sábado, 15 de novembro de 2014

ASSÚ – A ATENAS NORTE-RIO-GRANDENSE

  

Em tempos que já vão distantes, o Assú primou pelo seu amor às Letras e pela sua dedicação às Artes. Seu povo tinha em alta conta o desenvolvimento da Inteligência e o apogeu da Cultura. A sensibilidade era a sua constância. Dotados de um acentuado senso artístico, os seus filhos alinhavam os seus propósitos e as suas tendências no sentido do aperfeiçoamento e do evoluir cultural.

Enamorados do Belo, tinham a percepção do seu encantamento, do seu êxtase e do seu predomínio na estrutura espiritual. Tamanha era essa desenvoltura, esse apego, esse apaixonamento, que, em última análise, se poderia pensar serem esses atributos um sentimentalismo congênito ou então seria uma predestinação atávica ou uma determinação biológica.

O certo é que esse afeiçoamento ao gosto, esse querer à Estética tinha o poder mágico de contaminar o meio ambiental. A espontaneidade das revelações no domínio das belas-artes surpreendia. A disputa na conquista de uma escalada maior no aprimoramento do espírito, como que despertavam as energias telúricas, os entendimentos nativos, convergindo as idéias para o ponto centralizador que outro não era senão a ganância do Saber.

Campo fértil às atividades do Pensamento, as culturas filosóficas eram assimiladas, aproveitadas para o encadeamento, o entrosamento de uma organização de feitio literário capaz de, pela sua objetividade, propiciar o granjeio de conhecimentos especializados. Havia, nessas épocas que já descambam para o esquecimento, uma sintonização mental criando uma mentalidade propiciatória aos elevados empreendimentos sociais e recreativos: Velhos e moços se aglutinavam, se harmonizavam e se entendiam na promoção de tertúlias literárias destinadas a acelerar, a desenvolver e a intelectualizar o meio ambiente.

Daí, em nossa terra, ter tido a Imprensa, a poesia, o jornalismo, o teatro e a música relevante destaque em nível de Estado. Há na nova geração um fenômeno assustador. É o alheamento ao pretérito. É tão acentuado, que difícil se torna ao pesquisador concatenar acontecimentos, às vezes muito remotos, se tiver que confiar na veracidade do seu depoimento, não por mistificações, acreditamos, porém, por desapego, desinteresse às cousas do passado (*).

No ano de 1922 Ezequiel Wanderley - poeta, cronista e dramaturgo, planejou e editou um livro que recebeu o apoio de intelectuais e do governo do Estado. Este livro recebeu o título de “POETAS DO RIO GRANDE DO NORTE” reuniu trabalhos e biografias de 108 poetas nascidos no território potiguar. Sua publicação foi autorizada pelo então governador do Estado Sr. Antonio de Souza, fundamentado na Lei nº 145, de 06 de agosto de 1900. 

A antologia em bem pouco tempo tornou-se obra rara. Dos 108 poetas do Rio Grande do Norte, da época, 28 eram assuenses e deste total, doze assuenses pertenciam à Academia Norte Rio Grandense de Letras. 

Em decorrência desta presença, tanto no livro quanto na Academia, e levando em consideração o relevante destaque do município no que concerne a literatura (primeiro jornal do interior – O Assuense – foi lançado em Assú), primeiro Médico, primeiro poeta e primeiro romancista do Estado foi o assuense Dr. Luiz Carlos Lins Wanderley, primeiro carnaval de rua foi em Assú. E ainda, pela singular presença da cidade no ramo do teatro, na música e nas realizações de festas populares e folguedos como: São João, pastoril, lapinha, bumba meu boi, calungas, entre outras, fez com que os intelectuais do Estado atribuíssem ao Assú os seguintes epítetos culturais: “Terra dos Poetas” “A Atenas Norte-Riograndense”, esta última, comparando o Assú a capital da Grécia, Atenas - solo onde nasceram e viveram os maiores pensadores e artistas da antiguidade. 

A partir desta publicação de 1922, até os dias atuais, o Assú tem mantido estes pseudônimos, diga-se de passagem com muitas dificuldades. No entanto, ainda encontramos na cidade, remanescentes destas tradições, sobretudo, na arte musical, na literatura e na poesia. 

Muita coisa precisa ser feita e trabalhada para que nossos jovens despertem para manterem estas tradições. O governo (municipal, estadual e federal) precisa investir em cultura. A população precisa se movimentar e começar a produzir. Especialmente a classe jovem, estudantil. 

