quinta-feira, 19 de novembro de 2020

POUCAS E BOA

Valério Mesquita

Mesquita.valerio@gmail.com

01) Era praxe em Assu construir-se nos quintais residenciais cacimbão para manutenção da casa. Certa vez, na residência de uma tia do saudoso deputado Arnóbio Abreu, aconteceu um fato no mínimo interessante, por má interpretação da nossa complicada língua portuguesa. Enquanto as senhoras conversavam amenidades nas calçadas, as criançasnbrincavam no extenso quintal. De repente, correram todos pela lateral do casarão e, um deles assustado gritou: “Mamãe! O “baldo” caiu dentro do cacimbão!”. Foi um Deus nos acuda. A mãe desmaiou; a avó entrou em estado de choque incontrolável, era grito pra todo o lado e, o remédio mais rápido chegando: álcool e alho para a desmaiada cheirar. Já se aglomerava uma pequena multidão, quando um curioso perguntou a uma das crianças: “Meu filho, como foi isso?”. O pequeno respondeu: “Nós fomos “puxar” água, a corda partiu-se e o “baldo” caiu lá no fundo...”. Estava explicada a situação. “Quem caiu no fundo do poço” foi O BALDE e não UBALDO, neto da velha.

02) Francisco Dantas ou Chico da prefeitura, como era conhecido em Mossoró, ingressou no folclore político local por haver se elegido “vereador” sem concorrer a eleição. Passava o tempo todo na calçada da Câmara Municipal varrendo aqui e acolá, convidando os amigos para conhecer o seu “gabinete”. Após longos meses de “legislatura” foi flagrado pelo presidente da Casa com três amigos ao redor do seu birô, ligando para o ramal da copa: “Dona Raimunda? (a copeira), por favor, traga aqui três “cafezes” para o meu gabinete por “obeseque””. Ali mesmo, perdeu o “mandato”.

03) Muitas são as atribuições enfrentadas pelo presidente da Fundação José Augusto. Pedidos de emprego eram rotinas que desafiavam a capacidade do escritor François Silvestre. Certa vez, foi procurado por um pai extremado que defendia com ardor um cargo comissionado para a sua filha. “Dr. François, a minha filha fala corretamente quatro idiomas. Onde o senhor pode colocá-la?”. Sem se perturbar, com a mão esquerda segurando a cabeça, silencioso, François, suspirou: “Só se for na Torre de Babel”.

04) Salatiel Rebouças, de São Gonçalo, falecido em 2005, dizia sempre aos amigos: “Se minha mulher me trair, eu matarei o cretino!”. “Que é isso, Salatiel”, ponderou um amigo, “não estrague sua vida. Se isso acontecer você deixa a mulher e arranja outra...”. “Não, colega”, retrucou Salatiel. “Minha mulher tem cento e trinta quilos, pernas de elefante, os peitos encostam no umbigo. Porque se isso acontecer a intenção de qualquer pé-de-lã com minha mulher é só para me desconsiderar. Amor e tesão com esse ‘troço’ é impossível!”. 

 CELSO DA SILVEIRA – Faz parte de minhas memórias infantis. Era meu parente. Muito amigo de meu avô (materno) Boanerges Soares e seu parceiro de copo. Lembro-me de Celso, na Praça Kennedy, eu o via à noite. Quando minha mãe e eu saíamos de seu consultório, à época na Cidade Alta, sempre éramos saudados por seu afável sorriso. Eu debochava de sua “característica” barriga – eu tinha sete anos. Ele habitualmente cercado de seus amigos. Várias vezes eu ia visitar um primo, que mora (ainda hoje) na Avenida Alexandrino de Alencar, e via Celso, em sua cadeira de balanço, na calçada de sua casa. Quando comecei a comprar ferrenhamente livros de autores do RN, para compor minha biblioteca, perseguia a aquisição de “26 Poemas do Menino Grande” – Um livro especial, atacado pela crítica e "acalantado" por Othoniel Menezes – Li um belo artigo de Othoniel de quando o livro foi lançado – Que defendia a liberdade de expressão poética do autor. Foi emocionante, o dia que comprei este livro, não por sua raridade, e nem por ter em minha biblioteca mais um livro para compô-la, mas pela afetividade, que o autor me despertava. E ainda me desperta. Mais um livro da Tipografia Villar – de Moysés Villar [Wandyr Villar].

A imagem pode conter: texto que diz "Celso da SILVEIRA 26 Poemas do Menino Grande 1952 NATAL"
Você, Uruguaina Freire De Morais, Raquel Costa e outras 22 pessoas
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quarta-feira, 18 de novembro de 2020

 Não te quero senão porque te quero

e de querer-te a não querer-te chego
e de esperar-te quando não te espero
passa meu coração do frio ao fogo.
Quero-te apenas porque a ti eu quero,
a ti odeio sem fim e, odiando-te, te suplico,
e a medida do meu amor viajante
é não ver-te e amar-te como um cego.
Consumirá talvez a luz de Janeiro,
o seu raio cruel, meu coração inteiro,
roubando-me a chave do sossego.
Nesta história apenas eu morro
e morrerei de amor porque te quero,
porque te quero, amor, a sangue e fogo.

