinal,
Amizade ou mancebia,
Em concreto ou virtual,
Não na minha freguesia".

“Afora especial amiga,
Preciosa mãe do amor,
Generosa rapariga,
Que luta com destemor
Pela causa a que se liga,
A autêntica de Lis flor.”

Mas, De Lis longe morava,
Não se viam com frequência,
De cinema não gostava,
E Lisa tinha ciência.
Essa, então, se dedicava
Aos trabalhos da docência.

Finalizado o discurso,
A palavra concedida,
O cabo entrou com recurso
Pra esclarecer a medida
E, antes que houvesse decurso,
Sua ideia foi exibida.

Trouxe o bom amigo à tona,
Cobrindo-o com elogio:
“Não era homem de zona,
Do jogo ou do mulherio”.
Lisa sentiu, “de carona”,
Correr-lhe algum arrepio.

Já casada conhecera
Né Quiabo, numa tarde.
O finado a convencera,
Sem necessitar alarde,
Tratar-se de homem sem cera,
Provara não ser covarde.

Não era mulher-objeto,
Mas, lembrando-se de Né,
Por caminho não direto,
Pressentiu que ía dar pé,
Pois lhe despertou afeto
E um certo calor até.

Depois do chazinho findo,
Lisa Alface renovada,
Bons sentimentos fluindo,
Declarou-se premiada,
Com o coração tinindo
E mesmo um pouco apressada.

Já no anoitecer seguinte,
Né Quiabo se aprumava
De terno, por conseguinte,
O encontro valorizava,
À porta dessa sainte,
Que até então se fechava.

Especial formosura,
Em verde e sexy vestido,
Como se fosse “in natura”,
Embora rico tecido,
Exaltado sem censura,
Pelo futuro marido.

Depois da ceia, uma estrela
Para os dois então brilhou.
Né, tão sedutora ao vê-la,
Apaixonado ficou
E, com medo de perdê-la,
Rápido se declarou.

Como a história que restou
Do meu tempo de petiz,
Lisa com Né se casou,
Para sempre foi feliz.
A lua de mel doou
A madrinha Flor-De-Lis.





quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Nem tudo que se sente, se diz;
Nem tudo que se pensa, se explica;
Nem tudo que se tem, se quer;
Nem tudo que se vive, se faz viver;
Nem tudo se é como deveria ser. 
Nem tudo ...
*Thici Ferrinho
De:YD

terça-feira, 19 de agosto de 2014

Eu quero…
Não sei se o que quero
é certo ou errado.
Se quero o perfeito
ou a imperfeição.
Quero um anjo sereno
de pele morena,
e olhos de mansidão.
Quero amar e ser amada
como musa delicada
possuída e encarnada
como fera indomado
numa doce e louca paixão.

Cristina Costa
Foto: ღ═════════ღ☆ღ═════════ღ
Eu quero…
Não sei se o que quero
é certo ou errado.
Se quero o perfeito 
ou a imperfeição.
Quero um anjo sereno
de pele morena, 
e olhos de mansidão.
Quero amar e ser amada
como musa delicada
possuída e encarnada
como fera indomado
numa doce e louca paixão.
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E a experiência?  A experiência se consegue a proporção que os dias se passam! (Fernando Caldas).