Lá fora somos reconhecidos como: “Terra dos Poetas”, “A Atenas Norte-Riograndense”. E em Assú? será que fazemos por onde para permanecermos sendo reconhecidos culturalmente? Certamente, dependerá da ação de cada assuense nesta linha de conscientização... Só o tempo dirá.
        
(*) Esse relato é parte da crônica de apresentação do livro “História do Teatro no Assú”, de Francisco Amorim, publicado no ano de 1972, onde podemos claramente observar que depois de mais de 30 anos pouca coisa em Assú mudou. Infelizmente.
FONTE: Livro Poetas do Rio grande do Norte – Ezequiel Wanderley – 2ª Edição – 1993
Assú – “Atenas Norte-Riograndense” – João Carlos Wanderley - 1966.
Do blog: http://assunapontadalingua.blogspot.com.br/

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

O preço

Certa vez, um sábio perguntou:
- qual o preço de um homem?
O discípulo respondeu:
- depende do tamanho de sua covardia.

Anchieta Rolim

Esmeraldo Homem Siqueira

A pena aguçada do escritor e crítico contumaz – Esmeraldo Siqueira

II – Ensaios
“Mais um dia … E é o mês de Agosto,
Mês de Itajubá e o meu
Conquanto irmãos no desgosto
Foi mais feliz: já morreu”
(Esmeraldo: Mês de Agosto)
Introdução
A sede de conhecimento do homem é ilimitada. Esmeraldo Homem Siqueira era um desses curiosos insaciáveis. Um homem de um saber amplo e profundo. A limitação da vida faz dessa busca de conhecimento uma dolorosa e angustiante contingência. Esmeraldo quer saber tudo, e ver na vida e obra do outro uma forma de aprendizado e lição. O livro é a sua matéria. Em “ Modus Vivendi”, o poeta faz a sua profissão de fé: Para o meu tédio curar ( mal que, aliás, não tem cura), / Ponho-me a ler e a estudar, / Cultivo a literatura.
Esmeraldo tem pressa e escreve tudo que sabe e leu em sua vasta e diversificada biblioteca de um médico de província. Felizmente, para a cidade de Natal, parte dessa rica biblioteca que leva o nome de seu famoso proprietário encontra-se atualmente na Capitania das Artes, ali na rua onde morava o escritor Câmara Cascudo. Esmeraldo Siqueira escreveu em torno de duas dezenas de livros. Neles convivem o homem de ciências e o poeta lírico. Escreveu entre outros livros: Caminhos Sonoros, Trovas Pretéritas, Taine e Renan, Variações em Prosa, Gregos e Latinos na literatura, Sugestões da Vida e dos Livros, etc.
Esmeraldo é um homem irascível e muitas vezes impiedoso na sua crítica ferina a alguns escritores locais e estrangeiros. Sua pena é afiada e não faz concessões.
“Se eu respeitasse o jumento/ Mesmo o bravio e coiceiro, / Adeus meu divertimento / Alegre humor galhofeiro…”
Um Agrippino Grieco potiguar, com algumas limitações. Um poeta que sabe escrever bem. Nem sempre um bom prosador é um bom poeta, observa Esmeraldo. De minha parte, prefiro o Esmeraldo prosador e aguçado leitor dos clássicos. Um Esmeraldo que tem necessidade de mostrar toda a sua erudição e faz uma babel de suas citações e comentários. A Teoria da Evolução se une com a economia. A biologia com as ciências naturais. O escritor comenta sobre o papel da Universidade e do ensino Básico.
São compilações com comentários e análises bibliográficas relevantes sobre a vida e a obra dos escritores. Informações curiosas e instigantes são reveladas, muitas vezes de forma aleatória e sem a profundidade e sistematização de um erudito. Esmeraldo é um Spenceriano que tudo quer saber. Sinto falta das referencias bibliográficas e justificativas das fontes referidas. Alguns autores citados são poucos conhecidos e, isso, pode ser um mérito, ou desinformação. O autor é um poliglota e faz citações abusivas (sem traduções) em latim, francês, italiano, Inglês e outros idiomas.
Esmeraldo foi professor de Francês e um dos fundadores da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Esmeraldo dá palestras, aula da saudade e escreve para uma terra de poucos interlocutores. Homem de poucos amigos e um exemplo de escritor sagaz que não faz concessões.
Os prefácios são geralmente inúteis e supérfluos, diz Esmeraldo no prefácio ao livro “A Canção da Montanha”, do grande poeta Othoniel Meneses. Sem uma crítica consistente a literatura não avança. A literatura potiguar se ressente do elogio fácil de amigos, ou do silencio sepulcral da maioria. O crítico e escritor Esmeraldo ajuda e desvelar o tênue tecido da hipocrisia de algumas carcaças e pérolas literárias. Em Bem- aventurados …, ele destila o veneno:
Os asnos são divertidos,
Asnos bípedes, é claro,
Todos se julgam sabidos,
Dotados de senso raro.