Pablo Neruda
A imagem pode conter: 1 pessoa, em pé, casamento e atividades ao ar livre
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 POUCAS E BOAS

Valério Mesquita
Mesquita.valerio@gmail.com
01) Mossoró foi a Pasárgada do prefeito Dix-Huit Rosado. Seu encanto, fascínio e sedução. Nessa época, ele era o seu alcaide o domador da fúria das águas do rio Mossoró que, nas invernadas, inundavam parte da cidadela. Implementado o seu projeto de dicotomia do rio Mossoró, julgou superado o problema das enchentes definitivamente. Mas, como era do seu espírito indômito, na época do inverno, permanecia vigilante, caminhando altaneiro pelas margens, buscando notícias de chuvas caídas na região da tromba do elefante. Numa tarde, João de Malaquias, vigia dos depósitos das lojas Checernay que ficavam próximos ao rio Mossoró e pastorador primeiro dos anúncios de enchentes, foi assim interrogado pelo prefeito Dix-Huit: “Alguma notícia, João, de águas provindas do município de Pau dos Ferros?”. Na sua sapiente humildade, João de Malaquias foi profundo: “Não dá pra saber Dr. Dix-Huit, porque as águas estão chegando misturadas...”
02) Presença do governo em Mossoró. Os eventos políticos e administrativos entraram noite adentro. Após reuniões e inspeções, o coronel Gadelha, comandante geral da PM, resolveu procurar com o ajudante uma farmácia na cidade para curar uma forte dor de cabeça. Após uma certa procura, divisou ao longe um letreiro: “Farmácia Dia e Noite”. Sentiu um alívio prévio e ordenou ao motorista para se aproximar. Para a sua surpresa estava fechada. Pensou que fosse engano, pois afinal, era 01:30 da madrugada e resolveu bater a porta. De dentro da farmácia ninguém saiu mas um vizinho ao lado, acordado pelas pancadas, assomou à janela para dizer: “Ela só abre de dia ou de noite e agora já é madrugada”. Gadelha agradeceu e sumiu sem entender bulhufas do fuso horário nem dos costumes do país de Mossoró.
03) Luiz de Oliveira, do Assu, foi um bem-sucedido comerciante. Seu estabelecimento de secos e molhados vendia em grosso e a varejo. Parte do seu sucesso era devido à avareza. Não dava um “pão a um doido”, diziam na cidade. Na semana santa, observando a paisagem da calçada do comércio avistou o pai e o sogro que certamente viriam pegar algum auxilio, pois eram pobres. De repente, Luiz chamou a esposa: “Joaninha, lá vem teu pai e o meu. Encha aí as sacolas deles com alguma coisa, que eu vou sair por aí. Eu não posso assistir dar o que é meu”.
04) Nos anos 1960, a feira livre do Assu era mais desenvolvida e frequentada por feirantes de Angicos, Afonso Bezerra, Augusto Severo e vizinhanças. O misto de Petronilo, um Chevrolet gigante, rodava lotado, cobrindo o mato de poeira, mas à tarde estava de volta. Os feirantes soltavam pilhérias com quem cruzava. O velho Neo Pinto, morador do sítio Quixabeirinha, todas as tardes tirava uma soneca no alpendre à beira da estrada. Murilo Caiana, um passageiro presepeiro, gritava sempre: “Tá descansando, heim, corno véio?”. O riso era geral e a viagem prosseguia. Um dia, o caminhão furou um pneu a poucos mais de quinhentos metros da casa de Neo Pinto. O grito de “corno véio” ainda ecoava no ar. Neo Pinto levantou da rede, apanhou uma espingarda calibre 36 e aproximando-se do caminhão cumprimentou: “Boa tarde, pessoal!”. Responderam uníssonos: “Boa tarde!”. O velho interrogou: “Eu queria saber quem é o f.d.p. que grita toda vez: ‘Tá descansando corno veio?’. Todo sábado eu escuto isso!”. E engatilhando a arma: “Fala gente! Quem grita isso?”. Ninguém falou. “Vamos bando de cornos!”, gritou Neo, já irado. “Não tem homem, não?”. Todos olharam para Murilo Caiana, cobrando uma atitude. O engraçado, amarelo de medo, tentou remendar: “Meu patrão, quem falou foi eu... Porém, o senhor entendeu errado. Eu digo assim: Tá descansando, heim, corpo véio?”. E ainda, meio tremulo, concluiu: “O senhor desculpe. Daqui pra frente, não digo mais nada”. A merda descia no mocotó...