A melhor forma de homenagear um poeta e escritor é lê-lo criticamente. Em 2008 comemoramos o centenário do poeta Esmeraldo Siqueira, nascido a 16 de agosto de 1908 (Vila Nova, atual Pedro Velho-RN), escrevendo esse artigo que enfatiza uma faceta menos conhecida do poeta e escritor Esmeraldo: o crítico literário. Uma forma de lembrar essa grande figura que conheci flanando e poetando na urbe potiguar, e agora o tenho na companhia dos livros. Um poeta saudoso da bucólica cidade; “Nesta hoje terra de cimento armado / já fui um venturoso potentado” (Romancete).
Esmeraldo pertence àquela classe de escritores que lêem muito. Um escritor que conhecia profundamente a literatura local e universal. Um homem plural que não via sentido na separação entre o saber científico e literário. Opinou sobre tudo e todos. Nesse artigo fazemos uma breve antologia das opiniões do crítico literário Esmeraldo sobre alguns escritores e poetas locais, e outros temas relacionados com a literatura. Uma forma de tornar mais conhecida a rica literatura norte-riograndense. São florilégios pinçados da obra multi-facetada desse profícuo escritor. Um autêntico Esmeraldo a iluminar e realçar com sua lente aguda o vasto e pouco conhecido oceano da literatura potiguar e universal. Um convite para a leitura dos nossos poetas e escritores
A poesia Esmeraldina é ferina com a humanidade e suas fraquezas, vícios e hipocrisia.
“A mediocridade infesta / Os arraiais literários. / Asnos exibem na testa / Triunfos extraordinários.
Dão-se prêmios repetidos / A livros que valem nada, / De versos desenxabidos / Ou prosa vazia e aguada (Áurea Mediocritas).
Poesia é verdade e “jurar que é fingimento tudo que o poeta diz / Não tem nenhum fundamento, / É afirmação infeliz”.
Terminamos o artigo com um poema do Esmeraldo “Brasilae Jumentorum” que faz um cumprimento irônico a todos os jumentos do Brasil. Aliás; os burros, asnos, muares e jumentos participam com muita freqüência da fauna poética do poeta. Esmeraldo não espera recompensa por sua poesia. É um solitário que escreve para viver. E vive porque escreve. O poeta Esmeraldo não finge, e toda a sua poesia toca na solidão de sua existência já descrente do amor dos homens e dos guizos fáceis da mediocridade.
O POETA DAS QUADRINHAS FERINAS, para o bem e para o mal.
Brasilae Jumentorum
In Poemas do Bem e do Mal – inéditos e recentes 1984
Mais uma vez quero cumprimentar
Os jumentos de sorte no Brasil,
Celeiro mundial, hoje sem par,
Dessa garbosa espécie tão gentil.
Por toda parte, em todos os setores.
Da vida nacional, ei-los felizes:
São médicos, dentistas, professores,
Boticários, agrônomos, juizes.
Na militar carreira ou na política,
Gozam de imunidades, valem ouro,
E ai de quem, arriscando qualquer crítica,
Mostre em seus atos o menor desdouro.
O clero é outro exemplo edificante
Dessa prosperidade jumental.
Mas, no mesmo sentido, o protestante.
Não fica atrás como valor rival.
E o populacho, o anônimo rebanho.
Que se esfalfa no campo ou na oficina,
Estranho ao bem-estar, ao gozo estranho,
Incapaz de entender a própria sina?
O povo é isto, a plebe, a populaça,
A ralé, a gentalha, o João Ninguém
Pratica o futebol, ama a cachaça,
Crê no padre Romão como convém.
Epitáfio
Amou o belo e a verdade
Sem crer no Céu nem no Inferno
Do mundo, em vez de saudade.
Sente agora alívio eterno
Antologia crítica do ESMERALDO DEL SITU IN NATAL
Nesse breve ensaio fazemos uma breve antologia das opiniões do crítico literário Esmeraldo sobre alguns escritores e poetas locais, e outros temas relacionados com a literatura. Uma forma de tornar mais conhecida a rica literatura norte-riograndense. São florilégios pinçados da obra multi-facetada desse profícuo escritor. Um autêntico Esmeraldo a iluminar e realçar com sua lente aguda o vasto e pouco conhecido oceano da literatura potiguar e universal. Um convite para a leitura dos nossos poetas e escritores
Polycarpo Feitosa
Os contos e romances são de leitura amena. Ele não gaguejava escrevendo. Sua pena era ágil, corria sem esforço.
Segundo Wanderley
Foi, no Brasil, o maior imitador de Castro Alves.
Lourival Açucena
O livrinho que o instituto histórico publicou reúne 46 composições do poeta perfeitamente legíveis todas elas, embora nenhuma capaz de entusiasmar-nos. Esses versos valiam e valem mais na voz dos cantadores.
Obs: Lourival foi um grande modinheiro e algumas de suas letras foram musicadas em belas canções.
Auta de Souza
A poetisa teria sido amada em qualquer parte civilizada do mundo, tal a encantadora pureza dos seus versos. Ela havia lido os românticos brasileiros e, da França, seu ídolo era Alphonse de Lamartine.
Manoel Virgílio Ferreira Itajubá
Natalense da beira do Potengi, foi também, apesar de semi-analfabeto, um lídimo poeta.
João Lins Caldas
Adotou as formas tradicionais de poetar. Depois tornou-se modernista. Sobressaiu nas duas maneiras, porque a natureza o dotara de imaginação e sensibilidade excepcionais.
Juvenal Antunes de Oliveira
Nascido em Ceará Mirim, compôs hinos e canções que tiveram consagração popular.
Abner de Brito
Caicoense Talentoso. Tremendamente desorganizado, o poeta só nos legou um livro, de título “Ossário”, cujos versos ninguém sabe por onde andam, pois nunca foram publicados. (Esmeraldo em “Do meu reduto Provinciano”)
Henrique Castriciano
A franqueza nos obriga a elogiar mais a sua prosa. Os versos nos parecem guindados, desprovidos de espontaneidade quase sempre, sem belas imagens nem delicadezas poéticas.
Othoniel Meneses
(In prefácio à primeira ed. de “A Canção da Montanha”)
A que escola poderá ser filiado este novo livro de Othoniel Meneses?
Não importa a discussão das escolas literárias.
Classificar o poeta nesta ou naquela escola é questão de segunda ordem.
– Othoniel é passadista? É modernista? É futurista?
Só interessa saber se ele é de fato um poeta, desses que trazem do berço a estrela da predestinação, a vivencia que os torna capazes de romper os véus das aparências e revelar segredos do ser, como os grandes inspirados, cujo canto reproduz os esplendores do universo visível e invisível. Só interessa saber se, de acordo com o pensamento de Platão, ele foi tocado do desejo das Musas e pôde aproximar-se do santuário da poesia, porque o verdadeiro poeta ultrapassa a arte e o seu canto é a expressão de uma “divina loucura”, e não o que os sábios mais esforçados poderiam realizar.
Os versos de Othoniel, sejam da adolescência, da juventude, ou da maturidade, atestam esse destino privilegiado.
….
“A glória poética de Othoniel Meneses é tão sagrada para o RN como a de Auta de Souza e Ferreira Itajubá”.
ANTOLOGIAS
Ezequiel Wanderley
Perpetrou bons versos na mocidade, e em toda a sua existência amou profundamente a literatura. Teve em 1922 a feliz idéia de publicar a coletânea “ Poetas do Rio Grande do Norte”.
Rômulo Wanderley
Querendo ampliar e melhorar o plano do livro do Ezequiel, deu a lume o “Panorama da poesia Norte-Riograndense”. Apesar dos encômios do prefaciador, o livro padece de mil faltas e defeitos: nenhum rigor na seleção dos autores e dos poemas, erros de datas, de nomes, etc. A obra assim, recomenda mal as nossas letras.
O ESMERALDO ERUDITO
Idioma
Um povo que se preza e deseja continuar como nação unida e soberana deve cuidar carinhosamente do seu idioma, defendendo-o sem descanso de deformações e deturpações perigosas que o transformem num instrumento bárbaro a serviço do estrangeiro, em detrimento da alma e do espírito da pátria. A língua é uma herança que deve passar mais ampla e aperfeiçoada de geração em geração, rica no seu vocabulário e nas suas expressões, dotada de clareza e propriedade sempre maiores, capazes de refletir meridianamente o grau de civilização e de cultura daqueles que a falaram.
Estilo
O estilo, nas letras, não depende somente da cultura lingüística. Da educação, e do estudo dos melhores modelos. Quantos que temos conhecido percorrem longamente esses caminhos e não lograram aprender o segredo do estilo! Notória é a incapacidade de escrever ou falar bem da quase totalidade dos que se diplomam nos cursos superiores.
Ensino (o lombrosiano)
Não se deve esperar muito do valor moral do ensino. A educação poderia ter um valor absoluto? Devemos pensar nas taras, nas predisposições congênitas, nas faculdades positivas ou negativas trazidas do berço. Tanto é impossível a educação fazer milagre, como em botânica obter, por exemplo, que um cajueiro produza mangas.
Literatura (na ANL discursando sobre Castro Alves, uma de suas paixões)
Uma literatura é organismo vivo que se nutre e precisa assimilar elementos estranhos, tanto mais quanto for capaz de bem digeri-los. Caso esteja decrépita, terá o dilema: indigestão ou inanição. Mas, noutra hipótese, terá de rejuvenescer à custa de sangue novo.
Veja-se a França do começo do século XVII. Corneille teve de superar as bagatelas do Hotel de Rambouillet ao influxo das letras da Espanha e Molière, sob a influência da Itália. No século XVIII, que teria sido da França sem os escritores ingleses?
João Da Mata
Professor de física da UFRN. Amante da Literatura, dos Livros e das Artes
Para referencia no caso de citação do artigo
Fonte: www.substantivoplural.com.br