terça-feira, 17 de novembro de 2020

 Adriano Medeiros Fatos e fotos de Natal Antiga

LUÍS DA CÂMARA CASCUDO, POR ELE MESMO
Câmara Cascudo
Nasci na rua das Virgens e o padre João Maria batizou-me no Bom Jesus das Dores, Campina da Ribeira, capela sem torre mas o sino tocava as Trindades ao anoitecer. Criei-me olhando o Potengi, o Monte, os mangues da Aldeia Velha onde vivera, menino como eu, Felipe Camarão. Havia corujas de papel no céu da tarde e passarinhos nas árvores adultas (...). Natal de 96 lampeões de querosene. Santos Reis da Limpa em janeiro. Santa Cruz da Bica em maio. Senhora d’Apresentação em novembro. Farinha de castanha e carrossel. Xarias e Canguleiros. (...). Tinha 13 anos quando veio a luz elétrica. Festas no Tirol. Violão de Heronides França. Livros. Cursos. Viagens. Sertão de Pedra e Europa.
Nunca pensei em deixar a minha terra.
Queria saber a história de todas as cousas do campo e da cidade. Convivência dos humildes, sábios, analfabetos, sabedores dos segredos do Mar das Estrelas, dos morros silenciosos. Assombrações. Mistérios. Jamais abandonei o caminho que leva ao encantamento do passado. Pesquisas. Indagações. Confidências que hoje não têm preço. Percepção medular da contemporaneidade.
Nossa casa hospedou a Família Imperial e Fabião das Queimadas, cantador que fora escravo. (...) Filho único de chefe político, ninguém acreditava no meu desinteresse eleitoral. Impossível para mim dividir conterrâneos em cores, gestos de dedos, quando a terra é uma unidade com sua gente. (...) Dois homens quiseram fixar-me fora de Natal: Getúlio Vargas no Rio de Janeiro e Agamenon Magalhães, no Recife. Jamais os esquecerei porque nada pedira. Alguém deveria ficar estudando o material economicamente inútil. Poder informar dos fatos distantes na hora sugestiva da necessidade.
Fiquei com essa missão.
Andei e li o possível no espaço e no tempo. Lembro conversas com os velhos que sabiam iluminar a saudade. Não há recanto sem evocar-me um episódio, um acontecimento, o perfume duma velhice. Tudo tem uma história digna de ressurreição e de uma simpatia. Velhas árvores e velhos nomes, imortais na memória.
Em 1946 fiz parte de uma comissão enviada pelo Ministério das Relações Exteriores ao Uruguai. Éramos três: Aluísio de Castro, Angione Costa e eu, único sobrevivente. Voltando, contou-me Aluísio de Castro que Afrânio Peixoto (escritor baiano), sabendo da expedição cultural, dissera num leve riso: "E ele deixou o Rio Grande do Norte? Câmara Cascudo é um provinciano incurável!".
Encontrara meu título justo, real e legítimo.
Provinciano incurável! Nada mais.



Natal tem primeiro vereador cadeirante eleito: 'Teremos um representante legítimo'

Tércio Tinôco (PP) diz que vai lutar por uma cidade com mais acessibilidade e inclusão para pessoas com deficiência. Ele é presidente da Sociedade Amigos do Deficiente Físico (Sadef).

Por G1 RN

 


Tércio Tinoco tem 33 anos e foi eleito vereador em Natal — Foto: Divulgação

Tércio Tinoco tem 33 anos e foi eleito vereador em Natal — Foto: Divulgação

O administrador de empresas Tércio Tinôco (PP) foi eleito vereador de Natal no pleito eleitoral deste domingo (15) e vai se tornar o primeiro cadeirante no cargo na capital potiguar.

Ele conquistou 3.101 votos e vai ocupar uma das 29 vagas na Câmara Municipal a partir de 2021, sendo um dos 14 novos nomes para a próxima legislatura.

Aos 33 anos, Tércio Tinôco, que é presidente da Sociedade Amigos do Deficiente Físico (Sadef) desde 2016, diz que decidiu entrar na vida pública para atuar em favor das pessoas com deficiência, buscando uma cidade com mais inclusão.

"Somos cerca de 28% da população, mas só agora vamos ter um representante legítimo na Câmara, que vivencia todas as dificuldades do dia a dia em uma cidade que ainda precisa ser mais inclusiva", disse.

"O trabalho que eu sempre fiz em benefício das pessoas com deficiência vai poder ser ampliado com minha presença na Câmara".

O novo vereador conta que recebeu grande apoio das pessoas com deficiência durante a campanha.

"Tive muito apoio de pessoas com deficiência que se identificaram com a minha bandeira, de mais inclusão e equidade", falou.

Tércio diz que luta por uma cidade mais inclusiva — Foto: Divulgação

Tércio diz que luta por uma cidade mais inclusiva — Foto: Divulgação

Natalense, Tércio Tinôco fundou, através da Sadef, o projeto Natal Praia Inclusiva, que dá a possibilidade de pessoas idosas e com deficiência irem à Praia de Ponta Negra nos fins de semana e tomarem banho de mar com cadeiras equipadas.

O novo vereador lembra que ficou tetraplégico aos 18 anos, ao pular em uma piscina e bater com a cabeça no fundo. Desde então, garante lutar por acessibilidade e inclusão.

"Minha eleição também é um reconhecimento de tudo que já fiz pela categoria, mesmo sem um mandato. Agora vamos poder fazer muito mais", disse.

O INTELIGENTE E O SABIDO

Há duas categorias de pessoas que, sobretudo no Rio Grande do Norte, merecem um debruçamento maior, uma atenção mais atenta, um enfoque mais...