João Da Mata

Professor de Física da UFRN. Amante da Literatura, dos Livrose das Artes
Para referenciar no caso de citação do artigo
Costa, J. M.
Por João Lins Caldas

Sentiu na carne a sua deprimente pobreza
Nos olhos, na cara toda.
E era a pobreza.
Nada da vida lhe sorria em torno.
E era assim essa mal posta mesa.
Um dia, na avareza,
Os homens lhe consumiram toda essa sua tão pequena riqueza...
– Vamos, está posta a mesa...
E tudo foi essa miséria toda.

O poeta assuense João Lins Caldas, na sua modesta casa da Rua Ulisses Caldas, em 1965. Ele, Caldas, faleceu em 1967.

quinta-feira, 13 de novembro de 2014


Assim eu vejo a vida
A vida tem duas faces:
Positiva e negativa
O passado foi duro
mas deixou o seu legado
Saber viver é a grande sabedoria
Que eu possa dignificar
Minha condição de mulher,
Aceitar suas limitações
E me fazer pedra de segurança
dos valores que vão desmoronando.
Nasci em tempos rudes
Aceitei contradições
lutas e pedras
como lições de vida
e delas me sirvo
Aprendi a viver.
Cora Coralina

MANOEL DE BARROS

A poesia brasileira está mais pobre com o encantamento do poeta maior de Cuiabá, chamado Manoel de Barros (1916-2014). Vejamos alguns versos de sua autoria:

Há muitas maneiras de dizer nada, mas só a poesia é verdadeira.

E esse outro:

Uso a palavra para compor meus silêncios.

Postado por Fernando Caldas

DILÚVIO – A DESTRUIÇÃO ATRAVÉS DAS ÁGUAS NA MITOLOGIA

Arca de Noé - Fonte - gif15.blogspot.com
Arca de Noé – Fonte – gif15.blogspot.com
FONTE - http://historiablog.wordpress.com/
De um lado pesquisadores, do outro, religiosos – ambos empenhados em conseguir provas para demonstrar que a Bíblia não é apenas um apanhado de lendas. E foi com esse espírito que muita coisa do tempo de Jesus e da antiga Jerusalém conseguiu sair do papel e ser provada. Porém, quando as pesquisas se voltam a algum episódio do Antigo Testamento, parte da Bíblia que também remete à história dos judeus, o caminho das pedras torna-se um pouco mais difícil. Para os cientistas apenas provas materiais os convenceriam de que aquelas personagens bíblicas realmente existiram, mas para os historiadores os registros escritos já são pistas preciosas, suficientes para investigar o que aconteceu no passado remoto das civilizações antigas.
Entre as figuras bíblicas do Antigo Testamento que mais chamam a atenção dos pesquisadores históricos, duas se sobressaem: Abraão e Noé. E mesmo entre esses dois há muito mais chance de descobrirmos a verdade sobre o primeiro do que sobre o segundo. O que se sabe basicamente sobre Noé é que ele construiu uma arca e tornou-se o último dos patriarcas antes do famoso dilúvio. Mas, ao contrário do que costumamos imaginar, o dilúvio não é uma histórica tipicamente hebréia. Até hoje foram obtidas cerca de cem narrativas místicas consagradas ao evento cataclísmico, a versão do Gênesis (capítulos 6 a 9), portanto, é apenas mais uma.
Fonte - fatoecuriosidademundial.blogspot.com
Fonte – fatoecuriosidademundial.blogspot.com
De acordo com o livro Terras e Povos Desconhecidos, da Time-Life americana, as narrações do dilúvio bíblico não contêm nenhuma descrição completa. Nesse sentido, a passagem bíblica seria apenas um conto um tanto quanto confuso, complexo e heterogêneo, que traria a compilação de duas versões conhecidas, uma de origem javeísta (mais tradicional e mais antiga) e outra sacerdotal (mais acessível e recente). Para os estudiosos isso não seria de se espantar, já que os hebreus passaram um longo tempo como escravos na Babilônia. “É muito difícil você passar qualquer período de tempo em um lugar sem absorver, consciente ou inconscientemente, seus hábitos”, diz Armando Calvo Laslis, do Departamento de Estudos Históricos da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Se a linha de raciocínio de Laslis estiver correta, a tarefa de descobrir a primeira matriz histórica sobre esse tema torna-se mais árdua ainda, pois lendas sobre o dilúvio são encontradas na literatura e na tradição oral de povos do mundo inteiro.
Para se ter uma ideia, a catástrofe aquática tem registro entre os nativos de Gales, do Irã, da índia, da Austrália e até mesmo dos Mares do Sul. Isso sem falar das versões nórdica, lituana, inuíte, apache e indonésia – muitas origens para um mesmo assunto. Seria esse um indicador de que o dilúvio é muito mais do que uma lenda? Pouco se sabe sobre o mundo antes dessa catástrofe, mas o fascínio pela história encanta os arqueólogos e cientistas do mundo inteiro.
Noé
 Antes de seguirmos o rastro de todas essas lendas, vale relembrar a versão do dilúvio que é mais conhecida pelo mundo Ocidental, a de Noé. Pesquisadores, como o historiador Renée Noorberger, acreditam tanto  em sua veracidade que o  estabelecem como ponto de partida em busca do chamado mundo ante-diluviano (época anterior ao registro bíblico) que estaria misturado a relatos de   civilizações   perdidas, afogadas nas águas, como Atlântida e as terras de Mu e Lemúria.
O diluvio - Antonio Marziale Carracci - óleo sobre tela - 166 x 247 cm - 1616 - (Musée du Louvre (Paris, França) - Fonte - http://pt.wahooart.com/@@/8Y3VLN-Antonio-Marziale-Carracci-O-Dil%C3%BAvio-(3)
O diluvio – Antonio Marziale Carracci – óleo sobre tela – 166 x 247 cm – 1616 – (Musée du Louvre (Paris, França) – Fonte – http://pt.wahooart.com/@@/8Y3VLN-Antonio-Marziale-Carracci-O-Dil%C3%BAvio-(3)
A história bíblica conta que, após o estabelecimento dos patriarcas do período, o ser humano caiu em pecado. Deus então decidiu eliminar a raça humana e escolheu Noé para que salvasse não só a sua família, como também todos os animais da Terra. Então, Noé recebeu orientações para a construção de uma arca que os manteria em segurança e, assim que a embarcação ficou pronta e um casal de cada espécie animal subiu a bordo, as águas irromperam e dominaram a Terra por quarenta dias e quarenta noites. Quando finalmente a situação se acalmou, Noé conduziu sua arca para o monte Ararat e de lá recebeu novas instruções de Deus para construir uma sociedade mais justa que a anterior. Após um breve período de calmaria, os descendentes do patriarca se reuniram na Torre de Babel que depois de muito se desentenderem, espalharam-se pelos quatro cantos da Terra.
Livre adaptação
Uma prova de que o mito do dilúvio pode ter sido assimilado pelos hebreus de seus captores babilônicos é a antiga lenda de Gilgamesh. Trata-se de uma história que não deve nada aos poemas épicos de Homero e que é considerada um dos textos mais antigos já preservados. Nessa história há uma passagem que conta como um patriarca babilônico, de nome Utnapishtim, recebeu também o aviso de seus deuses sobre uma catástrofe iminente que destruiria toda a humanidade. Assim, ele construiu uma embarcação que salvou sua família, alguns animais e diversos artesãos. A tempestade durou aqui sete dias e, quando as coisas se acalmaram, o patriarca enviou três pássaros em busca de terra seca. Uma pomba, que voltou para ele; uma andorinha, que também retornou e um corvo, que não voltou, o que foi considerado um sinal de que já era seguro desembarcar.
Gilgamesh encontra Utnapishtim, o noé sumério - Fonte - http://eden-saga.com/fr/deluge-arche-gilgamesh-enki-viracocha-atrahasis-ziusudra.html
Gilgamesh encontra Utnapishtim, o noé sumério – Fonte – http://eden-saga.com/fr/deluge-arche-gilgamesh-enki-viracocha-atrahasis-ziusudra.html
Estudiosos britânicos e alemães, que se envolveram com escavações arqueológicas em terras turcas e nos arredores do que seria o Monte Ararat, mostraram-se intrigados com alguns restos de madeira encontrados no cume que seriam, segundo eles, da Arca de Noé. Porém as autoridades do local não cedem autorizações para estudos mais conclusivos, o que só faz aumentar a polêmica. E esses mesmos pesquisadores afirmam que a incidência em diversas culturas lenda sobre o dilúvio deve ser levada em alta consideração, pois não se trata mais de uma coincidência, já que as variações encontradas podem ter se originado de uma única fonte, ou seja, do episódio da Torre de Babel. Renée Noorbergen é um dos pesquisadores que mais defendem essa tese, principalmente depois que estudou a tradição chinesa e descobriu uma lenda que narrava os esforços de Nuwah, progenitor daquele povo que havia escapado de um dilúvio com sua mulher e filhos.
Immanuel Velikovsky foi um psiquiatra russo-judeu, mais conhecido como o autor de uma série de livros controversos que reinterpretam acontecimentos da história antiga, em particular o livro Mundos em Colisão, publicado em 1950 - Fonte - www.velikovsky.de
Immanuel Velikovsky foi um psiquiatra russo-judeu, mais conhecido como o autor de uma série de livros controversos que reinterpretam acontecimentos da história antiga, em particular o livro Mundos em Colisão, publicado em 1950 – Fonte –http://www.velikovsky.de
Outro acadêmico, o russo Immanuel Velikovsky, divulgou em 1955 registros de fósseis que comprovavam que a Terra já havia sofrido um cataclismo como o dilúvio, nos moldes do descrito nas lendas. Cardumes inteiros de peixes foram encontrados em amplas áreas com sinais de morte em estado de agonia. Mas, para o pesquisador, o cataclismo teria sido originado quando um cometa proveniente de Júpiter passou rente ao planeta, o que teria mexido com o eixo terrestre e provocado o transbordamento de rios, mares e oceanos, “assim não há como falar em intervenção divina”, explicou.
O mito nórdico
 Odin era filho de Bôer e da giganta Besta e neto de um homem chamado Buri, que era feito de um bloco de sal. Ele tinha dois irmãos, Vila e Vá, com os quais dava-se maravilhosamente bem e com os quais realizava as maiores aventuras possíveis. Um dia, cansados de tantas artimanhas em que estavam constantemente envolvidos, os três resolveram formar o globo terrestre e chegaram à conclusão de que tudo que necessitavam para criar o Inundo estava contido no corpo de um gigante.
"As últimas palavras de Odin a Baldr "(1908) por WG Collingwood
“As últimas palavras de Odin a Baldr “(1908) por WG Collingwood
Com esse objetivo, os filhos de Bôer e Besta mataram o gigante Ymer e com seu corpo formaram o globo terrestre assim: os ossos originaram as montanhas, os dentes os rochedos, o crânio a abóbada celeste. Mas ao morrer o gigante espalhou sobre a terra todo o seu sangue, que se tornou um imenso dilúvio e fez com que toda a raça dos gigantes morresse afogada, exceto Belgemer e sua mulher, que conseguiram se salvar agarrados a uma arca de pão.
Odin e seus irmãos resolveram então criar um casal humano com os troncos de um freixo e com uma faia do norte que crescia no mar Báltico, dessa forma, garantiram o repovoamento do planeta.
O mito védico
Manú, filho semi-humano dos deuses, considerado o pai da raça humana, era tão bom que o deus Vishnu o salvou do ‘dilúvio, uma catástrofe que feriu todos os semidivinos que se tornaram ruins. Manú, como agradecimento, ofereceu a Vishnu um bolo de leite coalhado, creme e manteiga depois de esse deus o haver salvo do dilúvio universal.
No dilúvio Hindu, nas escrituras védicas da índia, Svayambuva Manu foi avisado sobre o dilúvio por uma encarnação de Vishnu - Fonte - http://nathalie-pachecomoradadadeusa.blogspot.com.br/2013/01/nefilins-anjos-caidos-ou-rebeliao.html
No dilúvio Hindu, nas escrituras védicas da índia, Svayambuva Manu foi avisado sobre o dilúvio por uma encarnação de Vishnu – Fonte – http://nathalie-pachecomoradadadeusa.blogspot.com.br/2013/01/nefilins-anjos-caidos-ou-rebeliao.html
Vishnu em retribuição fez surgir desse bolo uma mulher, bela e doce chamada Ida (ou lia). Os Acvins, elegantes cavaleiros, filhos do Sol e da Égua Saranyou, que as nuvens simbolizavam quando corriam ligeiras pelos céus, apaixonaram-se por ela e desejaram-na. Mas Ida repeliu-os violentamente exclamando: “Eu sou daquele que me criou”. Assim a criação da mulher está intimamente ligada ao dilúvio, e, o repovoamento do mundo, da união de Manú e Ida.
O mito mexicano
Mesmo no Novo Mundo podem ser encontradas lendas que falam sobre um dilúvio, como a de Cox cox Tezpi. Tezpi era um homem muito justo e bom, temente a Deus e que via com olhos tristes a corrupção dos homens, seus irmãos. Estes puseram de lado os princípios com que tinham sido criados, que pertenciam a seus antepassados, e não queriam compartilhar os benefícios de Deus na Terra – desde as águas que refrescavam seus corpos até a companhia de seus irmãos. A ganância dos homens e a mesquinhez das mulheres eram características comuns, assim a humanidade caminhava para um fim pouco animador.
coxcox
Tezpi começou a compreender que alguma coisa de anormal estava por acontecer e, temendo a justiça divina, começou a fazer uma embarcação para sua salvação. Aqui temos uma diferença: não há intervenção divina no sentido de que Tezpi tenha sido avisado da catástrofe nem que tenha tido qualquer intenção de salvar os animais. Mas escavações mexicanas recentes nos arredores da Cidade do México descobriram pinturas antigas que retratavam a cena surpreendente de uma arca flutuando sobre as águas com Tezpi, suas mulheres, filhos e alguns animais. Essas mesmas pinturas contam que, depois que as águas baixaram, Tezpi soltou um beija-flor para que fosse verificar se era seguro sair da embarcação. Assim, quando a ave retornou com um ramo verde de planta no bico, Tezpi e sua família acompanhado dos animais saíram da arca e começaram o processo de repovoamento do mundo.
O mito hindu
 Quando o deus Brama saiu de sua imobilidade para animar o universo, a princípio criou os Devas, os espíritos e os anjos que * iriam povoar o céu. Alguns deles, porém, ao chegarem lá em cima, viram lugares na Terra muito bonitos, cheios de frutos, flores, águas límpidas e lagoas. Começaram, então, a imaginar como seria viver em tais paisagens. Assim tornaram-se Rclasas, gênios malfeitores que se ocupam em perturbar os humanos. Essas entidades maldosas corromperam-se tanto que se dividiram em diversas e poderosas categorias de malfeitores. Tornaram o Mal o domínio absoluto sobre a humanidade corrompida. Brama, entretanto, era bom e ficou perturbado com o trabalho daqueles espíritos. Mas ele guardava em segredo um outro mundo, desconhecido dos demônios. O objetivo do deus era transportar os homens e os anjos do primeiro mundo para o segundo, mais perfeito. Porém não queria que o antigo mundo ficasse contaminado e assim aconteceu o dilúvio. Apenas um homem bom, chamado Waivaswata, foi prevenido da catástrofe iminente. Ele construiu um navio e juntou sua família e um casal de todos os animais disponíveis para, depois, repovoar o mundo.
Do blog http://tokdehistoria.com.br/, de Rostand Medeiros

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